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Economia

Estilo de vida minimalista, frugal e com extremo conforto? Foi o capitalismo quem permitiu isso

Graças à economia de mercado, hoje podemos fazer muito com muito pouco

05/10/2016

Estilo de vida minimalista, frugal e com extremo conforto? Foi o capitalismo quem permitiu isso

Graças à economia de mercado, hoje podemos fazer muito com muito pouco


A grande notícia sobre o iPhone 7 é a eliminação dos fios do fone de ouvido.  O conforto trazido por essa inovação é sem precedentes: você agora não tem aquela tranqueira convoluta e emaranhada, que se enrosca nas coisas ao redor, e que você tem de dobrar pacientemente toda vez que vai guardá-lo.  Mais uma inconveniência da vida é abolida.  Mais um pequeno progresso ocorre no mundo.

Analisando tudo o que ocorreu ao longo dos últimos 15 anos, é impressionante contemplarmos o quanto se tornou possível levar uma vida que parece ser minimalista e, ainda assim, com extremo conforto.  Digo "parece ser" porque, na realidade, o "minimalista" é uma ilusão.  Temos muito mais coisas do que jamais tivemos e, ainda assim, tudo está bem mais condensado. 

Quase tudo está em nossos smartphones e computadores, em não em formato físico, atravancando um espaço precioso em nossas residências.

O que torna o minimalismo possível

Nas últimas semanas, assisti a vários vídeos sobre o estilo de vida minimalista e devo dizer que, no geral, concordo com seus proponentes.  Há algo de calmo, de esclarecedor, de tranquilizante em viver sem muitas coisas ao seu redor.  Traz uma certa serenidade à vida.

Um grande amigo meu é adepto desse estilo de vida, tendo escrito um artigo -- "Por que prefiro viver de aluguel em um pequeno apartamento em vez de comprar uma enorme casa" -- que se tornou altamente popular entre os adeptos do minimalismo.  Eu mesmo também tenho ido nessa direção.

A cada ano dos últimos dez anos tenho me desfeito de uma enormidade de coisas, jogando nas caçambas enormes sacos contendo itens que não uso mais.  É algo enormemente gratificante poder se livrar de entulhos.  Sim, em alguns casos pode ser uma decisão dolorosa -- a pior foi a que tive de tomar em 1987, quando joguei 500 discos de vinil na lixeira.  Eles ocupavam praticamente dois metros e meio em minhas prateleiras e pesavam uma tonelada.  Repentinamente, joguei tudo fora e os substituí por alguns CDs.  E então comecei a acumular CDs. Vários CDs.  Até chegar ao ponto em que várias gavetas lotadas de CDs também foram para o lixo.

Hoje, todas essas músicas físicas foram substituídas por... um notebook.  E o mesmo ocorreu com várias outras coisas.  As prateleiras de livros que costumavam dominar a casa em que passei minha juventude, ocupando espaço precioso, hoje estão dentro do meu tablet, do meu smartphone e do meu Kindle. 

Com um detalhe: tenho hoje muito mais livros do que jamais tive.  Só que agora eles não ocupam espaço nenhum e não pesam absolutamente nada.  Mais ainda: posso levá-los (todos eles!) para qualquer lugar e posso lê-los a qualquer momento.

Lembra-se do catálogo?  Quem é jovem, provavelmente não.  Era comum as pessoas terem pelo menos uns três daqueles tijolos, que ocupavam um enorme espaço nos armários (eles raramente cabiam em gavetas).  Hoje, eles nem existem mais.  Pelo seu smartphone, você descobre o telefone de qualquer empresa.  Mais: pelas redes sociais, você entra em contato com qualquer pessoa do seu passado.  Você não mais precisa de saber onde ela mora para procurar seu telefone em um catálogo.

Lembra-se de quando você recebia jornais físicos?  Todos os dias, você tinha de se livrar daquele trambolho, que ocupava um grande espaço na lixeira.  Hoje, você pode lê-los em seus aplicativos, em sua cama.  Revistas?  Mesma coisa.

E o que dizer então daqueles enormes armários de arquivos, para armazenar todos os tipos de documentos burocráticos importantes?  Você tinha de tê-los.  Eles eram desumanamente pesados.  Se caíssem em cima de alguém, poderia matar.  Hoje, ninguém mais os tem, exceto aqueles monumentos ao atraso que são as repartições públicas.

