segunda-feira, 30 ago 2010
Há
vários mitos sobre a crise econômica por aí a fora. Porém, dentre todos os mitos financeiros que
afligem o movimento conservador, este é o mais ilógico: "Os banqueiros
planejaram a crise financeira de 2008."
À
primeira vista, a teoria parece maluca.
Como essas pessoas se beneficiariam com a ocorrência de enormes
prejuízos financeiros? Porém, quando
você examina tudo mais profundamente, a coisa fica ainda mais amalucada.
Por
que os banqueiros criariam uma crise que destruiu alguns dos maiores bancos da
terra? O Wachovia desapareceu. Era um dos cinco maiores bancos em volume de
depósitos quando quebrou. O Royal Bank
of Scotland (RBS) também chegou perto de falir.
O mesmo ocorreu com o Anglo Irish Bank.
Somente os pacotes de resgate do governo salvaram estes dois últimos.
Qual
teria sido a motivação dos banqueiros que planejaram a crise? Se você está no controle da política e do
sistema bancário, por que chamar atenção mundial para a fragilidade do sistema
bancário de reservas fracionárias? Não
seria uma atitude mais esperta apenas deixar as coisas funcionando suave e
harmoniosamente? Por que criar uma crise
tão grande a ponto de fazer com que os governos tenham de intervir, provocando
assim uma enorme reação negativa do público?
A
sequência de quebras bancárias em 2008 chamou a atenção do público para o fato
de que os banqueiros eram na verdade idiotas.
Eles foram totalmente enganados por entidades que vendiam ativos (na
verdade, dívidas hipotecárias) tóxicos. O
mercado de hipotecas subprime era uma fraude gigantesca. Os vários contratos altamente alavancados e
transferidores de risco eram igualmente fraudulentos. Toda a indústria de serviços financeiros revelou-se
um cassino gerenciado por imbecis.
Warren
Buffet foi quem resumiu melhor. Existem
três estágios de desenvolvimento financeiro.
O primeiro é criado pelos inovadores.
O segundo é ampliado pelos imitadores.
O terceiro é consolidado pelos idiotas.
Em 2008, vimos o que os idiotas haviam consumado.
Nada
disso é reconhecido pelo crítico conservador, que afirma: "Foi tudo uma
conspiração. Os banqueiros planejaram
tudo."
Para
o conspiracionista conservador, mudanças sociais devem ser explicadas como
sendo o resultado de uma conspiração. Em
seu mundo, um pequeno grupo de poderosos globais — sempre chamados de "eles"
— controlam tudo. "Eles" dão as
ordens. "Eles" decidem tudo que deve ser
feito. Mudanças sociais sempre vêm de
cima. "Eles" são oniscientes.
O
conservador adepto de teorias da conspiração compartilha com o socialista e com
o comunista uma enorme confiança no poder do intelecto em dirigir as relações
da sociedade. Eles atribuem a um comitê
planejador central a capacidade de prever o futuro quase que perfeitamente, de
estruturar as instituições sociais de modo a alterar esse futuro em benefício
próprio, e de implementar seus planos de maneira absurdamente eficaz, sendo
capazes de sobrepujar o interesse próprio de bilhões de agentes econômicos.
Eles
acreditam em Deus. Esse Deus é a
conspiração.
A
Escola Austríaca da Economia
A
teoria da crise planejada põe em dúvidas a teoria de Ludwig von Mises,
apresentada em 1912, sobre os ciclos econômicos, a qual é chamada de teoria
austríaca dos ciclos econômicos. Mises
ensinou que a causa dos ciclos econômicos está no sistema bancário de reservas
fracionárias, especialmente nos países que possuem bancos centrais, cuja função
é criar um cartel para proteger o sistema bancário. Primeiro, o banco central infla a oferta
monetária. Isso produz um crescimento econômico
artificial. Mais tarde, ele reduz a taxa
de expansão da oferta monetária por causa do aumento de preços. Isso provoca a recessão: um reajuste (para
baixo) de preços dos ativos, principalmente de bens de capital.
