quarta-feira, 27 0aio 2015
Nota do IMB
O
apresentador do podcast
do Instituto Mises Brasil e membro do Conselho Editorial da revista Mises, Bruno Garschagen, acaba de publicar um
livro intitulado Pare
de Acreditar no Governo - Por que os Brasileiros não Confiam nos Políticos e
Amam o Estado.
O
jornalista João Pereira Coutinho, que assina o prefácio do livro, faz a
pergunta que sintetiza perfeitamente nossa espantosa confusão mental. Diz o luso:
Se existe desprezo pelos políticos e amor
pelo Estado, que tipo de criaturas os brasileiros imaginam que governa esse
Estado? Seres perfeitos? Angelicais? Extraterrestres vindos de outra galáxia?
Em
seu livro, Bruno, além de mostrar que não fazemos essa conexão, investiga
nossas raízes culturais para tentar encontrar uma resposta para essa nossa dissonância
cognitiva, traçando um profundo panorama da nossa história: o livro abrange
desde o reinado de D. Manuel I até Dilma Rousseff.
De
acordo com o autor, "nada é tão ruim que não possa piorar."
Em sua coluna na Folha de S. Paulo,
intitulada Ensaio
Sobre as Cegueiras, o próprio João Pereira Coutinho escreve:
Você, leitor, é homem interessado no futuro
do Brasil? [...] Você, leitor, deve procurar urgentemente "Pare de Acreditar no
Governo - Por que os Brasileiros não Confiam nos Políticos e Amam o
Estado", livro de Bruno Garschagen.
Verdade: escrevi o prefácio da obra e, como
dizem os "idiotas da objectividade", sou "suspeito" na
matéria.
Mas se isso é crime, cometo o delito com um
sorriso nos lábios. O livro de Garschagen procura analisar o maior paradoxo
político do Brasil democrático. Que está expresso no próprio subtítulo: os
brasileiros desconfiam dos políticos e, sejamos sinceros, têm uma certa
repugnância pela espécie.
Mas, ao mesmo tempo, eles querem mais e mais
Estado — ou seja, e por outras palavras, querem mais e mais políticos a tomar
conta dos interesses públicos. Como explicar essa "dissonância
cognitiva"?
Garschagen vai às origens da tradição
patrimonialista brasileira para encontrar, claro, a tradição patrimonialista
portuguesa. Mas não só: com uma escrita divertida, informada e polêmica, o
livro é sobretudo uma história do país — da independência no século 19 aos
governos PT do século 21— e da paixão pelo Estado que palpita no coração de
governantes e governados.
A conclusão do autor é simples e fulminante:
se você, leitor, acredita que os políticos não são anjos, então talvez seja
altura de também não acreditar que o Estado é um jardim celestial.
"Touché."
O
site O Antagonista também recomenda
"veementemente" o livro, e o classifica como "leitura obrigatória".
A
entrevista a seguir foi concedida por Bruno a Rodrigo da Silva, do site Spotniks.
_______________________________________
Rodrigo
da Silva: Afinal, por que os brasileiros não confiam nos políticos e
amam o estado?
Bruno
Garschagen: Essa pergunta está diluída ao longo do livro. No fundo,
não há uma resposta única. Há vários esboços de resposta. Mas, um dos
argumentos centrais, desse amor do brasileiro pelo estado, é que esse foi um
processo de construção política que resultou em uma mentalidade cultural. E essa mentalidade acabou se traduzindo na
forma de incentivos dispersos pela sociedade.
No
fundo, quando você está imerso em uma sociedade em que as instituições
políticas, em que todo o debate político, em que toda a conversa em termos de
política, gira em torno de "o que o governo deve fazer" — e dificilmente se faz
o questionamento sobre o que o governo não
deve fazer —, é natural que você tenha uma relação com o estado de extrema
dependência, mesmo quando não precisa ou não depende diretamente dele.
Fica
essa mentalidade de que o estado deve fazer tudo — ou, no mínimo, apenas um pouco
menos do que tudo.
Meu
livro começa com o desembarque da tripulação portuguesa no Brasil e faz um
passeio pela história até o ainda atual governo central. Eu me concentrei no
poder executivo federal. Falo sobre o poder executivo federal quando o Brasil
era colônia — referindo-me ao poder de Lisboa — e depois sobre o poder central dos
nossos imperadores, chegando ao golpe militar que derruba a monarquia (e a
nossa história é pródiga de golpes militares).
Após a queda da monarquia, faço um passeio pela história dos governos do
período republicano.
