O episódio a seguir aconteceu no início de fevereiro
e fez muito burburinho nas redes sociais.
A jovem Thauane Cordeiro estava em uma estação de ônibus
em Curitiba. Ela usava um turbante, pois estava com a cabeça raspada por sofrer
de leucemia mieloide aguda. Thauane é branca caucasiana.
Thauane percebeu que estava sendo encarada, com ares
de desaprovação, por duas jovens negras. Ambas finalmente se aproximaram de
Thauane e lhe deram uma reprimenda: sendo Thauane branca, ela não tinha o direito
de usar um turbante, pois tal adereço é típico da "cultura afro", podendo ser
usado apenas por negros. Ao usar um turbante, Thauane, que é branca, estava
praticando uma violenta "apropriação cultural".
Thauane, indignada, apenas respondeu: "Tá vendo essa
careca? Isso se chama câncer, então eu uso o que eu quero! Adeus."
Ato contínuo, Thauane foi relatar sua experiência em sua página no
Facebook. Aí todo o inferno progressista se insurgiu. Mesmo tendo usado
o turbante por causa de uma doença, os "justiceiros sociais" repreenderam
Thauane, dizendo que "câncer não é desculpa para se apropriar da cultura
negra".
Eis alguns exemplos de amor progressista:



O imbróglio virou
assunto nacional.
Antes de prosseguirmos, uma palavra sobre turbantes.
Os turbantes foram criados muito provavelmente
pelos mesopotâmicos e foram utilizados por diversos povos diferentes
pelos séculos. Persas, árabes, judeus, hindus, indianos, gregos, povos das
Américas, todos usaram turbantes de várias maneiras e bem antes da era cristã.
O turbante, inclusive, já foi símbolo de status social e poder econômico e
político em alguns povos, inclusive africanos. Aliás, esse também é o caso das
tranças e dreadlocks.
Turbantes também já foram utilizados por pintores e
artistas para proteger os cabelos das tintas e pó de mármore, fizeram parte da
indumentária de homens e mulheres europeus durante o período medieval, foram
utilizados por Maria Antonieta como peça de moda, e, finalmente, renasceram
quando Paris já era considerada a capital mundial da moda no século XX com o estilista
francês Paul Poiret na década de 1920.
Turbantes também foram muito utilizados pelas
mulheres europeias durante a Segunda Guerra Mundial para esconder os cabelos
mal cuidados devido às condições de vida precárias da época.
No Brasil, ao contrário do que se possa pensar, o
turbante chegou com os primeiros europeus que vieram desbravar o território,
não com os negros africanos. Há relatos de que viraram moda no país com a
chegada da família real, em 1808, visto que a rainha Carlota Joaquina e outras
damas da corte desembarcaram usando turbantes para disfarçar a peste de piolhos
que acometeu os tripulantes durante a viagem.
Ou seja, essa postura não mascara apenas o racismo dos
progressistas (quem diria?), mas também sua enorme ignorância.
A
definição de apropriação cultural
Segundo
o politicamente correto, 'apropriação cultural' é a adoção de alguns
elementos específicos de uma cultura por um grupo cultural diferente. Quando
brancos utilizam adereços ou emulam comportamentos que são "típicos da cultura
afro", isso representa uma intolerável forma de aculturação de "uma cultura
minoritária por uma cultura dominante".
E isso é "extremamente ofensivo".
Consequentemente, quando a cantora Anitta apareceu
no programa Altas Horas utilizando um
simples dreadlocks no cabelo, ela
foi acusada de "apropriação cultural". Na edição de 2016 do Baile da Vogue, a África foi o
tema. Sabrina Sato, Adriane Galisteu, Eliana, Mariana Weickert, Luiza Possi e
outras celebridades compareceram ao evento vestidas a caráter, com trajes
inspirados na cultura negra. Os
justiceiros sociais prontamente as acusaram de uma insensível "apropriação cultural".
O estilista Marc Jacobs colocou duas modelos brancas desfilando com dreadlocks
coloridos. Foi
trucidado na internet por sua "ofensa".
Os justiceiros sociais já até criaram um manual do
tipo "pode e não pode", definindo ao mundo o que eles toleram e o que eles
consideram ofensivo. Confira
aqui.
Por último, este
trecho diz tudo o que você precisa saber sobre o ideário deste movimento:
O
sistema global hoje só existe e se sustenta porque fazemos parte de um mundo em
que exclusão, segregação, racismo e elitismo são características mantidas e
propagadas. Não se pode ver a apropriação de culturas marginalizadas com bons
olhos, porque quem marginaliza é o mesmo que se apropria, é algo muito mais
amplo que mera globalização, é um processo para manutenção das mazelas.
Apropriação
cultural é, na realidade, um elogio
O interessante é que, quando as paixões e cegueiras ideológicas
são deixadas de lado e a realidade é abraçada, a apropriação cultural passa a
ser vista como uma forma de elogio e, por que não?, até mesmo de amor.
