quarta-feira, 18 abr 2018
O fato de muitos políticos de carreira serem
mentirosos descarados e compulsivos não é apenas uma característica inerente à
classe política; é também um reflexo do eleitorado. Quando as pessoas querem o
impossível, somente os mentirosos demagogos podem satisfazê-las.
No entanto, quando a realidade se impõe e os efeitos econômicos de
medidas populistas começam a cobrar seu preço, os eleitores finalmente
percebem que foram enganados. E então começam a reclamar que os demagogos
os enganaram e venderam ilusões.
Essas pessoas são as mesmas que, no passado, não
apenas acreditaram piamente nas promessas dos demagogos, como também ignoraram
rispidamente todos os alertas, feitos pelos mais sensatos, de que determinadas
políticas populistas eram insustentáveis e cobrariam um preço caro no
futuro.
Pessoas que se recusam a aceitar verdades
desagradáveis quando estas são ditas em épocas de bonança não têm direito de,
no futuro, reclamar que os políticos mentiram e que elas foram enganadas. Afinal,
com essa mentalidade, que outro tipo de candidato essas pessoas elegeriam?
O
domínio da arte
Uma das principais mentiras do estado
social-democrata é a noção de que o governo pode dar às pessoas coisas que
elas desejam, mas não conseguem bancar.
Dado que o governo não produz riqueza, não tem renda
própria e se mantém por meio do confisco de recursos das pessoas, então, por
uma questão de lógica, se as pessoas como um todo não podem bancar algo,
tampouco pode o governo.
Se você vota em políticos que prometeram dar a você
benesses pagas com o dinheiro confiscado de terceiros, você não tem nenhum
direito de reclamar quando esses mesmos políticos resolverem tomar o seu
dinheiro para repassá-lo para terceiros, inclusive para eles próprios.
Existe, é claro, a imortal falácia de que o governo
pode simplesmente aumentar os impostos sobre "os ricos" e utilizar
tal receita adicional para pagar por coisas que a maioria das pessoas não
consegue comprar. O que é incrível nesse raciocínio é a sua implícita suposição
de que "os ricos" são todos tão idiotas, que não farão nada para
evitar que seu dinheiro seja tributado.
Em nenhum país ocidental os ricos arcam
exclusivamente com os impostos; quem realmente fica com o
grande fardo é a classe média. Não há, em nenhuma sociedade, um número
grande o bastante de ricos que possam custear sozinhos os gigantescos gastos
efetuados pelos estados assistencialistas ocidentais. [Para entender em
mais detalhes por que aumentar a tributação sobre os ricos gera um efeito
contrário ao pretendido, veja este artigo].
Na economia globalizada atual, os ricos podem
simplesmente investir seu dinheiro em países onde as alíquotas de impostos são
menores. Basta um toque no computador, e as fortunas vão embora para
outros países.
Então, se você não pode confiar que "os
ricos" irão pagar a conta, em que você pode confiar? Nas mentiras.
Nada é mais fácil para um político do que prometer
benefícios governamentais que não poderão ser cumpridos.
A Previdência Social é perfeita
para essa função. As promessas são feitas com base em um dinheiro que só será
pago daqui a várias décadas — sendo que, até lá, outra pessoa estará no poder
com a tarefa de inventar o que dizer e fazer quando descobrir que nunca
existiu tal dinheiro e a convulsão social começar.
Haverá o calote, sim, mas existem, no entanto,
várias formas de postergar o dia do acerto final. O governo pode, por exemplo,
começar a restringir vários benefícios previdenciários daqueles grupos que são
menos influentes politicamente. Ele irá começar dando pequenos calotes
naqueles grupos que têm menos poder político e pouco poder eleitoral. E dali
vai começar a aprofundar.
Nos EUA, o governo vai começar a cortar o Medicare (programa
de responsabilidade da Previdência Social americana que reembolsa hospitais e
médicos por tratamentos fornecidos a indivíduos acima de 65 anos de idade) e
o Medicaid (programa
financiado conjuntamente por estados e pelo governo federal, que reembolsa
hospitais e médicos que fornecem tratamento a pessoas que não podem financiar
suas próprias despesas médicas)
[N. do E.: aqui no Brasil, as vítimas serão alguns
pensionistas, que irão se aposentar recebendo proporcionalmente menos do que
contribuíram. Depois, os cortes provavelmente irão para alguns setores da
saúde pública. A faca começará sempre sobre os menos influentes. Haverá
gritaria, mas será feito.]
É apenas uma questão de tempo. O fato é que todos
esses problemas de longo prazo irão, eventualmente, desafiar as belas e sonoras
mentiras que são a força vital das políticas de bem-estar social. Mas ainda
irão ocorrer muitas eleições entre hoje e o dia do acerto final — e aqueles
que são profissionais na arte da mentira ainda irão vencer muitas dessas
eleições.
E, enquanto o dia do ajuste de contas não chega, há
diversas maneiras de aparentemente superar esses problemas. Se a arrecadação do
governo não estiver conseguindo acompanhar o ritmo do seu aumento de gastos [como é o caso do Brasil],
ele pode insistir no aumento do endividamento. Mas mesmo esta política é
limitada, pois chegará um momento em que a dívida estará tão alta, que os
investidores não mais confiarão na capacidade do governo de honrá-la. E aí os
juros subirão.
Outra alternativa é imprimir mais dinheiro. Isso
não torna nenhum país mais rico, mas insidiosamente transfere parte do poder de
compra da população — bem como a poupança e a renda das pessoas — para o
governo e seus protegidos, gerando uma redistribuição
de renda às avessas. Imprimir mais dinheiro significa inflação — e a
inflação é uma mentira discreta, por meio da qual o governo pode manter suas
promessas no papel, mas com um dinheiro cujo poder de compra é muito menor do
que aquele que vigorava quando as promessas foram feitas.
Sem
surpresa
Promessas sublimes sobre "justiça social" e
"igualdade"
não passam de estratagemas feitos para aumentar o poder de políticos, uma vez
que tais belas palavras não possuem nenhuma definição concreta. Elas nada
mais são do que um cheque em branco para criar uma gigantesca disparidade de
poder que, em comparação, ofusca completamente as disparidades de renda — e é
muito mais perigosa.
Quem não entende o completo cinismo que existe na política não entende nada de política.
De novo: será que é realmente tão surpreendente que
eleitores com expectativas fantasiosas e irreais elejam políticos que mentem
descaradamente sobre serem capazes de cumprir tais fantasias?