Enquanto
os brasileiros seguem com a respiração suspensa, insones e preocupadíssimos com
o que irá acontecer aos mensaleiros ("se eles não forem para a cadeia, a
sem-vergonhice estará institucionalizada", bradam alguns blogueiros), os reais
assaltantes do povo não apenas seguem impunes, como ainda desfilam por aí
sorridentes e desenvoltos, gozando de enorme prestígio perante a mídia e a
população.
Os
mensaleiros — meros pés-de-chinelo dentro da hierarquia criminosa estatal, os
quais serão pronta e imediatamente substituídos caso o improvável aconteça e
eles acabem tomando banho juntos em alguma penitenciária — tungaram, segundo
as recentes declarações de Marcos Valério, R$350 milhões. O que são R$350 milhões? De acordo com
dados do ano passado, R$350 milhões foi o valor que o governo federal espoliou
da população brasileira em apenas 3 (três) horas.
Isso
mesmo. A arrecadação tributária do
governo federal em 2011 foi de R$900 bilhões.
Isso equivale a R$2,47 bilhões por dia ou R$103 milhões por hora. Enquanto os mensaleiros — amadores, coitados
— levaram mais de dois anos para espoliar R$350 milhões, Guido Mantega
(Ministro da Fazenda), Arno Augustin (Secretário do Tesouro) e Carlos Alberto
Freitas Barreto (Secretário da Receita Federal) fazem o mesmo serviço em apenas
três horas. Quem são os verdadeiros profissionais?
E
isso porque estamos desconsiderando a participação dos governos estaduais e
municipais. Quando estes entram na
equação, o esbulho total anual chega a R$1,5 trilhão, o que significa que o
estado, em suas três esferas, tunga do seu bolso — em uma estimativa muito
conservadora — aproximadamente 40% da sua renda. Mas todos os cavalheiros que comandam estas
máquinas são inexplicavelmente vistos pela mídia como administradores públicos
responsáveis e socialmente conscientes.
O
mensalão era dinheiro público
desviado para o bolso de políticos; imposto é dinheiro público desviado para o
bolso de políticos, de burocratas, de funcionários públicos, de artistas, de
empreiteiras, de empresários com boas conexões e de pessoas que vivem de
subsídios. A definição de roubo segue
inalterada. O fato de o segundo
beneficiar mais pessoas do que o primeiro em nada suaviza a imutável realidade
de que tomar dinheiro de uns para dar a outros continua sendo roubo.
Não gostou?
Ok,
o leitor ainda assim acha que é muito forçado comparar impostos a roubalheiras políticas
visando projetos de poder? Sem
problemas, podemos mudar o enfoque. Que
tal compararmos o mensalão às tarifas protecionistas? É válido.
Afinal, tarifas protecionistas nada mais são do que um arrego que o
consumidor tem de pagar ao estado para poder adquirir produtos fabricados por
estrangeiros. Este arrego é instituído
com a declarada e explícita intenção de proteger
aquelas indústrias que o estado considera especiais e que, por isso, gozam de
privilégios que outros setores da economia não usufruem.
O
mensalão era um arrego cobrado por políticos para aprovar as medidas criadas
por um determinado partido político.
Tarifas protecionistas são um arrego extorquido da população com o
intuito de possibilitar que determinadas oligarquias empresariais continuem
controlando determinados setores da economia, sem sofrer concorrência. O mensalão privilegiava alguns políticos com
o dinheiro da população; tarifas protecionistas privilegiam algumas empresas em
detrimento da liberdade de escolha e do poder de compra da população. Os mensaleiros agiam às escondidas, pois
sabiam que seus atos eram ilícitos. Os empresários
privilegiados agem
abertamente, pois se julgam legitimamente donos do direito de proibir a
população (consumidora
e empreendedora)
de adquirir o que ela quer.
Qual
o tamanho do esbulho protecionista? Comecemos
com o esbulho geral, que envolve todo o valor arrecadado pelo imposto de
importação. Peguemos os dados a partir
de 2005, ano em que o mensalão foi descoberto.
De 2005 até o final de 2011, o total arrecadado pelo imposto de
importação foi de R$112,6
bilhões, valor 322 vezes maior que o mensalão.
Acha
que é injusto comparar o mensalão a um imposto geral sobre
importações? Sem problemas. Comparemos então o mensalão exclusivamente
às
"tarifas cobradas sobre produtos que entram no país com preços
considerados
desleais", o que é popularmente conhecido como 'defesa
contra o importado barato', atividade essa em que o senhor Fernando
Pimentel está em vias de adquirir excelência.
De 2005 a 2011, o valor espoliado por esta única tarifa subiu 801%,
acumulando um esbulho total de R$1,02 bilhão, valor 3 vezes maior que o
mensalão. Ou seja: a população foi
tungada em mais de R$1 bilhão apenas para poder exercer seu direito natural de comercializar
e adquirir produtos mais baratos da China.
Esse é o arrego
que a população tem de dar a políticos para poder comprar lâmpadas e sapatos chineses,
além de pneus, batata, tijolos, vidros, vários tipos de máquinas, reatores para
lâmpadas ou tubos de descarga, vagões de carga, disjuntores, cordas e cabos,
móveis etc., itens que representam um verdadeiro risco ao bem-estar nacional.