Quando uma bela mulher branca, de origem bávara, se
veste como uma dançarina de salsa, ou quando um grupo de estudantes asiáticos
se veste como os Jackson Five,
há apenas coisas positivas acontecendo. A dançarina de salsa se vestiu assim
porque ela vê a beleza da cultura, das vestes e das pessoas a elas associadas. Ela
adora e admira essa cultura a tal ponto que ela está disposta a gastar seu próprio
dinheiro para incorporá-la, nem que seja por apenas uma noite. Já os garotos asiáticos
claramente não apenas conhecem o famoso grupo negro americano, como também foram
impactados pelo seu talento, estilo e cultura.
Igualmente, quando mulheres brancas utilizam dreads
ou turbantes, isso nada mais é que uma demonstração de admiração e respeito por
estes itens. Quem iria utilizá-los caso os considerassem feios ou mesmo ridículos?
É por isso que a apropriação cultural, longe de ser
uma violência, é um gesto de amor da própria humanidade. É o exato oposto da discriminação,
do racismo e do isolacionismo.
Só que, infelizmente, à medida que nossa cultura vai
se tornando cada vez mais politicamente correta e censora de demonstrações "ofensivas"
de imitações culturais, a diversidade deixou de ser vista como expressões de cooperação
humanística e passou a ser visa como uma forma de opressão direta.
No linguajar do politicamente correto, aquela
vestimenta da dançarina de salsa é insensível aos sofrimentos das mulheres hispânicas
que tiveram de se submeter ao patriarcado. Já a imitação dos Jackson Five
supostamente ignoraria a "exploração capitalista", feita pela indústria musical,
dos artistas negros durante o movimento
dos direitos civis dos negros na década de 1950. Essa é a narrativa mais
comum que você vai ouvir dos progressistas nas universidades e nos blogs.
Muitos consideram essa censura politicamente correta
apenas algo irritante, e dão de ombros. Mas não. É muito pior que
irritante: é ultrajante. Afinal, quem os progressistas pensam que são para
estipular quem pode e quem não pode expressar sua admiração por outra cultura? Quem
eles pensam que são ao alegarem possuir um direito exclusivo sobre uma
determinada cultura? Em suma, quem eles pensam que são para fazer um
microgerenciamento das identidades e estipular quais tipos de comportamentos
pacíficos são toleráveis e quais não são?
Não deixa de ser irônico notar que, ao agirem assim,
os progressistas estão na prática defendendo o segregacionismo e a intolerância.
Em sua tentativa de abolir aquilo que eles estipularam ser uma problemática apropriação
cultural, o efeito prático é o de retroceder as interações humanas, fazendo com
que as relações étnicas se tornem menos harmoniosas.
Os progressistas, em suma, defendem o retrocesso.
Aquilo
que nos separa
Houve uma época em que um homem branco vestido de
sheik árabe ou um homem negro vestido de irlandês tocador de gaita era visto
com entusiasmo e interesse. Ali estava um exemplo de interação étnica pacífica.
Hoje, no entanto, há uma turba pronta para ameaçá-los, xingá-los de fanáticos racistas
e exigir reparações. Basicamente, a turba está dizendo: "Vocês são diferentes e
deveriam se manter assim. Cada um na sua tribo!"
Quem realmente é o racista?
Mais ainda: como exatamente esse comportamento ajuda
no avanço das igualdades raciais e das relações pacíficas?
A verdade é que esses progressistas desprezam a hipótese
de haver um mercado livre e natural de associações e inclusões voluntárias. Eles
querem ditatorialmente estar no comando das relações humanas. Já era assim na
economia; agora querem interferir também nas relações humanas espontâneas e
voluntárias.
Conclusão
Um mundo sem apropriação cultural é um mundo sem
aprendizado, emulação, aspiração, celebração e progresso. É um mundo congelado
e sombrio, marcado pelo isolamento, pelo ressentimento e pela desconfiança. É o genuíno retrocesso.
A cultura é espontânea,
e a expressão dela também deve ser. Garotas brancas que
quiserem usar um "cabelo afro" devem ser livres para tal. Garotas negras que
quiserem tingir os cabelos de louro não devem se sentir intimidadas e
molestadas. Qual é exatamente o problema de celebridades negras se vestirem de
cowboys e celebridades brancas se vestirem de índio em uma festa?
Sua vida não tem de estar nas mãos de planejadores
sociais. Sua vida não tem de estar à disposição de causas políticas e
politicamente corretas. Sua vida não existe para ser manipulada nem por
planejadores centrais, nem por governos, nem por justiceiros sociais. Sua vida
existe para que você busque seus próprios interesses, descobrindo aquilo que o
faz mais feliz. Eventuais acusações de racismo ou degeneração que se danem.
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Taleed
J. Brown, membro da Foundation For Economic Education, possui
um popular canal no YouTube chamado "That Guy T".
Vanessa
Rodrigues, bacharel em serviço social, co-fundadora do grupo
de estudos Libertas UECE e membro do
grupo de estudos Dragão do Mar.
Leandro Roque, editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil