quinta-feira, 13 ago 2009
"Overgrown military establishments are, under any form of government, inauspicious to
liberty, and are to be regarded as particularly hostile to republican liberty."
(George Washington)
O
governo americano deveria retirar suas bases militares instaladas na Colômbia.
A idéia de que o governo americano representa a polícia mundial e que,
portanto, será o guardião da democracia no planeta é perigosa, e pode ameaçar a
própria liberdade no longo prazo. De fato, essa mentalidade vem desde o
presidente Woodrow Wilson, e praticamente todos os outros que o sucederam
usaram o discurso altruísta para justificar a estratégia expansionista militar.
Cruzadas para salvar a civilização são típicas de impérios, como Roma tentando
educar os bárbaros, ou a Espanha catequizando os índios, sempre com o uso de
muita violência. E medidas imperialistas acabam servindo para limitar a
liberdade do próprio povo, assim como oferecem um excelente pretexto para
outros governos avançarem sobre a liberdade de seus cidadãos.
Que
fique claro o seguinte: a revolução bolivariana patrocinada por Hugo Chávez
representa um risco infinitamente maior para as liberdades individuais na
América Latina do que as bases militares americanas. Quanto a isso não resta
dúvida. Portanto, pode-se descartar toda a retórica do próprio Chávez e demais
aliados socialistas: seu discurso é puro jogo de cena para justificar mais
medidas totalitárias. Mas esse é justamente o tipo de conseqüência que a medida
do governo americano acaba estimulando. O bode expiatório é oferecido de
presente pelo governo americano. Todo tirano necessita de um inimigo externo
para justificar suas atrocidades domésticas.
Do
ponto de vista dos próprios americanos, tal medida deveria ser duramente
combatida. O povo é forçado a pagar impostos para sustentar o expansionismo
militar de seu governo, que em nome da cruzada pela democracia acaba se metendo
em cada canto do planeta, em guerras que custam caro para o pagador de impostos
e que ajudam a manchar a imagem dos próprios americanos pelo mundo. Muitos
ditadores "amigos" acabam paradoxalmente sendo financiados em nome da defesa da
democracia. Grandes impérios sucumbiram justamente por causa de uma extensão
excessiva, de uma tentativa de resolver todos os "problemas" da humanidade. O
governo americano apresenta déficit fiscal crescente, uma dívida pública
astronômica, um modelo de bem-estar social insustentável, e ainda mete a mão no
bolso dos cidadãos para bancar o xerife internacional. Tudo isso coloca em
xeque o valor do dólar e as liberdades individuais dos próprios americanos.
Portanto, o cidadão americano tem todo direito de condenar veementemente as
aventuras internacionais de seu governo, que ameaçam sua liberdade.
Do
ponto de vista dos latino-americanos defensores da liberdade, essa postura
também deve ser criticada, pois oferece combustível ideológico para os inimigos
da liberdade. Assim como o embargo americano a Cuba serve até hoje para
alimentar uma ditadura assassina, que se faz de vítima indefesa diante do
império gigante, essas medidas do governo americano acabam colocando mais lenha
na fogueira antiamericana e, por tabela, anticapitalista dos perfeitos idiotas
latino-americanos. O tiro sai pela culatra. O tiranete Chávez pode conquistar
mais adeptos, e consegue o pretexto perfeito para se armar mais, na verdade
contra seu próprio povo. As aventuras do governo americano têm resultado
justamente no crescimento do antiamericanismo, sendo o caso do Vietnã o melhor
exemplo.
Os
libertários precisam deixar claro que condenam essas cruzadas militares de
quaisquer governos. Focando mais no curto prazo, e apelando para o pragmatismo
do realpolitik, pode-se argumentar
que essa postura do governo americano conseguiu evitar que muitos países fossem
vítimas do comunismo. O caso coreano é um típico exemplo. Mas devemos
perguntar: qual o preço disso para a liberdade no longo prazo? Sacrificar os
ideais libertários de não-agressão em nome de resultados imediatos pode ser
fatal para a liberdade. O fato é que o governo americano não tem direito algum
de forçar os cidadãos americanos a pagar por tais guerras, assim como não
deveria ter o direito de realizar doações aos países pobres, que acaba sendo a
transferência compulsória de recursos dos pobres americanos para os ricos e
politicamente influentes dos países pobres. Cada indivíduo deve ser livre para
escolher, e o fato de ser uma democracia não justifica de forma alguma a
escravidão dos que se opõem. Afinal, isso seria apenas uma ditadura da maioria.
Henry David Thoreau ofereceu a melhor crítica libertária a esta tirania, se
negando a pagar seus impostos que financiavam uma guerra injusta.
O
argumento de que as bases militares objetivam apenas o combate às drogas também
é falho. A guerra contra as drogas já foi perdida, tendo custado centenas de
bilhões de dólares dos pagadores de impostos, assim como milhares de vidas.
Está mais do que na hora dos governos reverem essa estratégia, adotando a
legalização das drogas, uma postura tipicamente libertária, já que não cabe ao
governo decidir o que cada indivíduo vai consumir. A proibição das drogas é que
tem permitido o crescimento de grupos criminosos como as FARC, assim como foi a
Lei Seca que pariu os mafiosos como Al Capone. Se o governo americano quisesse
realmente combater os criminosos que hoje se armam vendendo drogas ilícitas, a
melhor forma seria legalizar estas drogas. Quando a bebida alcoólica foi
liberada novamente, os mafiosos sumiram do setor, dando lugar às empresas
respeitadas de hoje.
Em
resumo, o governo americano deve retirar as bases militares na Colômbia. Não
pelo motivo alegado pela esquerda oportunista, que usa o império americano como
pretexto para justificar o aumento do totalitarismo doméstico. Mas justamente
para evitar esse discurso oportunista. Se a maioria dos latino-americanos
desejar realmente o socialismo pregado por Chávez e seus marionetes, então não
haverá nada que o governo americano possa fazer para evitar este triste
destino. Talvez o povo tenha que sofrer sob um regime socialista para voltar a
dar valor à liberdade. Sinceramente, espero que não seja preciso chegar a
tanto. Mas entendo que as medidas do governo americano não ajudam nada neste
sentido. Pelo contrário: acabam sendo como um presente de grego.