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O desarmamento e as lições sobre a violência europeia

16/08/2011

O desarmamento e as lições sobre a violência europeia

As recentes eclosões de violência indiscriminada na Europa realçam uma perturbadora tendência que há muito vem sendo alertada por filósofos e estudiosos das civilizações: o retrocesso da civilização ocidental.  Palpiteiros e "especialistas" destilam na televisão e em artigos de jornais inúmeras teorias para tentar explicar o que está acontecendo.  Algumas soam suficientemente plausíveis, mas somente aqueles dentre nós que possuem um sólido conhecimento da teoria econômica têm as ferramentas necessárias para decifrar o significado destes atuais eventos. 

Aqueles que utilizarem essas ferramentas irão descobrir que o estado não apenas causou diretamente estes distúrbios de várias maneiras (via assistencialismo, militarismo, inflação monetária, escolas públicas e muito mais), como também impediu as pessoas de defenderem a si próprias e a sua propriedade.  Estou me referindo, é claro, às leis do desarmamento.

Inglaterra

Primeiro, consideremos os distúrbios que irromperam ao longo da Inglaterra na semana passada.  Vândalos e saqueadores, de maneira arbitrária e petulante, saíram destruindo propriedades, incendiando, roubando bens de lojas de família e assaltando transeuntes.  Pessoas inocentes ficaram compreensivelmente assustadas, temendo pelo seu bem-estar, especialmente quando viram que a polícia era evidentemente inepta para colocar fim às badernas.  Um repórter, após ser assaltado e espancado, chamou as autoridades, e ouviu delas apenas a seguinte frase: "vá pra casa".

Não deveria ser nada surpreendente o fato de estas pessoas serem tão indefesas.  Em 2007, no ranking de países listados de acordo com a posse de armas, Inglaterra, País de Gales e Escócia estavam abaixo de praticamente todos os outros países desenvolvidos.  As leis de desarmamento britânicas podem ser descritas, no mínimo, como draconianas.  O Decreto das Armas de Fogo, de 1997, baniu todas as armas do Reino Unido, inclusive revólveres e pistolas, permitindo no máximo o porte de pistolas a ar.  (Curiosamente, essa legislação não foi aplicada à Irlanda do Norte, onde a posse de armas é muito mais difundida.)

Todas as armas de fogo "legais" requerem licença estatal para serem adquiridas.  As pessoas que possuem licenças devem comunicar à polícia todas as suas compras de armas, além de serem obrigadas a enfrentar vários trâmites burocráticos para renovar suas licenças, sempre em um curto intervalo de tempo.  As delegacias de polícia locais podem impor restrições adicionais ao porte de armas dentro de suas jurisdições.  A polícia tem o poder de revogar a licença caso suspeite que o usuário violou uma regra dentre todo esse emaranhado.

Todas essas barreiras e burocracias elevam significativamente o custo de se comprar uma arma de fogo, mesmo que seja apenas para guardá-la em casa.  A ciência econômica ensina que, quando o custo e a burocracia de se obter algo aumentam, haverá menos desses bens nas mãos das pessoas comuns.  No caso inglês, o resultado foi menos armas nas mãos de cidadãos decentes e menos maneiras de pessoas inocentes defenderem a si próprias, suas famílias e suas propriedades.

Como resultado desse recente surto de violência, os britânicos que quiseram defender suas propriedades tiveram de recorrer a meios alternativos de autodefesa.  A Amazon.co.uk relatou que as vendas de porretes e de tacos de beisebol de alumínio dispararam mais de 5.000% na noite do terceiro dia de badernas.  Um cliente escreveu no site a seguinte crítica:

Este taco tem um peso perfeito, é bem equilibrado e vai servir otimamente a qualquer proprietário de loja no Reino Unido que queira proteger sua propriedade.  Graças ao seu cabo ergonômico, um simples movimento de tacada já deve ser o suficiente para destroçar rótulas, crânios ou qualquer outro osso que você queira estraçalhar no vândalo que está lhe atacando.  Pessoalmente, recomendaria também investir em algumas luvas sem dedos, apenas para melhor a aderência de sua mão ao taco.

Outra questão a ser mencionada sobre a débâcle da Inglaterra envolve o assassinato que desencadeou tudo isso.  Um rapaz de 29 anos, chamado Mark Duggan, foi morto a tiros por agentes do estado no dia 4 de agosto de 2011, em Tottenham, onde os tumultos começaram logo em seguida.  Os policiais rapidamente acusaram a vítima de disparar contra eles, mas a Comissão Independente de Queixas da Polícia relatou, no dia 10 agosto, que não há nenhuma evidência de que a arma da vítima encontrada no local do crime tenha sido disparada uma só vez.

