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Economia

O erro central da teoria keynesiana em uma única frase

E nenhum keynesiano responde com sinceridade a esta pergunta

25/09/2021

O erro central da teoria keynesiana em uma única frase

E nenhum keynesiano responde com sinceridade a esta pergunta

"Quando uma economia está em recessão, o governo tem de criar demanda agregada. E ele tem de fazer isso aumentando seus gastos".

Este é o mantra keynesiano.

Tal raciocínio advém diretamente da fórmula matemática do PIB, a saber:

C + I + G + X - M = Y(PIB)

Consumo + Investimento + Gastos Governamentais + Exportações - Importações = Produto Interno Bruto

O consumo (C) envolve uma série de decisões individuais sobre como será a alocação de recursos por toda a sociedade.  O investimento (I) envolve uma série de decisões individuais sobre como será a alocação de recursos por toda a sociedade.  As exportações (X) envolvem uma série de decisões individuais sobre como será a alocação de recursos por toda a sociedade.  O mesmo se aplica às importações.

Já os gastos governamentais (G) representam um tipo diferente de decisão de alocação

C, I, X e M se originam espontaneamente das ações dos proprietários originais dos recursos.  Já o G não se origina das ações dos proprietários originais dos recursos. O governo não tem recursos próprios para gastar.

O que nos leva então à fatídica pergunta:

"De onde vem o dinheiro que o governo utiliza para aumentar seus gastos?"

Sim, isso é praticamente tudo o que você tem de fazer para refutar Keynes. Basta fazer essa pergunta e toda a ideia se desmorona.

Há um volumoso material acadêmico que se baseia abertamente na teoria de Keynes. São mais de 70 anos de publicações acadêmicas. Todo esse material preenche milhões de volumes de livros-textos de macroeconomia. Trata-se do dogma econômico reinante do mundo moderno. E todo esse material evita por completo essa pergunta: "De onde vem o dinheiro que o governo utiliza para aumentar seus gastos?"

Há três respostas: ou o governo aumenta impostos; ou ele toma dinheiro emprestado de bancos, pessoas e empresas; ou ele simplesmente imprime dinheiro.

Não é preciso ser um profundo conhecedor de economia para entender que nenhuma dessas três medidas cria riqueza.

Volte à fórmula do PIB. Veja que C, I, X e M são baseados na produção. Eles representam forças criativas. Já o G é baseado no confisco.

1) Se um aumento de G advém de mais impostos, então C, I, X e M serão prejudicados.

2) Se um aumento de G advém do endividamento do governo (com o governo emitindo títulos e esses títulos sendo adquiridos por bancos), então igualmente haverá menos dinheiro para C, I, X, e M.  Os empreendedores agora não mais conseguirão empréstimos junto a esses bancos, que passaram a direcionar o dinheiro para os títulos do governo. Com mais empréstimos indo para o governo, os juros subirão e inviabilizarão investimentos produtivos. Igualmente, pessoas e empresas que também emprestarem dinheiro para o governo terão agora menos dinheiro para consumir e investir.

3) Se um aumento de G advém da simples criação de dinheiro pelo próprio governo, os preços dos bens e serviços subirão. Se os salários não forem reajustados, todos ficarão mais pobres. Se forem reajustados, todos ficarão na mesma situação de antes. (No extremo, a contínua criação de dinheiro leva à Venezuela.)

De novo: nenhuma dessas três medidas cria riqueza. Consequentemente, nenhuma dessas três medidas pode tirar uma economia de uma recessão.

G não é uma força criativa.  Tudo o que é gasto por G é feito à custa de C, I, X ou M.

Tomando de Pedro para subsidiar Paulo

O item mais utilizado pelos governos durante uma recessão é o item 2: endividamento.

