quarta-feira, 12 jan 2011
A
Suécia está em uma fase próspera. Pelo
menos em relação a outros países, a Suécia tem se saído muito bem durante a
crise financeira. Algumas pessoas, como
Paul Krugman, parecem crer que isso se deve aos amplos pacotes de socorro e de estatizações
de empresas privadas que ocorreram no início da década de 1990, medidas essas
que supostamente "salvaram" a Suécia do desastre imposto pelo mercado. Embora seja verdade que um banco tenha sido
estatizado e que bilhões de dólares tenham sido injetados no mercado para
manter a coroa sueca artificialmente sobrevalorizada em 1992, essa medida
fracassou por completo, e a um alto custo para os suecos pagadores de impostos.
Após
um curto período de caos total, quando o banco central sueco elevou as taxas de
juros para 500% (sim, quinhentos por cento), a moeda entrou em colapso. É óbvio, uma vez que sua valorização
superficial em relação ao dólar não tinha como ser "defendida" contra a
valorização muito mais correta exigida pelo mercado, não obstante as várias
tentativas sérias feitas pelo governo sueco para tentar manter essa
sobrevalorização. A conseqüência foi um
pânico político, logo seguido pela finalmente compreendida necessidade de se
colocar as finanças públicas em ordem.
Desde
aquela época, como explico em maiores detalhes no livro Back on the Road to
Serfdom (editado por Tom Woods), o governo sueco — independente de
qual partido estava no poder — vem consistentemente mantendo o orçamento
equilibrado. O resultado foi uma queda
expressiva na dívida nacional. Com
efeito, desde 1992 a dívida nacional caiu de 80% do PIB para menos de 40%, de
acordo com um recente
relatório do Gabinete da Dívida Nacional Sueca. E isso incluindo as medidas antirrecessão
adotadas em 2009.
Tais
medidas de austeridade dificilmente seriam aprovadas por Krugman e demais
keynesianos, mesmo quando eles defendem que os EUA deveriam imitar o
caminho exitoso adotado pelos suecos. Ao
contrário: eles obstinadamente se recusam a ver as medidas evidentemente
malsucedidas implantadas pelo governo sueco antes de o país ser finalmente
forçado a adotar medidas mais sensatas, que o levaram para o caminho da recuperação.
Entretanto,
Krugman não está sozinho. A crença no
grande mito de que a Suécia é algum tipo de experimento socialista exitoso
ainda é amplamente difundida. Os
próprios suecos em geral creem nesse mito, assim como o fazem várias pessoas em
todo o mundo. Frequentemente sou
abordado por alguém que vem me dizer o quão extraordinário é o meu país,
fazendo ilações sobre como deve ser bom ter tudo "gratuito". E eu sempre fico imaginando sobre o que essas
pessoas estão falando e, principalmente, o que as fez crer que essas ideias
malucas que elas têm são verdadeiras.
Krugman, por exemplo, deveria ser mais bem informado, mas não é.
Porém,
talvez o desempenho da Suécia nessa crise recente seja exatamente o tipo de
"mito dos sonhos" que os keynesianos sempre estiveram procurando. Afinal, a criação de riqueza sueca durante o
século XX se parece muito com uma criação keynesiana: um crescimento artificial
continuamente alimentado, e que foi automaticamente estimulado e socorrido
várias vezes por circunstâncias que, por acaso, terminaram dando incrivelmente
certo para um país localizado no extremo norte do globo.
Após
um período de "extremo" livre comércio na segunda metade do século XIX, o
estado assistencialista foi criado pouco antes de meados do século XX e, em seguida,
enormemente expandido. Não ter
participado de nenhuma das guerras mundiais certamente ajudou o país, de modo
que sustentar o estado assistencialista foi algo fácil na década de 1960 —
afinal, havia uma abundância de riqueza pronta para ser expropriada e
"investida" em grandes experimentos de engenharia social.
A
saga, entretanto, acabou na década de 1970 — porém, ao que parece, o mito
resiste. A crise internacional do
petróleo forçou o governo sueco a adotar o keynesianismo puro, e a moeda, como
consequência, foi amplamente e frequentemente desvalorizada, por mais de uma
década. Os "felizes anos 80" não
ofereceram solução alguma para o estado que então já se encontrava falido; foi
a bolha imobiliária da época, estimulada justamente pelo crédito fácil, que
manteve a aparência de prosperidade.
