Os
americanos estão rindo à toa. E às
nossas custas. Tanto o café da manhã
quanto o churrasco deles ficaram bem mais baratos. Do pão ao café, passando pelo bacon e pela
carne de boi,
tudo
barateou para eles.
Quem
foi o responsável por isso? Nós
brasileiros. E, como consequência dessa
nossa "gentileza", esses mesmos alimentos ficaram bem mais caros para nós.
Com
o esfacelamento do real
perante todas as moedas do mundo — e ainda mais intensamente perante o dólar
—, a aquisição de milho, café, soja, açúcar, laranja e carne do Brasil ficou
muito mais barata para os americanos e estrangeiros em geral.
Consequentemente,
os produtores brasileiros dessas commodities passaram a vendê-las em maior
quantidade para o mercado externo, gerando uma diminuição da sua oferta no
mercado interno e um aumento dos seus preços.
Fartura
para os estrangeiros, carestia para nós.
Os
preços da carne bovina, por exemplo, que foram até motivo de debate na
campanha eleitoral, seguem crescendo. E, nesse caso, a desvalorização do câmbio tem
um efeito duplo: de um lado, ela aumenta as exportações e reduz a oferta
interna; de outro, ela encarece o preço da soja (a soja é uma commodity
precificada em dólar. Se o real se desvaloriza
perante o dólar, o preço da soja em reais aumenta). E, dado que o farelo de soja é utilizado como
ração para bovinos, o encarecimento da soja encarece todo o processo de
produção. (Apenas neste mês de março, a
tonelada do farelo de soja subiu
de R$ 1.070 para R$ 1.250)
Consequentemente,
os preços da carne são pressionados tanto pela diminuição da oferta quanto pelo
encarecimento da produção. Por trás de
tudo, está o câmbio.
E
o problema é que a desvalorização cambial não se restringe apenas ao setor
alimentício ou às commodities. Tampouco
a desvalorização cambial, ao contrário do que muitos pensam, afeta apenas os
preços de bens importados.
A
desvalorização cambial é um fenômeno que gera carestia generalizada em
praticamente todos os bens e serviços do
mercado interno, pois ela gera um efeito em cascata.
Além
de encarecer alimentos (em decorrência dos fenômenos acima descritos), remédios
(85% da química fina é importada), e todos os importados (de eletroeletrônicos e
utensílios domésticos a roupas e mobiliários), a desvalorização cambial também
encarece os preços das passagens aéreas (querosene é petróleo, e petróleo é
cotado em dólar), das passagens de ônibus (diesel também é petróleo), e até
mesmos os preços dos alugueis e das tarifas de energia elétrica (ambos são reajustados
pelo IGP-M, índice esse que mensura commodities e matérias-primas, ambas
sensíveis ao dólar).
E
o aumento do aluguel e o encarecimento da eletricidade, por sua vez, afetam os
custos de todos os estabelecimentos comerciais, os quais terão de elevar os
preços de seus produtos e serviços (o cabeleireiro e a manicure cobrarão mais
caro, assim como o dentista e a oficina mecânica).
E
todos esses aumentos generalizados farão com que os autônomos que atuam no
setor de serviços — o eletricista e o encanador comem pão e carne, cortam
cabelo, pagam conta de luz e levam seus carros para consertar — também tenham
de aumentar seus preços.
Ou
seja, não há escapatória: uma desvalorização cambial mexe com toda a estrutura
de preços da economia.
Por que uma moeda fraca afeta negativamente
toda a economia
A
saúde de uma economia é totalmente dependente da saúde de sua moeda. Dado que o dinheiro representa a metade de toda e qualquer transação
econômica, a robustez da moeda irá determinar a saúde de toda a economia. Se a moeda enfraquece, a economia vai junto. Se a moeda fica doente, a economia também adoece.
Não
há como uma economia se fortalecer se a sua moeda está enfraquecendo.
Classicamente,
o dinheiro tem a função de ser um meio de troca. Mas, além de facilitar as transações
econômicas, o dinheiro também tem a função de mensurar o valor dos bens e serviços. Ao vender ou comprar qualquer bem ou serviço
— seja um carro, um apartamento ou uma mão-de-obra —, você o precifica em
unidades monetárias. O dinheiro é a
régua com a qual você faz essa mensuração.
Toda a riqueza material que
possuímos é mensurada pela nossa moeda.
Daí
os economistas clássicos, à sua época, defenderem a ideia de que a moeda, para
ser eficaz, deveria ser a mais estável possível. Tais economistas corretamente compreenderam
que ter uma moeda fiduciária, não lastreada por nada, e cujo valor flutuasse
constantemente seria o equivalente a utilizar unidades de medida que flutuassem
diariamente.
