Nota
do Editor
Na década de 1980, a Nova Zelândia, que até então
havia sido um país rico, era um país relativamente atrasado (a renda per capita
era igual às de Portugal e Turquia), estagnado e sem grandes perspectivas. A
economia era engessada, fechada, protegida e ineficiente.
Até que, em meados da década de 1980, um governo de
esquerda fez o inimaginável e adotou medidas contrárias a esta ideologia: austeridade
monetária e fiscal, redução dos privilégios, abolição de várias tarifas
protecionistas e, principalmente, forte redução da máquina pública, com a
demissão de vários funcionários públicos.
Liderando esse processo, em conjunto com Roger Douglas, estava Maurice P. McTigue,
ex-ministro do governo trabalhista eleito em 1984. A seguir, uma palestra
educacional de McTigue, chamada Reduzindo o Governo:
Lições da Nova Zelândia.
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Se olharmos para a história, notaremos que o
crescimento do governo é um fenômeno recente.
Desde a década de 1850 até as décadas de 1920 ou
1930, a fatia que o governo ocupava no PIB da maioria das economias
industrializadas do mundo raramente ultrapassava os 6%. Porém, desse período em diante — e em
particular desde os anos 1950 —, vivenciamos uma explosão maciça na fatia que
o governo ocupa no PIB. Em alguns países,
o valor varia de 35 a 45%. (No caso da Suécia, houve um ponto que chegou a
65%, e o país quase que se autodestruiu como resultado. O país agora está desmantelando
alguns de seus programas sociais para se manter economicamente viável).
Pode esta situação de agigantamento do estado ser
interrompida ou mesmo revertida? Com base em minha experiência pessoal, a
resposta é "sim". No entanto, isso não apenas requer altos níveis de
transparência, como ainda é necessário saber lidar com as consequências severas
de eventuais decisões erradas — e essas não são coisas fáceis.
A primeira mudança necessária está na mentalidade da
população. Tem de haver uma mudança na
forma como as pessoas vêem as atribuições do governo e suas responsabilidades,
principalmente a fiscal. A antiga ideia
de responsabilidade fiscal simplesmente dizia que o governo não deveria gastar
mais dinheiro do que arrecadou. A nova ideia de responsabilidade fiscal tem de
se basear na seguinte pergunta: "O que é que obtivemos em termos de benefícios
públicos como resultado do gasto deste dinheiro?".
Esta é uma pergunta que sempre foi feita no setor
privado, mas que raramente foi a norma para o setor público. E os governos que resolveram lidar com essa
questão apresentaram resultados extraordinários. Esta foi certamente a base das
reformas bem-sucedidas no meu próprio país, a Nova Zelândia.
A renda per capita da Nova Zelândia no período
anterior ao final da década de 1950 era a terceira maior do mundo, atrás apenas
de Estados Unidos e Canadá. Porém, já em 1984, a renda per capita havia caído
para 27º posição, ao lado de Portugal e Turquia. Não apenas isso, a nossa taxa
de desemprego era de 11,6%, tínhamos tido 23 anos sucessivos de déficits (os
quais, em algumas ocasiões, chegavam a 40% do PIB), a nossa dívida pública
havia alcançado para 65% do PIB, e as nossas classificações de risco —
concedida pelas agências Standard & Poor's, Moody's e Fitch — eram
continuamente rebaixadas.
Os gastos do governo chegavam a 44% do PIB, os
investimentos estavam em queda, os investidores estrangeiros estavam
abandonando o país, e o governo queria gerenciar praticamente todas as
atividades da economia, desde as grandes empresas até as mercearias. Havia controle de capitais e controle de
câmbio, o que significava que eu não podia comprar uma assinatura da revista The Economist sem a autorização do
Ministério das Finanças. Eu não podia comprar ações de uma empresa estrangeira
sem abrir mão da minha cidadania.
Havia controle de preços em todos os bens e
serviços, em todas as lojas e em todo o setor de serviços. Havia controle de
salários e até mesmo congelamento de salários. Patrões que eventualmente quisessem conceder
aumentos salariais aos seus funcionários — ou mesmo pagar-lhes um bônus —
estavam legalmente proibidos.
Havia controle de importação, com o governo
determinando quais bens eu podia trazer para o meu país.
Havia maciços subsídios às indústrias, a fim de
mantê-las viáveis.
Os jovens neozelandeses estavam deixando o país em
massa.
