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Economia

A grande catástrofe de 2009

24/03/2009

A grande catástrofe de 2009

N. do T: Gerald Celente é, muito mais do que Nouriel Roubini, o verdadeiro Dr. Apocalipse.  Ele tem aparecido em vários programas americanos prevendo que os EUA enfrentarão escassez de comida - o que provocará saques em supermercados e distúrbios sociais - e maciças revoltas antitributárias.  Seu passado de acertos é respeitável: ele previu a revolução iraniana, o crash da bolsa de valores americana em 1987, o fim da União Soviética, a Crise Asiática, o trimestre exato do estouro da bolha da internet e a crise do subprime.  Em 2007, previu o pânico financeiro de 2008, chegando inclusive a declarar naquela época que "gigantes tombarão para a morte".  Ficou famosa uma entrevista sua, ainda em dezembro de 2007, dizendo que no ano seguinte dar-se-ia início uma crise econômica "do tipo que os que estão vivos jamais presenciaram".

Não necessariamente um seguidor da escola austríaca (ele nunca se pronunciou a respeito), seu método de análise financeira tem as bases sólidas desta.

O desolador panorama retratado a seguir é para a economia americana.  Celente prevê que chegou a hora do estouro da bolha imobiliária comercial.  Fica a cargo do leitor decidir se essa análise é crível ou não, bem como o possível impacto disso na economia brasileira.  Repetindo: o cenário descrito abaixo não é nada auspicioso.

 

O "Pânico de 2008" será sucedido pelo "Colapso de 2009".  Em 2008, quando os principais mercados de ações e as maiores companhias financeiras do mundo se esfacelaram, as agruras de Wall Street preocuparam a mídia.

Em 2009, esse escopo será alargado de modo a incluir uma gama de calamidades que não deixará um único setor incólume.  O próximo da fila será o setor de varejo, que responde por 70% dos gastos em consumo, 26% dos quais decorrem das vendas de feriado.

Depois que os reais números das vendas de Natal forem revelados, uma sequência ainda maior de falências ocorrerá.  Além de deixarem uma massa de desempregados, as extintas redes varejistas deixarão pra trás milhares de lojas vazias.  Quem irá alugá-las?  Ninguém!

Acrescente a isso os espaços comerciais vazios deixados pelas também extintas empresas financeiras e por todo um batalhão de negócios problemáticos, desde restaurantes até empresas de arquitetura, firmas high-tech, serviços de tipografia litográfica, etc., etc.  O resultado inevitável (que previmos há um ano e que só agora está sendo discutido na mídia financeira) será o estouro de uma bolha imobiliária comercial.  Essa será mais custosa, mais destrutiva e ainda mais incontrolável do que o declínio do mercado residencial.

Como a maioria das pessoas não vive ou faz compras em Wall Street, o "Pânico de 2008" foi visto pela economia real como algo distante - ainda que muitos estivessem perdendo dinheiro.  Mas quando os imóveis comerciais despencarem, o impacto será bem mais próximo de casa.  A atmosfera depressiva de shoppings vazios, esparsos e subutilizados afetará o emocional e abalará o moral das pessoas.

Nos prédios comerciais, andares desocupados e cubículos vazios irão arrefecer o espírito trabalhista daqueles que ainda estão empregados; lembranças constantes dos amigos e colegas demitidos e da fragilidade do atual emprego abalarão e afetarão a disposição e o emocional dos empregados.

Empresas e parques industriais abandonados e mal cuidados irão realçar o já depressivo cenário.  Nas cidades adornadas com torres enormes e repletas de novas construções abandonadas - empreendidas pela crença em um crescimento econômico eterno - ruas apinhadas de placas "Aluga-se/Vende-se" irão se somar a guindastes ociosos e prédios inacabados.

À medida que o setor varejista e os imóveis comerciais forem se esfacelando, o setor de cartões de crédito e todo o seu suporte administrativo - escritórios e setores de processamento - irão sofrer e ser obrigados a cortar custos e demitir.  Hordas de consumidores que vinham vivendo dependurados em seus cartões de crédito, cujas baixas taxas de juros permitiam um endividamento até o limite, estarão sem fundos para quitar suas parcelas - e muito menos para pagar o principal, o que os forçará a dar o calote.  Considerando-se que a dívida dos consumidores é de aproximadamente $3 trilhões (sem considerar hipotecas e automóveis), o inevitável calote gerará uma bola de neve que irá dar ainda mais impulso ao já corrente Colapso de 2009.

Embora estivéssemos sozinhos ao prever o "Pânico de 2008" (e até chegamos a registrar o domínio Panicof08.com no dia 7 de novembro de 2007), não estamos sozinhos ao prever uma Depressão.

Essa palavra já está sendo proferida - em alguns casos até mesmo por aqueles que mais têm a perder e cujos interesses seriam melhores servidos se não estivessem espalhando pessimismo e ruínas.  "O país e o mundo estão em uma depressão", disse o célebre magnata Donald Trump.  Depois ele suavizou o choque, minimizando o termo e trocando-o por "uma virtual depressão".

"Virtual" apenas para aqueles que não precisam se preocupar com o fluxo de dinheiro; mas extremamente real e dolorosa, e nada virtual, para as multidões que estão e que ficarão preocupadas.  A depressão que nos aguarda, a Depressão das Depressões, já está se espalhando de modo viral e é uma tendência irreversível.

Ainda assim, cuidado!  Durante a queda livre de 2009, a palavra mais utilizada pelas fontes oficiais será "recessão"; e para os poucos veículos de mídia um pouco mais pessimistas, "recessão profunda".

