Os ambientalistas seguem implacáveis em sua sanha de fazer a humanidade
retroceder ao padrão de conforto da época das cavernas.
Em Belo Horizonte,
já está em vigor uma lei que proíbe os supermercados e padarias de distribuir
sacolas plásticas aos seus clientes (pelo que fiquei sabendo, tal lei será
implantada em São Paulo
no início do ano que vem). Segundo
consta, o principal objetivo de se retirar as sacolas plásticas de circulação é
porque peixes e tartarugas marinhas estão comendo essas sacolas e sofrendo
alguma espécie de mutação ou contaminação ou qualquer mentira que o valha. É claro que o fato de o mar ainda não ter
chegado a Belo Horizonte, e o fato de uma tartaruga marinha ser tão conhecida
por aqui quanto um boto voador, são detalhes menores, que em nada tiram o
brilhantismo e a genialidade da ideia.
Assim, ao fazer suas compras nesses estabelecimentos, ou você tem de comprar
uma sacola feita de um plástico vagabundo supostamente biodegradável e reciclável (chamada de sacola
compostável), a qual rasga assim que você coloca uma garrafa de Coca-Cola ou um
simples recipiente de leite longa vida, ou você coloca suas compras dentro de
um caixote de papelão — provisoriamente distribuídos pelos estabelecimentos —
e sai ridiculamente carregando aquela estrovenga, apoiando-a em sua barriga tal
qual um marsupial.
Há também a terceira opção, que é simplesmente a de sair carregando suas
compras como um equilibrista, utilizando para tal façanha braços, pernas e,
principalmente, a cabeça, como aquelas lavadeiras que eximiamente carregam
trouxas de roupa no cocuruto.
É claro que os parasitas que aprovaram essa lei são uma gente chique que só
vai ao supermercado de carro com motorista, e que possuem capatazes para
carregar suas compras. Eles praticamente
não são afetados por essa imbecilidade.
Quem realmente sai perdendo? Os
mais pobres, é claro. Aquele sujeito que
não tem carro, vai a pé e mora em um prédio sem elevador, e que agora terá de
subir escadas equilibrando seus caixotes de papelão na cabeça. Ou isso, ou ele simplesmente compra as
sacolas compostáveis (afinal, somos um país de endinheirados) e fica na torcida
para que elas não rasguem no trajeto, ou ao passar na catraca do ônibus ou ao
subir as escadas.
De fato, uma simples ida ao supermercado agora se tornou uma aventura
imprevisível para o pobre. Ele nunca
saberá se suas compras chegarão inteiras ou se ficarão pelo caminho. A adrenalina será constante.
Não só os pobres, mas também os mais velhos se estreparam com essa nova
lei. A vovó que vai à padaria comprar
quitutes não mais ganhará sacolas para carregar suas compras; ou ela sai
carregando caixotes de papelão (atravessar a rua assim é uma maravilha) ou
desembolsa uma grana extra para comprar sacolas compostáveis que vão rasgar
assim que ela chegar à primeira esquina, deixando aquela maçaroca de ovos e
leite pelo caminho.
Embora por enquanto esteja restrita a apenas uma cidade, pode ter certeza,
leitor, de que essa maravilha de lei ainda chegará a um supermercado próximo de
você. Ou a gente declara guerra aos
ambientalistas ou ainda vamos acabar morando em tabas, comendo raiz de árvore e
dialogando na base do au-au e miau, pois a voz humana será considerada ofensiva para o macuquinho-da-várzea.