O
principal problema das privatizações no Brasil -- como já explicado nestes dois artigos -- é que
simplesmente não houve uma desestatização do setor. O governo apenas trocou um monopólio estatal
por um monopólio privado. E, para
"garantir" que o monopólio privado "funcionasse bem", criou várias agências
reguladores com o objetivo de especificar preços e determinar metas a serem
cumpridas.
De
acordo com a ideia dominante à época, era perfeitamente possível entregar um
serviço monopolístico a algumas poucas empresas e fazer com que os resultados
fossem exatamente iguais aos que ocorreriam em um livre mercado -- isto é, alta
qualidade e preços baixos. Bastava para
isso o governo criar agências reguladoras, as quais seriam geridas por burocratas
preocupados com o bem-estar da população e que saberiam perfeitamente como estipular
preços para os serviços e impor metas às empresas. Finalmente havia sido descoberta uma maneira
de se obter resultados de livre mercado em um mercado totalmente controlado e
planejado.
Ou
seja, não apenas o governo não se retirou do setor, como ainda continuou
praticando controle de preços e, no melhor estilo soviético, passou a
determinar objetivos a serem cumpridos, como nos planos quinquenais
stalinistas.
No
caso do setor telefônico brasileiro, os serviços só melhoraram porque a base de
comparação era péssima. Não tinha como
ser pior do que a Telebrás.
Como
era para ter sido feito? A resposta vem
da Guatemala, que possui um setor de telecomunicações totalmente
desregulamentado e, consequentemente, com ótimos serviços a preços irrisórios.
A
história inicial é simples e praticamente idêntica à do Brasil, em termos
proporcionais: em 1995, havia 11 milhões de habitantes no país e apenas 289 mil
linhas telefônicas. Um novo presidente
foi eleito e nomeou para a direção da estatal telefônica um economista de formação
libertária, Alfredo Guzmán, graduado na Universidad
Francisco Marroquin, atual centro austríaco da América Latina (graduandos
de lá fazem matérias obrigatórias que utilizam
Mises e Hayek como bibliografia).
Ao
nomear Guzmán, o presidente recém-eleito da Guatemala lhe fez um único
pedido: "Quero muitos telefones por todo
o país. E rápido!"
A
estatal obviamente detinha o monopólio das telecomunicações, era gerida por
cinco sindicatos corruptos, cobrava caríssimo para instalar um linha telefônica
(às vezes o serviço era pago mas não era feito) e não tinha a menor condição de
sair espalhando telefones pelo país.
A
primeira tarefa de Guzmán -- e a mais difícil -- foi domar os sindicatos. E isso ele fez por meio de uma
legislação. Uma vez controlados os sindicatos,
veio a parte mais fácil, a qual sempre foi defendida por nós do IMB como sendo
a única política moral, ética e economicamente correta a ser tomada em qualquer
situação: retirar o governo de cena e dar plena liberdade ao mercado de trocas
voluntárias.
Guzmán
simplesmente deu uma banana aos keynesianos do FMI e do Banco Mundial -- que
insistiam que ele vendesse o monopólio estatal a um monopólio privado e criasse
agências reguladoras para estipular preços e determinar metas de expansão
(exatamente como fizeram aqui os keynesianos tucanos) -- e colocou em prática
aquilo que Ludwig von Mises já havia sugerido ainda na década de 1920: acabar
com as regulamentações e com todas as barreiras legais de entrada ao mercado, e
permitir que a livre concorrência entre as empresas faça de tudo para agradar
ao consumidor.
Ato
contínuo, Guzmán abriu o mercado para absolutamente toda e qualquer empresa,
nacional ou estrangeira. Qualquer
empresa, de qualquer país, que quisesse ir ofertar seus serviços na Guatemala tinha
a total liberdade de fazê-lo. Sem
qualquer restrição governamental. Não
haveria privilégios, nem subsídios e nem restrições à livre concorrência.
Resultado:
hoje o país tem uma população de 13,5 milhões de pessoas e nada menos que 18
milhões de linhas telefônicas, móveis e fixas.
Quatro
operadoras privadas disputam clientes em um ambiente de genuína livre
concorrência, sem regulamentações e sem controle de preços -- considerando-se o
tamanho do país e sua renda per capita, trata-se de um número significante. Conseguir uma nova linha de telefone "é tão
fácil quanto comprar um cachorro-quente", a qualidade dos celulares chega a ser
superior à existente em cidades como Nova York, Paris, Londres, Tóquio,
e os preços por minuto são ridículos. E
tudo isso, vale ressaltar, em um país pobre (renda per capita de US$ 4.800;
a do Brasil está na casa dos US$ 10.500) e de infraestrutura bastante
debilitada. Ao contrário do que
preconiza o "senso comum", os malvados capitalistas não apenas se interessaram
em investir maciçamente em uma economia pobre, como ainda cobram pouco por
isso.
(Este
blog
narra alguns casos interessantes que mostram como os celulares são baratos na
Guatemala -- de modo que até crianças engraxates possuem os seus --, e como as
ligações internacionais possuem preços ínfimos).
Enquanto
isso, aqui no Brasil temos economistas dizendo que o mercado telefônico seria
impensável sem suas volumosas regulamentações, pois as empresas certamente
iriam explorar e extorquir seus clientes.
Daí a importância indiscutível da ANATEL, a agência que protege os
consumidores fechando o mercado, proibindo a livre concorrência e decidindo se
um iPhone 4S pode ou não ser vendido por aqui...
Outra
diferença se dá na questão da internet.
Ao passo que o Brasil possui apenas 3 grandes ISPs -- Telefonica
(Speedy), NET (Virtua) e Oi (Velox) --, a minúscula Guatemala possui quatro, fornecidos pelas mesmas empresas de telefonia. Embora não esteja em todas as residências, o
acesso a internet chega a 90% da população, pois foi praticamente universalizado
por meio de cafés, celulares, restaurantes e áreas públicas cobertas com Wi-Fi.
Para
infelicidade dos guatemaltecos, porém, as telecomunicações foram o único setor
que o governo desregulamentou e se absteve de intervir. É de se imaginar como poderia estar a vida na
Guatemala de hoje caso o governo tivesse se afastado de vários outros setores.
Conclusão
(óbvia, porém cada vez mais necessária de ser enfatizada): sempre que você quiser
serviços de qualidade, a preços baixos e que atendam ao maior número possível
de pessoas, de todas as rendas, só há uma opção: você tem de ter um livre
mercado.
Assim
como funciona para a telefonia, funciona também para o setor alimentício, para
o setor de informática, para o setor de vestuários, para o setor aéreo, e pode
funcionar perfeitamente para o setor médico, para o setor elétrico, para o
setor de saneamento e para todo e qualquer outro setor da economia.
O
livre mercado é a única "política" que genuinamente reduz as desigualdades
sociais e materiais entre pobres e ricos.
E de maneira ética e moralmente irretocável. Qualquer outro método inevitavelmente
implicará violações de direitos básicos do indivíduo, sendo um ataque direto à sua
propriedade e à sua liberdade. É um lamentável reflexo da indigência moral dos nossos tempos que algo tão ético e eficaz
continue sendo atacado e vilipendiado por grande parte da população mundial.
Veja
o vídeo abaixo (são apenas 8 minutos), com legendas em português.
O milagre nas telecomunicações da Guatemala
Agradecemos
ao Portal Libertarianismo pela
publicação e tradução do vídeo.