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Economia

A propriedade privada dos ricos beneficia a todos e é responsável direta pelo nosso bem-estar

26/04/2016

A propriedade privada dos ricos beneficia a todos e é responsável direta pelo nosso bem-estar

A contínua revolta contra "os ricos" e os seguidos clamores para se confiscar uma substantiva fatia de sua riqueza baseiam-se no velho princípio marxista de que há uma pequena minoria de abastados vivendo à custa da exploração da esmagadora maioria da população.

Tal raciocínio seria verdadeiro caso a revolta se direcionasse especificamente para aqueles indivíduos cuja riqueza foi adquirida por meios que atentam justamente contra o capitalismo, como subsídios governamentais, protecionismo e outras formas de governo que obstruem a livre concorrência.

No entanto, a gritaria tem sido generalizada e o alvo comum tem sido "os ricos" de forma geral.

A óbvia solução sugerida é que o governo simplesmente confisque a riqueza dessa minoria abastada e a redistribua para os mais pobres -- o fato de que os burocratas que fazem a redistribuição é que irão ficar com a maior parte do dinheiro confiscado será aqui ignorada, pelo bem do debate.

Por esse raciocínio, o confisco da riqueza e dos ativos dos ricos, e sua subsequente redistribuição para os mais pobres, não apenas seria benéfica para os pobres, como ainda seria um arranjo mais belo e moral do que continuar permitindo que os ricos sigam utilizando sua riqueza apenas em benefício próprio, uma vez que os ricos nada mais são do que indignos e gananciosos capitalistas exploradores. 

Tal raciocínio -- cada vez mais compartilhado por intelectuais, por acadêmicos, por artistas e até mesmo por alguns setores da mídia -- é típico daquelas pessoas que enxergam o mundo através de uma lente intelectual totalmente inapropriada para a vida sob o capitalismo e sua economia de mercado.  Tais pessoas vêem o mundo como se este ainda fosse igual àquele de há alguns séculos, quando era povoado por famílias autossuficientes que viviam da agricultura de subsistência, cada uma produzindo para consumo próprio, sem nenhuma ligação com um mercado de compra e venda de bens e serviços.

Naquele mundo, quando alguém via uma plantação, ou um celeiro, ou um arado, ou animais de carga, e perguntava a quem tais meios de produção serviam, a resposta é "ao agricultor e sua família, e a ninguém mais".  Naquele mundo, à exceção de algum ocasional gesto de caridade dos proprietários, aqueles que não possuíam meios de produção não podiam se beneficiar dos meios de produção existentes, a menos que eles próprios de alguma maneira também se tornassem proprietários de meios de produção.  Eles não podiam se beneficiar dos meios de produção de terceiros, a menos que os herdassem ou os confiscassem.

Justamente por manterem esta visão de mundo, os intelectuais e ativistas de hoje imaginam os capitalistas como homens obesos, cujos pratos estão repletos de comida enquanto as massas de assalariados têm de viver à beira da fome.  De acordo com essa mentalidade, a redistribuição de riqueza seria simplesmente uma questão de retirar a comida do prato transbordante dos capitalistas e redistribuí-la para os trabalhadores esfomeados.

Mais ainda: para os intelectuais e ativistas de hoje, os ativos dos ricos estão ou na forma de dinheiro "parado nos bancos" ou na forma de ativos imobilizados que geram benefícios exclusivamente para os próprios ricos. 

Segundo essa visão de mundo, os meios de produção que estão em posse dos capitalistas ricos -- fábricas, instalações industriais, bens de capital, caminhões, tratores e maquinários em geral -- possuem essencialmente a mesma característica dos meios de produção das famílias agrárias autossuficientes: beneficiariam apenas os seus proprietários.

Porém, a realidade do mundo moderno é exatamente oposta: em primeiro ligar, a riqueza dos capitalistas na forma de dinheiro configura uma ínfima fatia; em segundo lugar, e mais importante, a riqueza dos capitalistas não apenas está predominantemente na forma de meios de produção, como também esses meios de produção estão empregados na produção de bens e serviços que são vendidos no mercado.

Em total antagonismo às condições das famílias agrárias autossuficientes -- cujas posses de fato beneficiavam exclusivamente apenas elas próprias --, os beneficiários dos meios de produção dos capitalistas são todos os membros do público consumidor em geral, que compram os produtos dos capitalistas.

Por exemplo, sem ser dono de uma única ação de alguma grande montadora (GM, Daimler, Ford, BMW, Scania, VW, Toyota, Volvo) ou de alguma petrolífera (Exxon Mobil, BP, Shell, Chevron), qualquer pessoa em uma economia capitalista que compre os produtos destas empresas se beneficia de seus meios de produção: o comprador de um automóvel da Ford se beneficia da fábrica da Ford que produziu aquele automóvel; o comprador da gasolina da Shell se beneficia de seus poços petrolíferos, oleodutos e caminhões-tanque.

