segunda-feira, 5 jun 2017
Em resposta ao anúncio do governo Trump de que
estava os retirando
os EUA do Acordo Climático de Paris, alguns de seus críticos declararam que
qualquer pessoa que goste de "ciência" teria apoiado o acordo.
Não surpreendentemente, o cientista-celebridade Neil
deGrasse Tyson não perdeu tempo em declarar que Trump defendeu a retirada
porque sua administração "nunca
aprendeu o que é Ciência nem como e por que ela funciona".
Mas o que exatamente a "Ciência" (Tyson escreve com
maiúscula por algum motivo insondável) tem a ver com acordos políticos?

"Se
eu e meus conselheiros jamais tivéssemos aprendido o que é a Ciência ou como e
por que ela funciona, eu também sairia do Acordo Climático de Paris."
Sabemos que Tyson é da opinião de que há aquecimento
global. Também sabemos que vários outros cientistas concordam com ele.
Porém, concordar com Tyson na questão das mudanças
climáticas não significa que alguém deve, lógica e necessariamente, defender o
Acordo Climático de Paris. Afinal, o Acordo Climático de Paris não é um estudo
científico. Trata-se meramente de um documento político que estipula uma agenda
específica de políticas públicas a serem adotadas por vários governos ao redor do
mundo.
Você concordar ou discordar com os termos do Acordo
pode até ser um indicador do que você pensa sobre a ciência climática. Mas pode
também não ser indicador nenhum. É perfeitamente possível aceitar que há
mudanças climáticas e que os seres humanos têm um grande papel neste fenômeno;
entretanto, concordar com isso não significa que você tem necessariamente de
aceitar se submeter às políticas públicas compulsórias impostas pelo documento
de Paris.
Ambos são fenômenos totalmente independentes.
Ciência
e política não são a mesma coisa
Uma analogia pode
ajudar a ilustrar essa dicotomia.
Pesquisas científicas
mostram que a obesidade faz mal para a saúde. Imaginemos, então, que, em
resposta a crescentes taxas de obesidade, vários políticos decidem se reunir e
assinar um acordo para dizer 'não' à obesidade — chamemos esse acordo de Força
Orquestrada pelo Fim da Obesidade (FOFO). Os políticos que defendem tal acordo
alegam que o tratado irá reduzir a obesidade, e afirmam peremptoriamente que o
país que não aderir aos seus ditames estará condenando a humanidade a uma grave
crise de saúde.
Pergunta: algum
político que eventualmente não assinar este acordo é automaticamente um
"negacionista da obesidade"[1]?
Uma recusa em não fazer parte de tal acordo prova que os dissidentes acreditam
que a obesidade não é uma coisa real?
Obviamente que não.
Aqueles que se recusam
a assinar o acordo podem ser da opinião de que o FOFO nada faz para
efetivamente reduzir a obesidade. Ou então acreditam que o acordo não faz uma
ponderação adequada entre os custos e os benefícios de impor suas diretivas. Em
suma, os oponentes podem simplesmente acreditar que "a cura é pior que a
doença".
Em qualquer caso,
discordar do acordo nada tem a ver com negar a existência da obesidade ou a
ciência por trás dos estudos da questão.
O
problema com Paris
O mesmo é válido para o
acordo de Paris. Aqueles que discordam do documento podem perfeitamente estar
— e provavelmente estão — se opondo a algumas cláusulas específicas do
acordo, as quais podem, com efeito, acabar sendo muito mais custosas para as
pessoas do que o suposto aquecimento global propriamente dito.
Porém, para cientistas
como Tyson — isto é, pessoas que nada sabem sobre economia ou instituições
políticas —, políticas públicas funcionam como truques de mágica: um grupo de
políticos se reúne, declara que irá solucionar o problema X, e então, voilà!, o
problema X é magicamente solucionado — desde que, é claro, todos apóiem
irrestritamente a "solução".
Mas e se as soluções
políticas propostas pelos políticos reunidos em Paris forem erradas? Ou, e se a
cura for pior que a doença?
Presumivelmente, o
acordo deveria melhorar as vidas de todos os seres humanos do planeta em
decorrência de políticas que irão aprimorar seu padrão de vida. Se isso for
verdade, então, por definição, o acordo de Paris tem necessariamente de
realizar várias coisas:
1.
Ele deve se basear em uma ciência sólida e irrefutável sobre o clima.
2.
Ele deve prever, com perfeição e acurácia, os efeitos das mudanças climáticas
nos padrões de vida.