A
teoria de Mises resolveu o problema teórico central de todas as recessões: por
que os empreendedores cometem os mesmos erros de investimento ao mesmo
tempo. Normalmente, é de se esperar que
alguns empreendedores sejam bem sucedidos, mas à custa de outros
empreendedores. Alguns fazem previsões
boas; outros, ruins. Alguns estão voltados
para o longo prazo. Outros, para o curto
prazo. Esses planos se
contrabalançam. Mas não durante
recessões econômicas. Por quê?
Mises
ofereceu uma resposta: por causa da interferência do banco central no livre
mercado. Ele reduz a taxa de juros ao
expandir a quantidade de dinheiro nas reservas bancárias. Ele faz isso por meio da compra de títulos da
dívida público em posse dos bancos. Isso
diminui as taxas de juros de curto prazo.
Como consequência, as empresas pegam empréstimos para expandir suas
operações, justamente por causa dos juros mais baixos. E então, quando a inflação de preços começa a
surgir, o banco central reverte sua política expansionista. Ele reduz a taxa de compra de títulos
públicos em posse dos bancos. As taxas
de juros de curto prazo aumentam. As
empresas começam a perder dinheiro. Elas
reduzem suas expansões. As falências
aumentam.
Essa
explicação é consistente tanto com a teoria econômica geral quanto com a
história dos pânicos financeiros. Ela
coloca a culpa no banco central. Por
essa razão, essa explicação é universalmente rejeitada por economistas
acadêmicos, todos eles defensores da existência de um banco central, não
obstante o fato de que todos os bancos centrais são monopólios criados pelo
governo. ao defender um banco central,
os economistas acabam servindo como defensores intelectuais de um cartel de
banqueiros. Eles se recusam a aplicar, para
um sistema bancário controlado por um banco central, sua própria teoria
econômica sobre a ineficiência dos carteis.
Escolha
qualquer livro-texto de economia. Leia o
capítulo sobre monopólios, oligopólios e carteis. Os livros dizem que a maioria dos carteis é
criada pelos governos. O capítulo mostra
como os monopólios restringem o comércio.
Eles operam de modo a enriquecer os monopolistas à custa dos
consumidores.
Depois
leia o capítulo sobre o banco central.
Curiosamente, nenhuma parte da análise do capítulo acima é aplicada a
este capítulo. Isso não é por acaso. Isso é puro marketing. Qualquer livro-texto que contenha uma análise
austríaca do banco central não será publicado por uma editora convencional. Nunca houve uma exceção a essa regra. Pode procurar.
No
campo da teoria econômica, o apoio dos economistas acadêmicos ao banco central
é o melhor exemplo de como o poder político, o controle sobre o dinheiro, e o
uso desse dinheiro para silenciar a academia — ao se contratar milhares de
economistas como conselheiros do banco central — produziu o efeito de
neutralizar toda a profissão.
Os
únicos comentaristas acadêmicos que identificaram esse uso sistemático do
dinheiro para corromper a academia são os economistas adeptos da Escola
Austríaca, os marxistas e a Nova Esquerda aliada dos marxistas. Esses são grupos que estão no limbo da
academia. Eles têm pouca
influência. Eles nunca tiveram muita
influência dentro da guilda acadêmica, a qual se filtra a si própria.
Os
conservadores que teorizam que a crise de 2008 foi uma crise planejada entendem
melhor que os economistas do poder do banco central na política. Porém, os críticos são incapazes de
compreender que os bancos centrais são restringidos pala concorrência do livre
mercado. Os banqueiros não entendem ou
não aceitam a teoria misesiana dos ciclos econômicos. Eles não entendem a relação monetária de
causa e efeito. Eles ou são keynesianos
ou são monetaristas seguidores da Escola de Chicago, e ambas as escolas de
opinião são defensoras do conceito de bancos centrais. Assim, eles não entendem o que estão fazendo.
De
vez em quando, suas políticas produzem um pânico financeiro e uma subsequente
recessão. Mas eles não aprendem com essa
experiência. Eles não saem à procura de
uma nova teoria que explique o fracasso de suas políticas. Eles estão comprometidos com sua fé no
governo e naquele monopólio concedido pelo governo, o banco central.