Foi
só no início da década de 1990 que a situação financeira do governo implodiu-se
por completo, quando os mercados internacionais finalmente deixaram de ficar
embriagados com essa bolha imobiliária e reduziram a entrada de divisas no
país. Foi nesse momento que o governo
foi forçado, em termos econômicos, a cortar seus gastos e a impor limites nos
benefícios oferecidos por meio de uma multiplicidade de sistemas
assistencialistas.
Porém,
há uma outra verdade sobre a economia sueca, uma verdade que apenas
recentemente foi exposta. Agora existem
provas de que a Suécia, mesmo em termos das estatísticas do próprio governo,
não é tudo o que se imagina; e que, na realidade, não vivenciou nenhum
crescimento econômico real (ao menos em termos de empregos reais, os quais
deveriam ser de óbvio interesse para os keynesianos) ao longo de mais de 50
anos.
Em
um artigo (infelizmente disponível apenas em sueco)
publicado em 2009 no periódico Ekonomisk
Debatt, da Associação de Economia Sueca, os economistas Bjuggren e
Johansson, do Ratio Institute, mostram a
triste verdade. Baseando-se em dados
públicos divulgados pela agência governamental Estatísticas Suecas ("SCB" em
sueco, um acrônimo para Bureau Central de Estatísticas) e utilizando um novo
sistema de classificação para designar o tipo de propriedade das empresas, eles
descobriram que não houve absolutamente nenhum emprego criado no setor privado
de 1950 a 2005.
Sim,
você leu corretamente: não houve nenhum aumento líquido no número de empregos
no setor privado na Suécia durante um período de 55 anos. Em outras palavras, em um período que começou
cinco anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, a economia sueca ficou
completamente estagnada.
Os
crentes no mito sueco podem querer atacar o sistema de classificação utilizado
por Bjuggren e Johansson, porém ele é baseado em um padrão internacional que
simplesmente fornece uma visão mais acurada dos setores público e privado,
identificando quem é o proprietário real
de uma empresa — ao invés de olhar apenas qual o tipo de administração ou qual
é a declaração oficial.
Em
outras palavras, as classificações utilizadas por esses economistas mostram os
efeitos da intromissão do governo nas empresas, identificando quais empresas
são de propriedade do governo — e,
portanto, consideradas como empresas geridas pelo governo, parte do setor
público. Os dados também levam em conta
as pessoas autônomas e as empresas de propriedade estrangeira, ambas as quais
estão na categoria de "setor privado" (não importa se a empresa estrangeira
seja de algum governo estrangeiro).
Enquanto
o setor privado teve zero de criação líquida de empregos, o setor público
passou por um monstruoso crescimento durante esse período (veja o gráfico
fornecido por esse
artigo: a linha azul representa os empregos no setor privado; a marrom, no
setor público; a vermelha, a população).
E a população cresceu bastante, o que explica tanto as altas taxas de
desemprego como o fato de grande parte das pessoas adultas terem voltado para
as universidades públicas com o objetivo de "aprofundar sua educação".
Isso,
por sua vez, explica por que o governo sueco não foi capaz de estimular
continuamente o estado assistencialista desde a década de 1970 até o início da
década de 1990. Como não houve guerras
internacionais nesse período — algo que estimula, ao menos temporariamente, as
exportações de um país que não foi afetado —, o setor exportador encolheu; e
como não houve um genuíno crescimento global no qual pegar carona, o blefe não
se sustentou e a realidade logo se impôs.
O
relativo sucesso da Suécia durante a recente crise financeira não tem nada a
ver com estímulos governamentais, aumentos nos benefícios assistencialistas ou
estatizações do setor privado. Trata-se
do resultado direto de um resoluto e politicamente doloroso programa
implementado durante um período de mais de 15 anos, com o objetivo de limpar a
bagunça de quase 50 anos de políticas keynesianas que chegaram perto de quebrar
uma nação de mil anos de idade.
Krugman
pode estar certo ao dizer que os EUA podem aprender com o exemplo sueco — mas
isso vale somente para o período após a crise de 1992.