"Tá
faltando emprego!"
Essa
sempre foi uma exclamativa muito frequente no Brasil. Curiosamente, uma outra exclamativa - que
aparentemente denota o oposto desta - também sempre se manteve válida,
independente da época:
"Tá
sobrando trabalho a ser feito!"
Pare
pra pensar: vivemos em um mundo de escassez.
Nenhum bem ou serviço surge pronto do nada. Todos eles precisam ser criados e
trabalhados. Um carro não surge do
nada. É preciso trabalhar o aço, o
alumínio, a borracha e o plástico que vão formá-lo. E esses quatro componentes também não surgem
do nada. Eles precisam ser extraídos da
natureza e/ou fabricados. O mesmo é válido
para todos os outros bens de consumo que você possa imaginar, de laptops a
aviões, passando por parafusos, palitos de dente e fio dental. Todos precisam ser trabalhados.
Da
mesma forma, o fato de você estar com fome não vai fazer com que uma pizza
surja pronta na sua frente. Alguém
precisa trabalhar para fazê-la. E os
ingredientes utilizados na fabricação dessa pizza, por sua vez, também não
surgiram do nada. Todos eles precisaram
ser fabricados e/ou plantados e colhidos.
Ou
seja: não vivemos na abundância. As
coisas não existem fartamente à nossa disposição. Todas elas precisam ser trabalhadas. Sendo assim, sempre haverá, em todo e
qualquer lugar, algum trabalho a ser feito.
Seja na fabricação de um bem de consumo, seja na prestação de algum
serviço - nem que seja a limpeza de uma janela, a troca de uma lâmpada ou a limpeza
de algum banheiro.
Donde
chegamos ao ponto principal: por que há escassez de emprego se há uma
infinidade de trabalho a ser feito?
Ora,
esse descompasso só pode ser causado por algum tipo de interferência no mercado
- isto é, na arena onde a demanda por bens e serviços e a oferta de mão-de-obra
para executá-los se equilibram.
Quando
os austríacos dizem que num livre mercado genuíno não haveria desemprego, eles
estão se baseando justamente no fato de que vivemos em um mundo de escassez
onde sempre há algum trabalho a ser feito.
Por
exemplo, num mercado totalmente desregulado, você acharia facilmente alguém disposto
a lhe pagar - sem medo da justiça trabalhista - para trocar uma lâmpada ou
limpar uma janela diariamente. Porém, a
nossa realidade é outra: você não tem nem a opção de varrer o chão do
McDonald's de graça, pois o gerente morreria de medo de você entrar na Justiça
do Trabalho contra ele.
São
exatamente as regulamentações que o estado impõe ao mercado de trabalho -
encargos sociais (INSS, FGTS normal, FGTS/Rescisão, PIS/PASEP, salário-educação,
Sistema S) e trabalhistas (13º salário, adicional de remuneração, adicional de
férias, ausência remunerada, férias, licenças, repouso remunerado e feriado,
rescisão contratual, vale transporte, indenização por tempo de serviço e outros
benefícios), além do salário mínimo - que provocam esse descasamento entre
demanda por trabalho e oferta de mão-de-obra.
O
que é mais curioso: como dito, a demanda por trabalho é infinita e a oferta de mão-de-obra
é limitada. Em tal cenário, seria de se
esperar um pleno emprego.
Porém,
as intervenções governamentais conseguem a proeza de inverter as coisas: a
demanda por trabalho, antes infinita, passa a ser mais limitada que a oferta de
mão-de-obra - donde surge o desemprego.
E
essas intervenções governamentais não apenas geram o desemprego, como também
engessam os salários do setor privado.
Afinal, é ele quem tem de sustentar o balofo setor público. Como tal tarefa exige um confisco maciço de
recursos, sobra pouco para ser aproveitado em melhorias salariais. Enquanto esse gargalo não for resolvido (o
setor privado sustentando um setor público guloso), falar em educação como
único meio de gerar melhorias salariais beira o cômico.
Como
mostramos em nosso boletim
da economia brasileira (no item rendimentos), mesmo o ano de 2008 tendo
sido considerado o de maior crescimento econômico dos últimos 20 anos, os
salários do setor privado ficaram praticamente estagnados - ao passo que os do
setor público seguiram crescendo.
Sem
corte de gastos, não será possível um corte de impostos. E sem corte de impostos, não haverá aumento
expressivo da renda. Não há educação que
resolva isso.