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Filosofia

Honestidade e confiança

29/09/2013

Honestidade e confiança

Atitudes como desonestidade, mentira e trapaça não são tratadas com a devida abjeção que merecem.  Para se compreender melhor a importância da honestidade e da confiança, apenas imagine como seria nossa rotina diária se não pudéssemos confiar em ninguém.  Quando compramos em uma farmácia um recipiente contendo 100 pequenas pílulas (como vidros de homeopatia, por exemplo), quantos de nós nos damos ao trabalho de realmente contar as pílulas?  E quando o remédio é líquido, quantos de nós conferimos se o volume divulgado no rótulo corresponde ao volume verdadeiro?  Quando abastecemos nosso carro no posto, como sabemos que os litros especificados na bomba realmente correspondem ao volume que entrou no tanque do carro?  Quando você vai ao supermercado e compra 1 quilo de carne, você por acaso verifica -- por meios independentes -- se realmente está levando um quilo de carne?  Em cada um desses casos, e em milhares de outros, nós simplesmente confiamos no vendedor.

Inversamente, há milhares de situações em que é o vendedor quem tem de confiar no comprador.  Após um mês de trabalho, o empregado confia que seu patrão irá lhe pagar o salário combinado.  Um comerciante vende um produto e recebe em troca um cheque, o qual ele confia que tenha fundo.  Um fornecedor entrega uma mercadoria para seu cliente e confia que este irá lhe pagar dali a 30 dias, como combinado.

Exemplos de honestidade e confiança são abundantes, mas imagine o custo e a inconveniência caso não pudéssemos confiar em ninguém.  Teríamos de andar sempre carregando instrumentos de medição para nos certificarmos de que realmente estamos recebendo o volume correto de gasolina e o quilo correto de carne.  Imagine a inconveniência de ter de contar o número de pílulas ou de mensurar o volume de um líquido dentro de um recipiente?

Se não pudéssemos confiar em ninguém, se a simples palavra do vendedor ou do comprador não tivesse valor nenhum, teríamos de arcar com o oneroso fardo de fazer contratos por escrito para toda e qualquer transação efetuada.  Teríamos de arcar com todos os custos de monitoramento que garantem que a outra parte irá fazer corretamente até mesmo às mais simples transações.  Podemos dizer com toda a certeza que tudo aquilo que solapa a honestidade e a confiança aumenta os custos de transação, reduz o real valor das trocas voluntárias e nos torna mais pobres.

Honestidade e confiança se manifestam de maneiras que poucos de nós sequer conseguimos imaginar.  Em determinadas vizinhanças, por exemplo, é comum que empresas de entrega deixem encomendas muitas vezes valiosas em frente à porta caso o morador não esteja em casa para recebê-la.  Não há necessidade de marcar horário para a entrega, o que é bom tanto para o morador quanto para a empresa.  Ambos ficam com suas agendas livres e aumentam sua produtividade.  Da mesma maneira, supermercados e demais estabelecimentos comerciais podem tranquilamente expor várias mercadorias perto das portas de entrada e saída do estabelecimento, ou até mesmo deixá-las do lado de fora do estabelecimento, sem se preocupar com roubos.

Já em vizinhanças notoriamente menos honestas, empresas de entrega que deixassem encomendas na porta de uma casa e estabelecimentos comerciais que expusessem mercadorias perto da rua estariam cometendo o equivalente a um suicídio econômico.

Desonestidade é algo oneroso.  Empresas de entrega não podem simplesmente deixar encomendas em frente à porta caso o morador não esteja em casa.  A empresa terá de arcar com os custos de fazer uma nova viagem em outro horário.  Ou terá de tentar agendar um horário.  Ou então o cliente terá de arcar com os custos de ter ele próprio de ir recolher o produto.  Se um estabelecimento comercial decidir exibir algumas de suas mercadorias do lado de fora, ele terá da arcar com os custos de contratar um auxiliar -- isso se ele realmente puder se arriscar a deixar suas mercadorias do lado de fora.

A honestidade afeta os estabelecimentos comerciais de uma outra maneira.  Por exemplo, o objetivo de um gerente de supermercado é maximizar a taxa de vendas de mercadorias por metro quadrado de espaço alugado.  Quando os índices de criminalidade -- como furto -- são baixos, o gerente pode utilizar todo o espaço alugado, inclusive os espaços perto da porta de entrada e saída, aumentando desta forma seu potencial de lucro.  Esta oportunidade é negada aos supermercados e mercearias em localidades em que há menos honestidade.  Nestes locais, o espaço aproveitado é menor.  Em muitos casos, é preciso que haja espaços livres para que o dono da mercearia ou mesmo o gerente de um supermercado possa manter os olhos em seus clientes e funcionários para se certificar de que ninguém está furtando nada.  Isso, por sua vez, significa um maior custo para se empreender, o que se traduz em maiores preços, menores lucros e menos amenidades para os consumidores.

A criminalidade, a desconfiança e a desonestidade impõem enormes prejuízos que vão muito além daqueles sentidos diretamente.  Boa parte do custo da criminalidade e da desonestidade recai justamente sobre aquelas pessoas que menos podem se dar ao luxo de arcar com tudo isso: os mais pobres.  São os mais pobres que acabam tendo menos opções de escolha e pagando mais caro, ou tendo de arcar com os custos de se locomover para ir fazer compras em localidades melhores e mais distantes.  São aqueles pobres que moram em localidades de alta criminalidade que sequer conseguem receber uma pizza em casa.

O fato de honestidade e confiança serem tão vitais deveria nos fazer repensar a nossa tolerância com criminosos e pessoas desonestas -- a começar por todos os criminosos que estão no poder e que gozam de impunidade.


Sobre o autor

Walter Williams

É professor honorário de economia da George Mason University e autor de sete livros. Suas colunas semanais são publicadas em mais de 140 jornais americanos.

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