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Não haverá nenhuma revolução

Estamos, isso sim, à beira de uma não-revolução

25/05/2017

Não haverá nenhuma revolução

Estamos, isso sim, à beira de uma não-revolução

Se você é daqueles que acredita que haverá uma revolução, e que esta será liderada pela tecnologia, reconsidere. Tal ideia é totalmente contraditória.

Não haverá revolução e a tecnologia não levará a nenhuma revolução.

Por quê?

A essência de uma revolução é a centralização do poder. Engels já sabia disso desde cedo, e fez questão de nos lembrar disso ao longo de vários anos. Não há nada mais centralizador do que uma revolução.

Todas as revoluções ocorridas na história geraram uma centralização do poder, inclusive a Revolução Americana.

Não estamos na iminência de uma revolução. Estamos, isso sim, à beira de uma não-revolução.

O que estamos vendo ao redor do mundo é uma descentralização. Estamos testemunhando a fragmentação do equivalente ao Império Romano. Não houve nenhuma revolução contra o Império Romano. Ele simplesmente se desintegrou. O mundo medieval foi um período de enorme descentralização.

Ao longo do século XVII, houve várias tentativas de iniciar revoluções. A Revolução Puritana na Inglaterra foi uma delas. Foi uma revolta contra o poder centralizado do rei, mas foi uma revolta feita em nome da centralização do poder no Parlamento. Ela simplesmente gerou um ditador militar, Oliver Cromwell, de 1649 a 1659.

Cromwell foi substituído por um novo rei em 1660, mas o parlamento continuou a centralizar o seu poder. A Revolução Gloriosa de 1688 e 1689 retirou muito do poder do rei, mas não reduziu o poder do governo; ela simplesmente transferiu o poder para o Parlamento.

O Parlamento então adotou uma peculiar teoria sobre 'soberania parlamentar' algo até então sem precedentes na história da tirania. Ele reivindicou, e ainda reivindica, soberania suprema sobre todos os aspectos da vida britânica. Não foi elaborada nenhuma constituição para conter o Parlamento britânico. Havia apenas o direito consuetudinário para contê-lo, o que já era de alguma importância. Mas o fato é que a centralização continuou. E continua até hoje.

Com uma intensa descentralização surge não uma revolução, mas sim uma secessão. E não me refiro a uma secessão ao estilo daquela que ocorreu no sul dos EUA, que era apenas uma maneira de centralizar o poder no sul do país. Aquilo não passou de um grupo de revolucionários armados que procuravam centralizar o poder na região que queriam controlar. Como eles próprios argumentavam, era uma repetição da Revolução Americana.

Revoluções significam centralização do poder. Quem não entender isso não irá entender o que está ocorrendo hoje com o mundo, e o que vem ocorrendo ao longo dos últimos 500 anos. Revoluções centralizam o poder. Se o objetivo é combater militarmente um poder centralizado, então os combatentes têm de centralizar o poder em torno de si próprios. Ao fazer isso, tudo o que é alcançado é simplesmente uma mudança de lealdade, a qual irá para esse novo grupo de centralizadores formados. Até hoje as pessoas ainda não aprenderam isso.

Os cercamentos privados que ocorreram na Inglaterra foram cruciais para o estabelecimento da liberdade inglesa. Todo o processo representava uma guerra contra o governo federal. Era uma guerra contra o poder centralizado. Era uma guerra contra burocratas que davam ordens ao povo sobre o que deveria ser feito com a propriedade.

Para fugir do sistema, você não tem de fazer uma revolução; você tem de fazer uma secessão. Você tem de retirar todo o seu apoio ao sistema vigente. Você tem de revogar a legitimidade que você conferiu a essas organizações. Você tem de fazer isso, e todas as outras pessoas também têm de fazer isso. 

E isso não é uma coisa que pode ser organizada antecipadamente. As pessoas simplesmente aprendem, escândalo após escândalo, arbitrariedades após arbitrariedades, que o estamento burocrático é incorrigível e que o sistema é irreparável. Ele não pode ser reformado.

Quem de fato comanda o estado, quem estipula as leis e as impinge, não são os políticos, mas o estamento burocrático: a permanente estrutura formada por pessoas imunes a eleições ou a troca de regimes. São estes que compõem o verdadeiro aparato controlador do governo.

