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Economia

O Banco Central americano e a “ameaça” da redução dos estímulos

07/08/2013

O Banco Central americano e a “ameaça” da redução dos estímulos

O Federal Reserve -- o Banco Central americano -- tem sido implacável em sua tarefa de expandir a base monetária.  Embora a mídia rotineiramente goste de atormentar os leitores com insinuações de que a política sendo perseguida pelo Comitê de Política Monetária dos EUA está prestes a ser alterada, podemos ver no gráfico abaixo que ela não mudou nada desde o anúncio -- feito em dezembro de 2012 -- de que esta política seria implantada.


Evolução da base monetária dos EUA

Toda essa expansão da base monetária não se converteu em expansão monetária (isto é, expansão da quantidade de dinheiro na economia) porque boa parte dela ficou represada nos bancos, que não estão emprestando.  O gráfico abaixo mostra a evolução das "reservas em excesso", isto é, dinheiro que os bancos não emprestaram ao público porque preferem mantê-lo voluntariamente depositado junto ao Fed, que está pagando juros de 0,25% ao ano sobre este montante.

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Evolução das reservas em excesso nos EUA

Tenha em mente que, quando a mídia fala que o Fed está prestes a alterar sua postura monetária, não se está dizendo que haverá uma interrupção em todo este processo de criação de dinheiro; não se está dizendo que a base monetária assumirá um valor estável.  O que se está dizendo é que haverá uma redução na taxa de aumento desse processo de criação de dinheiro.  No momento, o Fed está criando o equivalente a US$1 trilhão por ano.  Tal postura passou a ser considerada normal.

Sempre que o Fed publica suas atas, o que ocorre a cada seis semanas, especialistas se debruçam nelas para estudar minúcias da linguagem e tentar encontrar alguma pista de que haverá alguma mudança de postura.  Eles estão tão preocupados com a ameaça de alguma redução na taxa de expansão da base monetária, que eles próprios tentam descobrir quando o Comitê de Política Monetária do Fed irá realmente reduzir a taxa de expansão.

Esse grau de preocupação indica o tamanho da dependência de toda a economia -- não só a americana, como também a mundial -- em relação a uma contínua expansão da base monetária feita pelo Fed.  Isso já deixou de ser uma minúcia meramente técnica; é hoje um assunto de interesse da imprensa mundial.  Obviamente, o tamanho do aumento na base monetária é astronômico, por qualquer que seja o padrão adotado, e isso aguça o interesse.  Um trilhão de dólares por ano é uma quantia obscena de dinheiro.  A mídia financeira supõe ser possível voltar a um mundo em que o Fed fabrica menos de US$1 trilhão por ano.  O medo hoje é que uma redução nessa velocidade de criação de dinheiro irá derrubar toda a economia.  O temor é que tal redução fará com que as taxas de juros de longo prazo voltem a subir (estavam em níveis historicamente baixos porque o Fed estava comprando títulos de longo prazo com o intuito justamente de manter baixos os juros de longo prazo), que os preços do títulos caiam, que a bolsa de valores despenque, que o desemprego suba, e que algo como a recessão de 2009 reapareça.

O mais interessante de tudo é o seguinte: isso é exatamente o que a Escola Austríaca de economia ensina.  Ela ensina que o Banco Central expande a base monetária e isso faz com que o capital seja alocado de forma errônea e insustentável.  Toda a economia se torna dependente deste dinheiro que está sendo criado do nada, bem como os mercados de capital.  Sendo assim, qualquer tentativa do Banco Central de retornar à situação anterior a este arranjo levará a uma grande recessão.  Foi isso o que ocorreu em 2007, o que gerou a recessão de 2008.

Estamos hoje vivenciando uma situação em que a mídia está tão preocupada com qualquer possibilidade de redução da taxa de expansão da base monetária, que ela está, com efeito, pressionando o Fed a continuar mantendo sua expansão.  A mídia persuadiu os investidores de que qualquer tentativa de conter a expansão da base monetária americana levará a uma série de consequências negativas para toda a economia global.  Trata-se de uma avaliação correta, mas isso pressiona o Comitê de Política Monetária do Fed a dar continuidade às suas políticas inflacionistas, pois até mesmo quando houve uma simples alusão de que haveria uma redução na taxa de expansão da base monetária, em junho passado, as bolsas de valores despencaram.

