O
relatório
publicado ontem pelo IBGE sobre a taxa de desemprego de fevereiro
confirma o
que já vínhamos apontando aqui há muito.
Eis o gráfico das taxas de desemprego:
E
eis o trecho esclarecedor, com grifos meus, destacando-se a variação
anual (em
relação a fevereiro de 2009):
A taxa de desocupação [...] recuou
1,1 ponto percentual em relação a fevereiro de 2009 (8,5%).
A população desocupada [...] recuou (-11,3%) em relação a
fevereiro de
2009 (menos 220 mil pessoas). A população ocupada [...] cresceu
3,5% (mais 725 mil postos de
trabalho) em relação a fevereiro de 2009.
O número de trabalhadores com carteira assinada ... [subiu]
em relação a fevereiro de 2009, alta de 6,4% (mais 598 mil
empregos com
carteira assinada).
O rendimento médio real habitual
dos trabalhadores (R$ 1.398,90) subiu
0,9% frente a fevereiro de 2009. A massa
de rendimento real efetivo dos ocupados (R$ 30,4 bilhões) caiu
5,2% na análise anual.
Ou seja: o emprego cresce, mas os
salários ficam estagnados ou até mesmo caem.
Ou, colocando de outra forma, o emprego cresce justamente porque os
salários estão estagnados.
Compare a evolução do rendimento
médio real da população ocupada:

De
fevereiro de 2003 até fevereiro de 2010, houve um aumento real de 12%.
Em oito anos.
Uma média de 1,4% ao ano. Vale
lembrar que os últimos oito anos foram considerados os de crescimento
econômico
mais espetacular desde a primeira metade da década de 1970. Por isso
mesmo, o crescimento real da renda pode
ser considerado pífio.
Porém,
agora vem o pior: os empregados do setor privado com carteira de
trabalho
assinada foram os que perderam no último ano.
Para estes, o salário real caiu. Por
isso a subida do emprego. Salários mais
baixos aumentam a demanda por mão de obra.

Mas
a coisa fica ainda pior:
Essa
tabela de Excel mostra que o rendimento médio real dos trabalhadores
do
setor privado com carteira assinada está atualmente no mesmo nível de junho de
2002!
Você
realmente deve clicar
na
tabela e ver (na coluna da esquerda, desde lá de cima da planilha)
que o
rendimento real dos trabalhadores do setor privado com carteira assinada
caiu
continuamente de 2002 até 2010, e só agora voltou àquele nível de 2002.
Isso
explica o aumento do número de postos de trabalho com carteira assinada.
Os salários estão estagnados há oito anos, o
que de fato estimula a demanda por mão de obra e, consequentemente, o
emprego.
Quando
se ouve falar que o salário real subiu, está-se levando em conta os
salários de
toda a população, inclusive funcionários públicos. Porém, se olharmos
exclusivamente os assalariados
do setor privado com carteira assinada, a situação fica desesperadora:
existe
emprego (e é disso que o governo se gaba), mas não existe remuneração.
Esse fenômeno de oferta de
emprego relativamente alta e salários constantemente baixos foi
explicado aqui, e mais do que
nunca permanece válido. Tristemente válido, aliás, pois é contornável, como explica o artigo.