ENTREVISTA 35 - ADOLFO SACHSIDA
"Até onde eu sei essa foi a primeira vez que representantes
do Banco Central e do Ministério da Fazenda foram expostos a ideias tão
contrárias às do governo. Não só as minha opiniões, mas as do Fernando Ulrich
do Instituto Mises Brasil, colocaram os representantes do governo em posições
complicadas durante o seminário", afirmou logo no início deste podcast Adolfo
Sachsida, mestre e doutor em economia pela Universidade de Brasília,
pós-doutor em economia pela Universidade do Alabama e pesquisador da Diretoria
de Macroeconomia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Adolfo e Fernando, conselheiro deste IMB, foram a voz
libertária no Seminário sobre os efeitos das políticas de estímulo ao
consumo na economia brasileira, realizado na quarta-feira passada, dia 22
de agosto, em Brasília, que teve a participação do secretário-executivo adjunto
do Ministério da Fazenda, Dyogo Henrique de Oliveira, representando o Ministro
da Fazenda Guido Mantega, e o Chefe do Departamento Econômico do Banco Central
do Brasil, Túlio Maciel, representando o Presidente do Banco Central do Brasil.
O evento foi organizado a pedido do deputado federal Edmar Arruda com a
colaboração do advogado e consultor Daniel Tisi, o
entrevistado deste podcast na semana passada.
Sachsida trabalha, principalmente, com o uso de modelos
econométricos para a resolução de questões econômicas, e, ao contrário do que a
informação possa sugerir, é estudioso e entusiasta da Ecola Austríaca.
Nesta entrevista, Adolfo, que é apontado como um dos
pesquisadores brasileiros mais produtivos na área, com artigos publicados em
revistas acadêmicas nacionais e estrangeiras, aponta alguns dos maiores
erros do governo federal. "O governo tem insistido demais em políticas de demanda.
O governo não só está gastando muito dinheiro como está escolhendo os setores
que vão receber benefícios em detrimento do resto da sociedade. As políticas
que o governo tem adotado hoje são muitos semelhantes às políticas que o
governo militar adotou no final década de 1970 e que resultaram no desastre da
década de 1980. A equipe atual do governo Dilma parece ser a mesma equipe do
governo Geisel, está cometendo os mesmos erros e deve ser responsabilizada por
isso".
E a política-econômica brasileira pode ser definida como
keynesiana? Segundo Adolfo, a equipe econômica é tão ruim que ainda nem chegou
a Keynes. "A teoria que embasa essa equipe econômica foi desenvolvida e
escondida a sete chaves dentro do departamento de economia da Unicamp. É uma
teoria que parece que só eles sabem qual é".
O economista também explicou como o governo tem manipulado o
índice de preços. "O governo tem usado política tributária para esconder da
população que a inflação tem aumentado. O governo tem estudos que mostram quais
são os itens que mais impactam no índice de preços e vai naquele subsetor e
reduz a carga tributária. Ou seja, o preço do produto subiu, mas como a carga
tributária daquele subsetor diminuiu, o preço para o consumidor continua igual.
Isso, no fundo, é como varrer a sujeira para debaixo do tapete. Você não está
vendo a sujeira, mas a sujeira está lá assim como os seus efeitos maléficos. O
país vai pagar caro por essa política equivocada".
Sobre a bolha imobiliária brasileira, acerca da qual o
economista já vem alertando há alguns anos em palestras e no seu blog, afirmou que as políticas do
governo estão criando um problema similar ao subprime do
mercado imobiliário americano. "O mecanismo usado atualmente pelo governo é
errado porque quanto mais crédito você conceder à população para comprar casa
maior será a demanda de casa com uma oferta fixa. Ou seja, a política atual
aumenta o preço da casa. O governo tem que reduzir a carga tributária e
privatizar as terras públicas".
Bastante crítico sobre a atuação do Poder Executivo federal
na economia e, especialmente, sobre o aparelhamento ideológico de órgãos como o
IPEA, onde trabalha, o economista revelou como é para um liberal trabalhar no
governo. "O bom para a população são liberais como eu no governo. O problema do
Brasil é que nós temos keynesianos, petistas e marxistas demais no governo.
Essas pessoas querem o estado maior e quando estão no governo têm a chance de
torná-lo ainda maior".
Favorável ao fim de todos os monopólios estatais, Adolfo
afirma que estes dificilmente surgem em condições de mercado e que a esmagadora
maioria só existe por causa do governo. "É ele que proíbe por lei a
concorrência. Quando você tem muitos monopólios o que acontece é que se dá
muito poder aos monopolistas; quando esse monopolista é o governo, ele fica com
um poder ainda maior. Quanto mais mercados o governo estiver presente, maior
será o seu poder. O monopólio é ruim, temos que evitá-lo ao máximo, inclusive o
monopólio de emissão das moedas. Isso não faz sentido. Se o real é uma moeda
tão respeitada como o governo diz, então, qual o problema de haver competição?"