Isso
é inconcebível para o teórico da conspiração.
A conspiração está acima da lei — não apenas da lei civil mas também da
lei econômica. Para o teórico da
conspiração, não existem leis econômicas.
Existe apenas o "olho que tudo vê" da conspiração.
Sendo
assim, como foi possível que a Escola Austríaca tenha previsto a recessão de
2008? Seus membros também fazem parte da
conspiração? Eles receberam informações
privilegiadas do grupo Rockefeller, sendo alertados de que a recessão estava
sendo planejada pelos mais altos escalões?
Eu
previ a recessão e tenho meus arquivos para provar. O mesmo vale para Peter Schiff. Como nós sabíamos? Porque nós lemos Mises e Rothbard. Porque nós acreditamos neles. E, no meu caso, porque eu sempre prevejo que
haverá uma recessão quando a curva de rendimento dos juros torna-se invertida. O que é isso? Sempre que os juros dos títulos de curto
prazo (90 dias) ficam maiores do que os juros dos títulos de longo prazo (30
anos), a curva fica
invertida. Uma recessão sempre se
segue. Outros prognosticadores
não-austríacos também sabem dessa relação, mas por causa de sua enorme fé no
poder dos bancos centrais, eles concluem que "dessa vez vai ser
diferente". Mas nunca é.
A Lei
de Pareto
A
lei de Pareto foi descoberta pelo economista-sociólogo Vilfredo Pareto no final
do século XIX. Ele estudou a
distribuição de riqueza em várias nações europeias. Ele descobriu que essa distribuição
centraliza a riqueza. Aproximadamente
20% da população detinha 80% do valor do capital de uma nação. E ele aplicou esse raciocínio até o topo da
pirâmide.
Se
20% da população detém 80% do valor do capital de uma nação, então 4% (20% de
20%) detém 64% (80% de 80%) do valor do capital. Isso de fato se mostrou verdadeiro. Portanto, aproximadamente 1% da população
deteria um pouco mais da metade da riqueza de uma nação. E isso também se comprovou verdadeiro.
Um
grande número de estudos subsequentes indica que essa mesma distribuição se
aplica para todas as sociedades estudadas.
Não importa se os países eram nações pré-social-democratas (antes de
1900), nem a localização geográfica ou o quão socialistas eles são. A mesma distribuição existe. Até hoje, nenhuma pessoa foi capaz de
oferecer uma explicação convincente para tudo aquilo que não corresponde à
teoria econômica ou social que ela defende.
Os
socialistas atacam o capitalismo por causa de sua desigual distribuição de
riqueza. Porém, todas as vezes que os
socialistas chegaram ao poder, essa distribuição não foi alterada. Portanto, eles se recusam a discutir
Pareto. Em contraste, os defensores do
livre mercado insistem em dizer que o capitalismo tende à equiparação de
riqueza. Até hoje, isso ainda não
aconteceu. Portanto, eles também não
falam sobre Pareto.
Trata-se
de uma omissão deliberada. A
apresentação matemática de Pareto, conhecida como o grau de ótimo de Pareto, é
adorada por economistas defensores do estado assistencialista. Toda a sua apresentação é conceitualmente
falha, pois ela assume que a sua escala de valores econômicos é igual à minha e
igual à de todos os outros cidadãos. Murray Rothbard refutou essa ideia
ainda em 1956, mas até hoje o teorema de Pareto é discutido com grande
relevância.
Sempre
que você ler algum relatório sobre a perversidade da distribuição de riqueza no
capitalismo, e esse relatório citar algum recente estudo sobre essa
desigualdade, pode estar certo de que ele não vai citar nenhum estudo sobre
alguma nação socialista ou de alta carga tributária. O autor provavelmente não imagina que a
distribuição de riqueza é Pareto-normal, independente da estrutura econômica do
país. Ele quer apenas persuadir os
eleitores a apoiar as reformas que ele defende.
O
que é realmente perturbador é que a regra 20—80 de Pareto se aplica a todos os
tipos de estatística institucional que pouco têm a ver com distribuição de
riqueza. Aproximadamente 20% do efetivo
de uma força policial faz 80% das prisões.
