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Economia

A surpreendente postura do Banco Central de Cingapura

20/11/2012

A surpreendente postura do Banco Central de Cingapura

Anualmente, o instituto conservador Heritage Foundation publica um ranking de todas as nações do mundo de acordo com seu próprio critério de liberdade econômica.  Em 2012, a nação #1 foi Hong Kong.  A nação #2 foi Cingapura.  Ambas têm sido #1 e #2 desde que o relatório começou a ser divulgado no início de 1995.

Ambas são nações integralmente voltadas para o comércio.  Elas possuem apenas um único recurso natural: sua população.  O resto é tudo importado.  A ética do trabalho é robusta nas duas economias.

O que costuma surpreender as pessoas é a nação que vem em terceiro: a Austrália.  A sexta posição ficou com o Canadá.  Os EUA estão em décimo.  [O Brasil é o 99º].  O ranking completo está aqui.

Antes da turbulência da crise de 2008/2009, um dólar de Cingapura comprava 80 ienes japoneses.  Após o tumulto e uma subsequente desvalorização perante o iene, o dólar de Cingapura voltou a se valorizar e atingiu seu pico em relação ao iene no início de 2010.  Ali, um dólar de Cingapura comprava 69 ienes.  Depois, ele voltou a cair em relação ao iene, chegando ao mais baixo nível no final de 2011, quando um dólar cingapuriano comprava menos de 60 ienes.  No início de 2012, ele voltou a se valorizar.  Lá pelo meio do ano, caiu de novo.  Desde então, o dólar de Cingapura vem lentamente, porém de maneira contínua, se valorizando em relação ao iene japonês.

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Eu vinha esperando pela confirmação desse fenômeno há um bom tempo.  Explico.

A economia de Cingapura desacelerou este ano.  Não está nem perto de entrar em recessão, mas não há dúvidas de que as coisas desaceleraram por lá.  No entanto, o dólar de Cingapura valorizou-se tanto em relação ao dólar americano quanto, no segundo semestre, em relação ao iene.

O Banco Central do Japão (BoJ), como comentei recentemente, anunciou que iria inflacionar o iene para conter sua forte valorização.  Trata-se de uma medida puramente mercantilista: tentar desvalorizar a moeda para estimular as exportações das grandes empresas japonesas.  O BoJ terá de ser bastante ativista para impedir que o iene se valorize.  Mas ele já decidiu que o fará.  As exportações japonesas estão diminuindo.  A recessão na Europa está afetando o Japão.

O Federal Reserve, por sua vez, também anunciou que iria embarcar em um programa de expansão ilimitada da base monetária.  Porém, ao contrário do que vem dizendo a mídia financeira, ele ainda não implementou esta política, a qual ele anunciou dois meses atrás.  Não tenho dúvidas de que ele irá intensificar suas compras de títulos.  Mas ele ainda não começou a fazer isso.

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Mas eis o que me chamou a atenção.  O Banco Central de Cingapura está se recusando a expandir a base monetária.  Ele não quer desvalorizar a sua moeda.  Capital do mundo todo está fluindo para Cingapura, aumentando a demanda pela moeda local, mas o Banco Central de lá não quer fazer nada para impedir a valorização de sua moeda.  O Wall Street Journal publicou isso em meados de outubro:

A pequena e extremamente aberta economia de Cingapura foi uma das primeiras a serem atingidas pela onda de liquidez que está sendo derramada sobre a economia global à medida que os grandes bancos centrais vão intensificando suas políticas expansionistas para estimular suas economias.  As autoridades monetárias de Cingapura estão especialmente preocupadas com a hipótese de que esse dinheiro especulativo irá aumentar ainda mais os já elevados preços dos imóveis.

"O dinheiro que está sendo impresso pelos bancos centrais de todo o mundo irá eventualmente acabar sendo direcionado para portos seguros, e Cingapura é um dos principais beneficiários deste fluxo", disse Bhaskar Laxinarayan, chefe de investimentos da Pictet Wealth Management, que possui US$377 bilhões em ativos em sua carteira global.