Ainda não?
Ainda
não se convenceu? Mesmo se eu disser que
o mensalão não teria sido possível sem o dinheiro de impostos? Ok, sou persistente. Vamos então mexer diretamente no seu
bolso. Vejamos o quanto o estado, por
meio do seu monopólio da moeda e em conjunto com o sistema bancário, já
subtraiu do seu poder de compra.
Tomando
novamente o ano de 2005 como base, até o mês de agosto de 2012, toda a expansão
monetária e do crédito orquestrada pelo Banco Central em conjunto com o sistema
bancário de reservas fracionárias elevou os preços dos bens e serviços — de
acordo com as suaves
estatísticas do IBGE, um órgão do governo — em singelos 46,5%.
Isso
significa que, em menos de 8 anos, um carro popular que custava R$30.000 passou
a custar R$43.950. E o povo ainda comemora
dizendo "Ah, pelo menos agora o crédito está mais barato!", sem se dar conta de
que é justamente essa expansão
artificial do crédito o que eleva os preços. No final, o sujeito está mais endividado, o
poder de compra do seu dinheiro caiu, mas ele acha que está em melhor
situação porque as 99
prestações de seu Gol 1.0 — as quais não serão quitadas — estão um pouquinho mais baratas.
Que
o cidadão comum seja ignorante no que concerne a uma simples relação econômica de
causa e efeito é algo compreensível.
Agora, ver acadêmicos e a mídia louvando essa situação e tecendo elogios
à "política econômica do governo" é realmente algo nauseante. Uma inflação de preços acumulada em 46,5%
significa que o poder de compra da moeda — cuja proteção é uma atribuição sob
total monopólio do estado — foi destruído 32%.
Um terço do poder de compra da moeda evaporou-se em menos de 8 anos. E os burocratas do Banco Central, que são os
responsáveis por esse descalabro e que proíbem você de utilizar outras moedas
mais sólidas (já experimentou abrir uma conta bancária utilizando francos
suíços?), ainda desfilam na imprensa com aquele ar de doutores
oniscientes. E todo mundo os respeita.
Quando comparados
ao assalto orquestrado pelo Banco Central em conluio com o sistema
bancário de
reservas fracionárias, à carga tributária que confisca 40% da nossa
renda e ao protecionismo que nos impede de comprar produtos baratos do
exterior, larápios com R$350 milhões estão apenas fazendo um simples
piquenique com o nosso dinheiro.
Para fechar com estilo
Não
bastasse tudo isso, agora ainda temos de aturar a manipulação dos índices de
preço. O governo, que jamais pode ser
acusado de bobo, ao perceber que a inflação de preços estava tendendo a ficar
fora de controle, não titubeou: decidiu reduzir pontualmente os impostos que
incidem justamente sobre aqueles itens que têm mais peso no cálculo dos índices
de inflação ao mesmo tempo em que aumentou os impostos sobre aqueles itens que
nem sequer entram no cálculo da inflação (como os carros importados).
O
gráfico a seguir mostra a variação de dois índices: o Índice de Preços
ao
Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial do governo e mensurado pelo
IBGE, e o
Índice do Custo de Vida (ICV), mensurado pelo Dieese. Note que ambos
variam de forma simultânea e
muito semelhante — pelo menos até maio deste ano, quando o governo
começou a
brincar de fazer alterações pontuais nos impostos. O IPCA caiu, o ICV
subiu para perto do teto da meta de inflação. Em junho, enquanto o IPCA
foi de 4,91%, o ICV
foi de 6,41% — 31% maior do que o IPCA.

Como
isso vai terminar ainda é uma incógnita.
Nossa missão aqui é apenas informar.
Ano que vem, quando entrar em vigor as reduções de impostos sobre a
energia elétrica, é de se esperar novas distorções. Como disse o presidente do IMB Helio Beltrão:
O IPCA sob o governo Dilma passou agora a obedecer a Lei de Goodhart, a qual
diz que "uma vez que um indicador social ou econômico adquire status de meta de
política econômica, ele perde o conteúdo informativo que outrora o qualificara a servir como meta."
Conclusão
A
população brasileira é triplamente assaltada.
Além de ter aproximadamente 40% da sua renda confiscada via impostos e
ter
sua liberdade de adquirir produtos estrangeiros tolhida pelo governo —
em prol
de grandes grupos empresariais —, ela ainda tem de aturar uma
destruição de
32% no poder de compra da sua moeda em menos de 8 anos. Ao mesmo tempo
em que encarecem as coisas aqui dentro, os burocratas proíbem a
população de comprar barato do exterior. Para completar, a destruição
do poder de
compra da população é mascarada e subestimada pelos índices oficiais de
inflação para não prejudicar a popularidade do governo.
Cadeia
para os mensaleiros? Sem dúvida. Mas por que parar neles? Em um mundo
genuinamente ético e justo, Lula, José Dirceu, Delúbio Soares, João Paulo Cunha
e José Genoino estariam dividindo o chuveiro com Guido Mantega, Fernando
Pimentel e toda a cúpula do Banco Central em Catanduvas.
Acha
que Joaquim Barbosa está à altura desta sentença?