Aproximadamente 20% daqueles que assinaram uma revista renovam a
assinatura ao final do primeiro ano (como nós editores gostaríamos que fossem
80%!). Aproximadamente 20% dos
recebedores de uma e-letter gratuita de fato a lêem (por que não 80%?). E por aí vai.
Eu
gostaria de saber o porquê de ser assim.
Se eu soubesse o motivo, talvez pudesse descobrir uma maneira de ter os
80% ao meu lado... pelo menos até que começassem a me imitar.
Não
perturbe o equilíbrio!
Isso
significa que a distribuição de riqueza e influência favorece a hierarquia
existente. A distribuição não se
altera. A posição de um indivíduo na
hierarquia pode mudar — normalmente para pior.
Afinal, é sempre mais fácil deslizar para baixo do que continuar
subindo.
Se
você estivesse no topo dessa pirâmide — entre aquele 1% ou talvez mesmo
naquele 0,2% —, você iria querer planejar e gerar intencionalmente uma
crise?
Pense
nisso. Se o sistema lhe transformou no
líder, por que você iria querer se arriscar abalando suas fundações? Por que você iria querer perturbar esse
equilíbrio? Por que você iria querer
envolver os governos em pacotes de resgate para as maiores instituições
financeiras?
A
teoria da crise planejada não faz sentido, quando se considera que a teoria diz
que a conspiração foi feita de cima para baixo.
Se aqueles que estão no topo realmente estão no controle, mas correm o
risco de perder esse controle, por que eles iriam querer mudar alguma
coisa? A mudança é a inimiga daqueles
que estão no topo.
Os
teóricos da conspiração dizem que "eles" fizeram isso. "Eles estão atrás da riqueza do povo!" Porém,
"o povo" não tem riqueza o bastante a ponto de estimular sua tomada. Os 80 % que estão na extremidade inferior da
pirâmide possuem apenas 20% da riqueza.
Os
teóricos da conspiração superestimam sua própria importância — politicamente,
economicamente e socialmente. Eles pensam
que podem tomar o controle da situação caso exponham os conspiradores. Porém, os custos de se fazer tal coisa são
astronômicos. Ademais, o efeito de tal
revolução seria apenas o de mudar as pessoas no topo. As massas não se beneficiariam.
O
que realmente funciona? Crescimento
econômico. Uma maré ascendente que
levante todos os barcos. E só a
liberdade propicia crescimento econômico.
O
que as pessoas precisam — "pessoas" aqui definidas como aquelas representando
os 80% da extremidade inferior — é de liberdade. A distribuição de riqueza não vai mudar. A ética do enriquecimento deveria, portanto,
ser essa: "Não roubarás!" — ao invés de ser "não roubarás, exceto pelo voto da
maioria".
Conclusão
Os
globalistas não planejaram e deliberadamente provocaram essa crise econômica,
exceto na medida em que eles utilizaram os bancos centrais para elevar suas
posições hierárquicas.
Um
sistema monetário gerido por bancos centrais inevitavelmente padecerá de crises
financeiras recorrentes. Os bancos
centrais tentam evitar crises econômicas inflacionando, depois estabilizando,
depois inflacionando de novo, e assim por diante — e, ao procederem assim,
eles geram crises. Esse foi o
ensinamento de Mises. Uma intervenção
leva a outras.
Os
globalistas planejaram a crise de 2008 no sentido de que foram eles que criaram
esse sistema monetário em 1914, com a criação do Banco Central americano, o
Fed. Eles estão encurralados. Nós também.
A
máquina monetária vai quebrar. A ordem
política vai mudar quando a máquina monetária quebrar. Haverá pessoas diferentes no topo após a
máquina monetária ter sido substituída.
Cabe a nós não deixarmos que a nova máquina monetária seja colocada sob
o controle de alguma agência governamental.
Que
o livre mercado escolha a unidade monetária.
Que os correntistas determinem livremente quais bancos devem sobreviver e
quais bancos devem perecer. Em suma, que
o governo seja completamente retirado do negócio de fabricar dinheiro.