Vários
de meus amigos votam. Pessoas de quem
gosto muito e respeito bastante votam.
Mas eu já desisti.
Essa
minha decisão ainda horroriza várias pessoas, mas sejamos sinceros: elas se
sentem incomodadas porque essa minha postura, na prática, menospreza e de certa
forma desmoraliza as escolhas delas.
Eu
até entendo por que essas pessoas votam.
E realmente não as julgo e nem as desprezo por isso. Eu mesmo já votei várias vezes em minha
vida. Eu apenas gostaria que elas
parassem de sofrer por causa de política; apenas gostaria que, em vez de se irritarem
e brigarem por causa de discussões político-partidárias e de resultados
eleitorais, elas apenas se tornassem mais felizes.
A
política é um tipo de tormento em câmera lenta.
E eu sinceramente não quero ver as pessoas — mais especificamente meus
amigos — sofrendo e se irritando com isso.
Sim,
estou perfeitamente ciente de que essa minha opinião parece insensata para a
maioria das pessoas, mas isso só ocorre porque minha opinião se difere
fragorosamente da opinião delas. Por
outro lado, se essa minha opinião for a correta, então isso significa que essas
pessoas estão simplesmente perdendo tempo e energia com algo inútil — e
praticamente ninguém gosta nem mesmo de imaginar essa hipótese desagradável;
hipóteses como essa são automaticamente negadas por nossa mente.
Portanto,
se você gosta de debater e de sofrer com política, fique à vontade. Não irei de maneira alguma tentar acabar com
esse seu prazer. Estou apenas dizendo
que gostaria muito que pessoas boas e produtivas não despendessem boa parte de
seu tempo e de sua energia com essa atividade mentalmente exaustiva e
improdutiva — não creio que tal atitude lhes traga qualquer benefício.
Agora,
já que muitas pessoas irão contestar, vou explicar por que penso assim.
"Se não votarmos, os maus irão vencer! E aí
as coisas vão piorar ainda mais!"
Esse
é o argumento que eu mais escuto. E a
ele sempre respondo: "As coisas já estão ruins, estão só piorando, e nenhuma
das várias eleições anteriores trouxe mudanças para melhor."
Como
réplica a isso, sempre escuto as tradicionais "sim, mas...".
A
verdade factual é que regimes repressivos sempre se legitimam e esmagam o povo
por meio da política. Havia inúmeros
políticos e infindáveis eleições nas repúblicas soviéticas. Aliás, a Constituição
da URSS tinha alguns itens bem atraentes.
Por exemplo:
Artigo 47: os direitos de autores,
inventores e inovadores são protegidos pelo estado.
Artigo 55: os cidadãos da URSS têm garantida
a inviolabilidade de suas casas. Ninguém
pode, sem bases legais, entrar em uma casa contra o consentimento daqueles que
nela residem.
Artigo 56: a privacidade dos cidadãos, de
suas correspondências, de suas conversas telefônicas e de suas comunicações
telegráficas é protegida por lei. (Só que não.)
Artigo 57: o respeito pelos direitos
individuais e a proteção dos direitos e liberdades dos cidadãos são o dever de
todos os órgãos do estado, de todas as organizações públicas e de todos os
funcionários do estado.
Obviamente,
políticos e documentos escritos por políticos não ajudaram muito o povo da
URSS.
No
entanto, a história também já mostrou que regimes
repressivos não são capazes de esmagar todas as pessoas que se recusarem a
cumprir suas ordens. Se essas pessoas se
recusarem a obedecer, o regime irá se esfacelar, e bem rapidamente.
Portanto,
na vida real, um regime repressivo não é restringido pelos políticos que estão
em seu comando (isso, aliás, seria paradoxal); ele é restringido pela desobediência
civil.
Ao
fim e ao cabo, o real poder dos governantes terá exatamente o tamanho que a
aquiescência de seus súditos permitir.
Se os governantes exagerarem, ou se seus súditos pararem de obedecer (no
que ajuda bastante a população não estar desarmada), o
regime se esfacela.
O
poder — inclusive o poder político — sempre
corrompe, e ele sempre irá se expandir até o limite da tolerância e da
obediência de seus súditos. É claro que
você sabe que não fui eu quem descobriu isso.
O ex-escravo
Frederick Douglass já havia dito isso há muito tempo:
Descubra aquilo que fará com que as pessoas
se tornem submissas, e você terá descoberto a exata quantia de injustiça e
ofensa que poderá ser imposta a elas. ... Os limites dos tiranos são
determinados pela tolerância dos oprimidos.
O
pior problema da política é que ela estimula a obediência e a submissão das
massas. Enquanto os políticos do partido
azul fingem culpar os políticos do partido vermelho, e os políticos vermelhos
fingem rivalidade com os políticos azuis, as massas se comportam bovinamente
como líderes de torcida, prendendo a respiração a cada embate público entre
esses dois times, e sempre se mantendo submissas a ambos.
Afinal,
se seu time vencer as próximas eleições, aí sim as coisas poderão finalmente
melhorar!
