segunda-feira, 19 nov 2018
Mão-de-obra e capital são dois fatores de produção.
Nossa prosperidade depende de quão eficientemente eles são alocados.
A mão-de-obra, como todos sabem, diz respeito aos
trabalhadores humanos. Quanto mais capacitados e preparados são os trabalhadores,
maior tende a ser a qualidade do bem ou serviço produzido.
Mas apenas uma mão-de-obra bem preparada e
capacitada não basta. Ela precisa ter à sua disposição um capital de qualidade.
E o que seria este capital?
Grosso modo, capital é tudo aquilo que aumenta a
produtividade da mão-de-obra. Capital são todos os ativos físicos das empresas
e indústrias que tornam o trabalho humano mais eficiente e produtivo. São as
instalações, os maquinários, as ferramentas, os estoques, as edificações, os meios de transporte, os equipamentos de escritório de uma
fábrica ou de uma empresa qualquer.
Assim como um trator multiplica enormemente a
produção agrícola em relação a uma enxada, o uso de máquinas e equipamentos
modernos multiplica enormemente a produtividade dos trabalhadores — e,
consequentemente, seus salários e, em última instância, o padrão de vida de uma
sociedade.
Se você quiser que uma economia produza mais, suas únicas
opções são alcançar uma ou mais das seguintes alternativas:
* Mais capital.
* Mais mão-de-obra.
* Um uso mais eficiente do capital disponível.
* Um uso mais produtivo da mão-de-obra disponível.
Ou seja, trabalho e capital são dois
ingredientes que determinam o desempenho de uma economia. Mais do que isso,
eles são complementares: trabalhadores
se tornam mais produtivos e ganham maiores salários quando investidores e
capitalistas compram
máquinas e aprimoram a tecnologia.
Em outras palavras, os marxistas e os socialistas estão
completamente equivocados ao afirmarem que trabalhadores e capitalistas são inimigos
mútuos. A realidade é oposta: quanto mais capitalistas, maior o padrão de vida dos
trabalhadores. E nem é preciso uma profunda teoria para refutar essa ideia
marxista: apenas olhe ao redor do mundo e compare a prosperidade dos
trabalhadores em economias mais voltadas ao mercado com as privações dos
trabalhadores em economias estatizadas.

No
eixo Y, a quantidade de capital investida por trabalhador; no eixo X, a renda por
trabalhador. Fonte: Economic Growth
Entra a Venezuela
Toda essa teoria se torna
dolorosamente clara ao lermos essa reportagem do Wall
Street Journal sobre o atual inferno socialista da Venezuela:
A multinacional irlandesa Smurfit Kappa, líder em embalagens de
papelão ondulado da Europa e uma das principais empresas de embalagens de papel
do mundo, anunciou recentemente sua saída da Venezuela, alegando
impossibilidade de manter sua produção perante as destrutivas políticas implantadas
pelo governo socialista de Nicolás Maduro. Foi mais uma multinacional a sair do
país.
Mas este caso trouxe uma reviravolta. Centenas
de empregados venezuelanos da empresa, que dependem da multinacional irlandesa
para transporte, educação, moradia e alimentos, continuam aparecendo diariamente
na empresa querendo trabalhar. Eles se revezam em turnos para proteger todo o
pesado maquinário ocioso contra roubos e saques, algo que se tornou uma
desenfreada rotina à medida que a Venezuela se afunda na hiperinflação e no
caos econômico. [...]
"Socorro, precisamos de um patrão aqui!
Estamos desesperados!", disse Ramón Mendoza, funcionário há 17 anos da divisão florestal
da Smurfit. "Estamos apavorados porque só agora estamos vendo que a única coisa
que o governo sabe fazer é destruir absolutamente tudo, todas as empresas."
O sofrimento destes trabalhadores
ressalta a devastação que as comunidades rurais venezuelanas estão vivenciando
à medida que as empresas privadas vão se retirando daquele país que já foi não apenas o mais
rico da América Latina, como também o quarto mais rico do mundo.
A economia já encolheu 50% nos últimos
quatro anos.