Talvez a polícia estaria menos propensa a assassinar cidadãos a sangue frio caso ela estivesse lidando com uma população armada.

Noruega

Também nada surpreendentemente, a Noruega é também um bastião do fanatismo desarmamentista, embora a posse de armas seja mais prevalecente entre os noruegueses do que entre os britânicos.  (A posse de armas em ambos os países é bem mais baixa do que nos EUA).  As leis norueguesas baniram todas as armas automáticas.  Revólveres e pistolas só são permitidos caso sejam de um determinado calibre, e há restrições sobre os tipos e quantidades de munição que um indivíduo pode comprar.  Andar nas ruas portando armas ocultas é ilegal. (Nos EUA, isso é legal em vários estados, sendo que Alaska, Vermont, Arizona e Wyoming permitem que seus cidadãos carregam armas sem exigir qualquer registro).

Como lamentavelmente é a regra em nosso mundo, todos os pretensos proprietários de armas têm primeiro de requerer licenças, as quais normalmente são concedidas apenas a caçadores e a atiradores profissionais.  Se você for sortudo o suficiente para obter uma licença, a polícia automaticamente adquire o direito de inspecionar sua casa para averiguar se suas armas estão adequadamente armazenadas.

Como bem sabemos, essas rígidas leis de nada adiantaram para impedir Anders Behring Breivik de massacrar 69 pessoas na minúscula ilha de Utøya.  Com efeito, se apenas um orientador daquele acampamento possuísse uma arma de fogo, talvez a tragédia teria terminado de maneira diferente, certamente com muito menos sangue e mortes.

É incompreensível para mim o fato de os organizadores de um acampamento juvenil ocorrendo em um local deserto e descampado não terem planejado antecipadamente meios de defender as crianças.  Isso é o ápice da irresponsabilidade.  É realmente alguma surpresa que o acampamento tenha sido organizado pelo esquerdista Partido Trabalhista?

Mais uma vez, os agentes do estado comprovaram sua incompetência.  A polícia só chegou a Utøya uma hora depois de o maníaco ter começado sua carnificina.  É isso o que ocorre quando se dá a um grupo estatal -- a polícia -- o monopólio prático da propriedade de armas.

Aqueles de nós familiarizados com a teoria misesiana sabemos que o estado sempre reagirá às desastrosas consequências do intervencionismo com ainda mais intervencionismo.  Como se estivessem ansiosos para dar razão a Mises, políticos finlandeses rapidamente anunciaram, após os ataques na Noruega, que irão acelerar a imposição de políticas desarmamentistas muito mais rígidas na Finlândia.  Essas novas regras farão com que revólveres e pistolas passem a ser muito menos acessíveis, irão elevar a idade mínima para a posse de armas e irão impor aos requerentes de licenças que se submetam a "testes para averiguar sua adequação". 

Os políticos, sem dúvida, estão prometendo que tais leis deixarão as pessoas mais seguras.  Os seguidores da 'Lei de Rockwell', entretanto, já sabem exatamente o que esperar e como devem reagir: "Sempre acredite no oposto daquilo que o governo diz, e sempre faça o oposto daquilo que ele recomenda."

Conclusão

A sociedade ocidental está claramente se degradando.  À medida que as pessoas e os governos vão se afundando em dívidas, o crescimento econômico permanecerá, na melhor das hipóteses, estagnado.  As classes dependentes, que vivem do assistencialismo, verão seu padrão de vida se deteriorando rapidamente à medida que a crise vai se desdobrando.  Se a história nos serve de guia, ondas de crimes e inquietações sociais não estão muito longe no horizonte.  Já estamos testemunhando o início dessa tendência em países como Inglaterra e Noruega, onde restrições à posse de armas estimulam a violência, a destruição e a pilhagem, além de deixarem cidadãos de bem completamente desarmados, sem proteção policial e totalmente à mercê de vândalos. 

A principal lição a ser retirada de tudo isso é a importância de ser ter meios de se proteger a si próprio, a sua propriedade e a seus parentes amados nessas épocas vindouras de pânico e incerteza.  Se você confiar no governo, poderá perder tudo o que construiu.


Sobre o autor

Brian Foglia

É bacharel em Economia com honrarias, formado no Richard Stockton College. Tradução de Leandro Roque.

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