Imagine
o que ocorreria se a definição de metro, grama e minuto fosse alterada
diariamente? Num dia, o metro tem 100
centímetros; no dia seguinte, o metro se desvaloriza e passa a valer 95
centímetros. Depois, se valoriza e passa
a ter 107 centímetros. Como seria
possível fazer qualquer obra dessa maneira?
Assim
como um metro flutuante e um minuto flutuante gerariam vários erros de
construção, de cálculo e de planejamento, um dinheiro flutuante gera uma enorme
quantidade de investimentos insensatos, uma grande desarmonia nas transações e
um profundo caos no cálculo econômico.
Por
isso, ao longo da história humana, o ouro sempre foi a
mercadoria naturalmente escolhida para servir como meio de troca e unidade de
conta. Sua tradicional estabilidade como
unidade de conta fez dele uma escolha natural para definir aquilo que hoje
conhecemos como dinheiro.
(Em dezembro de 2008, um
arqueólogo britânico descobriu, nos arredores de Jerusalém, aproximadamente 300
moedas de ouro datadas de 600 d.C., todas elas emitidas pelo imperador
bizantino Heráclio, e todas elas valendo o mesmo tanto que valiam há 1.400
anos, se não mais.)
Hoje,
infelizmente, a teoria econômica que se tornou dominante — e que é adotada por
quase todos os governos — inverteu completamente essa lógica. Os economistas de hoje não mais veem o
dinheiro como uma unidade de conta que deve ser a mais estável possível. Não. Eles
querem flutuar o metro, o minuto e o grama.
Eles querem ter uma régua, um relógio e uma balança que sejam
diariamente alterados. E eles
genuinamente acreditam que isso gera desenvolvimento econômico.
Os
economistas de hoje acreditam que uma unidade de conta sem qualquer âncora,
totalmente volúvel e flutuante, turbina a atividade econômica. Pior ainda: dentre esses economistas, há
aqueles que vão ainda mais além e dizem abertamente que, quanto mais distorcida
for nossa unidade de conta, maior será a nossa criação de riqueza e maior será
nosso desenvolvimento. "Destrua a moeda,
e surgirão uma Apple, uma Microsoft e uma Google", parece ser o lema.
A
crença, sem nenhuma lógica, é a de que uma moeda desvalorizada, sem poder de
compra, irá estimular as pessoas a produzir mais e melhor, e a investir com
mais sapiência. "Altere fortemente a
definição de metro, minuto e grama, e amanhã viramos uma Suíça".
Eis
o principal problema com esse raciocínio: quando investidores investem, eles
estão, na prática, comprando um fluxo de renda futura. Para que
investidores invistam capital em atividades produtivas, eles têm de ter um
mínimo de certeza e segurança de que terão um retorno que valha alguma coisa.
Mas
se a unidade de conta é diariamente distorcida e desvalorizada, se sua
definição é flutuante, há apenas caos e incerteza. Se um investidor não faz a menor ideia de
qual será a definição da unidade de conta no futuro (sabendo apenas que seu
poder de compra certamente será bem menor), o mínimo que ele irá exigir serão
retornos altos em um curto espaço de tempo.
É
exatamente por isso que, em países cuja moeda tem histórico de alta
desvalorização, (alta inflação de preços), são raros os investimentos vultosos
de longo prazo. É por isso que, em
países cuja moeda tem histórico de alta desvalorização, os juros são altos. É por isso que, em países cuja moeda tem histórico
de alta desvalorização, os bens produzidos são de baixa qualidade. É por isso que, em países cuja moeda tem
histórico de alta desvalorização, as pessoas são mais pobres.
E
é exatamente por isso que uma moeda forte e estável é indispensável para o
crescimento econômico. Quando a moeda é
estável, investidores têm mais incentivos para se arriscar e financiar ideias
novas e ousadas; eles têm mais disponibilidade para financiar a criação de uma
riqueza que ainda não existe. O
investimento em tecnologia é maior. O
investimento em soluções ousadas para a saúde é maior. O investimento em infraestrutura é
maior. O investimento em ideias para o
bem-estar de todos é maior.
Já
quando a moeda é instável — ou passa por períodos de forte desvalorização —,
os investidores preferem se refugiar em investimentos tradicionais e mais
seguros, como imóveis e títulos do governo.
Não há segurança para investimentos de longo prazo, que são os que mais
criam riqueza.
