quinta-feira, 15 abr 2010
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Cleber Nunes leciona seus filhos Davi e Jonatas
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Neste fim
de semana, no I Seminário de Escola Austríaca no Brasil, ocorrido
em
Porto Alegre, tivemos o imenso privilégio de assistir à palestra de Cleber Nunes, pequeno empreendedor mineiro, agora residindo numa
cidadezinha interiorana, que retirou seus filhos da escola para aplicar o
método de
homeschooling, ou ensino domiciliar. O ensino domiciliar é um tradicional e
incomparável método nos EUA, porém considerado crime por esta terra avessa à
liberdade e tão necessitada da tutela oficial do estado em praticamente
todas as esferas da vida. A tragédia da educação
no
Brasil praticamente não altera nossa concepção.
O
sucesso do homeschooling nos EUA em relação ao ensino
transmitido nas escolas regulares (sejam públicas ou privadas) tem
tornado esta prática cada vez mais popular em todo território americano. A principal razão disso é a vertiginosa queda
na qualidade do ensino daquele país, que se acentua à medida que ele se torna
cada vez mais controlado pelo Ministério da Educação.
Mas, voltando
ao Brasil, o caso dos garotos Davi e Jonatas, hoje com 16 e 17 anos,
é emblemático. Durante uma conversa
antes de sua palestra, Cleber relatou que ele e sua esposa foram
condenados pelos magistrados por cometerem crime de abandono intelectual
(Estatuto da Criança e do Adolescente). Detalhou
que, nas entrevistas que seus filhos prestaram ao promotor na presença dos
membros do Conselho Tutelar, o magistrado frequentemente pressionava-os
psicologicamente, insistindo em perguntar se os pais lhes coagiam a
estudar em casa e a não frequentar a escola. Insatisfeitos pela
tranquilidade e maturidade com que os garotos respondiam as questões - reafirmando
a disposição voluntária e realçando todas as
vantagens comparativas no ensino domiciliar - as autoridades
apropriadamente resolveram aplicar uma prova para testar os conhecimentos
dos garotos, já há dois anos fora da escola.
Então,
recentemente, o Ministério Público encomendou da Secretaria da Educação
uma bateria de provas que versava desde a análise de uma obra de arte
de Da Vinci até questões teóricas de educação física, além das
disciplinas tradicionais do ensino. Para espanto das autoridades, segundo
relata Cleber: os meninos "detonaram".
Infelizmente
os burocratas são insaciáveis. Além de
apelarem para insinuações de que os pais eram desequilibrados e coisas do
gênero, o veredicto condenou os pais dos garotos por um crime que nem
existe na Constituição Brasileira, apenas no ECA - acredite se
quiser.
Ora,
nitidamente tal crime atenta contra a sensibilidade paternal do estado, esta
entidade tão inclinada e competente para proteger e educar nossas crianças - muito
mais competente que os pais, evidentemente. Claro que o excelente resultado que Jonatas e
Davi obtiveram nas provas foi um vexame para as autoridades estatais. Vergonhoso
porque expõe - também deste ângulo - o fracasso do monopólio do Estado em
controlar a educação. Com todas as linhas, os garotos mostraram que
não apenas é possível, mas muito superior o ensino domiciliar não
submetido ao cabresto da burocracia educacional.
Não posso
deixar de mencionar que Cleber Nunes e sua esposa têm sofrido muita pressão de
familiares e amigos, sem falar da própria sociedade. Todavia, sustentou que seus filhos não estão
dispostos a voltar para a escola, e ele tampouco os obriga a isso. Ao contrário, encoraja-os fornecendo todo
apoio para estudarem em casa e desenvolverem proveitosamente suas habilidades
que seriam tolhidas no ambiente escolar.
Só pra
constar, conheci Jonatas e Davi. Pasmem,
os garotos não me pareceram como ETs. Ao
contrário, são simpáticos e muito espontâneos. Possuem amigos como qualquer garoto da sua
idade, com quem gostam de andar de skate nos horários de folga dos
estudos. Entretanto, quero
enfatizar que não acho que a falta de simpatia e de espontaneidade, ou mesmo a
preferência por estudos ao invés esportes, tenham em si alguma relevância que possa
impugnar o ensino domiciliar. É que é
comum os inimigos da liberdade fazerem tal apelo, como que zelando pela
importância insubstituível da escola convencional em favorecer o convívio
social e a tessitura do caráter moral do indivíduo. Não nego, porém, que possa haver vantagens
relativas nas escolas, mas, francamente, acho que se houver são próximas de
nula. Se, entretanto, admitirmos que
possa haver, estas de modo algum chegam a se sobrepor às vantagens do ensino
domiciliar ao ponto de as autoridades terem motivos para criminalizarem esta
prática.
Convenhamos:
o que está em jogo é a transferência de poder - das famílias e indivíduos para
o estado. Num mundo em que os indivíduos
são tratados pelo estado cada vez mais como mentecaptos incapazes de fazerem
escolhas (para escolher políticos, todavia, somos sábios desde os 16 anos)
torna-se inadmissível que os pais ensinem seus próprios filhos. Por isso o teor despropositado do veredicto.
A família
de Cleber está travando uma luta admirável e que merece todo o nosso apoio. Talvez
poderíamos começar por pedir que nosso Presidente da República realizasse as
provas a que Jonatas e Davi foram submetidos. Que tal?
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Leia mais detalhes em: O Homeschooling
nos EUA (e no Brasil)
Sobre a educação: A obrigatoriedade
do diploma - ou, por que a liberdade assusta tanto?