Há um vasto esforço de propaganda feito pelo estado e por aqueles em sua
folha de pagamento -- ou por aqueles que gostariam de estar em sua folha de
pagamento -- para nos convencer de que é perfeitamente legítimo que uma
organização essencialmente parasítica viva à nossa custa, com seus integrantes
mantendo um alto padrão de vida, nos roubando com seus impostos, destruindo nosso
poder de compra com suas políticas inflacionistas, transferindo nosso dinheiro
para privilegiar grandes empresas, restringindo nossas liberdades empreendedoriais,
nos impedindo de comprar bens importados, nos convocando compulsoriamente para
o serviço militar, e controlando totalmente nosso modo de vida.
A motivação fundamental daqueles que defendem o estado é saber que, uma vez
na máquina pública, eles terão acesso a gordos salários, empregos estáveis e
uma aposentadoria integral. Aqueles que estão fora do serviço público defendem
o estado por saber que ele lhes dará vantagens em qualquer barganha sindical.
Além desses cidadãos, há também empresários que defendem o estado. Estes
estão pensando em subsídios
e garantias governamentais, em contratos polpudos para
obras públicas, em protecionismo,
em regulações que
afastem a concorrência, e no uso geral do governo para alimentar seus amigos e
enfraquecer seus concorrentes. O estado, para eles, é garantia de riqueza.
Em todo e qualquer lugar, o estado sempre se resume a ganhar à custa de
outros. Não houve qualquer avanço nessa realidade. Podemos mudar as definições
e alegar que, porque votamos, estamos nos governando a nós mesmos. Mas isso não
altera a essência do problema moral do estado: tudo que ele tem, ele adquire por
meio do roubo. Nem um centavo do seu orçamento trilionário é adquirido em
trocas voluntárias.
Governos dilatados dividem a sociedade em duas castas: aqueles que dão
compulsoriamente seu dinheiro para o estado e aqueles que ganham dinheiro do
estado. Para manter o sistema funcionando, aqueles que dão têm de ser
numericamente muito superiores àqueles que recebem. Foi assim nos primórdios do
estado-nação e ainda o é atualmente. A existência de eleições não altera em
nada a essência dessa operação.
E como temos visto uma aparentemente irrefreável expansão do poder do estado
em absolutamente todos os países do mundo, é válido perguntar: há alguma
esperança? O estado é de fato uma instituição tão poderosa contra a qual nada
pode ser feito? Há alguma maneira de se opor a ele?
A primeira coisa a ser feita para se opor ao estado deve ser, é claro, compreender
a sua natureza íntima. Pensadores como Étienne de La Boétie, Hume, Mises,
Rothbard etc. diziam que, por mais inexpugnável que o estado pareça, com todos
os seus exércitos, com seu vasto número de funcionários e burocratas, e com seu
vasto aparelho de propaganda, ele na verdade é vulnerável porque, sendo o
estado uma minoria que vive parasiticamente à custa de uma maioria, ele depende
do consentimento do governado.
Mesmo os estados mais poderosos -- como, por exemplo, aqueles que vimos na
URSS, no Irã sob o xá, e na Índia sob domínio britânico -- podem se esfacelar.
E essa ainda é uma esperança.
A idéia é a seguinte: o presidente pode dar uma ordem, mas a ordem tem de
ser aceita e executada por um general; o general pode dar uma ordem, mas a
ordem tem de ser executada pelo tenente; o tenente pode dar a ordem, mas a
ordem tem de ser executada em última instância pelos soldados, que são aqueles
que terão de atirar. E se eles não atirarem, então tudo aquilo que o presidente
-- ou o supremo comandante -- ordena passa a não ter qualquer efeito.
Assim, o estado somente pode efetuar suas políticas se as pessoas lhe derem
seu consentimento voluntário. Elas podem não concordar com tudo que o estado
faça ou ordene que outros façam, mas, enquanto elas colaborarem, serão
obviamente da opinião de que o estado é uma instituição necessária, e os
pequenos erros que esta instituição cometa são apenas o preço necessário a ser
pago para se manter a excelência do que quer que ela produza.
Quando essa ilusão desaparecer, quando as pessoas entenderem que o estado
nada mais é do que uma instituição parasítica, quando elas não mais obedecerem
às ordens emitidas por essa instituição, todos os poderes estatais, mesmo o do
mais poderoso déspota, desaparecerão imediatamente.
Mas para que isso seja possível, primeiro é necessário que as pessoas
desenvolvam aquilo que podemos chamar de 'consciência de classe', não no
sentido marxista -- que diz que há um conflito entre patrões e empregados --,
mas no sentido de um conflito de classes que opõe, de um lado, os regentes
estatais, ou a classe dominante, e do outro lado, aqueles que estão sob o
domínio do estado.
Portanto, o estado tem de ser visto como um explorador, uma instituição
parasítica. Só quando tivermos desenvolvido uma consciência de classe desse
tipo é que haverá a esperança de que o estado, justamente por causa da difusão
geral desse conceito, possa entrar em colapso.
Sendo assim, em vez de tratar políticos com respeito, nossa crítica a eles
deveria ser significativamente intensificada: quase sem exceção, eles não são
somente ladrões; são também falsificadores, corruptos, charlatães e
chantagistas. Como ousam exigir nosso respeito e nossa lealdade?
Apenas uma vigorosa e distinta radicalização ideológica trará os resultados
desejados. Apenas ideias radicais -- e, na verdade, radicalmente simples --
podem incitar as emoções das massas inertes e indolentes, e deslegitimar o
governo perante seus olhos.