Segundo Keynes, Guido Mantega e Nelson Barbosa, uma
política fiscal expansionista teria o poder de reviver o crescimento
sustentável e direcionar o PIB ao seu potencial. Neste caso, em um cenário de
baixo crescimento ou mesmo recessão, a política indicada para atacar o problema
seria uma expansão fiscal.
Keynes explica em seu modelo
que um aumento de gasto do governo de R$ 1,00 gera um aumento total do PIB
maior que R$ 1,00, e isso se dá pelo efeito do multiplicador. O R$ 1,00 irá
para alguém, que pegará parte deste dinheiro (um pedaço vira poupança) e
gastará em outro lugar, e este outro lugar gastará em outro lugar, e assim por
diante. No final, teríamos somado um efeito de, digamos, R$ 1,50 no PIB.
Por conta deste simples modelo que se popularizou
brutalmente na década de 1930 durante a Grande Depressão, milhares de governos
são até hoje atraídos a executarem políticas expansionistas em períodos de
crise.
No Brasil, os estímulos do governo na economia foram
crescentes. O déficit nominal médio de 2%, que vinha sendo sistematicamente promovido
desde 1999, pulou para 9% do PIB. Os gastos do governo cresceram de 30% para 41,5% do PIB.
Porém, como todos sabemos, isso não gerou nem
euforia nem desenvolvimento por aqui. O PIB de 2015 ficou
em -3,8% e para 2016 a expectativa gira próxima
dos -3,50%.
Além de uma dívida recorde em relação ao PIB e da
recessão, temos também a crise no orçamento. Em outras palavras, estamos piores
do que estávamos antes.
Mas onde a teoria falhou? Cadê o multiplicador?
Em "Lógica" aprendemos que se as premissas do modelo
são falsas, então tudo derivado no modelo pode vir a ser falso também. O
argumento derivado de uma premissa falsa é, portanto, falacioso.
O modelo de Keynes não explica de onde viria o
dinheiro para o aumento dos gastos do governo. A premissa do modelo é que o
governo tem orçamento infinito. Não preciso explicar em detalhes o porquê de
isto ser um absurdo.
Na vida real, o aumento de gastos do governo é
financiado por três opções, e cada uma delas, de acordo com o modelo do próprio
Keynes, tem o potencial inverso de gerar recessão:
1a) Emissão de Moeda. Esta opção funciona
como um "confisco" à medida que reduz o poder de compra de toda a sociedade via
inflação de preços. Se eu diminuo o meu poder de compra, eu compro menos e gero
menos crescimento.
2o) Aumento de Impostos. Diminui meu
consumo que, por sua vez, reduz o efeito multiplicador do aumento de gastos.
3o) Dívida. A dívida terá que ser paga um
dia, eventualmente, via aumento de impostos ou emissão monetária. A não ser que
o aumento dos gastos do governo seja realizado em setores que sejam de fato
produtivos e, portanto, o crescimento posterior gerado (e a receita deste)
compense os juros pagos no financiamento.
Para que os investimentos governamentais compensem
os juros da dívida e gerem de fato crescimento é esperado que o direcionamento
deste capital seja para setores produtivos.
Um bom "mau exemplo" seria o setor de máquinas de
datilografar. Suponha que este setor está decadente, pois a produção destas
máquinas simplesmente não possui mais utilidade para a sociedade. Desta forma,
para que se tenha a manutenção dos empregos, a empresa precisaria de um
subsídio do governo.
O governo, por sua vez, principalmente em se
tratando do nosso antigo Ministro Mantega, cede à pressão do setor e subsidia a
empresa em troca da manutenção dos postos de trabalho.
O resultado é mais emprego, porém, claramente menor
crescimento. Não só o setor em si não irá gerar prosperidade, como a dívida
proveniente desses gastos resultará em aumentos posteriores de impostos. Estes
aumentos reduzirão o crescimento como um todo, e esta queda do PIB aumentará
novamente o desemprego. Ou seja, não tem como escapar do desemprego, se ele
acontece porque um setor se tornou obsoleto.
Por estas e outras, não faz sentido e
definitivamente não gera crescimento sustentar empresas que possuem dificuldade
de se manter. Quando dizemos que é importante que se deixe ter
desemprego somos considerados "o lado negro da força".
Mas podemos esclarecer: o percentual de desemprego
que seria necessário ocorreria de forma revezada. Isso quer dizer que não fica
entre as mesmas pessoas. A maioria das pessoas que conheço já
ficou desempregada por algum tempo. E os desempregados vão se revezando
até que a economia livremente os aloque na forma mais eficiente possível.
Esta é a forma natural da população escolher quais
os produtos são mais importantes para ela e para onde ela quer que os empregos
sejam direcionados para que todos tenham o seu papel e sejam remunerados
adequadamente.
O empregado da fábrica de máquinas de datilografar
teria de ser liberado do setor decadente e, de acordo com seus potenciais, ser
realocado para o setor de produção de smartphones, por exemplo. Por um tempo,
ele aparecerá na estatística do desemprego. No futuro, ele estará trabalhando
produtivamente em um negócio próspero que se sustenta de forma independente e
sem onerar o governo ou os contribuintes.
Resumindo, aumentar os gastos por si só não gera
crescimento, e o mundo atual
está recheado de exemplos disto. Quem afirma que gastos do governo geram
crescimento está afirmado que tomar dinheiro de uns para gastar com outros pode
enriquecer a todos. Está afirmando que tirar água da parte funda da
piscina e jogá-la na parte rasa fará o nível geral de água na piscina aumentar.
A queda do crescimento e o aumento do desemprego são
a forma natural que a economia tem de ajustar recursos de setores não-produtivos
para setores produtivos.
Ao final, sobra para todos os contribuintes via
aumento de impostos e crescimento ainda mais baixo.
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multiplicador" é uma brutal falácia keynesiana
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