A única exclamação que me
vêm à cabeça após ler a declaração do senhor Mendoza é: uau! Ele de fato
entendeu exatamente o que se passa: "a única coisa que o governo sabe fazer é
destruir absolutamente tudo".
Eis outro trecho do
artigo:
Os trabalhadores que vivem perto da
empresa haviam recebido empréstimos a juros zero da Smurfit para suas casas. Os
residentes afirmaram que, com a saída da empresa, eles não mais podem contar
com as quatro ambulâncias que a empresa bancava para servir às comunidades ao
redor.
Na Escola Técnica de Agricultura, que fica
na cidade de Acarigua e que foi inteiramente financiada pela Smurfit,
aproximadamente 200 crianças que viviam na extrema pobreza passaram a receber educação,
moradia e também refeições quentes, as quais se tornaram um luxo após o colapso
das escolas públicas do país.
Ao longo de duas décadas, muitos dos
formandos desta escola técnica foram trabalhar na Smurfit. O ano acadêmico deveria
começar em 1º de outubro, mas, sem dinheiro para alimentar e transportar os
estudantes, há apenas silêncio nos corredores e nas salas de aula. "É como se
todo o nosso futuro tivesse sido repentinamente abolido", disse a senhora
Sequera.
Agora, atenção para o
trecho a seguir. O governo venezuelano não apenas não faz a mais mínima ideia
de como consertar a baderna que ele próprio provocou, como os próprios trabalhadores
estão rejeitando o ideal socialista de assumir o controle dos meios de produção.
Nos últimos dias, a administração Maduro
afirmou que havia encontrado uma solução para as instalações da Smurfit: os
trabalhadores iriam eles próprios administrá-la. O governo não irá
estatizá-la, mas nomeou um comitê temporário para ajudar a reiniciar as operações.
O Ministério do Trabalho não ofereceu
detalhes de como iria substituir toda a rede de distribuição da Smurfit, por
meio da qual a empresa abastecia suas subsidiárias em outros países. No entanto,
os próprios trabalhadores vieram a público dizer que eles não querem e não são capazes
de gerenciar as instalações, e insistem que querem ter patrões — mas desde que
não sejam funcionários do governo.
"Sabemos como transportar a madeira
daqui para a fábrica. Mas não sabemos nada sobre finanças e marketing", disse o
senhor Mendoza.
Novidade nenhuma, é claro. Isso é divisão do trabalho pura e simples. Se operários fossem igualmente capacitados para também
efetuar tarefas administrativas, eles formariam cooperativas e seriam eles seus
próprios patrões. Só que, ao contrário do mundo cor-de-rosa imaginado por
socialistas, nem todo o operário é qualificado para efetuar também questões financeiras
e gerenciais. Nem todo operário pode assumir o controle dos meios de produção com
a mesma competência de empreendedores e capitalistas. Com efeito, nem todo operário
quer se tornar um empreendedor.
É interessante constatar
como um simples e rotineiro exemplo venezuelano jogou por terra todo um enorme arcabouço
marxista.
De resto, é impossível não
se solidarizar com os trabalhadores (agora sem patrões) da Smurfit. Eles simplesmente
querem trabalhar honestamente em troca de um salário honesto. Eles não querem
brincar de revolução, não querem ficar sem patrões e nem muito menos assumir o
controle dos meios de produção. Querem apenas continuar trabalhando, algo tornado
impossível pelas políticas
socialistas adotadas pelo governo da Venezuela.
Conclusão
Não, não estou insinuando
que patrões são motivados por um profundo amor a seus empregados. Tampouco estou
dizendo que empregados são motivados a criar lucros para as empresas para as
quais trabalham. Ambos os lados estão em um constante cabo de guerra para definir
como cortar o bolo. Isso vale para todas as áreas.
Mas há dois pontos a
serem constatados.
1) O bolo só cresce
quando os mercados têm liberdade para funcionar, e esse crescimento do bolo
beneficia tanto patrões quanto empregados.
2) A ideia de que
empregados assalariados estarão em melhor situação caso fiquem sem patrões e assumam
o controle dos meios de produção não passa de um mero devaneio adolescente,
algo que faz sentido apenas na mente de intelectuais socialistas.