Gastos do governo e impostos
Quando um governo reformador foi eleito, em 1984, ele
imediatamente identificou três problemas: gastos excessivos, impostos
excessivos, e excesso de governo. A questão era como cortar gastos e impostos e
como diminuir o papel do governo na economia.
Bem, a primeira coisa a se fazer nesta situação é
descobrir o que se está recebendo em troca de cada unidade de dinheiro gasto. Para este fim, implantamos uma nova política,
segundo a qual o dinheiro não seria simplesmente distribuído aos ministérios,
agências e repartições governamentais; em vez disso, haveria um contrato com os
altos funcionários de cada órgão do governo, claramente delineando o que era
esperado em troca do dinheiro alocado.
Os líderes de cada órgão do governo passaram a ser
escolhidos com base em critérios rigorosos.
Foi feita uma seleção em nível mundial e os escolhidos receberam contratos
a termo: cinco anos com uma possível extensão de mais três anos. O único
fundamento para a sua demissão era a não-execução do que fora acordado, de modo
que um governo recém-eleito não pudesse simplesmente mandá-los embora como havia
acontecido com os funcionários públicos no sistema antigo.
Obviamente, com esse tipo de incentivo, os novos
líderes dos órgãos do governo — tais como os CEOs do setor privado — se
certificaram de que seu grupo de subordinados também tivesse objetivos muito
claros, os quais se esperava que também fossem cumpridos.
A primeira medida que tomamos em relação a cada órgão
tinha como base as políticas a serem adotadas. Isso tinha o objetivo de gerar
um vigoroso debate entre o governo e os líderes de cada órgão sobre como alcançar
metas do tipo "reduzir a fome" e o "número de sem-tetos". Isto não significava,
vale enfatizar, que o governo deveria fornecer casa e comida para as pessoas. O
que realmente era debatido era o grau em que a fome e o número de sem-tetos seria
realmente reduzido.
Em outras palavras, deixamos claro que o que era
importante não era quantas pessoas estavam recebendo políticas
assistencialistas, mas sim quantas pessoas estavam saindo do assistencialismo,
deixando de depender do estado e passando a viver com independência.
Tão logo começamos a trabalhar por meio deste
processo, fizemos algumas perguntas fundamentais aos ministérios e agências. A
primeira pergunta foi: "O que vocês estão fazendo?". A segunda pergunta foi: "O
que vocês deveriam estar fazendo?".
Com base nas respostas, dissemos: "Eliminem o que
não deveriam estar fazendo" — isto é, se estão fazendo algo que claramente não
é responsabilidade do governo, parem de fazer isso.
E então fizemos a pergunta final: "Quem deveria
estar pagando por isso — os pagadores de impostos, o usuário, o consumidor ou
a indústria?". Perguntamos isto porque, em muitos casos, os pagadores de
impostos estavam subsidiando coisas que não os beneficiavam. Quando você afasta o custo dos serviços dos
seus reais usuários e consumidores, você inevitavelmente acaba promovendo o uso
excessivo destes serviços e, com isso, desvaloriza o que quer que esteja sendo
feito.
Quando começamos este processo com o Ministério dos
Transportes, o mesmo tinha 5.600 funcionários. Quando terminamos, tinha apenas
53. Quando começamos com o Ministério do Meio Ambiente, o mesmo tinha 17.000
funcionários. Quando terminamos, tinha 17. Quando aplicamos isso ao Ministério
das Obras Públicas, o mesmo tinha 28.000 funcionários. Quando terminamos, tinha
apenas um: eu mesmo. Eu fui Ministro das
Obras Públicas e acabei sendo o único funcionário deste órgão. Neste último
caso, quase tudo que o ministério fazia era construção e engenharia; mas havia
muitas pessoas que poderiam fazer tudo isso sem o envolvimento do governo.
"Ah, mas você destruiu todos os postos de trabalho!",
você pode me dizer. Só que isso
simplesmente não é verdade. O governo deixou de empregar pessoas naqueles
postos de trabalho, mas a necessidade daquele trabalho não desapareceu. Eu mesmo
visitei alguns dos trabalhadores florestais alguns meses depois de terem
perdido seus empregos no Ministério do Meio Ambiente, e eles estavam bastante
felizes. Eles me disseram que estavam ganhando cerca de três vezes o que
costumavam ganhar — além disso, eles ficaram surpresos ao saber que conseguiam
fazer cerca de 60% mais do que aquilo a que estavam habituados. A mesma lição
se aplica aos outros trabalhos que mencionei.
