quinta-feira, 20 ago 2015
Há quem jure que a busca pelo lucro é algo cruel, abusivo,
ultrajante, imoral e maléfico. É fato
que há pessoas desonestas que recorrem a métodos inescrupulosos para obter
lucros em seus empreendimentos, mas basear-se em tais pessoas para fazer uma
condenação automática do lucro é uma postura ignorante.
A
verdade é que foi a busca pelo lucro o que aniquilou aquela milenar abominação
que foi a escravidão humana. Eliminar a
capacidade das pessoas de buscar o lucro significaria reimplantar a escravidão no
mundo. E creio que nenhum de nós quer
isso de volta.
A escravidão era um sistema econômico
O
que até hoje ainda não é corretamente entendido é que a escravidão era a base
do sistema econômico vigente no mundo
antigo — como na Grécia e em Roma.
Todo
o sistema escravocrata se baseava praticamente em um só objetivo: obter
excedentes. É claro que os defensores da
escravidão sempre recorriam a justificativas criativas para defender o sistema
escravocrata, mas, no final, tudo se resumia a obter excedentes. Pode-se dizer, portanto, que a escravidão era
uma espécie de poupança coercivamente impingida.
Um
indivíduo rudimentar e despreparado irá, caso seja abandonado à própria sorte,
gastar praticamente tudo o que ele ganha.
Se ele conseguir auferir algum excedente, ele provavelmente irá gastar este
excedente em luxos, prazeres, frivolidades ou em coisas piores. Enquanto ele não desenvolver um caráter mais
forte, enquanto ele não adquirir uma personalidade mais estável, sobrará muito pouco
de seu excedente para ser utilizado em outras coisas.
Um
escravo, por outro lado, jamais aufere rendimentos e, consequentemente, não tem
como gastá-los. Todo o excedente
produzido por um escravo é transferido para seu senhor. Foi exatamente este tipo de arranjo gerador
de excedentes o que tornou Roma um império rico.
Mas
então surgiu a Europa cristã. Antes do
advento do cristianismo, não se encontra uma única cultura antiga que proibia a
prática da escravidão; a escravidão era vista como algo absolutamente normal. Sendo assim, a Europa abolir o sistema
escravocrata que havia herdado de Roma foi uma mudança monumental.
Os
europeus substituíram a escravidão — de maneira lenta e por causa de seus
princípios cristãos, e não em decorrência de algum plano consciente e
deliberado — adotando as seguintes posturas:
1. Desenvolvendo o
hábito da frugalidade e da poupança em nível individual. Isso requereu uma total mudança de postura e
um enfoque vigoroso em virtudes como a temperança (autocontrole) e a paciência.
2. Substituindo o
arranjo de "produção forçada de excedentes" pelo lucro. Para isso, os
europeus tiveram de recorrer à criatividade para alterar totalmente a natureza
de suas atividades comerciais. Eles
tiveram de inovar, inventar e se adaptar para conseguir mais excedentes por
meio do comércio.
Sob
um novo sistema que acabou sendo rotulado de capitalismo,
a poupança e a criatividade se tornaram os novos geradores de excedentes, e
nenhum ser humano teve de ser escravizado.
Um mundo sem lucros
Por
outro lado, temos exemplos bem recentes do que acontece quando uma cultura
proíbe o lucro. Pense em tudo o que
ocorreu em paraísos
socialistas como a URSS
de Stalin, a China de
Mao, e as nações escravizadas do Leste Europeu, e no que ainda ocorre na
Coréia do Norte e em Cuba.
São
exemplos lúgubres que ilustram exatamente o que ocorre quando toda uma
população é escravizada pelo partido dominante.
Nestes sistemas, o indivíduo é obrigado a trabalhar e a produzir, mas é
proibido de usufruir os frutos e os rendimentos de seu próprio trabalho, tendo até mesmo o seu consumo restringido pelo governo.
O
lucro fornece incentivos para se trabalhar e empreender.
Quando ele é abolido, não apenas o ato de trabalhar e de empreender perde sua função,
como também aqueles que querem prosperar não têm como fazê-lo de maneira
honesta. E isso leva ou ao desespero ou
à criminalidade.
O
lucro é obtido por meio de trocas comerciais inovadoras e recompensadoras. Se o lucro é eliminado, tem-se a
escravidão. O formato dessa escravidão
pode ser variável, mas será uma escravidão de algum tipo.
Com
efeito, este resultado será o mesmo não importa se a eliminação do lucro
ocorrer por meio do comunismo (em que o lucro é punido com a pena capital) ou
do fascismo (em que todo o lucro é direcionado para os amigos do regime).
A
questão principal é o excedente produzido:
- Se o excedente pode ser
produzido e acumulado pelo cidadão comum por meios honestos, a escravidão
pode ser eliminada.
- Se os cidadãos honestos não
tiverem a permissão de produzir e de manter seus próprios excedentes
(sendo seus excedentes confiscados ou pelo estado ou pelos parceiros do
estado), o resultado será alguma forma de escravidão.
O
lucro é simplesmente uma ferramenta — uma maneira de gerar excedentes sem a
coerção imposta pela escravidão.
O
que nos leva à conclusão definitiva: é impossível se livrar simultaneamente da escravidão e do
sistema de lucros. Você pode eliminar um
dos dois, mas sempre que eliminar um, ficará inevitavelmente com o outro.
O lucro se baseia nas virtudes
Para
se viver em uma civilização que prospera por meio do lucro, é necessário que o ser
humano saiba domar todos aqueles seus instintos mais primitivos — algo típico
dos animais —, como a inveja. É
necessário saber desenvolver o autocontrole, a paciência, a temperança e,
principalmente, saber se concentrar em algo maior do que meras possessões
materiais — afinal, é exatamente o materialismo o motor da inveja e do
igualitarismo.
É
vergonhoso que o Ocidente tenha, ao longo dos últimos séculos, se afastado de
suas virtudes tradicionais, e passado a considerá-las vícios burgueses ou meras
superstições. Se algum dia finalmente
perdermos todas as nossas virtudes, o sistema de lucros perderá sua proteção e
não mais será visto como um motor da prosperidade, e a antiga e extinta prática
da escravidão irá voltar.
Nossas
ações têm consequências.
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Para
uma abordagem mais técnica e aprofundada sobre a questão dos lucros, leia:
A natureza econômica dos
lucros e dos prejuízos
Condenar o lucro é defender
o retrocesso da humanidade
A função social e moral dos
lucros