Uma
moeda instável desestimula investimentos produtivos. E, consequentemente, age contra o crescimento
econômico.
É
por isso que nenhum país que tem moeda instável e com baixo poder de compra
produz bens de qualidade e que são altamente demandados pelo comércio
mundial. Todos os bens de qualidade são
produzidos em países com inflação baixa e moeda forte. Apenas olhe a qualidade dos produtos alemães,
suíços, japoneses, americanos, coreanos, canadenses, cingapurianos etc.
Uma
moda fraca e instável, portanto, não apenas afeta todos os preços internos de
um país (se a moeda está fraca, então será necessária uma maior quantidade dela
para adquirir o mesmo bem), como também enfraquece toda a economia.
Não
há escapatória: moeda fraca, investimentos baixos, economia fraca, carestia
alta. Sem exceção.
A prática no Brasil
Toda
essa longa digressão foi para explicar o que está ocorrendo no Brasil. Nossa moeda está doente. E essa doença da moeda é, sem dúvida, o
grande catalisador da insatisfação generalizada com o governo Dilma.
Este artigo exibe 20
gráficos que mostram que, durante o governo Dilma, o real se tornou uma moeda assustadoramente
instável e fraca, tendo se desvalorizado até mesmo perante as moedas do Haiti,
do Paraguai e da Bolívia.
Mas
mensurar o real perante outras moedas igualmente fiduciárias ainda não conta
toda a história. Para ver a verdadeira
saúde da moeda é necessário compará-la ao ouro — mais especificamente, a
evolução do preço do ouro nesta moeda.
O
ouro sempre foi a constante historicamente usada para mensurar objetivamente a
robustez de uma moeda. Se o preço do
ouro está subindo, a moeda está enfraquecendo; se o preço do ouro está caindo,
a moeda está se fortalecendo.
No
que mais, dado que o ouro é uma commodity que é literalmente transacionada
diariamente e a todo o momento, o preço do ouro representa um indicador instantâneo
que expõe, antes de todas as outras estatísticas posteriormente coletadas, os
erros (e os acertos) da política monetária.
E
como se comportou o real, desde sua criação, perante o ouro? O gráfico abaixo mostra o preço, em reais, de
um grama de ouro desde 1º de julho de 1994 (ignore aquelas linhas verticais; é
defeito do algoritmo do Banco Central):

Gráfico 1: preço,
em reais, de um grama de ouro.
O
gráfico revela informações muito interessantes:
1)
Quando nasceu, eram necessários R$ 10,50 para comprar 1 grama de ouro. Hoje, são necessários R$ 120. Isso significa que o real já se desvalorizou
91% desde sua criação.
2)
Houve dois períodos em que o real foi relativamente
estável perante o ouro: de julho de 1994 a dezembro de 1998, e de janeiro de
2004 a agosto de 2008.
3)
Esses dois períodos foram justamente aqueles em que o percentual de pobreza
extrema mais caiu: 30% de 1993 a
1998, e 50%
de 2003 a 2008.
4)
Também foi durante estes dois períodos que a inflação de preços acumulada em 12
meses mais caiu: de 5.000% em junho de 1994 para 1,65% em dezembro de 1998, e
de 17% em maio de 2003 para 3% em abril de 2007 (depois subindo para 6% em
meados de 2008, em grande parte por causa da grande carestia mundial vivenciada
pelos alimentos e
pelo petróleo
naquela época).
5)
Já os dois períodos de maior descontrole foram os de 1999 a 2002, quando o
preço do ouro quadruplicou e a pobreza extrema aumentou quase 10% (ver os dois
links do item 2), e de meados de 2008 até hoje, em que o preço do ouro subiu 2,8
vezes. E, embora a pobreza extrema ainda
tenha sido reduzida de 2008 até 2012, seu ritmo de queda foi bem mais lento
(ver links do item 2). E, em 2013, a pobreza
extrema voltou a subir.
6)
Como era de se esperar, o investimento explodiu logo após a criação do real, chegando a 24% do PIB no
segundo semestre de 1994, taxa até então insuperada. E se manteve em torno dos 20% até 1998. Depois, caiu
9% de 2000 a 2003. Já de 2003 a
2008, nova disparada, com um aumento
de 25% (de 15,3% para 19,1% do PIB).
A partir de 2008, no entanto, e como era de se esperar só de olhar o
gráfico, o investimento
estagnou.
