N. do E.: este artigo foi adaptado à realidade brasileira.
Quão sustentável é o modelo político do século XX
nesta atual era digital? Eu não apostaria nele.
Os seguidos fracassos e falhas dos governos estão se
tornando tão óbvios, e seus custos, tão intensos, que tudo isso terá de forçar
alguma mudança. Alguém terá
de ceder.
Apenas pense nas mais recentes calamidades fiscais
dos estados e em todos os seus programas que foram criados com ampla fanfarra,
mas que hoje fracassaram retumbantemente. Todos eles começaram com altas
ambições, tendo "especialistas" em seu comando, contando com volumosos recursos
dos pagadores de impostos, nababescas propagandas, e todo o poder do estado por
trás delas. E no que deram? Em tragédia.
No que diz respeito aos serviços fornecidos pelo
estado, não há segurança, não há educação, não há saúde, não há infraestrutura
e não haverá aposentadoria. Quem se deu bem foram apenas os burocratas anônimos
do alto escalão, exatamente aqueles que criaram tudo dizendo que seria uma
maravilha para todos. Todo o resto do povo foi enganado e esbulhado pelo
estado. Pagou impostos, pagou a previdência, recebeu em troca apenas descaso, e
hoje está desempregado e endividado. E não haverá dinheiro para a sua prometida
aposentadoria.
A social-democracia
prometida e propagandeada pelo estado acabou. Foi atropelada pela realidade
econômica. Políticos e burocratas criaram o estado de bem-estar prometendo
redistribuir riqueza, fornecer serviços "gratuitos" e melhorar a vida de todos;
apenas se esqueceram de que, para redistribuir riqueza e utilizá-la para bancar
serviços "gratuitos", a riqueza não apenas tem de já ter sido criada, como
ainda tem de ser continuamente criada.
Mais: tem de ser criada a uma taxa maior
do que é redistribuída. Caso contrário, todo o sistema sucumbe.
E, para a riqueza ser criada nessa velocidade, é
necessário haver capitalismo e livre mercado. E isso foi exatamente o que não
houve.
O mesmo erro de sempre
O que deu
errado? Aquilo
que sempre dá errado quando as elites políticas se imaginam capazes de
controlar a economia e o mundo apenas com inteligência, recursos e poder.
Inevitavelmente, a arrogância intelectual acaba sendo confrontada por uma realidade
que não pode ser controlada. E a realidade sempre se impõe e sai vencedora.
Humilhada e derrotada, a classe política se limita apenas a apenas inventar as
desculpas de sempre, prometendo novos paliativos toscos, até finalmente ser
obrigada a jogar a toalha e reconhecer os fatos da vida.
Eis o grande erro do século XX: a crença de que o
governo pode fazer de tudo, desde que haja "pessoas capazes" em sua
administração, recursos suficientes, e poder. Essa arrogância derrubou regimes
ao redor do mundo, desde Lênin há 100 anos até Obama e sua trágica socialização do
sistema de saúde americano. Essa teoria de que o estado pode tudo levou à
criação de monstruosas burocracias, justificou várias guerras, e impulsionou a
criação de aparatos legais e regulatórios com alcances imperiais.
A fé no estado ainda sobrevive entre as pessoas,
embora com cada vez menos convicção. Mas os fracassos sucessivos conseguiram
gerar dúvidas até mesmo entre intelectuais pró-regime e políticos
convencionais. Porém, como todo o aparato estatal -- bem como as estratégias
utilizadas para arrancar dinheiro das pessoas para financiá-lo -- depende deste
modelo, uma mudança de paradigma não virá facilmente.
Um
novo modelo
Para os jovens de hoje, seu distanciamento deste
modelo de governo é palpável. Difícil imaginar como deve ser para um
adolescente de 20 anos assistir ao debate político. Pessoas criadas na era
digital vivem em um mundo completamente distinto, um mundo de opções seguras e
de alta qualidade criadas pelo gênio humano. Recursos e bens de capital que
antes só estavam disponíveis para as elites hoje estão ao alcance de todos,
graças às inovações tecnológicas e à genuína democratização criada pelo livre
mercado.
Hoje, qualquer pessoa pode fazer filmes pelo
YouTube, e ganhar
dinheiro com isso. Qualquer pessoa pode publicar livros pela internet.
Qualquer pessoa tem o mesmo acesso à informação que todas as outras. Qualquer
pessoa pode fazer da sua casa um hotel
e ganhar dinheiro com isso. Qualquer pessoa pode fazer do seu carro um meio de transporte de
passageiros, e ganhar dinheiro com isso. Qualquer pessoa pode ser um empreendedor
sem ter de pedir autorização ao estado. Qualquer pessoa pode até mesmo criar uma nova moeda.
O mundo que eles mais amam está nas mídias sociais e
nos aplicativos de smartphone. Nenhum foi criado por decreto governamental. Não
houve legislação. Não receberam financiamento estatal. Nenhuma burocracia os
aprovou. São amplamente desregulamentados. Não há nenhuma instituição coerciva
impingido ordens para que funcionem bem.
Trata-se, na prática, de um cenário em que impera a "anarquia
da comunicação", e esta é gerenciada não por políticos poderosos mas sim por
criptografias e por empreendedores que se sujeitam apenas aos veredictos dos
consumidores. A ausência de um controle feito de cima para baixo é a energia
que os impulsiona. E funciona bem para todos.