Algumas das coisas que o governo estava fazendo
simplesmente não eram função do governo. Por isso vendemos telecomunicações, companhias
aéreas, sistemas de irrigação, serviços de informática, gráficas
governamentais, empresas de seguro, bancos, ações, hipotecas, ferrovias,
serviços de ônibus, hotéis, empresas de navegação, serviços de assessoramento
agrícola etc.
Resultado principal: quando vendemos estas coisas,
sua produtividade subiu e o custo dos seus serviços caiu, traduzindo-se em
ganhos importantes para a economia.
Além disso, decidimos que outros órgãos deveriam ser
geridos como empresas com fins lucrativos e que pagam impostos. Por exemplo, o
sistema de controle de tráfego aéreo foi transformado em uma empresa autônoma,
cujo objetivo era obter uma taxa de retorno aceitável e pagar impostos, tendo
sido alertada de que não receberia qualquer aporte, investimento ou capital de
seu proprietário (o governo).
Fizemos o mesmo com aproximadamente 35 órgãos. Juntos,
eles nos custavam cerca de um bilhão de dólares por ano; depois, passaram a produzir cerca de um bilhão de dólares por ano em receitas e impostos.
Conseguimos uma redução global de 66% no tamanho do
governo, mensurado pelo número de funcionários. A fatia que o governo ocupava
no PIB caiu de 44 para 27%. Estávamos agora com superávit e estabelecemos uma
política de nunca deixar dólares à disposição: sabíamos que se não nos
livrássemos desse dinheiro, algum engraçadinho o gastaria em proveito próprio.
Consequentemente, utilizamos a maior parte do superávit para pagar a dívida, de
modo que a dívida baixou de 63 para 17% do PIB.
O que restava do superávit de cada ano foi utilizado
para reduzir a carga de impostos. Reduzimos as alíquotas do imposto pela metade
e eliminamos outros impostos. Como resultado destas políticas, a receita
aumentou 20%. Sim, Ronald Reagan estava certo: alíquotas de imposto menores
produzem mais receitas.
Subsídios, educação e competitividade
O que dizer sobre a invasão governamental que ocorre
sob a forma de subsídios?
Em primeiro lugar, temos de reconhecer que o
principal problema dos subsídios é que eles tornam as pessoas dependentes; e
quando você torna as pessoas dependentes, elas perdem a sua criatividade e toda a sua
capacidade de inovação, tornando-se ainda mais dependentes.
Deixem-me dar um exemplo: em 1984, 44% da renda da criação
de ovelhas na Nova Zelândia era oriunda de subsídios do governo. O produto
principal era o cordeiro e, no mercado internacional, o cordeiro era vendido a
12,50 dólares americanos (com o governo neozelandês fornecendo mais 12,50
dólares americanos) por unidade. Nós então abolimos, em apenas um ano, todos os
subsídios. Obviamente, os criadores de ovelhas não ficaram nada satisfeitos.
Porém, tão logo eles perceberam que a decisão era
permanente, que os subsídios não iram voltar, eles montaram uma equipe de
pessoas encarregadas de descobrir como poderiam obter 30 dólares por unidade. A equipe concluiu que isso seria difícil, mas
não impossível. Era necessário produzir um produto inteiramente diferente,
processá-lo de uma maneira diferente e vendê-lo em diferentes mercados.
Dois anos se passaram e, em 1989, haviam conseguido
converter o seu produto de 12,50 dólares em algo cujo novo valor era de 30
dólares. Por volta de 1991, valia 42 dólares; em 1994, valia 74 dólares; e em
1999, valia 115 dólares.
Em outras palavras, a indústria de ovelhas da Nova
Zelândia "saiu para o mercado" e descobriu pessoas que estavam dispostas a
pagar preços mais elevados pelo seu produto.
Hoje, vocês podem ir aos melhores restaurantes dos
EUA e comprar cordeiro da Nova Zelândia e pagar algo entre os 35 e os 60
dólares por libra (cerca de 450g).
Desnecessário dizer que, quando abolimos todos os
subsídios do governo à indústria, foi amplamente previsto que haveria um enorme
êxodo de pessoas fugindo desses setores. Mas isso não aconteceu. Para dar um
exemplo, apenas 0,75% dos empreendimentos agropecuários apresentaram prejuízos
e quebraram – e essas eram pessoas que nem sequer deveriam estar no ramo.
Adicionalmente, alguns previram um grande movimento em direção à organização
corporativa em oposição à agropecuária familiar. Mas ocorreu exatamente o oposto. Em vez de
uma expansão na agropecuária corporativa, foi a agropecuária familiar que se
expandiu. Todos viraram empreendedores, provavelmente porque as famílias
estão dispostas a trabalhar por menos do que as empresas.
