Na antiga revista Seleções, todo mês havia um artigo falando dos horrores do comunismo, de como os comunistas eram monstros que comiam criancinhas. Na revista Manchete, todo mês havia um artigo falando dos horrores do nazismo e do sofrimento dos judeus. Não eram mentiras, mas os argumentos se tornavam caricatos pela repetição incessante e pelo tom de doutrinação: o objetivo não era transmitir fatos ou informações, e sim incutir uma reação pavloviana de horror à simples menção da palavra proibida (comunismo para uns, nazismo para outros).
Não era do interesse dos poderes da época que o comunismo e o nazismo fossem estudados e analisados, e que fossem compreendidos o contexto e as circunstâncias que permitiram seu aparecimento. Esse processo evitaria sua repetição, mas traria o efeito colateral indesejado de criar pessoas questionadoras que poderiam fazer o mesmo com outros políticos.
Por isso, a tática adotada era mostrar os "inimigos" como vilões de estórias em quadrinhos, sem lógica, sem ideologia, sem contexto. Vilões, todos sabem desde criancinha, são vilões simplesmente porque são. Todos sabem também que o inimigo do vilão é o mocinho, que também têm a profundidade ideológica de um pires: o mocinho é sempre bom, porque sim, e pronto. Ninguém deve perguntar porque o vilão é mau e muito menos porque o mocinho é bom. O mocinho deve ser louvado sem questionamentos e sem análises.
Os filmes de Hollywood sempre mostram isso: mesmo que durante o filme o mocinho pareça estar fazendo tudo errado, o certo é confiar cegamente nele, porque no fim tudo dará certo. O destino do personagem coadjuvante que achava que as atitudes do mocinho não faziam sentido é passar vergonha no final, e mostrar que as atitudes do mocinho não devem ser vistas com lógica: devem ser apoiadas com devoção cega. Ninguém tem o direito de ter opinião própria sobre o mocinho ou sobre o vilão, deve-se apenas seguir o comportamento do restante da manada.
É enorme minha decepção ao ver, não no UOL ou no Facebook, mas aqui no Instituto Mises, a mais nova safra dos doutrinados repetindo seus catecismos: o Mito é perfeito, só o Mito nos salvará, devemos confiar cegamente no Mito, quem não louva o Mito como nós é um inimigo a ser destruído.
Se apenas esses doutrinados pudessem ver o quão patéticos eles parecem aos olhos de quem ainda enxerga, e o quanto eles imitam os que dizem combater: o "não é hora de criticar", a "herança maldita", a sempre crescente lista de "traidores", a completa cegueira para as incoerências, as ridículas hipérboles jurando que o "inimigo" pretende instalar o inferno na terra, as mais ridículas ainda "desculpas" e "explicações" entre aspas para as bobagens ditas e cometidas.
Claro que não vêem e não verão. Uma característica fundamental do fanático é achar que fanáticos são só os outros, enquanto ele mesmo é um paladino que enxerga a "verdade" que os outros não enxergam.