Decisões sobre onde passar as férias, onde comer, o
que comprar, o que vestir, a qual entretenimento ir -- em suma, todo o lado bom
da vida -- são tomadas de acordo com um fluxo ininterrupto de informações que
chegam a seus smartphones, os quais eles utilizam também para avaliar todos os
tipos de bens e serviços de acordo com sua qualidade e com o fato de terem ou
não realmente melhorado sua qualidade de vida.
No mundo digital, ninguém está no topo da cadeia de
comando impondo ordens. Nenhum indivíduo ou instituição exerce veredictos
decisivos sobre vencedores e perdedores. Isso fica a cargo de todos os
consumidores (usuários) que atuam na rede, que é um sistema disperso de coleta
e processamento de informações. Tal sistema sabe que há muito mais sabedoria
nos julgamentos cumulativos feitos por milhões de indivíduos do que nos caprichos
de uma autoridade centralizada.
Para essa geração jovem, é assim que o mundo
melhora: uma escolha de cada vez.
Dois
modelos, mundos totalmente separados
A distância que separa este modelo de gerenciamento
digital daquele observado no cenário político nacional não poderia ser mais
abissal. Na política, há candidatos prometendo restaurar as glórias do passado.
Outros prometem futuros brilhantes e progressistas. O que impera é uma visão
essencialmente revanchista. Esquerda e direita brigam entre si para recuperar o território que cada uma acredita ter perdido. Quando o debate não é apenas
patético e pastelão, ele é repleto de casos de corrupção e favorecimento
indevido. Esses são os dois cenários reais da política: pastelão e corrupção.
Se a política fosse um aplicativo de smartphone, sua
avaliação seria tão epicamente baixa (menos que uma estrela) que ninguém jamais
faria seu download.
Como essas duas visões de mundo podem coexistir? Por
enquanto, seguem coexistindo, mas os custos estão cada vez mais evidentes, e os
benefícios, cada vez mais ilusórios. Apenas olhe para seu contra-cheque (ou
para seu cupom fiscal que discrimina os impostos embutidos em cada item
comprado no supermercado) e veja quanto custa esse sistema antiquado e
patético. Jovens que estão começando sua vida adulta agora estão preocupados
com emprego, aluguel, contas, planos de saúde e carro. No entanto, eles olham
para seus salários e para seus cupons fiscais e vêem uma vasta quantia de
dinheiro lhes sendo confiscada e direcionada ao estado. Não há opção, ao
contrário de todas as outras áreas de vida.
Crucialmente, os supostos benefícios trazidos pelos
gastos do governo e por toda a sua onipotência não são de maneira alguma
óbvios. O prestígio que outrora o governo e seus programas usufruíam parece ter
evaporado. Apenas pense nisso. Gerações anteriores viram grandes obras,
aberturas de estradas, construções de hidrelétricas, exploração do espaço e
épicas batalhas no cenário internacional. Há décadas que nenhuma dessas
demonstrações de impressionismo governamental aparece para o público crédulo.
A
ilusão do governo barato está acabando
Antes, as pessoas pareciam genuinamente acreditar
que estavam obtendo grandes ganhos com os programas do governo a custos que
pareciam relativamente baixos -- no mínimo, tais custos eram disfarçados por
meio de variados truques, como inflação, imposto de renda retido na fonte (mecanismo diabolicamente
genial, que oferece restituições ao longo do ano e confere a impressão de
se estar ganhando dinheiro do governo) e endividamento barato. Mas esses dias de delícia acabaram. Os
custos passaram a ser cada vez mais intensamente sentidos no século XXI, ao
passo que os ilusórios benefícios se comprovaram uma enganação.
Previdência, saúde, educação, segurança,
infraestrutura: não apenas nada funciona, como ainda custam muito caro. Até
mesmo coisas como controle de qualidade dos produtos e serviços já estão sendo
feitos pelos aplicativos e pelas redes sociais. E com resultados extremamente
superiores do que os sucessivos
fracassos do governo.
Os maiores pavores das pessoas hoje sempre envolvem
encontros com agentes do governo: DETRAN, Receita Federal, Alfândega e qualquer
repartição pública.
Para
piorar, eleições
O ápice desse espetáculo de degeneração política são
as eleições. Votar em alguém se tornou um ato tão repulsivo, que passou a ser
moralmente doloroso. Não há o certo; há apenas o menos repugnante. A escolha
que você faz se baseia no temor de que o outro candidato será ainda pior. Você não
vota desejando o mundo que aquele candidato prometeu criar; você apenas quer
impedir que outro seja eleito. De certa forma, voltamos àquela condição pré-moderna,
algo corriqueiro na era das privações e da luta pela sobrevivência. Isso simplesmente
não mais tem lugar no século XXI.
Séculos atrás, David Hume explicou que todo governo
-- mesmo com seus vastos poderes -- só consegue se manter enquanto a população acreditar
que ele está fazendo mais bem do que mal. A existência de algum nível de
consenso é crucial para a estabilidade do regime. Mas o que acontecerá quando a
credibilidade moral e prática do governo se esfacelar ao ponto do
desaparecimento? Aí você terá
uma verdadeira mudança de paradigma.
Há várias características da política do século XX
que não mais se aplicam no século XXI. Todas aquelas pessoas criadas na era digital estão
cientes disso, mesmo sem saber vocalizar esse sentimento. Nenhum sistema de governo pode
sobreviver por muito tempo a este crescente volume de anomalias que está
arrebentando o paradigma político vigente. Algo terá de mudar.
Conclusão
O que o governo fez de bom para você recentemente? Se
você não consegue responder a esta pergunta rapidamente, você já percebeu o problema
central da vida atual. Resta agora descobrir a resposta para tipo de sociedade
que queremos construir para o futuro.