quinta-feira, 11 ago 2011
Patinadores
de gelo que gostam de praticar seu esporte em lagos ou em grandes lagoas sabem
desde cedo que não devem patinar sobre o gelo fino. O som de gelo rachando é um sinal de que eles
devem começar a se dirigir rapidamente para a terra firme.
Na
sexta-feira, 5 de agosto de 2011, o mundo ouviu o gelo rachando. Ao final daquele dia, a agência de
classificação de risco Standard & Poor's rebaixou a classificação da dívida
do governo americano em um ponto: de AAA para AA+.
A
decisão do Congresso americano, no dia anterior, de elevar o teto da dívida do
governo em US$ 2 trilhões foi uma verdadeira fissura no gelo. A Standard & Poor's apenas tornou a
rachadura semi-oficial. "Sim, esse
barulho ruidoso que vocês ouviram na terça-feira é realmente o que vocês estão
pensando."
E
isso não foi tudo. O Banco Central
Europeu (BCE), na sexta-feira passada, anunciou que iria fazer mais uma reunião
de fim de semana para lidar com mais uma crise no mercado de títulos da dívida
dos governos europeus. Desta vez, os
papeis da dívida emitidos pelos governos da Itália e da Espanha estavam sob
intenso ataque no mercado de títulos. Os
investidores estavam exigindo juros maiores.
O
som da rachadura foi intenso.
No
domingo, o Banco Central Europeu anunciou que irá começar a comprar diretamente
títulos emitidos pelos tecnicamente insolventes governos da Itália e da
Espanha. Em outras palavras, o BCE
capitulou. Ele faz a mesma coisa em
relação à dívida do governo grego. Pelo
que foi acordado no Tratado
de Maastricht e no Tratado de Lisboa,
ele não pode fazer isso. Mas quem liga
para acordos firmados por governos? Você
não pode fazer omeletes sem quebrar alguns ovos. Ou sem que a galinha os tenha posto.
O
ingrediente essencial dessas omeletes é a moeda fiduciária de curso
forçado. O BCE irá criar o dinheiro
necessário para comprar esses títulos da dívida. E há uma enormidade de títulos a serem
comprados. A Itália tem aproximadamente
2 trilhões de euros em título.
A Espanha, por volta de 1 trilhão.
Itália
e Espanha são devedoras monumentais.
Elas não são devedoras insignificantes como a Grécia. Há uma quantia fabulosa de dinheiro investida
nos títulos da dívida destes dois PIIGS.
Os banqueiros da Europa pensaram: "Nenhuma nação ocidental jamais dará
um calote". Ato contínuo, eles vorazmente compraram
esses papeis da dívida. Agora
estão na iminência de sofrer prejuízos de 50% ou mais com esses investimentos
ruins. Os grandes bancos não têm nenhuma
intenção de aceitar esse prejuízo. E por
que deveriam? O BCE está ali pronto para
socorrê-los. Socorrer os grandes bancos
é a tarefa #1 de todos os bancos centrais.
Eles foram criados para isso. E
também para financiar dívidas dos governos.
Não há nenhum motivo para os grandes bancos se preocuparem.
O
BCE não precisa comprar toda essa dívida.
O simples fato de ele deixar claro que está sempre em prontidão para
comprar parte da dívida já é o suficiente para acalmar temporariamente os
mercados e, com isso, manter os juros desses títulos abaixo dos 6% que estavam
sendo obrigados a pagar durante a semana passada. Mas este é apenas mais um caso de postergar o
inevitável, de apenas reduzir a velocidade quando já se está na estrada da
insolvência.
O
BCE, obviamente, tem de fazer alguma cena.
E o que ele faz são apenas alguns protestos superficiais acerca de suas
decisões. Seus lábios dizem "não, não",
mas seus olhos dizem "sim, sim". O BCE
emite declarações sobre sua responsabilidade de manter a inflação de preços
baixa e, em seguida, ele cria dinheiro para comprar títulos de países
caloteiros.
Nota:
todos os países são caloteiros. Mas
alguns são mais caloteiros que outros.
Os gorgolejos de Merkel
Nesse
sentido, o BCE é igual à primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel. Ela também faz declarações zangadas do tipo "não
haverá mais socorros". Mas sempre que
ocorre uma grande crise financeira em decorrência de uma ameaça de calote
proferida por um berrante membro do PIIGS, ela, Sarkozy e demais asseclas se
reúnem em um fim de semana e propõem uma nova rodada de socorro. Gosto de pensar nas declarações preliminares
de Merkel como gorgolejos. Por que o som
de um gorgolejo? Porque ela sempre
engasga com as palavras que logo em seguida será obrigada a engolir.