Ou
seja, não apenas a política exaure a energia de nossas vidas, como ela também
torna as pessoas bem mais propensas à submissão e a seguir ordens de maneira
automática. "Não gosto do partido A que está no poder;
queria muito que o partido B estivesse no controle, aí sim eu estaria
satisfeito". Isso sim é realmente perigoso.
Não importa em quem você vote, o governo
sempre vencerá
Quando
as pessoas pensam no governo, elas normalmente imaginam um grupo de 600 pessoas
na capital federal tomando algumas decisões racionais. A verdade, no entanto, é que o governo é
composto por milhões de empregados, sendo a esmagadora maioria impossível de
ser demitida. Para piorar tudo, oceanos
de dinheiro passam pelas mãos dessas pessoas diariamente. Esse arranjo é totalmente propício ao abuso
de poder, e sempre será. Trata-se de um
problema estrutural, o qual não pode ser resolvido apenas "votando nas pessoas
certas".
Foi
Jeffrey Tucker quem melhor resumiu a situação:
Não é a classe política quem comanda as
coisas. [...] Políticos vêm e vão. A classe política é apenas o verniz do
estado; é apenas a sua face pública. Ela
não é o estado propriamente dito. Quem
de fato comanda o estado, quem estipula as leis e as impinge, é a permanente
estrutura burocrática que comanda o estado, estrutura esta formada por pessoas
imunes a eleições. São estes, os
burocratas e os reguladores, que compõem o verdadeiro aparato controlador do
governo.
Ou
seja, a estrutura do governo é, por natureza, corrupta e abusiva, e continuará
assim até que a própria estrutura seja mudada.
Meras eleições, mesmo que "as pessoas certas sejam eleitas", não irão
alterar essa estrutura.
A
política está sempre se esforçando para nos fazer crer que as coisas irão
melhorar... tão logo derrotemos o partido inimigo, é claro. Só que, independentemente de nossas
esperanças, sempre vamos acabar lidando com algo chamado "governança
efetiva". Em outras palavras, nada irá
mudar, ainda que as faces que aparecem na televisão sejam trocadas de quatro em
quatro anos.
A política se baseia na superstição
Arraigada
na prática da política está uma superstição, qual seja: se protestarmos o
bastante, e da maneira correta, vamos conseguir o que queremos, e sem corrermos
nenhum risco.
Em
outras palavras, queremos acreditar que a política nos fornece uma solução
fácil, e que nossas reclamações têm poderes mágicos.
Ora,
se queremos que as coisas sejam diferentes, então temos de agir para torná-las diferentes.
Só que a política aniquila essa possibilidade ao tornar as pessoas mais
passivas e ao fazê-las acreditar que meras manifestações verbais têm poderes
mágicos, e que a passividade é uma virtude.
Ou
seja: há milhões de pessoas decentes e capazes que podem perfeitamente resolver
seus próprios problemas, sem ter de recorrer a políticos; no entanto, essas
mesmas pessoas foram condicionadas a jamais agir por conta própria e a sempre
acreditar que podem conseguir o que querem — sem correr nenhum risco — apenas
se manifestando e utilizando as palavras corretas.
A
política, portanto, criou uma mentira atraente e irresistível demais para ser
ignorada: mude o mundo: sem dor, sem
esforço, sem riscos.
Não
apenas essa promessa é uma fragorosa superstição, como ela também desestimula
as pessoas a realmente se esforçarem
para mudar o mundo à sua volta. Por que
gastar sangue, suor e lágrimas se você pode apenas reclamar e obter os mesmos
— ou até melhores — resultados?
A política é pré-histórica
Dediquei
boa parte da minha vida estudando nosso passado, e aprendi que o sistema de
homens governando homens data do ano 6.400 a.C.
Já o tipo de governança que mais se assemelha à nossa começou por volta
de 5.000 a.C. Assembléias bicamerais
(como Senado e Câmara dos Deputados) já existiam em 2.500 a.C.
Ou
seja, são coisas que já existiam naquele período de tempo que convencionalmente
rotulamos de "pré-história".
Logo,
eis a minha pergunta: por acaso há algo mais que já existia antes das pirâmides
do Egito e que ainda governa nossas vidas hoje?
O
homem não mais tem de lavrar a terra manualmente. Ele não mais tem de utilizar rochas para
fazer fogo. Ele não mais tem de andar de
carroças. Ele não mais depende da tração
animal. Já aprendemos a escrever, a
inventar, a navegar, a percorrer em poucas horas enormes distâncias no globo, a
dirigir, a voar, a chegar à lua etc.
E,
ainda assim, essa relíquia do nosso passado mais primitivo ainda permanece. Se há uma área da vida em que os humanos
fracassaram e em nada evoluíram, essa área é a política.
Portanto...
Já
fiz meu ponto. E você tem toda a
liberdade para interpretá-lo como quiser.
Posso apenas lhe afiançar que, desde que me afastei da política, me
tornei um indivíduo mais feliz, mais produtivo, menos amargo e menos rancoroso. E gostaria que isso também acontecesse com
você.