Estamos hoje em uma situação na qual a mídia financeira reconhece que o Fed é o centro da economia americana, e consequentemente o centro da economia mundial.  A mídia adotou uma estratégia de divulgar reportagens que geram temores todas as vezes em que há até mesmo uma ínfima alusão à possibilidade de o Fed começar a reduzir a taxa de expansão da base monetária.  As pessoas estão realmente alertas para tudo aquilo que o Fed está fazendo.  Isso não ocorria no passado, mas está ocorrendo agora.

Com o público investidor tão preocupado com a possibilidade de redução da taxa de expansão da base monetária, é improvável que o Fed se arrisque a realmente fazer isso.  Os economistas do Comitê de Política Monetária sabem que o público investidor está ciente de tudo que o Fed está fazendo, e este público está à procura de qualquer indicação de que o atual ritmo de compras de títulos governamentais e hipotecários pelo Fed não será mantido.  Isso praticamente garante que o ritmo das compras será mantido.  O Comitê de Política Monetária está temeroso dos efeitos de uma redução na taxa de crescimento das compras.  Ninguém quer uma recessão.  Todo o objetivo da atual política do Fed é justamente reduzir a ameaça de uma recessão.  É por isso que a economia americana está presa à atual taxa de crescimento da base monetária.

Quanto mais tempo isso perdurar, pior será a má alocação de capital.  Sabemos disso.  Economistas seguidores da Escola Austríaca se concentram nisso.  Mas essa é uma preocupação menor entre os economistas seguidores da Escola de Chicago, e raramente chega a ser uma preocupação entre os economistas keynesianos.  Os economistas acadêmicos e profissionais já se posicionaram em defesa do Fed, como sempre fazem.

bernanke-fomc.gi.top.jpgBen Bernanke viciou a economia americana a uma contínua inflação da base monetária.  A magnitude do aumento na base monetária tem sido tão grande, que a criação de US$1 trilhão por ano passou a ser necessária para ao menos começar a estimular a economia americana.  Não fosse a relutância dos bancos comerciais em conceder empréstimos, o país já estaria hoje em uma hiperinflação.  Mesmo assim, Bernanke ainda não foi desafiado de maneira significativa pelo Comitê de Política Monetária do Fed.  Apenas um membro do Comitê manifestou oposição à continuidade desta política monetária, no dia 31 de julho.  Isso indica um total apoio à política de Bernanke.  Indica também que a atual política monetária não é simplesmente a política de Bernanke; é a política de todo o Comitê.

William McChesney Martin, que foi presidente do Fed de 1951 a 1970, fez a famosa declaração de que a função do Banco Central é retirar o barril de chope quando a festa começa a ficar animada.  O problema é o seguinte: não haveria festa animada se o Banco Central não houvesse fornecido o barril de chope.  O barril de chope do Fed é a única coisa que está sustentando o atual nível da bolsa de valores americana.  É por isso que os comentaristas e jornalistas financeiros estão apavorados com a possibilidade de o Fed vir algum dia a deixar de expandir a base monetária em seu ritmo atual.  A economia está sendo estimulada unicamente pela inflação.  Mas ainda assim ela não consegue decolar.

A atual política seguida pelo Fed é clara.  Seus economistas já disseram repetidas vezes que manterão a atual política monetária até que determinados critérios sejam alcançados.  E estes critérios ainda não foram alcançados.  O desemprego ainda é de 7,5%, e a meta é 6,5%.  A inflação de preços ainda está abaixo de 2% ao ano.  E não há nenhuma pressão externa sobre o Fed para que ele reduza a taxa de expansão da base monetária.

Bernanke sairá do Fed no início de 2014.  O novo presidente estará em uma enrascada.  Como não sabemos quem será o novo presidente, não é possível fazer boas previsões sobre qual será a nova política do Fed.  A minha crença é esta: não haverá nenhuma mudança fundamental na política monetária até que a inflação de preços se torne um sério problema político.  Os mercados temem uma alteração na política monetária.  E o Comitê de Política Monetária do Fed teme os mercados.

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Leia também: Onde está a inflação de preços nos EUA?


Sobre o autor

Gary North

é Ph.D. em história, ex-membro adjunto do Mises Institute, e autor de vários livros sobre economia, ética, história e cristianismo. Visite http://www.garynorth.com

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