Merkel
faz barulhos de gorgolejo para pacificar os eleitores alemães. Os eleitores alemães têm uma vaga noção de
que são eles que acabarão tendo de pagar pelos erros dos banqueiros alemães,
dos banqueiros franceses, e de todos os outros banqueiros. E estão corretos. São eles que pagarão.
O
que os eleitores alemães ainda não entenderam é que os banqueiros sempre
souberam desde o início que haveria pacotes de socorro em caso de
dificuldades. Os bancos espertamente
perceberam que seriam socorridos. Eles
emprestaram dinheiro aos PIIGS. Era um
dinheiro muito fácil. Não havia
risco. Mas, você diria, havia sim algum
risco. Sim, sim — mas não para os
grandes bancos. O BCE, o FMI e outras
agências de socorro aceitariam intervir para corrigir as consequências das
decisões ruins dos bancos.
Exatamente
como fizeram o Banco Central americano e o Tesouro em setembro e outubro de
2008. Eles saíram comprando as dívidas
podres em posse dos maiores bancos comerciais americanos, tudo ao seu valor de
face.
O
que os eleitores farão em relação a tudo isso?
Nada que traga grandes consequências.
Poucos eleitores entendem o que está acontecendo, mas estes não têm
meios para protestar efetivamente. Os
legislativos seguem dando continuidade ao processo de resgate. Não há nenhum projeto de corte de
gastos. Não há nenhuma intenção de se
reduzir as dívidas dos governos. Nunca
houve.
Os
eleitores alemães não têm como impor restrições ao BCE. O comitê alemão do BCE se limita a fazer
gorgolejos. Eles votam 'não' em todas as
reuniões do BCE, já sabendo que seus votos são irrelevantes para o resultado
final. Eles não têm votos suficientes na
hierarquia do BCE para interromper sua política de comprar títulos dos
PIIGS. Eles apenas se limitam a
acompanhar a maré e a fingir alguma insatisfação. Tudo cena para mostrar ao eleitorado alemão o
quanto eles são atuantes.
Só há
uma solução para a Alemanha: retirar-se do Sistema Monetário Europeu
(SME). A Alemanha pode abandonar o
euro. O país possui uma posição
econômica forte o bastante para fazer isso.
O SME permite que as nações tenham seus próprios bancos centrais — que
são meras sucursais do BCE —, mas não suas próprias moedas. A Alemanha pode se separar. Mas isso irá gerar um revertério político
doméstico de proporções monumentais. E
isso não é algo provável no futuro próximo.
Os
planejadores da Nova Ordem Mundial sempre planejaram utilizar a Europa como primeiro
passo: o modelo de todas as coisas boas que uma integração econômica
centralmente planejada e baseada em tratados pode atingir.
Mas
esse grande experimento está se desfazendo perante nossos olhos. Os planejadores da Nova Ordem Mundial não
conseguiriam criar uma Nova Ordem Mundial europeia de uma só vez. Eles sabiam disso. Eles foram fazendo isso pouco a pouco, um
tratado de cada vez, durante 50 anos, começando pelo Tratado de Paris em
1951. Depois veio uma série de tratados
assinados em Roma.
O
problema é este: eles não conseguiram os votos necessários para fundir todos os
bancos centrais em um só. Os outros
ainda existem como fantoches, representantes sem autoridade. Mas existem.
Os eurocratas também não conseguiram criar uma agência fiscal comum que
controlaria os déficits de cada nação.
Portanto, o sistema possui um ponto fraco: parlamentos nacionais que
podem incorrer em déficits operando sob a chancela de um banco central comum
cujo principal propósito é extra-oficial — socorrer grandes bancos.
Austeridade (para os governos)
Este
sistema está agora visivelmente se desintegrando. Líderes políticos do norte da Europa estão
pedindo aos PIIGS que adotem "austeridade" econômica — redução dos déficits
dos governos. A Irlanda curvou-se. Prometeu reduzir seu déficit. Mas fez isso somente porque o partido político
(Fianna Fáil) que
estava no poder no fim de 2010 concordou com termos impostos pelo FMI para
receber novos empréstimos — empréstimos esses que os líderes desse partido,
apenas uma semana antes, haviam negado ser necessários. O eleitorado irlandês não teve voz. Alguns meses mais tarde, nas eleições, eles
despojaram esse partido do poder. Mas já
era tarde demais.
