Ideias iguais podem ter consequências completamente
diferentes de acordo com o ambiente em que são implantadas.
Uma ideia
que gerou um ótimo resultado em uma determinada sociedade não necessariamente
terá o mesmo êxito em outra sociedade cujo ambiente cultural e político seja diferente.
O professor português João
Carlos Espada recorrentemente apresenta — em suas aulas, livros e
palestras — o seguinte exemplo, o qual eu costumo usar sem moderação:
Como recordou a historiadora norte-americana Gertrude
Himmelfarb, "o verdadeiro milagre da Inglaterra moderna não está em ter sido
poupada da revolução, mas em ter assimilado tantas revoluções — industrial, econômica,
social, política, cultural — sem recorrer à Revolução."
Na Oxford History of Western Philosophy, Anthony Quinton
reconheceu esta especificidade da cultura política de língua inglesa com um
olhar original. Ele afirmou que "o
efeito da importação das doutrinas de John Locke na França foi muito semelhante
ao do álcool em estômago vazio." Na
Inglaterra, os princípios de Locke "serviram para sancionar uma ampla revolução
conservadora [em 1688] contra a inovação absolutista", enquanto que na França
[em 1789] a importação das ideias de Locke conduziria ao radicalismo da
revolução francesa."
O professor Espada também acrescenta que "segundo
Popper, o mistério inglês residia no fato de que todos, do leiteiro ao primeiro-ministro,
desejavam ser um gentleman".