Lembra-se da sua escrivaninha? Ela tinha de ter compartimento para tudo. Tinha grampeadores, rolodex, pilhas de papeis, impressoras, corretivos, durex, fita crepe, cola, clips, e vários calhamaços de manuais de instrução para softwares. Havia materiais acumulados para pesquisa.  Havia arquivos de contas pagas. Havia envelopes e selos para enviarmos correspondências. Tínhamos tesouras, relógios, rádios, um globo terrestre, dicionários e variados tipos de enciclopédias.

Havia também álbuns de fotos e caixotes e mais caixotes de fotos que um dia colocaríamos em um álbum, mas que nunca o fizemos.  E havia também cartões de natal do ano passado e de vários anos anteriores.

E os livros de receita?  Em termos de espaço, eram piores que catálogos.  Havia um livro para cada estilo de comida, para cada canto do planeta, para cada propósito.  Hoje, com dois toques no seu smartphone, você tem acesso a qualquer receita que você queira.

Pense no interior de uma casa ou apartamento do passado.  Era repleto de coisas para guardar coisas.  E de coisas para guardar essas coisas que guardavam outras coisas.  Não é que éramos mais materialistas.  Todas essas coisas eram necessárias.  E essa era a única maneira de tê-las e mantê-las.  Hoje, tudo o que temos de ter é um lugar para dormir, algo para esquentar comida fria, um forno e um fogão, alguns pratos e talheres, e algumas roupas.  Pronto.  Todo o resto cabe em seu smartphone, tablet e notebook.

Lembra-se dos mapas?  Você tinha uma pilha deles em sua casa e no porta luvas do seu carro.  Caso quisesse um mapa rodoviário mais detalhado, você tinha de ter um enorme mapa dobrável.  À medida que você ia dirigindo, você tinha de ir desdobrando as páginas e virando o mapa na direção correta.  Com o tempo, ele inevitavelmente ia ficando amarfanhando, se desintegrando e rasgando, até finalmente ficar completamente inútil.  Aí você tinha de comprar outro. 

Provavelmente, você tinha uma bússola também.

E, certamente, uma pilha de fitas cassetes, com oito músicas de cada lado, a qual tinha de ser manualmente trocada em seu toca-rádio.  Ou CDs.  Lembro-me de gente que comprava máquinas gigantes para colocar no porta-malas do carro, as quais comportavam 250 CDs, e que eram controladas de dentro do carro.

Uma insanidade. Hoje, tudo isso já é museu.

Você pode ter tudo isso em pequenos dispositivos.  Toda a poupança que isso lhe possibilitou é incalculável.  Hoje, ao toque dos seus dedos, você tem acesso a músicas, filmes, fotos, livros, enciclopédias, notícias, e ainda pode guardar todos os seus arquivos nas nuvens.

Toda essa transformação é indescritivelmente impressionante, além de ser charmosa e bela.  Hoje, temos aposentos limpos, abertos, arrumados, sem tralhas e tranqueiras ocupando espaço.  E dizemos a nós mesmos: aprendi a viver sem acumular.  Aprendi a viver sem ter muito.  Descobri a maneira certa de viver!

Sim, mas quem permitiu esse estilo de vida minimalista foi o capitalismo.

Sobre esses encantamentos com o pouco

Isso deve ser ressaltado: esse estilo de vida minimalista, o qual eu também sigo, não é simplesmente uma escolha pessoal.  Não precisamos nos congratular excessivamente por termos esse estilo.  Foi a tecnologia o que possibilitou essa vida.  E o que possibilitou a tecnologia?  O capitalismo, a economia de mercado e a criatividade de vários empreendedores.

Somos apenas os beneficiados das idéias e do trabalho de terceiros.

E eis o grande paradoxo: o suposto materialismo do capitalismo possibilitou vivermos com cada vez menos dependência do mundo físico. 

Este excelente vídeo, de apenas 54 segundos, mostra toda essa impressionante evolução ocorrida.

Agora, seria bom se pudéssemos eliminar aquele irritante fio que liga nossos aparelhos eletrônicos às tomadas nas paredes.  Por que ainda temos essa coisa horrorosa e incômoda?

Ah, sim, porque a eletricidade é fornecida por um monopólio concedido pelo estado.  Não conte com seu completo desaparecimento em um futuro próximo.  Nessa área, a inovação não é ditada pelo livre mercado.  Consequentemente, continuaremos atados e plugados por um bom tempo.


Sobre o autor

Jeffrey Tucker

É Diretor-Editorial do American Institute for Economic Research. Ele tambÉm gerencia a Vellum Capital, é Pesquisador Sênior do Austrian Economic Center in Viena, Áustria.

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