Como
resposta a isso tudo, o jornal Irish
Times publicou a charge
política mais acurada e mais obscena que já vi ser publicada em um jornal
da grande mídia. Mas os protestos se
limitaram a apenas isso: protestos simbólicos.
Por
que o governo da Irlanda se curvou?
Porque ele já estava no limite.
Ele já havia estatizado seus bancos e assumido suas dívidas. E agora os bancos estavam prestes a
quebrar. O Irish Times descreveu o dilema:
O ministro das finanças Brian Lenihan disse que o socorro
era necessário porque os bancos irlandeses haviam se tornado completamente
dependentes de empréstimos concedidos pelo Banco Central Europeu, e, assim como
o governo, correm o grande risco de ficarem de fora do mercado internacional de
crédito por pelo menos um ano.
Ele disse que os seis bancos da Irlanda, cinco dos quais já
estão nacionalizados ou estão parcialmente sob o controle do estado, teriam seu
tamanho reduzido, seriam fundidos e possivelmente vendidos.
"Por causa dos grandes riscos que os bancos irlandeses
assumiram no início desta década, eles se tornaram um risco enorme não apenas
para este país como também para a zona do euro como um todo", disse ele.
Os bancos irlandeses investiram agressivamente em um
desenfreado mercado imobiliário aqui na Irlanda e lá fora. Após a crise do crédito de 2008 ter feito com
que os preços dos imóveis entrasse em queda livre, o governo tentou impedir que
os bancos quebrassem assumindo o controle de todas as suas dívidas. Essa promessa sem precedentes — feita para
manter a confiança dos investidores no país — não pode ser mantida sem um
pacote de socorros para o governo, como o próprio acabou finalmente sendo
forçado a admitir.
Isso
soa familiar? Em todo o ocidente, os
bancos concederam empréstimos para atividades de alto risco. O mercado imobiliário americano e europeu, de
2001 a 2007, foi totalmente aditivado pela criação de moeda fiduciária pelos
bancos centrais e pelo sistema bancário de reservas fracionárias. Mas agora aprendemos que as dívidas de
determinados governos são apenas marginalmente melhores do que os empréstimos
ruins concedidos ao mercado imobiliário.
E esses empréstimos ainda têm de ter seu valor contábil reduzido pelos
bancos. Se isso ocorrer, o capital dos
bancos será reduzido, podendo levar a uma quebradeira generalizada.
O aumento dos juros e os credores dos PIIGS
Esse
risco de insolvência governamental é muito pior para os bancos. Por quê?
Porque embora os governos possam assumir e esconder os empréstimos ruins
feitos pelos bancos, eles não podem esconder sua própria e crescente
insolvência. O mercado de crédito
continua aumentando os juros que os emprestadores estão dispostos a
aceitar. E os governos têm de pagar
esses juros cobrados, o que está comendo seus orçamentos.
Os
eleitores dos PIIGS podem ir às ruas protestar contra cortes no orçamento e
contra aumentos de impostos. Mas isso
não altera o fato de que emprestadores privados não mais estão dispostos a
emprestar dinheiro a esses governos a juros baixos. Os protestos, na verdade, acabam servindo
para persuadir os emprestadores de que determinados países dos PIIGS possuem
uma classificação de crédito ainda pior.
Consequentemente, os emprestadores elevam os juros novamente.
As
únicas saídas são estas: (1) equilibrar o orçamento, (2) encontrar
emprestadores que não estejam preocupados com riscos.
Os
governos dos PIIGS precisam de uma desculpa para poder cortar gastos
assistencialistas. Quando o BCE ou o FMI
emprestam dinheiro e impõem condições, os políticos podem culpar estes
emprestadores insensíveis. Essa
estratégia foi tentada pelo último governo irlandês e não deu certo. Ele caiu.
Mas isso de nada adiantou para os irlandeses, pois o novo governo eleito
também aceitou docilmente os termos dos empréstimos.
Os
PIIGS podem, é claro, pegar esse dinheiro que lhes foi emprestado e em seguida
se recusar a obedecer aos termos impostos.
Se um governo não fizer isso — ou seja, se ele docilmente aceitar todos
os termos impostos —, ele pode ser despejado nas próximas eleições. Porém, como os irlandeses descobriram, isso
não muda nada. O novo governo está
obedecendo direitinho aos termos impostos pelo FMI.