3.
Ele deve endossar políticas públicas que irão mitigar os efeitos negativos das
mudanças climáticas nos padrões de vida de todos.
4.
Ele deve demonstrar que essas
políticas públicas irão realmente mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
5.
Ele deve demonstrar que os custos das políticas públicas propostas são menores que os eventuais custos das
mudanças climáticas.
Se o acordo de Paris
for incapaz de efetuar qualquer um destes itens, então ele deve ser
sumariamente rejeitado. Se o resultado líquido do acordo for o de deixar as
pessoas economicamente mais pobres, então o acordo não possui valor nenhum.
Agora, sem fazer
qualquer juízo quanto à ciência climática em si, podemos constatar ao
simplesmente lermos o acordo de Paris que ele pode facilmente ser rejeitado com
base nos itens dois, três, quatro e cinco da lista acima.
Afinal, o acordo é
baseado em previsões políticas que são totalmente especulativas. O acordo tenta
fazer previsões sobre como será a economia global daqui a décadas (um comportamento notoriamente falível e nada confiável) e
é incapaz de honestamente levar em conta as verdadeiras consequências de se
impor, coercivamente, custos energéticos extremamente mais caros para as
pessoas mais pobres e trabalhadoras do mundo — que é o que o acordo quer fazer
na prática.
Com efeito, o acordo
nem sequer menciona os custos para as
famílias — as quais, caso o acordo entre em vigor, teriam de lidar com essa
energia muito mais cara.
Os únicos custos
mencionados são os custos de adaptar às mudanças climáticas. Em outras
palavras, o acordo assume que não haverá absolutamente nenhum efeito negativo
para as famílias. Difícil haver indício mais claro do que este de que se trata
de uma farsa.
Também ignorado é o
custo de oportunidade de se adotar as cláusulas do acordo. Na vida real, a
adoção das prescrições políticas do acordo irá reduzir o crescimento econômico,
pois haverá uma redução no acesso a recursos energéticos básicos.
E há também
contradições insanáveis. Ironicamente, uma das consequências de se reduzir a
riqueza das famílias será uma redução na arrecadação tributária dos governos.
Dinheiro que será gasto — por pessoas e governos — com energia mais cara é
dinheiro que não poderá ser gasto em outras áreas, como saúde, educação e
pesquisa sobre melhores práticas agrícolas. Ao mesmo tempo, o acordo também
requer uma volumosa política de redistribuição de renda e sugere amplos gastos
governamentais em vários programas, como "preparações emergenciais" e "seguros"
governamentais para bancar os efeitos dos desastres naturais.
Assim, o acordo clama
por mais gastos públicos ao mesmo tempo em que reduz a capacidade tanto do
setor público quanto do setor privado em incorrer em tais gastos.
Trata-se de um
comportamento totalmente contraditório e, ao mesmo tempo, autodestrutivo.
Menos energia significa
menos água limpa
Outro fator de extrema
importância, e também ignorado pelo acordo, é a necessidade de energia para a
produção e distribuição de água limpa. A água potável é um recurso escasso,
mesmo que o governo goste de tratá-la como se não fosse.
Mesmo com a crescente
demanda originada por populações cada vez maiores, água limpa e potável pode
ser produzida por meio do uso de energia intensiva, como
dessalinização e aquedutos com bombeamento.
Hoje, esses métodos
ainda não são economicamente viáveis porque o problema da escassez de água pode
ser resolvido por meios mais baratos, como transposição de rios e o uso de
aquedutos que trabalham com a força da gravidade.
No futuro, no entanto,
à medida que a população for crescendo e a água for se tornando cada vez mais
escassa, a resposta mais prática para o problema terá inevitavelmente de passar
por soluções que requerem um uso mais intenso da energia.
Só que, ao defender o
planejamento centralizado e ao limitar artificialmente o uso de energia, o que
o lobby do aquecimento global quer fazer é elevar o custo do processamento de
água e, ao mesmo tempo, inibir o progresso tecnológico que resultaria da
experiência prática na produção e processamento de água potável.
Os defensores do Acordo
Climático de Paris irão, sem dúvida, responder dizendo que as cláusulas do
acordo irão, de alguma maneira, surpreendentemente evitar a necessidade de mais
gastos com água pura no futuro, pois as temperaturas globais serão reduzidas. Mas
com que evidência afirmam isso? Baseando-se em modelos computacionais extremamente
especulativos que estimam o que irá acontecer daqui a décadas?
