O
Federal Reserve — o Banco Central americano — tem sido implacável em sua
tarefa de expandir a base monetária.
Embora a mídia rotineiramente goste de atormentar os leitores com
insinuações de que a política sendo perseguida pelo Comitê de Política
Monetária dos EUA está prestes a ser alterada, podemos ver no gráfico abaixo que
ela não mudou nada desde o anúncio — feito em dezembro de 2012 — de que esta
política seria implantada.
Evolução da base
monetária dos EUA
Toda
essa expansão da base monetária não se converteu em expansão monetária (isto é,
expansão da quantidade de dinheiro na economia) porque boa parte dela ficou
represada nos bancos, que não estão emprestando. O gráfico abaixo mostra a evolução das
"reservas em excesso", isto é, dinheiro que os bancos não emprestaram ao
público porque preferem mantê-lo voluntariamente depositado junto ao Fed, que
está pagando juros de 0,25% ao ano sobre este montante.

Evolução das
reservas em excesso nos EUA
Tenha
em mente que, quando a mídia fala que o Fed está prestes a alterar sua postura
monetária, não se está dizendo que haverá uma interrupção em todo este processo
de criação de dinheiro; não se está dizendo que a base monetária assumirá um
valor estável. O que se está dizendo é
que haverá uma redução na taxa de aumento
desse processo de criação de dinheiro.
No momento, o Fed está criando o equivalente a US$1 trilhão por
ano. Tal postura passou a ser
considerada normal.
Sempre
que o Fed publica suas atas, o que ocorre a cada seis semanas, especialistas se
debruçam nelas para estudar minúcias da linguagem e tentar encontrar alguma
pista de que haverá alguma mudança de postura.
Eles estão tão preocupados com a ameaça de alguma redução na taxa de
expansão da base monetária, que eles próprios tentam descobrir quando o Comitê
de Política Monetária do Fed irá realmente reduzir a taxa de expansão.
Esse
grau de preocupação indica o tamanho da dependência de toda a economia — não
só a americana, como também a mundial — em relação a uma contínua expansão da
base monetária feita pelo Fed. Isso já
deixou de ser uma minúcia meramente técnica; é hoje um assunto de interesse da
imprensa mundial. Obviamente, o tamanho
do aumento na base monetária é astronômico, por qualquer que seja o padrão
adotado, e isso aguça o interesse. Um
trilhão de dólares por ano é uma quantia obscena de dinheiro. A mídia financeira supõe ser possível voltar
a um mundo em que o Fed fabrica menos de US$1 trilhão por ano. O medo hoje é que uma redução nessa
velocidade de criação de dinheiro irá derrubar toda a economia. O temor é que tal redução fará com que as
taxas de juros de longo prazo voltem a subir (estavam em níveis historicamente
baixos porque o Fed estava comprando títulos de longo prazo com o intuito
justamente de manter baixos os juros de longo prazo), que os preços do títulos
caiam, que a bolsa de valores despenque, que o desemprego suba, e que algo como
a recessão de 2009 reapareça.
O
mais interessante de tudo é o seguinte: isso
é exatamente o que a Escola Austríaca de economia ensina. Ela ensina que o Banco Central expande a base
monetária e isso faz com que o capital seja alocado de forma errônea e
insustentável. Toda a economia se torna
dependente deste dinheiro que está sendo criado do nada, bem como os mercados
de capital. Sendo assim, qualquer
tentativa do Banco Central de retornar à situação anterior a este arranjo
levará a uma grande recessão. Foi isso o
que ocorreu em 2007, o que gerou a recessão de 2008.
Estamos
hoje vivenciando uma situação em que a mídia está tão preocupada com qualquer
possibilidade de redução da taxa de expansão da base monetária, que ela está,
com efeito, pressionando o Fed a continuar mantendo sua expansão. A mídia persuadiu os investidores de que
qualquer tentativa de conter a expansão da base monetária americana levará a
uma série de consequências negativas para toda a economia global. Trata-se de uma avaliação correta, mas isso
pressiona o Comitê de Política Monetária do Fed a dar continuidade às suas
políticas inflacionistas, pois até mesmo quando houve uma simples alusão de que
haveria uma redução na taxa de expansão da base monetária, em junho passado, as
bolsas de valores despencaram.
