segunda-feira, 8 mar 2010
Você está procurando um emprego? Quer
ganhar um salário várias vezes maior do que aquilo que você realmente vale? Quer ter a liberdade de chegar e sair quando
quiser, trabalhar somente quando estiver a fim, esticar a seu bel-prazer o
horário de almoço, ter todos os seus feriados remunerados e até doze semanas de
férias, também remuneradas, por ano? Há
somente uma alternativa: trabalhar para o governo federal.
Suponho que poucos brasileiros tenham alguma ideia de como a coisa
funciona. Se tivessem, certamente haveria
um terremoto político. Como membro da
Classe Parasítica há 15 anos, testemunhei de tudo e participei em primeira mão
desse corrupto e grotescamente injusto sistema.
Não apenas estou qualificado, como também sou moralmente obrigado a
expô-lo.
Você poderia, obviamente, me chamar de hipócrita. Financeiramente, prosperei muito além dos
meus sonhos mais extravagantes. Considerando-se
meus talentos, meu trabalho e minha produtividade, meu padrão de vida é muito
maior do que aquele que eu poderia ter atingido trabalhando duro no setor
privado.
Porém, por ter lido os livros certos, e por ter tido conversas demoradas e
detalhadas com minha esposa (uma empregada do setor privado) e com nossos
amigos, também da iniciativa privada, finalmente passei a ver esse repugnante
sistema como ele realmente é.
O que leva as pessoas a trabalharem para o governo? O que as mantém lá por toda a vida? É simples: compensações excessivas, enormes
benefícios e ótimas condições de trabalho.
É atraente para entrar e praticamente impossível de se querer sair. Isso porque o governo, de modo geral,
remunera habilidades e experiências que não seriam comercializáveis no setor
privado, pelo menos não no mesmo nível salarial.
Peguemos a mim como exemplo. Sou
formado em ciência política. Escrevo,
faço editoração e pesquisa. Os pagadores
de impostos me garantem um salário (contando o 13º) de R$ 117.000 por ano, além
de benefícios como plano de saúde gratuito e aposentadoria integral. Eu não poderia ganhar isso legitimamente no
setor privado. Se você não acredita em
mim, dê uma pesquisada nos anúncios de classificados. Salários para "escritor/editor" e "analista"
começam em, no máximo, R$ 35.000 por ano, sem contar o que será descontado pelo
INSS.
Mas digamos que eu consiga um emprego no setor privado (supondo que alguém
iria contratar uma pessoa com a produtividade de quem passou toda a sua vida
adulta trabalhando para o governo). E
vamos também supor que eu consiga ganhar os mesmos R$ 117.000 do setor público.
O que eu perderia se saísse do governo?
Pra começar, uma semana de trabalho curta já estaria fora de qualquer
perspectiva. Eu poderia até me aventurar
a adotar uma rotina de trabalho menor, mas isso seria prejudicial para a minha
renda. Eu também teria de cumprir prazos
e exigências - coisas com as quais não estou acostumado -, pois os consumidores
querem o serviço feito sempre em tempo hábil.
Eu também teria de esquecer qualquer chance de conseguir folgar em todos os
feriados - e, pior ainda, ter folgas remuneradas em todos eles. Os trabalhadores do setor privado
dificilmente conseguem uma folga remunerada na Semana Santa ou no
Carnaval. Meus amigos do setor privado se
contorcem todos naquele misto de raiva e inveja quando lhes digo que não
trabalho mas sou remunerado em feriados espúrios como Tiradentes, Dia da Consciência
Negra e Finados.
E quanto às férias? Atualmente, posso
gastar 17,4% do meu horário de trabalho em férias. São doze semanas por ano, eternamente. O tempo médio de férias no setor privado é de
duas semanas, e, para alguns, isso não é um direito.
Eu também poderia dar adeus aos "benefícios" extraoficiais: por exemplo,
todos os dias faço uma corridinha leve de uma hora, seguida de um banho
prolongado e um almoço calmo e tranquilo.
Isso me mantém em ótima forma para usufruir minhas constantes
férias. E visitas a algum shopping
durante minha hora de trabalho são sempre possíveis (pois ninguém é de
ferro). Stress? Não tem como.
Se relaxamento prolongasse a longevidade, burocratas viveriam até os 150
anos de idade.
Todos os anos, nossos valorosos sindicatos choramingam sobre a disparidade
entre o trabalho do setor público e o do setor privado. Eles invariavelmente concluem que os
burocratas precisam de maiores salários e de mais benefícios, exigindo portanto
que o governo confisque mais dinheiro daqueles que trabalham genuinamente. Como sempre sou beneficiado - dado que o governo
não se atreve a peitar o sindicalismo, sua base de apoio -, gosto muito. Mas é claro que o argumento sindicalista é
uma enorme besteira. Se os burocratas
fossem pagos de acordo com seu real valor para a sociedade, o resultado seria
um êxodo em massa do setor público, e o governo federal teria de encerrar suas
atividades.
Para quem é versado em economia de livre mercado, as razões para todo esse
abuso sobre aqueles que trabalham duro e são obrigados a pagar impostos para
sustentar essa classe superior e parasitária são óbvias. Ao contrário do setor privado, o governo não
está sujeito aos rigores do sistema de lucros e prejuízos. O governo pode tributar, imprimir dinheiro e
pegar empréstimos privilegiados junto ao setor bancário - que está sob seu restrito
controle - para cumprir com suas obrigações.
Ele pode pagar a milhões de pessoas um salário absurdamente fora de
proporção, e não ser superado por nenhum concorrente que tenha uma gestão mais
eficiente.
Sem ter de se submeter à disciplina imposta pelo mercado, o governo é
naturalmente uma máquina ineficiente pelos padrões do setor privado. Ele jamais irá abolir ou mesmo reduzir por
conta própria funções desnecessárias. Na
hierarquia do funcionalismo público, quanto mais alta a função, menos falta ela
faz. Porém são exatamente esses lá de
cima que têm poder de decisão sobre a máquina.
E eles jamais irão tomar decisões que atentem contra si próprios.
Enquanto o resto da população continuar sendo enganada pela propaganda e
levada a crer que os funcionários do governo são pessoas que se sacrificam pelo
bem público, os políticos não irão sentir qualquer pressão para reduzir essa
máquina de espoliação em massa.
Já comecei a procurar a sério um emprego no setor privado. Terei de me submeter a um enorme corte
salarial e abrir mão dessas generosas "benesses" que você pagador de imposto me
concede. Porém, ao agir assim, estarei
finalmente contribuindo com algo positivo para a sociedade. E só assim poderei ser capaz de viver bem
comigo mesmo, sem o sentimento de culpa que carrego por estar parasiticamente
vivendo bem à custa daqueles que se sacrificam diariamente para me sustentar.