segunda-feira, 13 jun 2011
Atualmente
existe quase um consenso entre os banqueiros centrais de que a deflação deve
ser evitada a todo custo.
No
entanto, quando um indivíduo aleatoriamente escolhido é perguntado se prefere
os preços mais altos ou mais baixos para as coisas que compra, certamente
responderá que os preços baixos são preferíveis.
Então,
como é que deflação de preços não é um objetivo proclamado da política
monetária? Por que as autoridades
monetárias anunciam "metas de inflação" em vez de oferecerem a opção em favor
de preços mais baixos? Por que não temos
uma deflação de preços, mas quase permanentemente temos inflação dos preços?
Deflação
bondosa
Quando
falamos de uma queda geral do nível de preços, por questão de clareza, devemos
chamar isso de "deflação de preços" e não apenas
"deflação". Inflação e
deflação como termos devem ser limitados ao estoque de dinheiro. Nessa perspectiva, estabilidade monetária
significaria um estoque monetário mais ou menos constante. Essa constância do estoque monetário
aconteceu quando a grande parte do mundo estava no padrão-ouro durante a grande
parte do século XIX até o
começo da I Guerra Mundial, em 1914.
Esse
mesmo período era também a fase quando Europa, América do Norte e várias outras
partes do mundo experimentavam a sua decolagem no caminho do crescimento
econômico. Esse período se caracterizou
por uma queda
prolongada dos preços. Essa
deflação bondosa não veio abruptamente, mas aconteceu lentamente e com
moderação. Essa deflação de preços foi
impulsionada pelo avanço passo a passo do progresso tecnológico. Dado um estoque de dinheiro relativamente
constante, os bens e serviços se tornavam cada vez mais baratos e, mesmo sem um
aumento da taxa de salário nominal, os trabalhadores se tornaram mais prósperos
por causa da subida dos salários reais. Podemos,
de fato, chamar esse período o período da "deflação bondosa".
Uma
forma de deflação bondosa acontece ainda hoje, mas somente em certos setores da
economia. O regime da política monetária
moderna do inflacionismo faz com que a deflação bondosa esteja bem limitada e
somente aconteça, hoje em dia, em setores específicos da economia como,
principalmente, certas áreas de tecnologia.
Assim,
surgem a perguntas: por que não há mais setores com deflação bondosa? Por que não experimentamos em grande estilo os
benefícios da redução do nível de preços e, assim, um aumento do nosso poder de
compra? Por que estamos sofrendo uma
contínua erosão do poder de compra do nosso dinheiro?
Senhoriagem
A
resposta a essas perguntas na verdade é relativamente fácil de encontrar. O fato de que vivemos em um mundo
inflacionário é porque os governos se beneficiam comodamente da inflação. Ou seja, o governo é o ator principal que pode
se beneficiar de um aumento constante da oferta de moeda porque é o criador
principal da moeda. O governo tem
soberania sobre a moeda e são os bancos centrais que controlam a origem da
expansão monetária e, como tal, o governo está na fonte para ganhar o que os
economistas chamam de senhoriagem — receitas oriundas da própria expansão monetária.
Os
governos com suas agências monetárias e junto com seus aliados no setor
financeiro têm medo da deflação de preços. Já com um estoque monetário relativamente
constante, eles perdem o privilégio da senhoriagem. Isso significa que o governo perderia uma
importante fonte de receitas fiscais — um tipo de tributo que é largamente
oculto para a pessoa que paga. Assim,
outra definição de senhoriagem seria imposto inflacionário, um imposto
secreto que, pior ainda, tem um grande impacto sobre a distribuição da riqueza
de baixo para acima.
A
meta declarada da política monetária de hoje é a política de "metas de inflação", a
mais recente moda na longa série dos muitos modismos dos bancos centrais
do mundo.
Oficialmente
implantada para promover uma inflação baixa, a política de metas de inflação é,
na verdade, acarinhada pelos governos e bancos centrais porque promete garantir
um fluxo contínuo de imposto inflacionário. Os governos sabem que deflação de preços como
também inflação excessiva ou, ainda pior, a hiperinflação, provocariam a
eliminação da senhoriagem.
