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Economia

Lula falava com conhecimento de causa

06/03/2016

Lula falava com conhecimento de causa

Luiz Inácio Lula da Silva foi uma das maiores referências da esquerda mundial durante as últimas décadas: sindicalista de boa oratória, líder de movimentos grevistas, candidato à presidência do Brasil pelo Partido dos Trabalhadores desde 1989, presidente do país desde 2003, e criador, junto com Fidel Castro em 1990, do Foro de São Paulo, a plataforma política supranacional alternativa a uma União Soviética em franco desmoronamento e que, por já estar se esfacelando, já não conseguia enviar recursos e nem fazer apoio organizacional e propagandístico aos partidos de esquerda da região.

Em suma, Lula foi um dos pilares históricos da reconstrução da hegemonia socialista dentro da América Latina, comparável em relevância somente a Fidel Castro e a Hugo Chávez.

Daí a admiração quase reverencial que lhe foi concedida por boa parte da esquerda mundial ao político brasileiro.  Falando mais especificamente sobre a esquerda aqui da Espanha, vale recordar os parabéns que lhe foi dado por Pedro Sánchez [secretário-geral do Partido Socialista Operário Espanhol] há apenas um ano, exaltando a "boa política" implantada no Brasil desde sua presidência. 

Ou ainda, e de maneira muito mais significativa, vale recordar as palavras de Íñigo Errejón [porta-voz do Podemos, o partido de extrema-esquerda da Espanha], vangloriando-se de que "Lula comparou o Podemos ao Partido dos Trabalhadores em seu começo.  Uma honra!".

No entanto, a realidade tratou de mostrar que Lula era apenas mais um político hiper-corrupto que utilizou dinheiro público para se enriquecer à custa de seus compatriotas.  Lula não era "um ex-presidente que governou para a sua gente e para um país mais justo", segundo disse há alguns meses Pablo Iglesias [secretário-geral do Podemos], mas sim o chefão de uma máfia que desviou dinheiro da gigantesca empresa estatal -- sim, estatal -- Petrobras para pagar propinas, privilegiar empreiteiras com contratos altamente lucrativos e, principalmente, para financiar campanhas políticas do seu partido.  Toda uma casta política foi beneficiada por esse esquema, e no vértice dessa casta política estava esse esquerdista exemplar chamado Lula.

Nesse esquema, as empreiteiras superfaturavam os preços de suas obras, a Petrobras pagava o valor superfaturado para as empreiteiras, e estas, em troca, remetiam uma fatia desse dinheiro superfaturado (oriundo da própria Petrobras) para políticos de partidos da base aliada do governo, entre eles o PT, como forma de agradecimento pelo superfaturamento (dentre esses agrados, compras de sítios e apartamentos).  Isso destruiu o capital da estatal e, como uma das conseqüências, obrigou a empresa a elevar o preço da gasolina a níveis recordes, justamente em um momento em que o preço do petróleo está em mínimas históricas.

Em sua essência, o esquema da Petrobras nada mais é do que um esquema de exploração parasitária dos cidadãos brasileiros. Certamente, foi inspirado naquela outra referência socialista latino-americana: estatal petrolífera venezuelana PDVSA.  Daí a paixão de políticos por empresas estatais.

Ao final, é provável que a corrupção não siga ideologias políticas, e que declarações como as de Alberto Garzón [o chefão que tenta aglutinar todos os partidos de extrema-esquerda da Espanha], que proclamou que "para mim, uma pessoa que rouba, um delinquente, não pode ser de esquerda" não passam de pura propaganda.

A corrupção estatal, por sua vez, está estritamente vinculada ao excesso de poder político.  Está diretamente ligada à quantidade de recursos concentrados nas mãos de políticos e burocratas.  Se o objetivo é reduzir a corrupção, então é totalmente contraditório defender mais poderes ao estado.  Se o objetivo é reduzir a corrupção, então não se deve dar amplos poderes a nenhum político, seja ele de esquerda ou de direita.  Com efeito, não se deve dar poderes políticos a ninguém.

Lula sempre defendeu um estado grande.  Ele muito provavelmente fazia isso com grande conhecimento de causa. E é por isso que não necessitamos de mais estado, mas sim de muito menos.

 

Sobre o autor

Juan Ramón Rallo

É diretor do Instituto Juan de Mariana e professor associado de economia aplicada na Universidad Rey Juan Carlos, em Madri.

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