Notícias
vindas de várias cidades do país -- embora venham com mais intensidade da
cidade de São Paulo -- indicam que a bolha imobiliária brasileira
pode estar começando a desinflar.
Uma
recente reportagem do Valor Econômico, de 8 de julho, informa:
Embora ainda não haja nenhum indicador oficial que confirme
ou aponte queda nas contratações, para muitas empresas, a crise da escassez de
mão de obra dá claros indícios de arrefecimento. Uma resposta à desaceleração
do setor imobiliário no segundo trimestre de 2011.
(...) "A euforia acabou e, inclusive, alguns desses
profissionais contratados a peso de ouro já estão sendo liberados",
completa um executivo do setor.
"O quadro está revertendo e, em algumas obras, os
funcionários estão sendo dispensados, o que não acontecia antes.", afirma
Adalberto Bueno Netto, sócio da Bueno Netto, empresa que incorpora e constrói
obras próprias e para terceiros.
Na avaliação de um diretor de uma companhia aberta, a
situação já foi mais crítica. "As contratações voltaram à
normalidade", diz. "A velocidade de vendas no segundo trimestre caiu
sim, está mais difícil vender imóveis caros em regiões nobres", admite.
O
excelente blog Observador
do Mercado vem compilando notícias a respeito, dentre as quais chamo a
atenção para as seguintes:
Venda
de imóveis novos recua 34% em São Paulo no ano
As vendas de imóveis novos residenciais na capital paulista
registraram queda de 34,3% nos primeiros cinco meses do ano ante igual período
em 2010, somando 8.964 unidades comercializadas, de acordo com a pesquisa do
Secovi (Sindicato da Habitação) de São Paulo divulgada nesta quarta-feira.
Venda
de imóveis usados em SP cai pelo 2º mês consecutivo
A venda de imóveis usados na capital paulista voltou a cair
em maio, de acordo com levantamento divulgado nesta quinta-feira pelo Creci-SP
(Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo). Foi a
segunda queda consecutiva na comparação mensal.
Segundo a pesquisa, feita com 476 imobiliárias, o índice de
vendas foi de 0,5221 em abril para 0,4937 no mês seguinte.
A locação de imóveis residenciais na cidade também teve
queda, de 3,31% em maio ante abril, acumulando três meses de baixa.
Faturamento
do varejo de material de construção cai 30%
O faturamento do comércio varejista da região metropolitana
de São Paulo registrou queda de 3,8% em comparação a maio de 2010, segundo
pesquisa divulgada nesta quinta-feira, 14, pela Federação do Comércio de Bens,
Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio). (...)
A queda no faturamento do comércio varejista em maio ante o
mesmo mês de 2010 foi puxada por um recuo forte no desempenho de quatro setores: lojas de material de construção (-29,4%),
eletrodomésticos e eletroeletrônicos
(-22,6%), móveis e decorações (-19,3) e lojas de departamento (-11,7%).
Ainda
é cedo para prognósticos, porém uma análise da evolução da oferta monetária da
economia brasileira fornece um bom indicador sobre o que está ocorrendo.
Analisemos,
por exemplo, o crescimento anual dos depósitos em conta-corrente, que são a
principal medida do dinheiro líquido da economia. Por que escolher os depósitos em
conta-corrente? Porque é sobre o volume
das contas-correntes que se baseiam todas as formas de crédito do sistema
financeiro de uma economia. Todas as
outras aplicações financeiras -- sejam elas renda fixa, curto prazo,
multimercado, referenciado, ações, depósito a prazo[1] etc.
-- são meros papeis que, para serem convertidos em dinheiro, precisam antes ser
vendidos para algum agente obviamente disposto a comprá-los. E este só irá fazê-lo se tiver dinheiro
disponível em sua conta corrente.