Eu
tento mostrar a forma como o poder central, que sempre foi muito poderoso no
Brasil, se tornou um dos grandes atores na disseminação desse tipo de
mentalidade. Por que os brasileiros não confiam nos políticos? É o paradoxo que
eu coloco no subtítulo do meu livro. Ao mesmo tempo em que nós, brasileiros, ao
longo da história, acreditamos que o governo deve fazer muitas coisas, ou deve
fazer todas as coisas, não confiamos nos políticos. Esse paradoxo acontece por
quê?
Porque
o brasileiro faz uma separação bastante excêntrica entre o governo e os políticos
que o compõe, como se o governo fosse uma entidade separada dos homens, como se
o governo fosse formado por anjos, por entidades celestiais — para usar a
famosa metáfora dos pais fundadores dos Estados Unidos.
E,
nessa contradição, ao mesmo tempo em que o governo promete as coisas e não
cumpre, esse descumprimento dessas expectativas, essa frustração, essa
insatisfação é dirigida diretamente aos políticos. E o que é mais engraçado ainda: o governo não
cumpre as expectativas e com isso a realidade volta ao seu plano concreto. E aí
os brasileiros percebem por quem o governo é formado.
Rodrigo
da Silva A pergunta inevitável é: como mudar essa realidade?
Bruno
Garschagen: É preciso várias ações. Falando de hoje, trazendo a
discussão para o que está acontecendo agora no Brasil, nós estamos passando por
um período de transição bastante rico, e esse período dará bons frutos se nós
fizermos tudo certo agora, como eu acho que uma parte da sociedade brasileira
tem feito.
Atualmente,
o que a gente está testemunhando é que uma parte da sociedade brasileira percebeu
essa armadilha, e está trabalhando para desfazer ou pelo menos mostrar que essa
armadilha existe, e tentando propor uma alternativa em termos de ideias, de
projetos políticos, de agenda política.
Então,
o trabalho que tem sido feito, de participação e de militância ativa, faz com
que a gente possa ter algum tipo de esperança de que isso possa ser mudado. E, uma vez mudado no plano da sociedade e no
âmbito cultural, poderemos quem sabe formar políticos que sairão já com uma
mentalidade diferente. E, uma vez nas
instituições políticas, talvez estes novos políticos consigam mudar o que está
implantado de maneira institucional.
No
entanto, o que eu acho que é muito importante, e as passeatas desse ano mostraram
muito bem isso, é que a participação de uma parte da população mostrou que as
pessoas estão em busca de algo que não seja mais estado — o qual é, no fundo,
a origem da sua insatisfação. E, ao verem que há algo diferente, a população
tem para onde canalizar as suas expectativas.
E é aí que podemos começar um processo de construção de baixo para cima.
Rodrigo
da Silva: O historiador americano David Landes aplica o
patrimonialismo a uma perspectiva cultural. Por outro lado, economistas como o
turco Daron Acemoglu afirmam que esse cenário faz parte da construção das
nossas instituições econômicas, que incentivam essa dependência. Qual caminho
você escolhe no livro?
Bruno
Garschagen: A espinha dorsal do livro é a dimensão cultural. Mas como
eu vejo a cultura? Como um grande círculo, dentro do qual estão os círculos da
economia, da política e da justiça.
Quando
escrevo sobre cultura, trato de uma forma muito mais ampla. Por causa disso, acabo
tratando de tudo. E não consigo desassociar essa mudança cultural do problema
econômico e político, pois, no fundo, essas esferas estão interligadas. A minha
perspectiva é cultural e eu acredito que essa mudança será, no fim, a chave de
tudo, pra mudança econômica e política.
Rodrigo
da Silva E qual é a nossa literatura na área? Quais foram os seus
expoentes sobre essa abordagem cultural histórica no Brasil?
Bruno
Garschagen: Há vários autores que tratam de forma bastante específica
alguns problemas. Vou citar dois que eu usei no livro, que pegam de forma muito
inteligente a maneira como essa dimensão cultural atua na esfera política e
econômica: o professor Antonio
Paim e o professor Ricardo
Vélez-Rodríguez.
São
dois autores vivos com uma obra extensa, que tratam de política brasileira, e
os quais eu recomendaria porque conseguem conjugar de forma muito inteligente
essas dimensões.
Rodrigo
da Silva: Como foi esse processo pra escrever o livro?
Bruno
Garschagen: Esse livro foi proposto em forma de projeto ao editor
Carlos Andreazza (da Editora Record) em uma conversa informal, e eu tinha o
assunto resumido no título. Eu parti do título, que resumia o objeto daquilo
que eu queria investigar.
O
Andreazza comprou a ideia e, durante todo processo, deu total apoio. O processo
de pesquisa e escrita do livro durou de janeiro a outubro de 2014. Foram dez
meses de investigação e elaboração do livro.