No final, foi a melhor coisa que poderia ter
acontecido. E demonstrou que se as pessoas tiverem como única opção serem
criativas e inovadoras, elas irão encontrar soluções.
A Nova Zelândia tinha um sistema educacional que
também estava se comprovando um fracasso.
A taxa de repetência chegava a 30% das crianças — especialmente aquelas
em áreas socioeconômicas mais baixas. Ao
longo dos 20 anos anteriores, o governo despejava cada vez mais dinheiro na educação,
e os resultados eram cada vez piores. Custava-nos duas vezes mais para obter um
resultado pior do que o que tinha sido obtido 20 anos antes com muito menos
dinheiro.
E então decidimos repensar o que estávamos fazendo
nesta área também. A primeira coisa que fizemos foi identificar para onde
estavam indo os dólares despejados na educação. Contratamos consultores
internacionais (porque não confiávamos nos nossos próprios órgãos para executar
esta tarefa) e eles relataram que, para cada dólar que gastávamos com educação,
70 centavos eram consumidos pela administração.
Assim que ouvimos isto, eliminamos imediatamente
todo o Departamento de Educação [N. do E.: equivalente ao nosso MEC]. Cada escola passou a ser administrada por um conselho
de gestores eleito pelos pais das crianças que frequentavam aquela escola, e
por mais ninguém. Demos às escolas uma
quantia de dinheiro com base no número de alunos matriculados nas mesmas,
sem impor condições especiais. Ao mesmo tempo, dissemos aos pais que eles
tinham o direito absoluto de escolher onde os seus filhos seriam educados. É
absolutamente detestável que seja um burocrata qualquer diga aos pais que eles
têm de mandar os seus filhos para uma escola ruim. Convertemos 4.500 escolas a
este novo sistema em um único dia.
Mas nós fomos ainda mais longe: tornamos possível às
escolas privadas serem financiadas exatamente da mesma forma que as escolas
públicas, dando aos pais a capacidade de gastar seu dinheiro onde quer que eles
escolhessem. Mais uma vez, várias pessoas previram que haveria um grande êxodo
de estudantes do ensino público para as escolas privadas, pois as escolas
privadas demonstravam uma superioridade acadêmica de 14 a 15%. Isso não
aconteceu, pois a diferença de desempenho entre as escolas desapareceu em cerca
de 18-24 meses. Por quê? Porque repentinamente os professores das escolas
públicas perceberam que, se eles perdessem alunos, perdiam o financiamento; e
se eles perdessem o financiamento, perderiam seus empregos.
Oitenta e cinco por cento dos nossos alunos iam para
escolas públicas no início deste processo. Este número caiu para apenas 84%
depois do primeiro ano das reformas. No entanto, três anos depois, 87 por cento
dos estudantes estavam em escolas públicas. Mais importante, o nível
educacional da Nova Zelândia, que até então era 15% inferior ao de seus pares
internacionais, tornou-se 15% superior.
Agora, falemos sobre tributação e competitividade. O que muitos no setor público hoje não
conseguem reconhecer é que o desafio da competitividade é mundial. Capital e mão-de-obra
conseguem se mover tão rapidamente de um lugar para outro, que a única maneira
de impedir que as empresas saiam de um país é dando a certeza de que o clima de
negócios no seu país é melhor que o de qualquer outro.
Sob este aspecto, houve uma circunstância muito
interessante na Irlanda. A União Europeia, liderada pela França, foi muito
crítica em relação à política tributária irlandesa — particularmente na que
diz respeito às empresas —, pois os irlandeses haviam reduzido alíquota do imposto
de renda de pessoa jurídica de 48 para 12%, e, como consequência, várias
empresas se mudaram para a Irlanda. A União Europeia queria impor uma
penalização à Irlanda, na forma de um imposto de renda de pessoa jurídica de 17%,
de modo a que o país ficasse alinhado com outros países europeus.
Desnecessário dizer que os irlandeses não aceitaram essa ideia. A Comunidade Europeia respondeu dizendo que o que os irlandeses
estavam a fazer era injusto e contrário à ideia de competitividade. O ministro das
finanças da Irlanda concordou: ele destacou que o governo da Irlanda estava cobrando
12% das empresas ao passo que cobrava dos seus cidadãos apenas 10%. Ato contínuo, a Irlanda reduziu a alíquota de
impostos para as empresas para 10% também. Mais uma batalha que os franceses perderam!