Adicionalmente, também se beneficiam destes meios de produção todas aquelas pessoas que compram produtos de pessoas que utilizam produtos da Ford ou da Shell. Por exemplo, os clientes dos supermercados cujos produtos foram entregues em caminhões feitos pela Ford ou abastecidos com diesel produzido nas refinarias da Shell se beneficiam da existência da fábrica de caminhões da Ford e das refinarias da Shell. 

Mesmo aqueles que compram produtos dos concorrentes da Ford e da Shell, ou que compram produtos de pessoas que utilizam os produtos dos concorrentes da Ford e da Shell, se beneficiam da existência dos meios de produção da Ford e da Shell: afinal, os meios de produção da Ford e da Shell aumentam a oferta de bens, o que pressiona seus concorrentes reduzirem os preços (ou a não aumentá-los, ou a aumentar menos do que poderiam caso não houvesse essa concorrência) de seus bens.

Igualmente, os meios de produção da Apple, da Microsoft, da Google, da Uber, da Caterpillar, da Alpargatas, das siderúrgicas, das companhias aéreas, dos pecuaristas, do agronegócio, das fabricantes de alimentos, das empacotadoras de alimentos, das cervejarias, de todas as fábricas e indústrias, de todos os atacadistas e varejistas, de todos os comerciantes e provedores de serviços beneficiam diretamente todos aqueles que adquirem seus bens e serviços e os bens e serviços dos concorrentes.

Em outras palavras, todos nós, 100% de nós, nos beneficiamos da riqueza dos odiados capitalistas.  Nós nos beneficiamos sem que nós mesmos tenhamos de ser capitalistas.  Os críticos do capitalismo são literalmente mantidos vivos em decorrência da riqueza dos capitalistas que eles odeiam.  Como demonstrado, os campos de petróleo e os oleodutos das odiadas corporações petrolíferas fornecem o combustível que movimentam os tratores e os caminhões que são essenciais para a produção e a distribuição de comida que os críticos comem. 

Aqueles que têm ódio dos capitalistas e querem confiscar sua riqueza simplesmente odeiam os alicerces de sua própria existência.

Os benefícios que os meios de produção dos capitalistas trazem aos meros mortais que não são proprietários dos meios de produção se estendem não apenas aos compradores dos produtos fabricados por esses meios de produção, mas também aos vendedores da mão-de-obra que é empregada para trabalhar com esses meios de produção.  Não houvesse os meios de produção dos capitalistas, não haveria empregos assalariados em massa.

A riqueza dos capitalistas, em outras palavras, é a fonte tanto da oferta de produtos que os não-proprietários dos meios de produção compram, como também da demanda pela mão-de-obra que os não-proprietários dos meios de produção vendem.

Donde se conclui que, quanto maior o número e quanto maior a riqueza dos capitalistas, maior será tanto a oferta de produtos quanto a demanda por mão-de-obra.  Consequentemente, menores serão os preços e maiores serão os salários -- logo, maior será o padrão de vida de todos.

Nada pode ser mais benéfico para o interesse próprio do cidadão comum do que viver em uma sociedade repleta de capitalistas multibilionários e suas grandes empresas, todos ocupados utilizando sua vasta riqueza para produzir bens e serviços que este cidadão irá comprar e para disputar a mão-de-obra que ele irá vender.

Não obstante tudo isso, o críticos do capitalismo desejam um mundo no qual os capitalistas bilionários e suas grandes empresas foram completamente banidos e substituídos por pequenos e pobres produtores, que não seriam significativamente mais ricos do que eles próprios, os críticos -- o que significa que todos seriam pobres.

Eles creem que, em um mundo com tais produtores -- produtores que não possuem o capital necessário para produzir quase nada, muito menos para conduzir a produção em massa dos produtos tecnologicamente avançados do capitalismo moderno --, eles irão de alguma forma estar economicamente em melhor situação do que estão hoje.

Obviamente, tais críticos e manifestantes não poderiam estar mais iludidos.

Além de não perceberem que a riqueza dessa ínfima minoria é o pilar do padrão de vida da esmagadora maioria, o que tais pessoas também não percebem é que a "ganância" daqueles que se esforçam para fazer parte da ínfima minoria -- ou que se esforçam para ampliar sua posição dentro dela -- é o que faz com que o padrão de vida da esmagadora maioria seja progressivamente aumentado.


Sobre o autor

George Reisman

É autor de Capitalism: A Treatise on Economics.

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