Com evidências tão frágeis,
é fácil ver por que é mais sensato manter as políticas que existem hoje (e que
ao menos farão aparecer um pássaro na mão) a adotar as políticas públicas impostas
pelo acordo de Paris (e suas promessas de dois pássaros voando).
Nem
os próprios acreditam
Sabemos que podemos
ajudar os pobres hoje com energia barata, maior capacidade produtiva, e uma
economia robusta. Já o Acordo de Paris apenas promete ajudar pessoas hipotéticas
no futuro baseando-se em um regime de políticas públicas teóricas e nunca
tentadas.
Várias pessoas
prudentes escolheriam a primeira opção.
Ademais, várias pessoas
do próprio lobby do aquecimento global reconhecem
que o Acordo do Paris nada fará para reduzir as temperaturas no futuro. Assim,
a prudência sugere que investimentos em tecnologia e em medidas já conhecidas
de alívio à pobreza (como aquelas que estimulam maior comércio e maior
investimento em capacidade produtiva) irão ajudar os pobres agora mesmo. Já adotar políticas que
afetam nossa capacidade de investir nestas medidas — como faz o Acordo de
Paris — irá apenas piorar a situação.
Conclusão
Deixar a ciência
econômica e a economia política nas mãos de cientistas climáticos e de políticos,
os quais tendem a ser irrecuperavelmente obtusos no que tange ao conhecimento
de como economias funcionam e de como os bens escassos podem ser preservados,
obtidos ou manufaturados, é uma péssima ideia.
No mundo real, onde
cabeças mais racionais tendem (ocasionalmente) a prevalecer, os custos de
qualquer ação governamental devem ser comparados aos custos das
alternativas. Mais ainda: o ônus da prova recai sobre aqueles que querem
a intervenção estatal, já que seus planos dependem do uso da violência do
estado para impingir o cumprimento das ordens propostas.
Mesmo as pesquisas
convencionais (pró-regulação) reconhecem que os cortes de emissões propostos,
como cortar "emissões
de CO2 para 80% dos seus níveis de 1990", são
puramente arbitrários. Com efeito, eles têm de ser
arbitrários, pois as próprias pessoas que defendem tais medidas não fazem a
mais mínima idéia de em quanto as emissões de gás carbônico devem ser cortadas
para atingir suas metas, ou mesmo se existe um
nível de cortes que seja suficiente para atingi-las.
Dessa maneira, um mundo
com controle de emissões de gás carbônico e outros planejamentos centralizados
com o objetivo de evitar o aquecimento global é um mundo de preços mais altos
para todos quando se trata de comida, água e qualquer necessidade básica que
envolva o uso de energia. Ou seja, quase tudo.
Naturalmente, as
pessoas nos países mais pobres e menos industrializados sofrerão mais. O lobby
do aquecimento global gosta de alegar que as suas políticas são voltadas
principalmente para os países ricos. Mas, se eles acreditam que isso irá poupar
o mundo subdesenvolvido, isso só comprova que eles não entendem o funcionamento
de uma economia globalizada. Esmagar a atividade econômica e o consumo no mundo
desenvolvido fará apenas com que os salários e o crescimento econômico nos
países em desenvolvimento sejam reduzidos.
Ainda assim, no mundo
imaginário dos cientistas climáticos que ignoram as complicadas realidades da
economia e das políticas públicas, simplesmente desejar que algo aconteça é o
que basta para que esse algo realmente aconteça. Se apenas desejarmos, com
muito ardor, que todos os nossos problemas sejam resolvidos, então é claro que
aquelas boas pessoas que ocupam cargos burocráticos nos governos farão
exatamente com que isso ocorra.
[1] Vale
ressaltar que a tática de chamar alguém de "negacionista" é uma mera tentativa
de intimidação. 'Negacionista' é um termo oriundo diretamente daqueles que
negam a veracidade do Holocausto. Ao chamarem dissidentes de "negacionistas",
os defensores da tese do aquecimento global antropogênico estão recorrendo ao
torpe truque de dizer que quem é cético quanto a políticas públicas está na
mesma categoria de quem nega as atrocidades do nazismo.
Este truque retórico, por si só, revela tudo o que você
precisa saber sobre o nível de manipulação incorrido pelos adeptos do
planejamento climático e mostra até onde os planejadores climáticos estão
dispostos a ir para concretizar seus planos, independentemente do ceticismo popular
— e justificado — sobre a eficácia de suas políticas regulatórias e
distributivistas.