É justamente a falta de resistência da autoridade monetária de Cingapura para contrabalançar este fluxo de capital o que tem me espantado.  Essa política de "negligência salutar" está valorizando o dólar de Cingapura.  Isso, por sua vez, reduz as exportações do país.  E Cingapura é uma nação exportadora.  Era de se esperar uma reação mercantilista do governo.  Mas não houve nenhum.  O artigo iniciou com este relato:

O Banco Central de Cingapura surpreendeu os mercados na sexta-feira ao afirmar que não iria afrouxar sua política monetária, pois preocupações com a inflação de preços em um cenário de mercado de trabalho apertado e preços dos imóveis em alta são mais importantes do que uma inesperadamente forte desaceleração econômica.

De fato, foi legítima esta surpresa.  Não é o que os bancos centrais asiáticos costumam fazer: deixar suas moedas se valorizar.

Eu vinha esperando por algo que testasse a determinação do Banco Central de Cingapura havia dois anos.  E os eventos de 2012 propiciaram 3 testes de uma só vez: (1) uma economia morosa, (2) exportações em queda, e (3) valorização constante da moeda.  Se o Banco Central não se comovesse com isso, então é porque ele de fato levava a sério sua atribuição de estabilidade de preços.  E ele realmente parece inflexível: nada de política contracíclica de inflação monetária.

E a coisa vai além disso.  A ata de outubro do Banco Central, que publica duas atas por ano, faz uma lista de 11 políticas definitivas.  Eis a conclusão:

A Autoridade Monetária de Cingapura (MAS) irá, portanto, manter a atual política de modesta, porém gradual, apreciação da banda cambial da moeda.  Não haverá mudança nem na curva e nem na amplitude da banda cambial, tampouco no nível no qual ela está centrada.  Esta postura política é avaliada como sendo a mais apropriada para conter as pressões inflacionárias e para manter a economia no caminho de reestruturação para o crescimento sustentável.  A MAS irá continuar atenta às ocorrências econômicas e financeiras internacionais bem como ao seu impacto na economia de Cingapura (p. vi).

Ou seja, o Banco Central quer que a moeda aprecie.  Isso é anti-mercantilista.  É uma postura rara entre os bancos centrais de todo o mundo, mas especialmente na Ásia.  O Banco Central de Cingapura não está disposto a expandir a base monetária como forma de desvalorizar a moeda e estimular as exportações, mesmo diante de uma desaceleração econômica mundial e de uma redução doméstica das exportações em seu país.

Eu vinha esperando pelas condições para testar essa determinação.  Creio que tais condições já se apresentaram.

Por causa disso, estou mudando minha recomendação em relação ao iene.  Continuo acreditando que o iene seja uma moeda confiável e continuo acreditando que ela possui uma economia doméstica grande o bastante para vir a se tornar uma substituta parcial do dólar americano como moeda internacional de reserva.  (Não haverá nenhuma moeda que faça isso).  Mas o Banco Central do Japão ainda está comprometido com uma política mercantilista de estímulo às exportações por meio da expansão de sua base monetária e da (tentativa de) redução do valor internacional do iene.

Não estou dizendo que o BoJ irá inflacionar desmesuradamente.  Já expliquei aqui que não há hipótese de ele fazer isso.  O iene ainda é visto como um porto seguro.  Mas o BoJ está ativamente lutando contra isso.  Ele não está permitindo a valorização do iene.  Em contraste, o Banco Central de Cingapura deixou claro que quer que sua moeda se aprecie pelo menos marginalmente.

Portanto, estou agora recomendando a investidores que querem proteger sua poupança e que querem manter em suas carteiras alguma moeda internacional a comprar dólares de Cingapura em vez do iene.  Você pode fazer isso pelo Everbank.  O fundo de moedas MerkFund's Asian já possui 24% investido no dólar de Cingapura. 

Eis o histórico cambial de Cingapura em relação ao dólar americano (dólares de Cingapura necessários para se comprar 1 dólar americano):

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E o histórico da taxa de inflação de Cingapura acumulada em 12 meses.  Dá pra entender a atual preocupação de seu Banco Central e sua postura inflexível em relação a não querer desvalorizar a moeda:

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Sobre o autor

Gary North

é Ph.D. em história, ex-membro adjunto do Mises Institute, e autor de vários livros sobre economia, ética, história e cristianismo. Visite http://www.garynorth.com

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