Por exemplo, o frequentemente citado Nouriel Roubini, professor de economia da New York University e sempre do contra, prevê uma recessão de dois anos... e não uma Depressão.  Do lado mais ensolarado de Wall Street, o Federal Reserve prevê que a economia americana irá contrair somente durante a metade de 2009, e prometeu: "De qualquer maneira, o Comitê concordou em tomar quaisquer medidas necessárias para dar suporte à recuperação."

Quais "medidas"?  As duas de Bernanke?  Manipular as taxas de juros ou imprimir mais dinheiro?  Nenhuma delas impediu que a crise do crédito piorasse, que o mercado imobiliário afundasse ou que os mercados de ações despencassem.

Foram as trapaças do Fed, a devassidão estatal e as aventuras compulsivas de Wall Street que criaram a crise.  Confiar nos pronunciamentos, análises e previsões feitas por qualquer uma dessas fontes, ou mesmo dar qualquer tipo de consideração a elas, é um mero exercício de deliberada autoilusão.  Entretanto, mesmo com a evaporação das pensões, dos planos de aposentadoria, das ações e dos fundos mútuos, a maioria daqueles que mais foram afetados ainda insiste em negar a realidade e se apegam à esperança de que as previsões feitas por comprovados incompetentes irão miraculosamente restaurar suas perdas.

Durante os anos que nos levaram ao que estamos chamando de "A Maior das Depressões", o Trends Research Institute forneceu dados abundantes e análises da economia global que sustentavam nossas previsões de que haveria um eminente colapso econômico.  Somente no ano passado fornecemos tantas evidências concretas (construção de casas, venda de imóveis, execuções hipotecárias, falências, quebras bancárias, números de desemprego, índices de ações, indicadores econômicos principais, vendas no varejo, etc.) que uma elaboração mais detalhada seria supérfluo.

Aqueles que estão esperando ouvir a palavra "depressão" dos especialistas econômicos, palpiteiros e âncoras de TV antes de tomar alguma atitude irão certamente lamentar essa hesitação.

Além dos variáveis cenários econômicos apontados pela mídia - que englobam uma recuperação no segundo trimestre, ou uma recessão profunda ou uma "virtual" depressão - há uma multiplicidade de fatores sociais, políticos, emocionais/psicológicos e geopolíticos que não estão sendo levados em consideração.  E todos eles apontam para o declínio e queda do Império América.

Antes de sua posse, Barack Obama foi chamado de o próximo Franklin Delano Roosevelt.  Se seguir os passos deste, Obama irá congelar os depósitos declarando um "feriado bancário" como meio de impedir uma corrida aos bancos.  Embora a FDIC possa cobrir parte dos depósitos, mesmo após os bancos reabrirem, é possível que o governo crie restrições aos saques, exatamente como o governo argentino fez em 2001-2002.  (Para saber mais sobre a Argentina, veja aqui, aqui, aqui e aqui).

Nota do autor: desconfiado da solidez do sistema bancário, pedi para sacar uma quantia substancial da minha conta no Key Bank, de modo a ainda deixar fundos suficientes para cobrir custos operacionais correntes.  Primeiro eles tentaram me dissuadir; depois criaram várias dificuldades, até que finalmente se tornaram abertamente hostis.

Fui forçado a assinar uma série de documentos, incluindo um em que eu reconhecia que, por estar carregando uma grande soma, poderia me tornar alvo de algum assalto.  Como que para estimular essa possibilidade, o caixa do banco bateu estrondosamente a valise contendo o dinheiro no guichê e anunciou em alto e bom som a soma total.

Não obstante meus reiterados pedidos - nos dias anteriores ao meu saque - de que gostaria de ser pago em notas de cem, eles me deram tudo em notas de vinte, o que obrigou o uso de uma valise cinco vezes maior que o necessário e bem mais chamativa para assaltos.  Quando fui reclamar com o gerente que havia processado o pedido, sua resposta foi "é pegar ou largar".

Esse não foi um evento isolado.  Quem for tentar sacar uma grande quantia de dinheiro de sua respectiva conta, é bom negociar os detalhes com muita antecedência e prever possíveis aborrecimentos e obstruções.

Ouvimos relatos similares de nossos clientes e de assinantes do nosso periódico Trends Journal, que, nos últimos meses, tentaram sair de seus fundos mútuos, resgatar seus fundos de pensão e se livrar de uma variedade de ações em queda livre.  Eles foram dissuadidos, bajulados, desdenhados e ignorados por corretores desesperados para manter suas contas.  Muitos cederam à pressão, não resgataram seus fundos e acabaram perdendo quase tudo que tinham.

Portanto, faça uma consideração nestes tempos de depressão: quão seguro está o seu dinheiro?  Quão sólido é o seu banco?  No final de novembro de 2008, o Citigroup, que já foi o maior banco da América, estava na lona.  52 mil empregados foram demitidos.  Em apenas três dias, suas ações perderam mais da metade do valor.  Os rumores são de que o Citi está tão desesperado que está ávido por vender ou dividir a empresa.

Seu dinheiro está depositado em um banco local cuja reputação é confiável?  Ou você colocou seu dinheiro em um gigante cambaleante ou num banco regional mal administrado?  Em qualquer um dos casos, seria aconselhável você avaliar cuidadosamente os riscos.

Se houver algum risco, retire parte de seus depósitos; se houver um grande risco, retire tudo.  Você pode até começar a pensar em depositar seu dinheiro no exterior... afinal, essa é a Era Global.

Sobre o autor

Gerald Celente

É o fundador e editor do The Trends Research Institute, autor dos livros Trends 2000.

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