Dado que aumentar impostos é impopular (ainda mais durante uma recessão) e dado que simplesmente imprimir dinheiro para financiar despesas correntes não mais é uma prática legal na maior parte do mundo civilizado [N. do E.: no Brasil, isso foi proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, artigos 35 e 39; no entanto, no ano de 2020, a prática foi readmitida indiretamente, em caráter temporário], então os governos recorrem majoritariamente ao aumento dos déficits orçamentários e, consequentemente, da dívida pública.

Quando isso ocorre, apenas aqueles indivíduos mais iniciados irão fazer essas duas perguntas óbvias:

a) De onde o governo irá tirar dinheiro para pagar esse empréstimo e seus juros?

b) De onde as pessoas e empresas irão tirar dinheiro para emprestar ao governo?

As respostas dos políticos para a primeira pergunta é fácil: impostos e mais endividamento.

Já a segunda pergunta traz consigo a própria resposta: o dinheiro que as pessoas emprestam ao governo é aquele dinheiro que deixou de ir para C, I, X e M. 

De novo: nada disso cria riqueza; nada disso pode tirar uma economia da recessão.

Os mais insistentes poderão, ainda, perguntar:

c) Qual a consequência de os bancos direcionarem mais dinheiro para o governo?

A resposta é direta, mas poucos fazem a conexão: mais dinheiro sendo emprestado para o governo significa menos dinheiro sendo emprestado para pessoas e empresas. Com menos dinheiro disponível para pessoas e empresas -- e sabendo que é mais arriscado emprestar para pessoas e empresas do que para o governo --, os juros serão bem mais altos. (Veja mais detalhes aqui).

De novo, pela quarta vez: nada disso cria riqueza; nada disso pode tirar uma economia da recessão.

O grande truque

O núcleo da teoria econômica keynesiana é este: atribuir uma produtividade econômica a uma agência que nada mais faz do que se apossar do dinheiro alheio sem nada produzir.

De alguma forma, segundo a teoria keynesiana, o governo pode elevar o gasto agregado da economia (1) sem estar produzindo nada de novo e (2) sem que isso reduza os gastos em outros lugares da economia. Keynes nunca explicou como isso seria possível. Nem seus discípulos.

Ainda chegaremos ao dia em que economistas, historiadores e investidores olharão para o passado e quedarão espantados com a total incapacidade de três gerações (1950-20??) de economistas e investidores de perceberem o óbvio.

O cético há de gritar: "Mas toda a economia keynesiana não pode ser resumida apenas a isso". Pode. Com efeito, toda a economia keynesiana é apenas isso.  E o cético retrucará: "Alguém teria apontado isso ainda em 1936 se isso fosse tudo o que há nela." Poucos, além de Mises e Hayek, fizeram isso. E esses poucos passaram a ser ignorados após 1948, o ano em que Paul Samuelson publicou seu livro-texto de economia.

Como assim? Por que toda essa platitude foi aceita? Por causa daquilo que George Orwell observou em 1946, o mesmo ano em que Keynes morreu. "Enxergar o que está na frente do nariz exige um esforço constante".

Keynes foi um mestre da prestidigitação verbal. Ele soube como manter os olhos da platéia direcionados para qualquer outro lugar do palco e não para o coelho dentro da cartola: o coelho da riqueza criada pelo gasto do governo. O governo não pode tirar nada de sua cartola que não tenha antes colocado lá.

A estória de criação keynesiana de riqueza sempre foi a estória do imperador nu. Quando toda uma civilização se mostra alegremente enganada por esse tipo de conto, a verdade sempre encontra enorme resistência.

E quando você descobre um fato óbvio que não foi percebido por toda uma cultura, você identificou o calcanhar de Aquiles daquela cultura.

Mais uma vez: "De onde vem o dinheiro que o governo utiliza para aumentar seus gastos?"

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Sobre o autor

Gary North

é Ph.D. em história, ex-membro adjunto do Mises Institute, e autor de vários livros sobre economia, ética, história e cristianismo. Visite http://www.garynorth.com

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