Esse site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando neste site, você concorda com suas condições.

< Artigos

Economia

O fracasso da incubação keynesiana

23/08/2010

O fracasso da incubação keynesiana

Dois anos atrás, a economia americana encontrava-se seriamente enfraquecida em meio a uma impressionante crise bancária, a qual se espalhava por todo o mundo.  A ilusão criada pelo crédito fácil -- a de que o setor imobiliário poderia se valorizar eternamente e que os americanos viveriam sob uma permanente prosperidade trazida pela expansão monetária -- foi destroçada pela inevitável realidade dos acontecimentos.  Os americanos subitamente se descobriram no meio de uma depressão econômica.

Naquele momento, o país estava em uma bifurcação.  A medida sábia seria deixar a depressão ocorrer.  Deixar que os investimentos ruins fossem expurgados do sistema.  Deixar que os preços dos imóveis caíssem.  Deixar que os bancos quebrassem.  Deixar que os salários caíssem e permitir que mercado realocasse todos os recursos que até então estavam empacados em projetos insustentáveis, típicos de bolha, para projetos que fizessem sentido econômico.  Essa foi a direção escolhida pela administração Reagan em 1981 e pela administração Harding em 1921.  O resultado, em ambos os casos, foi uma recessão curta seguida de uma recuperação vigorosa.

Porém, a administração Bush, em uma política que viria a ser mantida e aprofundada pela administração Obama, tentou uma tática semelhante àquela retratada no filme A Origem: incubar os sonhos.  A ideia era injetar estímulos artificiais no ambiente macroeconômico.  Vários programas de gastos governamentais aleatórios foram criados, o banco central imprimiu enormes quantias de dinheiro para comprar dívidas podres que estavam em posse do sistema bancário, colossais truques tributários foram inventados, dinheiro foi jogado a rodo em programas de incentivos, e inúmeras estratégias de contratações artificiais foram criadas apenas para dar a impressão de que tudo estava indo bem.

No filme, o objetivo da incubação do sonho era implantar uma ideia dentro da cabeça de um indivíduo incauto, que então passaria a agir de modo diferente do seu normal.  Na versão da vida real dessa incubação, o governo americano tentou implantar na cabeça de toda a população a ideia de que não havia depressão, não havia colapso econômico, não havia crise imobiliária, não havia necessidade de queda nos preços dos imóveis, e que realmente não havia absolutamente nenhum problema sério que o estado não pudesse consertar -- desde que toda a população fosse obediente e seguisse todas as ordens do governo.

Na versão cinematográfica, a tentativa de incubação é temporal.  Os criadores de sonhos são capazes de manter o indivíduo em um estado de letargia somente durante um determinado tempo.  Na versão da vida real, as coisas são bem mais desordenadas e confusas.  As manchetes de jornais falaram, todos os dias e durante todo esse tempo, sobre uma "recuperação iminente", sem que houvesse qualquer evidência desse fenômeno.  Tudo o que os estímulos realmente conseguiram fazer foi postergar um pouco mais a inevitabilidade dos eventos ruins.  Eles nunca conseguiram impedi-los, contudo.

Hoje, com o mercado financeiro em franco derretimento e o consenso quase universal de que os EUA voltaram à recessão, todo mundo já acordou.  Já está bem claro que a incubação não funcionou.  Os dados do desemprego são absolutamente aterradores.  Como relata o Wall Street Journal, apenas 59% dos homens com mais de 20 anos de idade possuem empregos em tempo integral (na década de 1950, esse número era de 85%).  E apenas 61% de toda a população americana com mais de 20 anos possui algum tipo de emprego, qualquer que seja. 

E esse é apenas o mais evidente dos problemas.  Ninguém realmente sabe o quanto mais o mercado imobiliário cairia sob condições de mercado desobstruído.  A real situação da indústria automotiva é uma incógnita.  Não está havendo empréstimos para empresas.  Com efeito, os empréstimos industriais e comerciais estão no menor nível desde o início da depressão.  Os números das folhas de pagamento -- emprego e renda -- ainda estão em declínio.

Com uma economia nesse estado, e com uma população que sempre possuiu expectativas de investimentos materiais, um ambiente assim pode gerar desespero.  As pessoas já falam abertamente sobre o fim do sonho americano, e até mesmo sobre o colapso do império americano, assim como ocorreu com Roma na antiguidade.  As evidências surgem diariamente, com cidades cortando iluminações públicas e reduzindo a carga horária das escolas públicas.  Governos estaduais e municipais, que não possuem acesso direto à impressora de dinheiro do Banco Central, estão cortando onde podem.

Enquanto isso, o governo federal, como se estivesse ainda tentando manter a população sedada na incubadora, está colocando seu banco central para injetar ainda mais dinheiro e crédito fácil na economia americana, com a taxa básica de juros já em quase zero.  Não importa o quão fracassada tenha sido essa tentativa, os mestres ainda não querem aceitar a indelével realidade: esses estratagemas não estão funcionando.  Há muito poucos tomadores de empréstimo para esse dinheiro que está sendo criado do nada.  Há uma percepção já bastante difundida de que a inflação está pronta para disparar, de modo que, se essa campanha de expansão creditícia algum dia engrenar, a população americana terá de enfrentar um horripilante desastre hiperinflacionário.

Atualmente, as únicas perspectivas realmente boas podem ser encontradas em apenas dois mundos.  No mundo digital, vemos crescimento, expansão e progresso.  Esse setor não está tão preso às manipulações da elite keynesiana, e seu desenvolvimento tem ocorrido rapidamente, mesmo em meio a uma depressão.

O outro setor que vem demonstrando grande aprimoramento é o setor intelectual.  A Escola Austríaca de economia está dizimando as falácias keynesianas.  Os keynesianos quiseram enfrentar essa depressão ao seu modo e perderam a batalha.  Isso já está óbvio para todos, exceto para o mais dedicado colunista de economia do The New York Times.  Para qualquer um provido de uma mente aberta, a economia ensinada pela Escola Austríaca tornou-se o modo vigente de pensamento da atualidade.

Como eu queria que Ludwig von Mises, Murray Rothbard, F.A. Hayek e Henry Hazlitt ainda estivessem por aqui para verem isso.  Suas ideias econômicas foram formadas a despeito de uma grande resistência criada pelo pensamento econômico convencional.  Hoje, em uma reviravolta, são suas ideias que estão se tornando convencionais entre todos aqueles que não estão seduzidos pelo sonho de que a prosperidade pode ser criada pela impressora monetária.

 

Sobre o autor

Lew Rockwell

É o chairman e CEO do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com , e autor dos livros Speaking of Liberty.

Comentários (6)

Deixe seu comentário

Há campos obrigatórios a serem preenchidos!