O estamento burocrático é uma máquina estável que sempre procura fazer o sistema funcionar em benefício próprio. Ele resiste a qualquer arroubo (revolucionário ou reacionário) que possa causar desconforto.

E ele não pode ser "capturado desde dentro". Ele tem de deixar de ser financiado. 

O segredo da liberdade não é a revolução; o segredo da liberdade é a deixar de financiar a ordem centralizada existente.

O segredo da estabilidade monetária e de uma moeda forte não é capturar o Banco Central e colocar lá "um dos nossos", ou conceder a ela uma suposta independência. O segredo é a soberania monetária. Qualquer um utiliza a moeda que quiser sob uma ordem social de livre mercado. E isso só se consegue via secessão.

O segredo de uma melhor educação não é capturar e controlar o sistema público de ensino. O segredo de uma educação melhor é utilizar a internet (o que reduz sobremaneira os custos da educação), descentralizar todo o processo, e colocar os pais no controle do programa educacional de suas famílias.

O problema é que os conservadores e vários libertários são de lento aprendizado. Eles ainda insistem em dizer que o melhor a ser feito é capturar e controlar o sistema progressista, pois acreditam que têm um plano melhor para fazê-lo funcionar. Isso foi o que os bolcheviques fizeram com a burocracia do Czar. Isso foi o que os revolucionários franceses fizeram com a burocracia de Luís XVI. Isso foi o que os revolucionários americanos fizeram com a burocracia de George III. Isso é o que o sul dos EUA teria feito caso tivesse vencido.

A revolução tecnológica, a revolução "open source", vai descentralizar o mundo de maneira mais intensa. A descentralização não vai levar a uma revolução.  A descentralização vai levar à secessão. Refiro-me a uma secessão ao estilo de Gandhi. Refiro-me à retirada do apoio. 

Você não tem de pegar em armas contra o estado; você simplesmente tem de se recusar a cooperar com ele. Agindo assim, você faz com que seja mais difícil e mais custoso para o estado tentar tiranizar você.

A Iugoslávia não existe mais. A União Soviética não existe mais. Essa é a onda do futuro. Os estatistas e os pretensos estatistas irão continuar em busca da Grande Revolução. Assim como Marx, eles veem como iminente a Grande Revolução. Só que ela nunca veio. A revolução comunista ocorreu justamente onde, segundo a própria teoria marxista, não deveria ter ocorrido: a área rural do império russo. O proletariado urbano não fez a revolução; quem a fez foi um bando de intelectuais alienados em conjunto com assaltantes de banco.

O que iremos testemunhar é o fim do apoio aos regimes centrais. As revoluções no mundo árabe não descentralizaram nada. Elas apenas reorganizaram a centralização nas mãos de um outro grupo de tiranos. É bom ver os antigos tiranos sendo humilhados e derrubados, pelo menos de longe. Mas isso não muda nada. O Egito é exatamente o mesmo que era sob o jugo de Mubarak. É uma ditadura militar. A revolução não trouxe nada de positivo.

Revolucionários têm de ter um objetivo centralizador. Pode ser explícito ou não, mas sempre há uma agenda centralizadora em todos os movimentos revolucionários. Todo revolucionário sempre acredita que sua revolução será a última. Todo revolucionário acredita que, quando ele finalmente estiver no controle da cadeia hierárquica de comando, as coisas serão diferentes. Sim, será diferente: teremos um grupo diferente de espoliadores pilhando a produtividade das vítimas.

Enquanto conservadores e alguns libertários continuarem sonhando com a captura e o controle de sistemas hierárquicos de poder, nada vai mudar.

Nenhum plano centralizador pode surgir de um sistema de comunicação descentralizado. Vivemos nos Bálcãs digitais, e não na Iugoslávia.

As redes sociais estão descentralizando o mundo. Elas estão"balcanizando" o mundo. E isso vai continuar.


Sobre o autor

Gary North

é Ph.D. em história, ex-membro adjunto do Mises Institute, e autor de vários livros sobre economia, ética, história e cristianismo. Visite http://www.garynorth.com

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