Quando nós, na Nova Zelândia, analisamos o nosso esquema
tributário, encontramos um sistema extremamente complicado, o qual distorcia tanto
os empreendimentos quanto as decisões privadas. Consequentemente, fizemos as seguintes
perguntas para nós mesmos: o nosso sistema tributário estava preocupado em
coletar receitas? Estava preocupado em coletar receitas e também em prestar de
serviços sociais? Ou estava preocupado em coletar receita, em prestar serviços sociais
e em alterar comportamentos? Decidimos então
que serviços sociais e questões comportamentais não tinham lugar em um sistema
racional de tributação.
Ato contínuo, decidimos que só teríamos dois
mecanismos para obter receitas — um imposto sobre a renda e um imposto sobre o
consumo — e que iríamos simplificar estes mecanismos e reduzir as alíquotas ao
máximo possível.
Reduzimos a alíquota máxima do imposto de renda de
66 para 33% e fixamos essa taxa para todos os que tinham rendimentos mais
elevados. Além disso, reduzimos a alíquota mínima de 38 para 19%, a qual se
tornou a taxa fixa para a população de menor renda. Em seguida, definimos uma alíquota
de imposto sobre o consumo de 10% e eliminamos todos os outros impostos —
impostos sobre ganhos de capital, impostos sobre a propriedade etc.
O que realmente aconteceu foi que acabamos coletando
20% mais receitas do que antes. Por quê? Porque se as alíquotas são baixas, os
pagadores de impostos mais ricos não irão contratar advogados e contadores caros
para encontrar brechas na legislação. Simplesmente
não compensa. Com efeito, todos os
países do mundo que pesquisei que simplificaram e reduziram dramaticamente as
suas alíquotas de imposto terminaram com mais receita, e não menos.
E quanto às regulamentações? O poder regulador é normalmente
delegado a funcionários que não foram eleitos, os quais então restringem as
liberdades das pessoas sem serem cobrados e punidos por isso. Essas regulações
são extremamente difíceis de serem abolidas uma vez implantadas. Mas nós
encontramos uma maneira: simplesmente reescrevemos os estatutos em que as
regulações estavam baseadas.
Por exemplo, reescrevemos as leis ambientais,
transformando as mesmas na Lei de Gestão de Recursos — reduzindo uma lei que
tinha 25 polegadas de espessura (63,5 cm) para 348 páginas. Reescrevemos o
código tributário, todo o código florestal e de exploração agropecuária, e as
leis sobre segurança e saúde no trabalho. Para fazer isso, juntamos os nossos
cérebros mais brilhantes e dissemos a eles para partirem do princípio de que
não havia nenhuma lei pré-existente e que deveriam criar o melhor ambiente
possível para a indústria prosperar.
Estas novas leis, com efeito, revogaram as antigas,
o que significa que todas as regulações vigentes — todas, uma por uma.
Pensar de forma diferente sobre o governo
Deixem-me compartilhar uma última história: o
Ministério dos Transportes veio até nós um dia para nos dizer que tinham de
aumentar as taxas para as carteiras de habilitação. Quando perguntamos o
porquê, eles disseram que os custos para renovar uma carteira não estavam sendo
totalmente cobertos pelas taxas vigentes. Então perguntamos por que o governo deveria estar
envolvido nesse tipo de atividade. Os
funcionários do Ministério dos Transportes claramente pensaram que essa era uma
pergunta muito idiota. "Todos precisam de uma carteira de habilitação",
disseram eles.
E então respondi que recebi a minha quando tinha 15
anos, e ainda perguntei: "Como é que emitir uma nova carteira testa a
competência do condutor?". Demos a eles
dez dias para pensar sobre isso.
Em um determinado dia, eles disseram que a polícia
precisa das carteiras de habilitação para fins de identificação. Respondemos
que este era o propósito de uma carteira de identidade, não de uma carteira de habilitação.
Finalmente, eles admitiram que não conseguiram
encontrar uma boa razão para o que estavam fazendo — por isso, extinguimos
todo o processo.
Agora, uma carteira de habilitação é válida até a
pessoa fazer 74 anos, data após a qual deve fazer um teste médico anual para
garantir que ainda é competente para dirigir. Assim, não apenas não
precisávamos de novas taxas, como ainda eliminamos todo um órgão estatal.
Isto é o que eu quero dizer quando exorto a "pensar
de forma diferente sobre o governo". É nesta direção que um governo tem de se
mover.
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