ENTREVISTA 27 --
JOÃO PEREIRA COUTINHO
Doutor em Ciência Política
e professor da Universidade Católica Portuguesa, João Pereira Coutinho é um dos principais
colunistas de dois dos mais importantes jornais do Brasil e de Portugal: Folha de S.
Paulo e Correio
da Manhã. Também comentarista político da tvi24, canal de TV português,
Coutinho sempre utilizou a sua opinião também como um instrumento de defesa das
liberdades contra as investidas autoritárias de governos, partidos políticos,
instituições, entidades ou pessoas físicas com projeção pública.
Coutinho tem dois livros publicados (Vida
Independente e Avenida Paulista) e veio ao
Brasil esta semana para participar do lançamento do recém-lançado Por que Virei à Direita, do
qual é coautor junto com Luiz Felipe Pondé e Denis Rosenfield. Aproveitando a
vinda dele, fui entrevistá-lo para este Podcast e a conversa teve como eixo
central a crise européia, o problema do euro e de que forma isto afeta a
liberdade. "O euro revela bem todos os fracassos em que a Europa esta
mergulhada neste momento. A União Européia procurava ser um projeto de unidade,
mas é, neste momento, um exemplo de desunião e de atrito, às vezes até com
contornos nacionalistas entre diferentes estados."
A entrevista também abordou o papel do
coletivismo na Europa e a influência do politicamente correto lá e aqui. "O
Brasil está a seguir o mesmo tipo de políticas politicamente corretas que já
foram testadas em quase todas as partes do mundo Ocidental. Penso que o Brasil
está a chegar com 20 anos de atraso a políticas que já foram testadas e fracassaram.
Por exemplo, o caso das cotas raciais, que apresentam problemas que já foram
muito bem estudados em outros países, sobretudo nos Estados Unidos. No entanto,
o Brasil avança na adoção de cotas raciais com a ideia de que os indivíduos
devem ser discriminados positivamente pela sua cor da pele quando esse tipo de
política já gerou situações perversas noutros países, como nos Estados Unidos,
segundo mostrou Thomas Sowell, que desenvolveu um estudo muito bom sobre cotas
raciais, o Affirmative
Actions Around the World, em que mostra vários problemas gerados por elas.
(...) O politicamente correto parte do
pressuposto errado de que existem grupos homogêneos. E esse é um tipo de
pensamento que se aceita em sociedades totalitárias, em que você identifica,
por exemplo, os judeus, quando, na realidade, não existem grupos, existem
indivíduos, existem o João, a Teresa, a Maria, o Manuel, e cada indivíduo tem
uma história particular, tem méritos, tem vícios e virtudes particulares. (...)
E, nesse sentido, é muito curioso que as pessoas que partilham o pensamento
politicamente correto são muito parecidas com, por exemplo, os racistas. Porque
os racistas também só pensam em
grupos. Para o racista, não há o Manuel, o João, a Teresa, só
há os brancos e os negros. Uma pessoa favorável às cotas
raciais é um racista do avesso. Enquanto um discrimina negativamente, o outro
quer discriminar positivamente."