quinta-feira, 23 fev 2017
Ao final de 2016, a Amazon apresentou a "Amazon Go",
uma loja de conveniência futurística e totalmente automatizada, que será aberta
em Seattle em alguns meses.
A ideia é sensacional: você entra na loja, pega os
produtos que quiser, coloca na sacola e simplesmente vai embora, sem ter de enfrentar
nenhuma fila de pagamento e sem ter de lidar com nenhum caixa humano. Os produtos
retirados são debitados em seu aplicativo de smartphone.
Este sensacional empreendimento fará com que aquelas
idas rápidas ao mercado se tornem muito mais cômodas e fáceis para os
consumidores mais ocupados e sem tempo. Você não levará mais do que um minuto
para entrar no estabelecimento, pegar o que quiser, e sair logo em seguida (tal
tecnologia é chamada de grab and go, "pegue
e vá" ) Sem filas enormes, sem chateação, sem perda de tempo.
Esta é a tendência para todos os supermercados e
pontos comerciais no futuro.
Nos países mais ricos, já vemos a integração de
várias máquinas de auto-atendimento nas grandes redes de supermercado,
substituindo os caixas humanos. Mesmo restaurantes fast-foods estão adotando
essa tendência. O McDonald's atualmente possui quiosques em várias localidades
que permitem aos clientes pedir e receber sua comida sem qualquer interação
humana. As redes Carl's
Jr. e Hardees também
já anunciaram que irão testar quiosques automatizados em seus estabelecimentos.
Ainda em 2012, uma startup de robótica chamada Momentum
Machines apresentou
um protótipo de uma máquina totalmente autônoma que recebe os pedidos
dos clientes, cozinha a carne, fatia os vegetais, monta o hambúrguer, embala-o,
e entrega ao cliente. Esta máquina se mostrou capaz de preparar 400
hambúrgueres em uma hora. A empresa já comprou um prédio na cidade de San
Francisco e pretende inaugurar um restaurante totalmente autônomo em breve. Tal
restaurante ainda irá necessitar de alguns poucos humanos, que terão as funções
de garantir que as máquinas funcionem harmoniosamente, retirar o dinheiro das
máquinas e efetuar outras tarefas menores.
Obviamente, caso essa hamburgueria automatizada se
comprove lucrativa, é de se esperar que as grandes cadeias sigam essa
tendência.
Obviamente, os críticos e pessimistas já estão se
manifestando dizendo que este tipo de automação, caso se torne difundido,
colocará em risco uma enorme variedade de empregos, como o de caixa e
atendente.
"Relatório
sugere que quase metade dos empregos nos EUA é vulnerável à automação",
grita uma manchete de jornal. "As máquinas irão roubar nossos empregos!" é
um grito que já pode ser ouvido em vários países do mundo, principalmente nos
mais avançados.
Essa preocupação em relação ao emprego — ou, mais
especificamente, ao uso de mão-de-obra humana para fazer trabalhos físicos,
repetitivos e cansativos — não é nova e tampouco é específica e restrita a
determinadas áreas. Com efeito, a humanidade possui um longo histórico de temor
em relação a todo e qualquer progresso mecânico, atribuindo a ele todas as
eventuais taxas de desemprego ao longo da história.
O
tempo passou, quase nada mudou
Essa postura anti-automação e anti-mecanização não só
é antiga, como parte de uma crença bem-definida: a crença de que as máquinas e
a automação deixam os trabalhadores mais pobres.
Esta crença é frequentemente rotulada de 'filosofia
ludita'. Um sujeito chamado Ned Ludd supostamente saiu quebrando máquinas
de tear durante um acesso de fúria em 1779. Em 1811, um artigo sobre Ludd
foi publicado em um jornal. Isso inspirou várias pessoas a repetirem o
feito. Quando então elas saíram quebrando máquinas, elas foram chamadas de
luditas.
Quem eram esses agressores? Eram pessoas que
até então possuíam empregos altamente bem pagos como fabricantes de
determinados bens que atendiam às demandas de pessoas ricas. Era um
mercado bem restrito. Com o tempo, essas pessoas foram descobrindo que sua
clientela cativa estava diminuindo em decorrência do fato de outros produtores
terem passado a utilizar máquinas para produzir em massa esses mesmos
bens. Essa produção em massa aumentou a oferta desses bens. Tal
aumento da oferta levou a uma redução de preços. Essas pessoas
repentinamente descobriram que seu trabalho era caro e pouco produtivo.