Em
algum momento, os eleitores de algum país dos PIIGS irão despojar o governo
vigente e substituí-lo por um governo que irá enganar o FMI e o BCE. Esse novo governo não irá cortar gastos. Mas aí os juros sobre os empréstimos para
esse governo irão subir acentuadamente.
O governo terá então de se decidir entre: (1) cortar gastos
assistencialistas para poder pagar os juros ou (2) dar um calote.
Há
uma terceira opção: sair do Sistema Monetário Europeu. Colocar seu banco central doméstico no
controle da situação. Dizer a ele para
comprar os títulos da dívida do país. Em
outras palavras, esse governo estará agora livre para inflacionar. Ele dará o calote na sua dívida por meio da
inflação monetária.
Os eleitores europeus estão paralisados
Os
eurocratas dizem continuamente que isso não irá ocorrer. Mas é claro que irá ocorrer. Os políticos, alguma hora, terão de atender
aos apelos de seus eleitores, que sempre querem benesses de seus governos. Mas os eleitores não obterão benesses; eles
obterão apenas dinheiro desvalorizado.
Mas tal situação tem se revelado bastante aceitável para a maioria dos
eleitores ocidentais desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Sim,
os eleitores alemães estão dispostos a protestar contra a inflação, pois,
dentre os europeus, são os únicos que se acostumaram com uma inflação de preços
baixa. Ademais, a Alemanha continua
sendo uma nação exportadora. Sua
economia está se saindo bem dentro da União Europeia. Mas isso gera um problema. Para que esse arranjo continue funcionando, o
país tem de socorrer os PIIGS por meio de subsídios governamentais
diretos. O país também tem de concordar
com o BCE e apoiá-lo quando ele decide imprimir dinheiro para comprar títulos
da dívida dos PIIGS. Os alemães podem
não gostar desse arranjo, mas a única maneira de sair dele é impedindo o seu
governo de conceder pacotes de socorro a outros governos. E, para fazer isso, seria necessário retirar
a Alemanha do Sistema Monetário Europeu.
Ato
contínuo, a Alemanha teria de lidar com dois enormes problemas. Primeiro, sua nova moeda adotada iria se
valorizar em relação ao euro. Isso iria
reduzir as exportações alemãs. Os
economistas defensores do setor exportador (leia-se mercantilistas) começariam
a gritaria em prol de uma desvalorização da moeda. O lobby da indústria de exportação sempre é
bem sucedido politicamente em países que apresentam superávit na balança
comercial. O mercantilismo é ainda uma
grande força política em países com superávit no balanço de pagamentos. "Não matemos a galinha dos ovos de ouro!"
O
segundo problema seria o arrocho sobre os bancos alemães. Esses bancos emprestaram bilhões de euros aos
PIIGS. Caso estes países quitem seus
empréstimos — algo bastante improvável —, eles o farão em euros. Porém, o euro estará desvalorizado
em relação ao recém-ressuscitado marco alemão.
Logo, mesmo que haja algum pagamento de juros sobre os empréstimos
concedidos pelos bancos alemães, tais pagamentos serão feitos em moeda
depreciada. Os bancos sofrerão prejuízos
em seus balancetes. Seu capital será
reduzido. Eles emprestarão menos para os
alemães. Os juros subirão. A economia entrará em recessão.
Os
eleitores ocidentais votaram por em estado assistencialista. A maioria está viciada em programas de
transferência de renda. Eles realmente
acreditam que, se o governo adotar um plano de austeridade — entrando em uma
dieta fiscal —, isso irá causar uma recessão.
Logo, eles estão determinados a manter vivo o estado assistencialista. Porém, esse arranjo está em inexorável marcha
rumo ao colapso. Por quê? Porque o estado assistencialista sempre
dependeu da capacidade de seus governos se endividarem a juros baixos.
Um pesadelo keynesiano
Economistas
keynesianos sempre basearam todos os seus argumentos em uma suposição:
"empréstimos concedidos ao governo são seguros". Essa era a visão de Keynes, afirmada
obscuramente em seu A
Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936).
Eis
a lógica keynesiana: Emprestadores subitamente ficam com receio de
emprestar. Isso gera redução no
consumo. A economia entra em recessão e permanece
em recessão. Esse é o keynesianismo
resumido.
