Após toda a experiência democrática, o eleitorado já
deveria reconhecer que, na melhor das hipóteses, elegerão incompetentes (e isso
é tudo pelo que podemos torcer); na pior, escroques.
No entanto, por piores que sejam os resultados, e por
piores que sejam as consequências destes resultados, aquele ingênuo e constante
mantra pró-democracia seguirá impávido: "É só elegermos as pessoas
certas".
O único problema é que as "pessoas certas"
não estão (e nunca estarão) concorrendo a cargos públicos.
Em vez disso, continuaremos tendo de aturar "o
político comum que não apenas é um imbecil", como escreveu H.L. Mencken,
"mas que também é dissimulado, sinistro, depravado, patife e
desonesto".
Mencken foi certeiro ao dizer que, para ser eleito e
continuar sendo eleito para qualquer cargo público, é necessária a total
suspensão de toda e qualquer ética ou bom senso que uma pessoa eventualmente
possua. Mesmo aqueles que começaram sua carreira política com a melhor
das intenções, e que possuem capacidades mensuráveis que o tornariam
bem-sucedido em qualquer campo, rapidamente percebem que as habilidades
necessárias para ser bem sucedido na política não são exatamente aquelas
requeridas fora da política.
Na política, a qualidade está sempre em constante
declínio. As únicas melhorias ocorrem nos procedimentos que envolvem más
ações: mentir, fraudar, iludir, manipular, trapacear, roubar e até matar.
Os preços dos serviços políticos estão constantemente aumentando, tanto em
termos do dinheiro desviado pela corrupção quanto das propinas dadas em troca
de proteção (também conhecidas como 'contribuições de campanha').
E, o que é pior, não há prestação de contas e nem
imputabilidade: quanto mais alto o cargo, maior a transgressão criminosa da
qual o sujeito pode se safar.
Políticos claramente não querem se eleger por causa
de dinheiro. Quase todos eles já são muito ricos, qualquer que seja o
padrão de mensuração. Pesquise o patrimônio dos senadores e dos deputados
do seu estado. Sendo assim, fica a pergunta: o que faz com que os ricos e
bem-sucedidos queiram se eleger? Em seu livro The
Pursuit of Attention: Power and Ego in Everyday Life (A Busca
pela Atenção: Poder e Ego na Vida Cotidiana), o sociólogo Charles Derber diz
que os políticos desde "Cesar e Napoleão têm sido conduzidos por egos
presunçosos e por uma insaciável fome pela adulação pública".
Ao passo que a mais alta forma de autoestima é a
busca por atributos saudáveis, como liberdade, independência, confiança e conquista,
a forma mais baixa é a necessidade de ter o respeito dos outros, a necessidade
de status, de fama, de glória, de reconhecimento, de atenção, de reputação, de
apreço, e até mesmo de dominância. Tudo é
a glória de mandar.
Hoje, vemos essas características presentes em
praticamente todos os políticos de uma democracia: a constante necessidade de
status e reconhecimento. Os fins -- a necessidade de glória, de
reconhecimento, de atenção, de dominância e até mesmo a superação de um
complexo de inferioridade -- justificam quaisquer meios maquiavélicos.
O fato de a democracia permitir que toda e qualquer
pessoa possa se eleger -- seja por meio de ligações poderosas, ou por ser rica,
ou por ter uma personalidade popular -- faz com que tal sistema, bem como as
posições de liderança oferecidas, se torne um chamariz de sociopatas. O
indivíduo auto-realizado não tem interesse na política. Em contraste,
aqueles que sofrem continuamente a necessidade de estima são atraídos pela
política como moscas a uma lata de lixo.
A capital nacional ser uma podridão moral se deve ao
fato de que uma certa classe de pessoas -- sociopatas -- está no total controle
das grandes instituições. Suas crenças e atitudes são explicitadas por
meio do tecido econômico, político, intelectual e psicológico/espiritual do
país.
O filósofo religioso Santo Agostinho era pessimista
quanto à natureza humana, e acreditava que os seres humanos não eram propensos
ao bem, à honradez e à probidade, mas sim a fazer o mal. "Por causa do
pecado de Adão, a degradação, o orgulho, a vaidade e a libido dominandi --
a avidez pela dominação -- incitam as pessoas a fazerem guerras e a cometer
todos os tipos de violência", explica Mark Mattox em Saint
Augustine and the Theory of Just War.
A libido dominandi é a
característica da natureza humana que atrai os sociopatas para o governo e suas
agências, pois é assim que eles poderão exercitar sua lascívia de dominar e
controlar cada aspecto da vida alheia. Essa é a essência da política, é o
que impulsiona e excita todos os políticos. A cidade dos homens é governada
pela luxúria do poder, e o poder tem esta capacidade de embevecer os meros
mortais.
Não é de se estranhar, portanto, que até mesmo
pessoas geralmente boas se corrompam e adquiram propensões ditatoriais tão logo
entrem para o estado.
Aqueles que querem ser eleitos e que querem se
manter no poder sendo seguidamente reeleitos têm de estar preparados para
quebrar todas regras morais que conhecem, se os fins assim justificarem.
Como já havia vaticinado Mencken, já se tornou
"uma impossibilidade psíquica um cavalheiro se tornar membro do
governo". A democracia possibilita que os demagogos, "em
virtude de seu talento para o absurdo e para as tolices", insuflem a
imatura imaginação da massa.
E conclui:
Os
políticos raramente, se nunca, são eleitos apenas por seus méritos — pelo
menos, não em uma democracia. Algumas vezes isso acontece, mas apenas por algum
tipo de milagre. Eles normalmente são escolhidos por razões bastante distintas,
a principal delas sendo simplesmente o poder de impressionar e encantar os
intelectualmente destituídos.