Estamos
hoje em uma situação na qual a mídia financeira reconhece que o Fed é o centro
da economia americana, e consequentemente o centro da economia mundial. A mídia adotou uma estratégia de divulgar reportagens
que geram temores todas as vezes em que há até mesmo uma ínfima
alusão à possibilidade de o Fed começar a reduzir a taxa de expansão da
base monetária. As pessoas estão
realmente alertas para tudo aquilo que o Fed está fazendo. Isso não ocorria no passado, mas está
ocorrendo agora.
Com
o público investidor tão preocupado com a possibilidade de redução da taxa de
expansão da base monetária, é improvável que o Fed se arrisque a realmente
fazer isso. Os economistas do Comitê de
Política Monetária sabem que o público investidor está ciente de tudo que o Fed
está fazendo, e este público está à procura de qualquer indicação de que o
atual ritmo de compras de títulos governamentais e hipotecários pelo Fed não
será mantido. Isso praticamente garante
que o ritmo das compras será mantido. O
Comitê de Política Monetária está temeroso dos efeitos de uma redução na taxa
de crescimento das compras. Ninguém quer
uma recessão. Todo o objetivo da atual
política do Fed é justamente reduzir a ameaça de uma recessão. É por isso que a economia americana está
presa à atual taxa de crescimento da base monetária.
Quanto
mais tempo isso perdurar, pior será a má alocação de capital. Sabemos disso. Economistas
seguidores da Escola Austríaca se concentram nisso. Mas essa é uma preocupação menor entre os
economistas seguidores da Escola de Chicago, e raramente chega a ser uma preocupação
entre os economistas keynesianos. Os
economistas acadêmicos e profissionais já se posicionaram em defesa do Fed,
como sempre fazem.
Ben
Bernanke viciou a economia americana a uma contínua inflação da base
monetária. A magnitude do aumento na
base monetária tem sido tão grande, que a criação de US$1 trilhão por ano passou
a ser necessária para ao menos começar a estimular a economia americana. Não fosse a relutância dos bancos comerciais
em conceder empréstimos, o país já estaria hoje em uma hiperinflação. Mesmo assim, Bernanke ainda não foi desafiado
de maneira significativa pelo Comitê de Política Monetária do Fed. Apenas um membro do Comitê manifestou
oposição à continuidade desta política monetária, no dia 31 de julho. Isso indica um total apoio à política de
Bernanke. Indica também que a atual
política monetária não é simplesmente a política de Bernanke; é a política de
todo o Comitê.
William
McChesney Martin, que foi presidente do Fed de 1951 a 1970, fez a famosa
declaração de que a função do Banco Central é retirar o barril de chope quando
a festa começa a ficar animada. O
problema é o seguinte: não haveria festa animada se o Banco Central não
houvesse fornecido o barril de chope. O
barril de chope do Fed é a única coisa que está sustentando o atual nível da
bolsa de valores americana. É por isso
que os comentaristas e jornalistas financeiros estão apavorados com a
possibilidade de o Fed vir algum dia a deixar de expandir a base monetária em
seu ritmo atual. A economia está sendo
estimulada unicamente pela inflação. Mas
ainda assim ela não consegue decolar.
A
atual política seguida pelo Fed é clara.
Seus economistas já disseram repetidas vezes que manterão a atual
política monetária até que determinados critérios sejam alcançados. E estes critérios ainda não foram
alcançados. O desemprego ainda é de
7,5%, e a meta é 6,5%. A inflação de
preços ainda está abaixo de 2% ao ano. E
não há nenhuma pressão externa sobre o Fed para que ele reduza a taxa de
expansão da base monetária.
Bernanke
sairá do Fed no início de 2014. O novo
presidente estará em uma enrascada. Como
não sabemos quem será o novo presidente, não é possível fazer boas previsões
sobre qual será a nova política do Fed.
A minha crença é esta: não haverá nenhuma mudança fundamental na
política monetária até que a inflação de preços se torne um sério problema
político. Os mercados temem uma
alteração na política monetária. E o
Comitê de Política Monetária do Fed teme os mercados.
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Leia também: Onde está a inflação de preços nos EUA?