Mas
esse livro começou a ser pensado muito tempo antes, em 2008, quando comecei a
me envolver de forma mais direta — ou a me preocupar de forma mais direta —
com o problema político do Brasil. Foi um processo de leituras muito esparsas,
crescendo de forma muito gradual. A partir dessa preocupação, discutindo os
temas do país que eu gostaria de ler, a partir do meu trabalho no Ordem Livre,
como podcaster do
Instituto Mises Brasil, convivendo com as pessoas do movimento das ideias da
liberdade, vendo que esse era sempre um assunto muito recorrente, a ideia foi
se consolidando.
E
eu primeiro queria descobrir se isso era verdade, se o brasileiro era realmente
tão estatista como nós imaginávamos. Uma coisa era ter essa informação de forma
intuitiva; outra era a investigação. Saber primeiro: "há alguma pesquisa
empírica que demonstra que o brasileiro realmente ama o estado?". Eu fui
descobrir que sim. Essa pesquisa já havia sido publicada em um livro chamado "A
cabeça do brasileiro". Com essa pesquisa em mãos, concluí: "bom,
isso realmente existe".
Em
seguida, fui investigar teoricamente, historicamente, sociologicamente,
antropologicamente de que forma isso foi sendo construído ao longo da nossa
história, como é que isso chegou aqui e, principalmente, se houve, em algum
momento histórico, alguma tentativa de quebrar essa ideia patrimonialista que
chegou aqui e se desenvolveu com os portugueses, e foi sendo ampliada e
modernizada.
No
fundo, meu livro expõe a teoria e expõe também dados empíricos que mostram de
que forma isso aconteceu e qual foi o resultado disso.
Rodrigo
da Silva O livro aborda a herança cultural portuguesa. Como é ter um
escritor como o João Pereira Coutinho, português, escrevendo o prefácio dele?
Bruno
Garschagen: Eu acho que esse era o caminho natural. A escolha do João
Pereira Coutinho para escrever o prefácio tem várias razões.
A
primeira delas é que, como o livro trata de Brasil e Portugal, por conta dessa
herança histórica, não haveria melhor escolha do que um autor português, que
conhece a história de Portugal, que conhece uma parte da história brasileira, e
que tem, de forma muito clara, a noção de que isso que o livro aborda é uma
grande armadilha da qual Portugal também foi vítima e da qual também não
conseguiu se libertar. E ele tem a exata dimensão dessa herança que nos foi
legada.
Além
disso, é um estudioso das ideias da liberdade, assim como eu.
A
outra razão é que, além de eu ter sido aluno e orientando dele no mestrado,
atualmente sou orientando dele no doutorado. Isso me permitiu ter uma
aproximação maior e conhecer mais daquilo que ele conhece e desenvolve em seus
estudos. Ele reunia essas qualidades que me privilegiaram com um prefácio
brilhante, como o que ele escreveu, e adequado à proposta do livro.
E
há uma coisa que eu queria complementar dessa relação entre Brasil e Portugal:
eu só me senti confortável para escrever esse livro — depois de todas as
leituras que eu fiz — porque tive a experiência de ter morado em Portugal
durante 2 anos, o que fez com que eu tivesse uma visão in loco de Portugal, dos portugueses, da realidade portuguesa e de
como se desenvolveu a política portuguesa.
Ter
tido essa experiência, de ser um brasileiro que estudou a história brasileira,
que teve essa vivência em Portugal e que estudou a história de Portugal em
Portugal, fez com que eu me sentisse muito confortável para tratar dessa
relação entre Brasil e Portugal.
E
eu queria complementar dizendo que o livro foi pensado e escrito para o leitor
não-especializado. Ele foi pensado e escrito em uma linguagem clara, concisa,
fácil e bem humorada. Eu tentei, com o meu texto, reunir todas as
características que nos fazem brasileiros no melhor sentido: um livro plural,
que faz as abordagens que eu acreditava serem as mais adequadas ao sentido do
livro e com um texto fácil.
O
texto é voltado a todo e qualquer brasileiro que queira conhecer a história do
Brasil — ou a história oculta do Brasil — e que queira entender as bases desse
nosso paradoxo: afinal, por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam
o estado?
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O
livro "Pare de Acreditar no
Governo: Por que os Brasileiros não Confiam nos Políticos e Amam o Estado"
pode ser comprado pelos sites das seguintes livrarias:
-
Amazon
brasileira
- Livraria
da Travessa (é possível ler o sumário, a introdução e o primeiro
capítulo)
- Livraria
Cultura
- Saraiva
- Livraria
da Folha
Também já é possível encontrá-lo nas principais
livrarias de todo o país.
E
hoje, quarta-feira, dia 27 de maio de
2015, às 19h, Bruno Garschagem estará na Livraria Cultura do Conjunto
Nacional, na Av. Paulista, 2073, em São Paulo, para fazer o
lançamento do livro.