Tais pessoas eram membros de uma guilda que por
séculos havia utilizado seu poder político em áreas urbanas para adquirir o
monopólio de mercados específicos. Elas descobriram que a concorrência de
preços trazida pelas máquinas estava reduzindo suas rendas. Em resposta, elas
destruíam as máquinas. Em outras palavras, elas utilizavam de violência
contra produtores e proprietários de máquinas com o objetivo de manter seu
monopólio. Antes, elas utilizavam seu poder político para alcançar este
mesmo objetivo.
O termo "sabotador" vem de
"sabot", que significa sapato em francês. Operários atiravam
sapatos nas máquinas com o intuito de destruí-las e, com isso, reduzir a
produção de bens altamente específicos. Tal ato era visto pela maioria das
pessoas como destrutivo, mas ele claramente trazia benefícios de curto prazo
para aqueles que estavam enfrentando a concorrência das máquinas. No
final, tudo era apenas mais um dos vários casos de violência contra
proprietários e empreendedores.
Essa filosofia dos luditas ainda continua presente
entre nós, sendo encontrada mais especificamente naqueles que criticam a automação
e o uso da robótica. Ainda hoje, há várias pessoas cujo conhecimento
econômico sobre a natureza do livre mercado e sua relação com a prosperidade
econômica é precário. Tais pessoas são hostis ao uso de robôs em praticamente
todas as áreas de produção — curiosamente, elas aceitam a automação e o
uso intensivo de máquinas naquelas tradicionais linhas de montagem, as que vêm
utilizando robôs há 30 ou 40 anos (como o setor automotivo).
No entanto, o aumento da produtividade que levou o
mundo aos bons tempos de 40 anos atrás foi baseado também na adoção de técnicas
de produção em massa as quais hoje chamaríamos de automação e robótica. Foi a
adoção de máquinas no lugar da mão-de-obra humana, algo que por sua vez se baseou
em novos suprimentos de energia, o que permitiu que todo o mundo se tornasse
mais rico.
Pense nas invenções do século XIX. Pense na
ferrovia. Pense na colheitadeira e no trator. Pense na máquina de
costura. Todas essas invenções substituíram o trabalho manual por
equipamentos. Os condutores de charrete perderam a competição contra o
motor a vapor, e o mundo ficou em melhor situação por causa disso.
Não importa quantas histórias sejam contadas e
quantos exemplos práticos sejam relatados sobre o incremento no padrão de vida
do mundo atual em decorrência do aumento do uso de energia mecânica e elétrica,
e do aumento do uso de máquinas — a mentalidade ludita continua firme e forte. Há
pessoas que continuam afirmando que a automação nós deixará mais pobres. Elas estão dizendo isso há 200 anos.
Tão arraigado é esse temor das máquinas, que o
economista Henry Hazlitt, ainda na década de 1940, se sentiu compelido a dedicar
um capítulo inteiro de seu livro "Economia Numa Única Lição"
para refutar este mito. Em seu capítulo intitulado A Maldição da Maquinaria, ele escreve:
A
crença de que as máquinas causam desemprego, quando mantida com alguma
consistência lógica, conduz a conclusões absurdas e ilógicas. Não apenas
temos de estar causando desemprego com o aperfeiçoamento tecnológico atual,
como também o homem primitivo deve ter sido o primeiro a gerar desemprego ao
aplicar idéias que o poupavam de trabalho e suor inúteis.
A
lição do macaco velho
Há uma regra fundamental na economia que nunca deve
ser ignorada: qualquer coisa que possa ser feita
lucrativamente por uma máquina deve ser feita por uma máquina.
Por que isso é verdade? Porque a mão-de-obra
humana é, de longe, a mais versátil e a mais móvel dentre todos os
capitais. As pessoas são capazes de estar sempre aprendendo novas formas
de servir seus clientes. Macaco velho realmente aprende novos
truques. No entanto, para fazê-lo aprender novos truques, ele tem de
enfrentar a realidade: o que quer que ele fazia antes para ganhar a vida pode
agora ser feito de maneira mais eficiente e mais barata por uma máquina.
Macaco velho prefere fazer truques velhos. E
ele prefere ganhar uma renda alta para fazer truques velhos. Só que o progresso
econômico não o permitirá continuar auferindo uma renda alta fazendo truques
velhos caso surjam novas ferramentas que irão possibilitar que novatos façam
esses mesmos truques — e os façam de maneira até melhor — a um preço menor.
A maneira como o Ocidente enriqueceu após 1800 foi
por meio do empreendedorismo, da criatividade, da redução do custo da energia
(possibilitada por maiores investimentos e maior acumulação de capital) e da
invenção de máquinas melhores e mais eficientes. Nós enriquecemos porque
fomos capazes de aproveitar a produtividade da natureza, na forma de energia e
por meio de equipamentos especializados, e utilizá-la para substituir a valiosa
mão-de-obra dos seres humanos, mão-de-obra essa que consequentemente foi
liberada para ser utilizada em outros setores, o que permitiu um aumento
generalizado da oferta de bens e serviços.