7)
Quando a moeda começa a se desvalorizar mais intensamente, ocorre aquilo que
Mises chamou de "corrida para ativos reais": os investidores, em vez de aplicar
seu capital em investimentos produtivos e criativos, passam a investir em
ativos que oferecem proteção contra a desvalorização da moeda. Investimento em imóveis é a forma mais
tradicional no Brasil. Não é de se
surpreender, portanto, que a explosão nos preços dos imóveis no Brasil tenha
ocorrido entre 2006 e 2012 (período em que o preço do ouro aumentou 3,5 vezes).
8)
O atual momento de forte desvalorização do real, que gerou contração nos investimentos,
sintetiza bem o descontentamento com o atual governo. O grama do ouro nunca esteve tão caro na
história do real, e o ritmo da desvalorização só perde para o de janeiro de
1999. A população está perdendo seu
poder de compra aceleradamente.
Não
é à toa que a confiança do empresariado despencou forte e está no menor nível
da série histórica:

9)
No entanto, caso a atual desvalorização do real (veja a extremidade direita do
gráfico 1) se mantenha, não descarte uma ressurreição na atividade imobiliária
para fins puramente especulativos e de proteção de riqueza.
Vale
repetir: quando a moeda se torna instável e se desvaloriza fortemente, o
investimento deixa de ter fins produtivos e passa a se concentrar em atividades
puramente especulativas, com o intuito de proteger a riqueza.
Nos Estados Unidos
Agora
vejamos os Estados Unidos.
Lá,
é possível perceber fenômenos idênticos.
O gráfico a seguir mostra a evolução do preço de uma onça (31,1 gramas)
de ouro em dólares:

Gráfico 2: preço,
em dólares, de uma onça (31,1 gramas) de ouro
Algumas
breves constatações:
1)
Até 1971, o dólar era ancorado ao ouro.
Em agosto de 1971, o presidente Nixon aboliu essa âncora, e o
dólar passou a flutuar.
2)
Como mostra o gráfico, a década de 1970 foi a década perdida dos EUA,
principalmente o período 1976-1980, com a famosa estagflação do governo de
Jimmy Carter.
3)
Imediatamente após a flutuação do dólar, ocorreram nada menos do que 3
recessões em apenas 8 anos (áreas cinzas).
4)
No entanto, de 1983 a 2000, o preço do dólar se manteve relativamente estável
em relação ao ouro. Naturalmente, esses
foram os anos da pujança americana. Alto
crescimento, fartos investimentos, baixa inflação de preços, padrão de vida
inigualável, pujança tecnológica, domínio econômico global. A quantidade de pessoas empregadas em relação
à população total alcançou
um nível que não mais foi superado. Vale observar que grandes empresas
tecnológicas como Microsoft, Intel e Apple, embora tivessem sido criadas em
décadas anteriores, só realmente se expandiram forte na década de 1980, quando
abriram seu capital. Adicionalmente, a Cisco foi criada na
década de 1980, e a Google, em 1998. E não
nos esqueçamos da incrível Amazon, fundada em 1994.
5)
A partir de 2002, o dólar começa a se desvalorizar fortemente. A Guerra do Iraque, iniciada em março de
2003, acelerou ainda mais a desvalorização.
Entre 2002 e 2008, o preço da onça de ouro pula de US$ 300 para quase
US$ 1.000. E, como explicou Mises, isso
gerou uma corrida para ativos reais, que culminou
na bolha imobiliária. As pessoas
pegavam empréstimos, compravam imóveis e revendiam a preços ainda maiores. É por isso que há quem diga que a bolha
imobiliária americana nada mais foi do que uma inevitável reação das pessoas à desvalorização
do dólar.
6)
Embora o gráfico possa enganar, vale ressaltar que a desvalorização do dólar no
período 2008 a 2012 foi percentualmente bem
menor que a do período 2002—2008.
7)
Caso a atual tendência de estabilidade do dólar se mantenha, a economia
americana tem tudo para se recuperar em definitivo.
8)
Observe que, de 2003 a meados de 2008, nossa moeda foi muito mais bem gerida
que o dólar. Daí a grande popularidade
de Lula (leia-se: Henrique Meirelles).
Um breve comentário sobre o salário mínimo
no Brasil
Recentemente,
a imprensa anunciou
com estardalhaço que o poder de compra do salário mínimo em janeiro deste
ano foi o maior desde 1965. Só que a
fonte desse "estudo" é o próprio Banco Central, o mais interessado em
propagandear notícias a seu favor.
Utilizando
uma metodologia completamente convoluta, a mesma instituição que está nos agraciando
com um IPCA de quase 8% se autopromoveu desavergonhadamente e a mídia docilmente
reportou sem contestar. Desnecessário
dizer que, se tal notícia fosse realmente verídica, a aprovação do governo Dilma
entre a população que ganha salário mínimo não seria a pior
desde o final do governo Collor.