Dito
isto, o gráfico a seguir mostra a variação percentual ocorrida no volume dos depósitos em
conta-corrente em relação ao mesmo mês do ano anterior -- por exemplo, em
fevereiro de 2008, o volume de contas-correntes era 20% maior que em fevereiro
de 2007; em agosto de 2008, era 5% maior do que em agosto de 2007, e por aí
vai. Ele dá uma boa idéia sobre se está
havendo uma aceleração, uma desaceleração ou uma retração na expansão destes
depósitos:

Observe
que a forte desaceleração ocorrida em 2008, chegando a haver uma contração anual nos
meses de novembro e dezembro de 2008, bem como janeiro de 2009, contribuiu para
a recessão observada naqueles dois trimestres (4º trimestre de 2008 e 1º
trimestre de 2009). A partir de junho de
2009 recomeça a expansão creditícia, que atinge o ápice nos meses de agosto e
setembro de 2010.
A
parti dali, começa a haver uma nova desaceleração na taxa de expansão. Em junho agora, os depósitos em
conta-corrente estavam apenas 4,38% maiores em relação a junho de 2010.
Um exemplo prático da influência dessa desaceleração da expansão do crédito sobre
a economia pode ser verificado no setor de bens de capital (produtos industriais,
máquinas e equipamentos utilizados na indústria de transformação). Quando há uma expansão do crédito e os juros
diminuem, há um incentivo ao empreendimento de investimentos de longo prazo
(como construção de imóveis). Tais
investimentos demandam o uso maciço de bens de capital. Sendo assim, este setor é um dos primeiros a
ser afetado por variações na oferta monetária.
A variação dos preços no setor de bens de capital anda praticamente pari passu com a variação da oferta
monetária.
Eis
o gráfico do comportamento dos preços dos bens de capital:

A
forte desaceleração da expansão da oferta monetária vem provocando um aumento
dos juros para os empréstimos tanto para pessoas físicas quanto para pessoas
jurídicas. Esse aumento dos juros, ao
que tudo indica, está arrefecendo o desejo de se iniciar novos empreendimentos,
algo que, por sua vez, está reduzindo a demanda por novos bens de capital -- e
isso fez com que o IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo) apresentasse
deflação de preços em maio e junho.
Essa
desaceleração da expansão da oferta monetária, e seu concomitante encarecimento
do crédito, está tirando a sustentação da bolha imobiliária, bem como da até
então vigorosa expansão econômica brasileira.
Tendência
Caso
esta tendência continue, isto é, caso o Banco Central continue deixando que o
crédito encareça e a oferta monetária se expanda a taxas cada vez menores
(relembrando, a taxa de expansão anual dos depósitos em conta-corrente caiu de
19% para 4,4% em nove meses), é possível que haja uma recessão durante algum
trimestre vindouro, talvez no último trimestre deste ano ou no primeiro
trimestre de 2012.
Entretanto,
e isso deve ser muito enfatizado, tudo
vai depender de como o Banco Central vai continuar se comportando. Caso ele, já no próximo mês, reverta a atual
postura, nitidamente contracionista, e adote uma mais expansionista, tanto a desaceleração
econômica quanto a desinflação da bolha imobiliária podem ser revertidas --
porém, ao custo de uma inflação de preços acima do teto da meta.
[1] Depósitos
a prazo, assim como todas as outras opções ali citadas, por si só, não expandem
a oferta monetária. Porém, esse
dinheiro, quando gasto pelo tomador de empréstimo, cai na conta-corrente de
outra pessoa, o que, por causa do sistema bancário de reservas fracionárias, dá
continuidade ao processo de expansão monetária.
Ademais, o indivíduo que possui um depósito a prazo sempre tem a opção
de resgatá-lo antes do seu prazo de maturação (pagando uma multa, é
claro). Ao fazer isso, o banco terá de
vender esse papel para outro comprador a fim de que este forneça o dinheiro
necessário para que o banco restitua o indivíduo que está sacando seu depósito
a prazo. E isso vai depender das
contas-correntes.