O
que é praticamente esquecido nos dias de hoje é que a política monetária de metas
de inflação não é algo novo. Na verdade,
a política de metas de inflação foi praticada pelo banco central americano
durante os anos 1920, levando diretamente à Grande Depressão dos
anos 30 do século passado.
Concentrando-se
na estabilidade do "nível de preços", as autoridades monetárias americanas se
sentiam plenamente convencidas de
que sua política monetária estava no caminho certo porque o índice de preços
durante dos anos 1920 ficou bastante estável e a taxa de inflação ficou baixa. As autoridades monetárias do banco central
americano não se davam conta de que a existência de um nível de preço estável
não garante evitar a inflação monetária, ou seja, uma expansão do estoque de
moeda.
A
armadilha da inflação controlada
A
política monetária de "metas de inflação" funcionou. O banco central dos Estados Unidos, fundado em 1913, conseguiu manter um nível de preços bastante
estável durante os anos 1920. Mas essa
política liderou a economia americana e a grande parte do resto do mundo no
caminho para a Grande Depressão. O que
aconteceu?
Ao
se concentrar exclusivamente no "nível de preços" — um conceito que
foi promovido entusiasticamente pelo influente economista Irving Fisher
(1867-1947) apesar das críticas maciças dos economistas e notavelmente dos
economistas da Escola
Austríaca —, o banco central dos EUA não levou em conta o enorme
progresso tecnológico que estava acontecendo nos anos 1920.
No
passado, sob o regime do padrão-ouro, com um estoque de moeda relativamente
constante, o nível de preços teria caído. Isso teria exercido pressões sobre a taxa real de juros e a sua subida teria
restringido a expansão do crédito. Mas
concentrando-se no "nível de preços", como Fisher ensinou, as autoridades
monetárias se sentiam livres para deixar a massa monetária crescer. Isto foi possível porque no começo dos anos
1920, o regime de padrão-ouro original foi substituído pelo sistema de padrão ouro-câmbio.
Ao
manter a taxa de juros muito baixa e deixar a quantidade de dinheiro crescer
muito fortemente, o banco central dos EUA fez a economia americana se expandir
muito. As autoridades monetárias não
conseguiam ver o desastre iminente, porque, seguindo o modelo de Irving Fisher
de política monetária, tinham apenas que se preocupar com o "nível de
preços", e enquanto esse "nível de preços" se mantivesse
relativamente estável, eles sentiam que não havia necessidade de preocupação.
Com
essa política monetária, o banco central americano produziu um mega boom econômico. Este boom
gigante entrou na história conhecido como os "Loucos Anos Vinte". A bolha acabou com o advento da Grande
Depressão.
Deflação
ruinosa
Ao
impedir que "a deflação bondosa" seguisse seu caminho natural, os
banqueiros centrais provocavam uma aparente "deflação ruinosa". Uma deflação ruinosa não é causada pelo
movimento lento da difusão do progresso tecnológico, mas acontece de forma
abrupta e desastrosa com um colapso do sistema monetário e financeiro. Quando isso acontece e o nível de preços cai
abruptamente, as taxas de juros reais saltam e paralisam a vida econômica. Esse tipo de deflação vem junto com uma
contração econômica. Esse tipo de
deflação — ruinosa — tem uma origem artificial nas atuações do banco central
junto ao setor financeiro e deve ser bem diferenciada da deflação bondosa que
vem do setor real da economia como consequência do progresso tecnológico
confinado por um estoque monetário estável.
Quando
uma "deflação bondosa" acontece, não há colapso da massa monetária, mas uma
redução dos preços sem contração da atividade econômica. Na deflação ruinosa, pelo contrário, temos uma
contração abrupta da massa monetária junto à queda do nível de preços e uma
contração econômica. Essa contração da
massa monetária nasce como resultado de uma expansão prévia da própria massa
monetária instigada pelos bancos centrais.
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com uma oferta monetária constante
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