O
projeto
de lei para agilizar a liberação de defensivos agrícolas no Brasil provocou
revolta de artistas e ambientalistas nas últimas semanas.
Marcos
Palmeira, Zezé Polessa, Gregório Duvivier, Patrícia Pillar, Caco Ciocler, Bela
Gil, Astrid Fontenelle, Martnália e outros atores gravaram um manifesto
contra o projeto que, segundo o ator Érico Brás, "vai colocar mais agrotóxico
na comida do povo brasileiro".
Bela
Gil foi à Câmara com cartazes de protesto; o Greenpeace até instalou
uma bomba de mentira na audiência que discutia a questão.
Eis
mais um caso de ativistas que agem contra a própria causa. Quem se preocupa com
o impacto ambiental da agricultura no Brasil deveria torcer por menos entraves
à inovação nessa área.
Exatamente
por quererem lucrar o máximo possível, as fabricantes de defensivos agrícolas têm de responder
às demandas da sociedade. É impossível lucrar de maneira contínua fabricando
produtos que não atendem aos desejos dos consumidores. No passado, com efeito, a
eficiência e o preço de um defensivo importavam mais que a biossegurança.
Cientistas do ramo costumam dizer que os agrotóxicos eram como metralhadoras —
matavam pragas e muitas outras coisas ao mesmo tempo.
E
então, por exigência do ambientalismo (mais forte na Europa e nos Estados
Unidos que no Brasil) e dos próprios consumidores, os defensivos passaram a funcionar
cada vez mais como snipers — precisos
e com pouco impacto além do alvo. Nenhuma Basf ou Bayer será louca de gastar
milhões na pesquisa e desenvolvimento de um produto que será proibido por causar
danos graves à saúde ou ao meio ambiente. E que poderá resultar em processos
bilionários contra as empresas. Ou que irá matar milhões de pessoas. (Dica: é impossível
ter lucros se você mata todos os seus consumidores).
Alguns
dados confirmam essa tendência de melhora nos defensivos agrícolas. Um índice
bastante utilizado para medir o impacto ambiental de agrotóxicos é o EIQ (Environmental Impact Quotient).
Quanto maior o índice, maior a influência de um pesticida ao meio ambiente, ao
consumidor e ao trabalhador do campo.
Por
causa da inovação, o EIQ dos defensivos usados no cultivo de soja, milho,
algodão e cana-de-açúcar caiu
38% que de 2002 a 2015, segundo pesquisa
do agrônomo Caio Carbonari, da Unesp. E isso num período em que a
produtividade por hectare aumentou. Conseguimos produzir mais comida em menos
espaço e com menor impacto ambiental.
Mas
a coisa fica ainda mais interessante.
Atualmente,
uma lista com 36 defensivos aguarda análise para obtenção de registro no
Brasil. No entanto, 28 deles já têm registros em países como EUA, Japão,
Canadá, Austrália e Argentina. Isso porque o processo de avaliação e registro,
que nesses países costuma levar cerca de dois anos, no Brasil dura de 8 a 10
anos, por causa da morosidade do Ministério da Agricultura, da Anvisa e do
Ibama. (Fonte)
Sobre
isso, o professor Edivaldo Velini, diretor da Faculdade de Agronomia da Unesp
de Botucatu, comparou o EIQ dos pesticidas utilizados hoje no Brasil com o
desses que estão à espera da liberação pelos burocratas. Segundo
ele: "Os produtos que atualmente estão na fila aguardando liberação são, em
média, cerca de 30% mais favoráveis ao meio ambiente e a saúde do que os que
estão em uso".
Veja
só que situação. Existem no mundo defensivos agrícolas com mais biossegurança que os
usados hoje no Brasil, mas a lentidão e a burocracia do governo impedem a
entrada desses produtos.
Pior
ainda: pessoas que acreditam defender a natureza, como Bela Gil, Marcos
Palmeira e o Greenpeace, trabalham para que esse absurdo continue, pois estão se
opondo exatamente ao projeto
de lei que reduz essa morosidade e acelera a liberação de defensivos mais amigáveis
ao ambiente.
Na
sanha de prestar lealdade aos seus apoiadores do Leblon e de se opor aos
ruralistas, artistas acabam prejudicando o meio ambiente que acreditam
proteger. A ânsia de querer criminalizar qualquer coisa que venha do setor
rural — que, no caso, quer ter acesso mais rápido a pesticidas mais baratos e
mais eficientes — garante apenas a perpetuação do uso de agrotóxicos bem menos
eficientes.
Nelson
Rodrigues certamente exagerava quando dizia que "o indivíduo ou é ator ou é
inteligente". Mas, ao assistir aos vídeos de artistas sobre agrotóxicos, fica
difícil discordar do dramaturgo.
P.S.:
apenas como curiosidade, o Japão, que é o país com a maior expectativa de vida
do mundo, usa oito vezes mais agroquímicos do que o Brasil. E, quando se
compara a proporção de defensivos em relação à quantidade de terras cultivadas, o Brasil
fica atrás de países como o próprio Japão, Alemanha, França, Itália e Reino
Unido. (Fonte)