1) Digamos que o governo, de uma hora
para outra, abrisse o mercado para o exterior e não praticasse nenhuma proteção
contra importação. Quais os impactos teríamos?
Tudo vai depender das preferências dos
consumidores. Se eles voluntariamente
passarem a comprar produtos importados, ignorando os nacionais, então eles, por
definição, estão voluntariamente demonstrando que preferem produtos
estrangeiros aos produtos produzidos pela FIESP, FIERJ, FIEMG e toda a CNI.
Ética e moralmente, não há um único argumento
plausível contra essa preferência voluntariamente demonstrada. Se você, por
exemplo, preferir comprar sapatos da China a sapatos de Franca ou Jaú, por que
alguém deveria lhe proibir disso? Que
mal você está fazendo a terceiros?
2)
"Muitas empresas nacionais iriam a falência?"
As ineficientes com certeza. E isso seria ótimo. Empresas ineficientes são deletérias para uma
sociedade. Elas consomem recursos e não entregam valor. Elas, na
prática, subtraem valor da sociedade. Uma empresa que opera
com prejuízo é uma máquina de destruição de riqueza. E é por isso que
empresas que operam continuamente com prejuízo — por mais importantes que elas
sejam para o "orgulho nacional" — devem falir e ser vendidas para
novos administradores mais competentes.
Falências são algo extremamente positivo para uma
economia, pois permitem que aqueles concorrentes mais produtivos e mais capazes
tenham a oportunidade de comprar os ativos das empresas falidas a preços de
barganha, podendo assim fortalecer suas operações e voltar a criar valor para a
sociedade.
Um governo proteger empresas falidas, ou empresas que
operam com seguidos prejuízos, é a maneira mais garantida de empobrecer uma
economia.
3)
Tarifas protecionistas protegem as empresas nacionais?
Sim.
4)
Protegem de quem?
Dos consumidores.
Principalmente dos mais pobres, que ficam sem poder
aquisitivo para comprar produtos bons e baratos feitos no exterior.
5)
Como assim?
O que os protecionistas defendem, embora não tenham
coragem de dizer com estas palavras, é que indústrias ineficientes e custosas
devem ser protegidas, pelo governo, dos consumidores (que já demonstraram
preferir outros produtos).
Protecionistas querem proteger as empresas ruins e blindá-las contra as demandas dos
consumidores. Os consumidores não devem
ter o direito de escolher produtos estrangeiros. Eles devem ser obrigados a comprar da FIESP.
Por que isso seria ético e moral?
6)
E beneficiam quem?
Em primeiro lugar, os grandes sindicatos.
Mas, acima de tudo, tarifas protecionistas beneficiam
o grande baronato industrial.
Sem
a concorrência de produtos estrangeiros, e com os brasileiros mais pobres podendo
comprar apenas produtos fabricados nacionalmente, os grandes empresários industriais
não têm motivo nenhum para reduzir seus preços e elevar a qualidade de seus
produtos. Eles passam a usufruir um
mercado cativo.
E
os consumidores brasileiros, principalmente os mais pobres, passam a ser
tratados como gado em um curral: ficam proibidos de comprar produtos
estrangeiros e são obrigados a comprar apenas os produtos nacionais desses
empresários privilegiados.
Seus
lucros se tornam inabalados.
7)
Mas há indústrias eficientes que estão sendo prejudicadas pelas políticas do
governo. Neste caso, seria o
protecionismo aceitável?
Não.
Se há indústrias nacionais eficientes que estão
sendo prejudicadas pelas políticas do governo, isso é algo que tem de ser
resolvido junto ao governo, e não tolhendo os consumidores.
Se os custos de produção no Brasil são altos e estão
inviabilizando até mesmo as indústrias eficientes, então isso é problema do
Ministério da Fazenda, do Ministério do Planejamento, da Receita Federal e do
Ministério do Trabalho. São eles que
impõem tributos, regulamentações, burocracias e protegem sindicatos.
Não
faz sentido combater estas monstruosidades criando novas monstruosidades. Não faz sentido tolher os consumidores ou
impor tarifas de importação para compensar a existência de impostos, de
burocracia e de regulamentações sobre as indústrias. Isso é querer apagar o fogo com gasolina
8) Mas não seria importante haver
algumas tarifas protecionistas para garantir o desenvolvimento das indústrias mais
eficientes?
Em
primeiro lugar, a ideia de se proteger os eficientes é um total
contra-senso. Se é eficiente, não precisa
de proteção; se é ineficiente, não merece a proteção.
Ademais,
sempre resta a pergunta: no Brasil, as empresas já não tiveram protecionismo o
bastante?
O
mercado brasileiro está praticamente fechado há mais de um século — atualmente,
o
Brasil continua sendo uma das economias mais fechadas do mundo — e ainda é
necessário dar mais tempo?
Aos
protecionistas ficam as seguintes perguntas: Tarifa de quanto? Por que tal valor? Por que não um valor maior ou menor? Por quanto tempo deve durar tal tarifa? Por que não um tempo maior ou menor? Qual setor deve ser protegido? Por que tal setor e não outro? E, finalmente, por que o segredo para a
eficiência é a blindagem da concorrência?
9) O que deve ser feito?
Em
primeiro lugar, ter uma moeda forte e reduzir a inflação de preços ao máximo possível. É a inflação o que
realmente causa desindustrialização.
Em
seguida, abolir a burocracia, as regulamentações e os impostos sobre as
indústrias nacionais, expondo-as, simultaneamente, a todo o tipo de concorrência
estrangeira.
Defender
a adoção de tarifas protecionistas e proibir consumidores mais pobres de
comprar os bens estrangeiros que quiserem é imoral, anti-ético e, acima de tudo, desumano.
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