Portanto,
façamos o que é certo: comparemos o salário mínimo à commodity que
historicamente sempre foi utilizada para mensurar a robustez de uma moeda.
O
gráfico a seguir mostra, em termos diários, quantos gramas de ouro o salário
mínimo (veja aqui
os valores) comprava.

Gráfico 3:
quantos gramas de ouro um salário mínimo compra
Veja
como a história fica bem diferente.
1)
O maior valor do salário mínimo foi alcançado em agosto de 1998. Naquela época, um salário mínimo comprava
12,38 gramas de ouro. Não é de se
estranhar, portanto, que Fernando Henrique tenha sido o único presidente a se
reeleger no primeiro turno.
2)
O crescente valor do salário mínimo (estipulado pelo governo) de 1994 a 1998
explica por que o desemprego naquela época foi alto. Nada mais do que a velha teoria econômica em
ação.
3)
A abrupta queda no poder de compra do salário mínimo de 1999 a 2002 (terminou
2002 comprando apenas 5 gramas de ouro) destruiu a reputação de FHC entre os
mais pobres.
4)
De 2003 a meados de 2008, o poder de compra do salário mínimo dobrou. Mas, ainda assim, era equivalente ao valor do
primeiro semestre de 1997, e bem abaixo do poder de compra alcançado em meados
de 1998. No entanto, tamanha recuperação
foi o suficiente para garantir a elevada popularidade de Lula.
5)
Durante todo o governo Dilma, o poder de compra do salário mínimo tem sido um
dos mais baixos da história do real. Isso
ajuda a explicar o baixo desemprego (que, estatisticamente, é o mais baixo da
história do real). De novo, nada mais do
que a velha teoria econômica em ação.
Conclusão
O
artigo foi iniciado falando sobre como nós estamos garantindo a boa, farta e
barata mesa dos americanos, e à custa de nosso próprio estômago. A extremidade direita dos gráficos 1 e 2
explica a história. Não é que o dólar
esteja se valorizando (ele está, é fato); o real é que está sendo impiedosamente destruído.
A
desvalorização do real é um fenômeno que gera uma bonança para os consumidores
estrangeiros e carestia para todos os consumidores nacionais. Nossa renda efetiva cai, nosso poder de
compra cai, a confiança despenca, os investimentos desabam, a economia
degringola, a pobreza aumenta. E nossos
produtos, inclusive alimentos, são mandados para fora a um volume maior.
É
justamente por isso que é irônico ver economistas de esquerda defendendo
desvalorização da moeda como forma de estimular o crescimento econômico. Além de não fazer nenhum sentido econômico
(adulterar a unidade de conta da economia não gera crescimento; ao contrário,
gera desinvestimento), é difícil imaginar uma medida mais anti-povo do que
essa.
A
população foi às ruas protestar não só por causa da corrupção. Ela foi às ruas porque a moeda está sendo
destruída a um ritmo que mais parece a aceleração de um Fórmula 1, e isso afeta
diretamente a qualidade de vida, o bem-estar e robustez da economia.
A
conta de luz subiu 50%. O dólar está em R$ 3,25. O país está em recessão. O desemprego chegou. A tabela do imposto de renda não foi corrigida
para compensar a perda do poder de compra da moeda. Encher o tanque ficou bem mais caro. A Petrobras não consegue publicar seu balanço
há seis meses por conta de um esquema de corrupção que desviou, por baixo, R$ 88
bilhões de seus cofres. O BNDES empresta
bilhões de reais para ditaduras
e se nega a prestar contas desses empréstimos.
O ex-presidente ameaçou colocar um exército
paralelo nas ruas para coibir quem pensa diferente. O governo paga pessoas para se manifestarem a
seu favor.
E,
no entanto, se você reclama de algo, você só o faz porque é da "elite branca"
que odeia pobres.
Chegamos
a um ponto em que nem sequer podemos mais reclamar da destruição da nossa moeda
e da perda do nosso poder de compra. Não
mais podemos reclamar que o governo está, mais uma vez, desarranjando a
economia e nossa qualidade de vida. Se
você faz isso, você é rotulado de "elite branca". E por pessoas que juram que isso é um
argumento.
Voltamos
ao jardim de infância.
Aqui
vai uma dica para Michel Temer: quer se tornar popular quando assumir o governo? Estabilize a moeda em relação ao ouro. As consequências são incríveis. Não é teoria.
É empiria.