A automação libertou o ser humano do fardo de ter de
fazer trabalhos pesados — até então essenciais — e o liberou para se
aventurar em novos empreendimentos. Isso aumentou
a oferta de bens e serviços, aumentando o progresso e o bem-estar da
humanidade.
Todo esse processo, ao contrário do que dizem os
luditas, foi propício à criação de novos empregos. No final, é tudo uma questão
de o macaco velho saber se adaptar.
Os
demitidos e os consumidores
Os luditas sempre afirmam estar falando em nome dos
trabalhadores que foram substituídos pelas máquinas e cujos serviços não mais
conseguem concorrer em um livre mercado.
Os luditas se posicionam a favor do trabalhador
demitido como se as necessidades de um trabalhador demitido gozassem de uma
maior autoridade moral do que os desejos de consumidores que estão sempre à
procura de bens melhores e mais baratos. O ludita parte do princípio de
que o livre mercado deve funcionar em benefício do produtor e não em beneficio
do consumidor.
Essa é a lógica da guilda.
Eis a realidade: sempre que for lucrativo para o
empreendedor substituir um ser humano por uma máquina, a conclusão é uma só: os
consumidores estão sendo mais bem servidos pela máquina. Quem diz
isso? Os próprios consumidores. São eles que compram os produtos das
máquinas. São eles que, ao propiciarem lucros para o empreendedor, mostram para
ele que sua decisão foi acertada.
São os consumidores, em
suma, que decidem quais empregos devem continuar existindo e quais devem ser
substituídos por máquinas. O empreendedor apenas segue essas ordens.
O consumidor não está interessado em saber quão
trabalhoso e quão custoso é o processo de produção de um bem. Ele não está
interessado em pagar mais caro só porque a fabricação de um produto empregou desnecessariamente
mais pessoas do que deveria.
Ele está interessado apenas em uma combinação:
qualidade alta e preço baixo. Sempre foi assim e sempre será assim. Consumidores querem barganhas. Consumidores querem produtos bons. Consumidores querem produtos bons a preços baixos. Consequentemente, ele irá premiar aquele produtor
que lhe entregar exatamente isso. Se esse produtor tiver de recorrer a mais máquinas
e a menos trabalho humano para alcançar esse objetivo, então ele fará
exatamente isso.
Mas há também uma boa notícia para o ludita: quanto
maior a automatização, menores os custos de produção. Consequentemente, menores
os custos de entrada para novos empreendimentos. Isso significa que novos
empreendimentos poderão surgir mais facilmente, de modo que aquelas pessoas que
foram demitidas por causa da automação poderão encontrar novos empregos
rapidamente.
Essa, aliás, é uma lógica econômica impermeável à
mente ludita: tudo o que é poupado no processo de produção se transforma em
mais capital disponível para novas ideias. Se passamos a utilizar menos
mão-de-obra e menos recursos em um determinado processo produtivo, essa
mão-de-obra liberada e esses recursos poupados estarão livres para ser
utilizados em outros processos de produção, em novas ideias e em novos
empreendimentos.
A própria automação criou e continuará criando
vários tipos de empregos direitos e indiretos. E a produção em abundância
possibilitada pelo trabalho mecanizado permitirá que os recursos poupados sejam
direcionados e investidos na medicina, nos sistemas de transporte e em novos
conceitos empresariais, gerando cruciais inovações. A tecnologia de hoje,
que já é impressionante, parecerá arcaica em comparação.
Conclusão
Aumentos no padrão de vida estão diretamente
relacionados a um aumento na quantidade de bens e serviços disponíveis. E
isso foi possibilitado pela automação. E continuará sendo.
Com mais automação, iremos eliminar trabalhos
perigosos, sujos, insalubres e degradantes, ao mesmo tempo em que poderemos
explorar os dois terços da terra inóspitos aos seres humanos.
Os desejos do ser humano são, por definição,
ilimitados; e, enquanto o capitalismo ainda não houver encontrado uma maneira
de satisfazer todos os desejos e de curar todas as doenças — ou seja, nunca —,
sempre haverá capital buscando novas possibilidades de investimentos e
soluções.
Com a abolição das formas mais exaustivas de
trabalho possibilitada pela automação, a genialidade do ser humano será
liberada para se concentrar em uma infinidade de desejos e necessidades ainda
não atendidos pelo mercado. Entre as maiores enfermidades, aquele flagelo
que é o câncer será atacado por investimentos exponenciais, em conjunto com as
mentes bem-remuneradas por esses investimentos.
A solução para o nosso bem-estar passa pelo
aprofundamento da automação.
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