quinta-feira, 28 fev 2019
Todo o estudo da economia
se iniciou de uma tentativa de entender o
que faz com que algumas regiões do mundo sejam mais prósperas do que outras.
Em 1776, Adam Smith escreveu
sua magistral obra Uma
investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações.
Pensadores anteriores a
ele já haviam tratado de assuntos que hoje colocamos sob o escopo desta
ciência, mas o trabalho
de Smith desencadeou uma discussão acadêmica que perdura até hoje,
tanto para responder a essa questão inicial quanto para responder a tantas
outras que foram sendo descobertas ao longo do processo. E é a essa discussão,
e a toda a pesquisa que a acompanha, que chamamos de ciência econômica.
Infelizmente, as causas da riqueza das
nações ainda são largamente ignoradas por políticos e pela população em
geral. As pessoas estão sempre à procura, entre seus semelhantes, de alguns que
irão desempenhar o papel de condutores da economia rumo à prosperidade. Um
grupo que saiba quais são os setores estratégicos, quais serão os produtos do futuro,
quem são os empresários competentes e honestos — para então oferecer-lhes
benefícios que os mantenham produzindo para o bem da população.
Mas a economia é uma
orquestra que dispensa
maestro. Os produtores querem obter lucros altos, e para isso precisam produzir aquilo
que a população quer comprar. Aqueles que adivinham corretamente o que a
população quer, vendem bastante, crescem, e produzem mais. Aqueles que não
adivinham tão bem fecham
as portas e, com isso, liberam mão-de-obra e
capital para produtores que entendem melhor as necessidades da população.
Querer que haja um maestro para dar
ordens é algo que só prejudica esse formidável processo de constante
aperfeiçoamento da produção econômica visando àquilo que a população procura.
Todas as regiões do mundo
que hoje são
consideradas ricas — aquelas para onde todos os trabalhadores pobres
buscam migrar — assim se tornaram depois de um prolongado período de
liberalismo na economia. E, de forma geral, continuam sendo regiões onde as
decisões econômicas menos sofrem interferência do processo político.
A Academia Liberalismo Econômico,
por mim presidida, traduziu e
publicou a edição 2018 do índice Liberdade
Econômica no Mundo, elaborada pelo Instituto Fraser. O índice levanta
42 variáveis — todas elas fornecidas por instituições externas — que medem o
grau de liberdade econômica de 162 países e regiões pelo mundo. Variáveis como impostos,
burocracia, regulamentações, restrições ao empreendedorismo, tarifas de importação, flexibilidade do mercado de trabalho, facilidade de
abrir uma empresa, moeda forte, liberdade de investimentos, instituições confiáveis, respeito à propriedade privada etc.: tudo isso ajuda a
definir o grau de liberdade econômica de um país.
Agregando todas essas
variáveis, é possível precisar quais são as economias mais ou menos livres do
mundo.
Todos estes dados
também estão disponíveis em
português.
O que podemos aprender com este índice
O relatório que acompanha sua
publicação é riquíssimo em dados e análises. No entanto, quero trazer
aqui alguns destaques para servir de aperitivo ao leitor.
O Quadro 1.5 do relatório
traz a renda média per capita por cada grupo de países.

Quadro
1.5: Liberdade Econômica (quanto mais à esquerda, menos livre) e Renda per
Capita
Para compor os grupos, o
Instituto Fraser calculou a pontuação média de cada país no índice desde 1995,
e depois separou-os em quatro grupos iguais em tamanho. Para este quadro, ele
também calculou a renda média per capita dos países de cada grupo.
O resultado é que, nos
países mais livres, o indivíduo médio conta com uma renda quase oito vezes
maior — para adquirir alimentos, vestuário, moradia, tratamentos médicos e o
que mais precisar — que os países menos livres.
Interferências dos
governantes na economia custam caro a seus cidadãos, particularmente aos
cidadãos pobres. Para o quadro seguinte, o Instituto Fraser compara a renda
média dos 10% mais pobres de cada país.
A diferença se mantém ao redor de oito vezes entre o primeiro e o último grupo —
em favor da população pobre dos países mais livres.

Quadro
1.7: Liberdade Econômica e Renda Recebida pelos 10% Mais Pobres
Ou seja: se você está entre os 10% mais pobres do seu país e vive em
um dos países menos livres do mundo, você terá de se virar com US$ 1.345 por
ano. Já se você está entre os 10% mais pobres do seu país, mas vive em um país economicamente livre, você terá uma renda anual de US$10.660.
Este detalhe não é nada insignificante.
A diferença de renda entre
os grupos é tão gritante que nem mesmo um cidadão de renda média em um país
menos livre (como o Brasil) vive melhor do que um cidadão pobre em um país mais
livre (como Portugal).
Logo, a conclusão é que políticas
econômicas entre países são muito mais importantes para se determinar o padrão
de vida de um indivíduo do que as classes sociais dentro de seu país.
Outro gráfico que chama a
atenção é o da mortalidade infantil:

Quadro
1.9: Liberdade Econômica e Taxa de Mortalidade Infantil
Em 1800, a taxa de
mortalidade infantil em qualquer região do mundo estava acima de 300 crianças
mortas até os 5 anos de idade para cada mil nascidas vivas. Para os padrões
atuais, não havia país rico — todos os países eram pobres.
Agora, observe o progresso
alcançado pelos países economicamente livres em apenas duzentos anos. Esse
número foi reduzido de 300 para 6,28. Felizmente, os países menos livres também
progrediram, mas, infelizmente ainda estão no meio do caminho. Em alguns países
esse número ainda permanece acima de 100. Mas a tendência é de melhora.
Não há truques
Todos os resultados acima
se mantêm se olharmos as diferenças entre os países mais e menos livres, porém
restringindo a amostra somente para países pequenos. Ou seja, os dados acima
não decorrem de uma deturpação estatística gerada por "países
grandes", os quais, simplesmente por serem grandes, afetam os resultados
gerais.
Ademais, os mesmos
resultados também são observados se pegarmos apenas o grupo dos países menos
livres e analisarmos os países mais livres e os menos livres que pertencem a este grupo. Dentro do grupo
dos países menos livres, as economias que possuem mais liberdade apresentam
indicadores sociais e econômicos melhores do que os das economias menos livres.
Ou seja, no mínimo, a teoria
da "exploração internacional" não se sustenta.
O caminho a ser trilhado
A liberdade econômica traz
prosperidade, que por sua vez traz avanços na medicina, na produção de
alimentos, e na produção de todas as outras coisas de que necessitamos ou
desejamos.
Por motivos óbvios, não vou
trazer o relatório inteiro para este curto artigo (aqui está
o relatório completo traduzido em português, e aqui estão todos os dados); o
objetivo é ressaltar a importância de esses números serem analisados,
compreendidos e divulgados. Trata-se da boa teoria econômica sendo constatada
na prática.
Todos queremos viver em um
mundo com maior abundância de recursos e mais qualidade de vida. Mas não basta
saber aonde queremos chegar; é preciso descobrir como chegar.