Será
que algum deles iria se arriscar a dizer a verdade sobre a real situação do
país? Algum deles iria se abster de fazer promessas que ele sabe que não poderá
cumprir — que nenhum ser humano poderia cumprir?
Iria
algum deles pronunciar uma palavra, por mais óbvia que seja, que possa alarmar
ou alienar a imensa turba que se aglomera ao redor da possibilidade de usufruir
uma teta que se torna cada vez mais fina?
Eles
todos prometerão para cada homem, mulher e criança no país tudo aquilo que
estes quiserem ouvir. Eles todos sairão percorrendo o país prometendo remediar
o irremediável, socorrer o insocorrível, e organizar o inorganizável. Todos eles
irão curar as imperfeições apenas proferindo palavras contra elas. Quando um
deles disser que dois mais dois são cinco, algum outro irá provar que são seis,
sete e meio, dez, vinte, n.
Em
suma, eles irão se despir de sua aparência sensata, cândida e sincera e
passarão a ser simplesmente candidatos a cargos públicos, empenhados apenas em
capturar votos. Nessa altura, todos eles já saberão -- supondo que até então
não sabiam -- que, em uma democracia, os votos são conseguidos não ao se falar
coisas sensatas, mas sim ao se falar besteiras; e todos eles dedicar-se-ão a
essa faina com vigoroso entusiasmo.
A
maioria deles, antes de o alvoroço estar terminado, passará realmente a
acreditar em sua própria honestidade. O vencedor será aquele que prometer mais
sem a menor possibilidade de cumprir o mínimo.
Eles sabem que, para se ganhar eleições, pode-se
fazer o diabo.
Perguntas
democráticas
Falando especificamente sobre o sistema democrático
-- este tão deificado arranjo --, algumas perguntas básicas se fazem necessárias:
E se você descobrir que, não importa em quem você
vote, a mesma elite política, os mesmos lobistas, e os mesmos grupos de
interesse sempre estarão no comando?
E se você descobrir que o governo será o mesmo não
importa quem vença as eleições?
E se você descobrir que existe apenas um grande
partido político, o qual é subdividido em duas alas, social-democrática e
socialista? E se você descobrir que este partido único criou leis
eleitorais que tornam praticamente impossível o surgimento e o sucesso de uma
concorrência política?
E se você descobrir que ambas as alas querem
impostos, assistencialismo, protecionismo, regulamentações e crescimento
contínuo do governo, diferindo apenas muito polidamente quanto aos meios para
se alcançar estes objetivos?
E se você descobrir que o propósito da democracia
moderna é o de convencer as pessoas de que elas podem prosperar não pelo
trabalho e pela criação voluntária de riqueza, mas sim pela apropriação da
riqueza de terceiros?
E se você descobrir que a democracia desvirtua
totalmente o conceito que as pessoas têm de direitos naturais, fazendo com que
elas passem a acreditar que tomar a propriedade alheia é um "direito
adquirido"?
E se você descobrir que o governo é capaz de
persuadir as pessoas de que é perfeitamente aceitável adquirir riqueza por meio
da atividade política?
E se você descobrir que a ideia de que precisamos de
um governo para tomar conta de nós não passa de uma ficção que foi exitosamente
perpetrada para aumentar o tamanho e o poder do estado? E se você
descobrir que o objetivo dos políticos e burocratas que ocupam o governo é
expandir seu controle sobre a população?
E se você descobrir que essa mistura de governo
inchado e democracia gera dependência? E se você descobrir que, tão logo
esse tal 'governo democrático' cresce, ele começa a enfraquecer as pessoas,
acabando com sua auto-suficiência? E se você descobrir que um governo
inchado destrói a iniciativa e a motivação das pessoas, e que a democracia as
convence de que a única motivação de que precisam é 'votar certo' e aceitar os
resultados?
E se você descobrir que o sucesso do governo depende
de sua habilidade de fingir e enganar?
E se você descobrir que o governo fez o povo
acreditar que tem voz, que os políticos eleitos são o próprio povo, e que os
políticos são servidores do povo?
E se você descobrir que o governo fez o povo
acreditar que a maioria democrática nunca erra?
E se você descobrir que a tirania da maioria é tão
destrutiva para a liberdade humana quanto a tirania de um indivíduo
louco?
E se você descobrir que a democracia, em seu formato
atual, é extremamente perigosa para as liberdades individuais?
O que você faria?
Conclusão
O fato é que, qualquer crítica à democracia, por
mais embasada que seja, inevitavelmente rende ao crítico epítetos extremamente
originais, como "fascista", "defensor da ditadura",
"saudosista da idade média" e afins, em uma típica comprovação da
mentalidade binária desses "cientistas políticos".
Aparentemente, o simples fato de você "ter o direito
de" votar em megalomaníacos e sociopatas que promulgam leis injustas e
opressivas é um ato que, magicamente, transforma algemas em emblemas da
liberdade.
A farsa da democracia tem de acabar. Não há
absolutamente nada de especial nesse arranjo de 50% mais um. A verdade, a
justiça, a propriedade e a liberdade não podem ser determinadas por votação. As liberdades individuais não podem ficar sob
os auspícios de sociopatas.
O povo não é o governo. Votar não é um ato sagrado.
Pior ainda: no atual cenário político, olhando as nossas opções patéticas,
votar é uma piada. E asquerosamente sem graça.
Os iluministas acabaram com o regime absolutista
simplesmente escarnecendo e fazendo pouco caso do direito divino dos reis.
Já é hora de fazermos o mesmo com o direito divino da maioria.