Quer
mais? Aqui vai mais. Emprestadores querem segurança. Eles são receosos de emprestar para mutuários
privados, que podem dar calote. Assim,
eles preferem emprestar para governos. O
governo, por sua vez, utilizará esse dinheiro para custear vários projetos que
o livre mercado não quis empreender por julgá-los dispendiosos e geradores de
prejuízo. Isso faz com que a economia
volte a crescer.
Conceitualmente,
isso é totalmente parvo. Suponho que
você consiga ver o porquê. Emprestadores
inevitavelmente terão de colocar seu dinheiro em algum lugar, a menos que
gastem tudo consumindo — algo que os economistas keynesianos também consideram
uma escolha excelente. Emprestadores que
possuem dinheiro suficiente para afetar a economia não guardam dinheiro vivo
dentro da gaveta ou debaixo do colchão.
Eles colocam em bancos ou em fundos de investimento. Se esse dinheiro não for emprestado para o
governo gastá-lo em algum projeto centralmente planejado ou comprando de votos,
ele inevitavelmente irá para algum outro investimento. Isso deveria ser óbvio para qualquer pessoa
que tenha a mais mínima noção de como funciona o sistema financeiro.
É
por isso que o keynesianismo é conceitualmente obtuso. Entretanto, a maioria dos economistas com
Ph.D. se recusam, por motivos profissionais, a enxergar isso. Eles não leram o livro de W.H. Hutt, The
Theory of Idle Resources (1939).
Essa
crucial suposição — "emprestar para o governo é quase risco zero" — está
finalmente caindo em
descrédito. E está
senda desacreditada justamente pelas ações dos políticos. Eles são incapazes de manter o orçamento de
seus governos sob controle.
É
por isso que os economistas keynesianos ficaram apopléticos com o rebaixamento
da classificação de risco dos títulos da dívida americana. Eles também ficaram enfurecidos com o fato de
que a sagacidade do BCE ao decidir ajudar diretamente a Itália e a Espanha
esteja sendo questionada. A suposição
keynesiana sempre foi a de que emprestadores deveriam investir dinheiro em
títulos do governo. O mercado de títulos
do governo é a base de todas as teorias keynesianas sobre gastos contracíclicos
dos governos.
Em
períodos de expansão econômica, jamais ouvimos keynesianos declararem em
uníssono que este é o momento de o governo cortar gastos e começar a pagar a
dívida. Entretanto, sempre se diz que
Keynes também defendia políticas contracíclicas em períodos de expansão
econômica, e não apenas em períodos de recessão. Isso significa que o governo deve gerar
superávits orçamentários para reduzir a dívida em épocas de crescimento
econômico. Curiosamente, jamais foram
apresentadas citações de Keynes defendendo tal postura. Da mesma forma, jamais vemos declarações de
economistas keynesianos defendendo a redução da dívida.
E
não há motivos para isso acontecer. A
economia keynesiana é a economia do assistencialismo. O keynesianismo sempre foi uma fachada para a
distribuição de riqueza. Oficialmente,
essa distribuição de riqueza é justificada em nome de se estar ajudando aos
pobres. Operacionalmente, a distribuição
de riqueza ocorre em benefícios dos grandes bancos e do setor público.
Sempre
que ocorre uma crise financeira, governos e bancos centrais socorrem os grandes
bancos. Invariavelmente, os economistas
keynesianos sempre aplaudem essa política durante períodos de crise. E então, após a poeira baixar e os bancos
socorridos estarem maiores e mais poderosos do que antes, os keynesianos
reclamam que o governo socorreu os poderosos mais uma vez.
Não
é que os keynesianos sejam lentos para aprender. O problema é que eles não querem aprender.
Conclusão
Estamos
testemunhando a rachadura do logo de gelo.
O público está patinando sobre o lago.
Eles estão ouvindo o som das rachaduras.
Alguns poucos patinadores, os mais espertos, já começaram a correr em
direção à terra firme. O ouro chegou a
US$ 1.750 na segunda-feira em resposta à rachadura de sexta-feira, provocada
pela Standard & Poor's.
Dezenas
de milhões de americanos e um número igualmente grande de europeus ficarão
encurralados quando o Grande Calote chegar.
Sim, Alan Greenspan negou que isso possa acontecer algum dia.
"Os Estados Unidos podem pagar qualquer dívida que tenham,
pois sempre podemos imprimir dinheiro para fazer isso. Portanto, a probabilidade de calote é zero", disse Greenspan em uma entrevista à rede
NBC.
Podemos
ficar mais tranquilos agora.