Para começar, o principal nome da economia deveria literalmente "calar a boca", ou seja, parar de falar em público que "não vê problema nenhum em um dólar a R$ 4,30".
Assim que ele veio a público e falou essa insanidade, o dólar imediatamente saltou de R$ 4,15 para R$ 4,27. Só não foi adiante porque tal valor estava bizarro até mesmo para os padrões pombísticos do atual Banco Central, que teve de fazer dois leilões-surpresa para conter o estrago.
Tanto a teoria quanto a empiria demonstram que governos conseguem a moeda que querem. Nos EUA, quando o presidente (ou o Secretário do Tesouro) diz querer um dólar forte, o mercado imediatamente entrega um dólar forte.
Foi assim com Reagan, que falou em sua campanha que queria um dólar forte e até mesmo restaurar o padrão-ouro (o dólar, que estava na lona sob Jimmy Carter, começou a subir imediatamente após Reagan vencer a primária de New Hampshire e se consolidar nas pesquisas). Foi assim com Clinton, cujo Secretário do Tesouro Robert Rubin falava abertamente que ter um dólar forte era do interesse dos EUA. Foi assim com Bush, cuja equipe dizia que queria um dólar
fraco para concorrer com a China. Não é de se estranhar que a economia foi ao chão com ele. E foi assim com Obama, cujo Secretário Jack Lew
falava abertamente sobre as vantagens de ter uma moeda forte.
Sim, quando presidente, Ministro da Fazenda e presidente do Banco Central deixam claro em seus discursos que querem uma moeda forte, e que irão trabalhar para isso, o mercado imediatamente aquiesce e torna a moeda forte (para especuladores, há ganhos a ser feitos tanto com moeda forte quanto fraca, de modo que, para eles, pouco importa a força da moeda, mas sim a direção do movimento da moeda. Se o governo quer a moeda em uma direção, eles entregam essa direção e ganham com isso).
É claro que é importante ter um orçamento equilibrado e ser bem receptivo ao investimento estrangeiro, mas o gogó ajuda. E muito.
Gustavo Franco, por exemplo, praticamente manteve o real forte no gogó. O fiscal não ajudava e juros altos não são garantia de nada, tanto é que quando houve a desvalorização de 1999 os juros estavam muito maiores do que no período 1996 - 1998. Ou mesmo em 2015, com SELIC a 14,25% e dólar ultrapassando os R$ 4,00. (Sobre a atuação de Franco durante todo o Plano Real, leia o livro "3.000 dias no Bunker", de Guilherme Fiúza).
Além de Reagan e Paul Volcker, que também fizeram farto uso das palavras (ambos falavam claramente que queriam um dólar forte, e conseguiram) e de Bill Clinton e seu secretário do Tesouro Robert Rubin, a Alemanha também fez o mesmo durante todo o pós-guerra.
"Ah, mas se é tão fácil assim, por que ninguém faz?" Ora, porque vivemos na era da insanidade monetária. Hoje, o senso comum diz que, se a moeda não for desvalorizada, não haverá exportação, a economia não será competitiva, e a indústria irá acabar. Com efeito, dado que o próprio Guedes é um adepto aberto desta teoria (como ficou claro na entrevista concedida ao site O Antagonista), aí é um abraço. Nada pode ser feito.
O mercado financeiro não entrega moeda forte para uma equipe econômica que diz abertamente que quer uma moeda fraca. Infelizmente, está aí a resposta para a sua pergunta.