quinta-feira, 24 set 2009
Para entender o atual momento da economia brasileira é preciso, acima de tudo, saber separar o que o governo diz daquilo que ele realmente faz. É preciso fazer uma distinção entre o que é prática real e o que é mera retórica eleitoreiro-populista.
Que o governo brasileiro é pródigo em bravatas
e em discursos de fácil apelo popular, é algo de que todos já sabem.
Duas coisas foram muito comemoradas pelo
governo e pela mídia recentemente: o aumento do PIB do segundo trimestre deste
ano em relação ao primeiro trimestre, e a queda no desemprego.
Economistas keynesianos - isto é, todos os
economistas do governo e da mídia - dizem que isso é resultado do aumento dos gastos
do governo, das famílias e do aumento de crédito. Donde eles concluem que, não só houve uma
intervenção governamental, como também ela foi essencial para "salvar" a
economia.
A intenção desse boletim é separar os fatos da
ficção.
OFERTA MONETÁRIA E INFLAÇÃO
Como o dinheiro é o elo entre todas
as atividades econômicas, é natural que alterações na quantidade dessa variável
provoquem efeitos na economia. Portanto,
para analisarmos as flutuações da economia brasileira temos, antes de tudo, de
analisar as alterações por que passaram algumas das principais variáveis
monetárias do país.
Apesar dos recentes cortes na taxa SELIC, que
atualmente está no nível mais baixo de toda a sua história (8,75%), a base
monetária, o M1 e os depósitos à vista estão crescendo em níveis anuais
historicamente baixos.
O gráfico a seguir - utilizando dados
fornecidos pelo site do BACEN - mostra qual foi a variação percentual dessas
três variáveis em relação ao mesmo mês do ano anterior, o que dá uma boa idéia
sobre se houve uma aceleração, uma desaceleração ou uma retração na expansão de
cada uma delas:

Para haver uma recessão, é preciso que haja uma
farra de crédito fácil, que é o período do boom econômico, seguido por um
enxugamento desse crédito, que é o período da recessão. (Estamos obviamente desconsiderando aqui
choques de oferta, como um aumento repentino do preço do petróleo).
O gráfico mostra que as três variáveis iniciam
janeiro de 2006 10% maiores do que estavam em janeiro de 2005. A partir
daí, essas taxas vão subindo constantemente, de modo que, de janeiro de 2006
até julho de 2008, as três variáveis se expandiram em termos anuais a taxas
superiores a 10%, sendo que, de abril de 2007 até fevereiro de 2008, as três
ficaram constantemente acima de 20%.
Isso aditivou o boom da economia brasileira em
2007 e 2008. Porém, observe a acentuada queda sofrida pela base monetária
e pelos depósitos à vista a partir de junho de 2008. Em julho/08, ambas cresciam a taxa anuais
superiores a 10%. Em novembro/08, ambas despencam para 0%. Em abril
de 2009, elas já haviam regredido ao mesmo patamar nominal que estavam em abril
de 2008. É como se seu crescimento entre
o período de abril/08 a abril/09 tivesse sido nulo.
Detalhe adicional: observe que essas variáveis
sempre iniciam um ano em um nível pelo menos 10% maior que o mesmo mês do ano
anterior. Nesse ano de 2009, elas começaram exatamente no mesmo nível de
janeiro de 2008.
A base monetária, que em janeiro deste ano
havia sido apenas 0,1% maior que a de janeiro de 2008, terminou o mês de agosto
sendo apenas 3,6% maior do que em relação a agosto de 2008 - talvez um dos
menores níveis de expansão da base monetária na história do país.
O mesmo pode ser dito dos depósitos à vista,
que, até junho, mantiveram um nível anual de expansão de 0%. O M1, o mais "expansivo" dos três, apresentou
uma expansão média de 6% até agosto desse ano em relação ao mesmo período do
ano passado - uma expansão também historicamente baixa.
E, como veremos mais abaixo, foi essa contida
expansão monetária que ajudou a fazer com que o período da recessão técnica no
Brasil tenha sido curto.
INFLAÇÃO DE PREÇOS
A contida expansão da base monetária e do
agregado monetário M1 explica a deflação apresentada no atacado, medida pelos
índices IGP-DI e IGP-M. Por sua vez, o
IPCA, voltado para o varejo, apresentou inflação positiva, conquanto moderada.

O EFEITO DA DEFLAÇÃO NA RECUPERAÇÃO
ECONÔMICA
Apesar da repetida retórica, capitaneada por
Guido Mantega e secundada por todos os economistas do establishment, de que a
deflação de preços é ruim para a economia - e que, por isso, deve ser evitada a
todo custo -, o governo felizmente não tentou combatê-la. Ao contrário: por meio dos cortes de IPI, ele
acabou por estimulá-la.
E foi exatamente isso que ajudou a economia.
Como bem explica a teoria austríaca, a deflação
de preços - que normalmente é gerada por uma deflação monetária ou por uma contida
expansão monetária - é em última instância a cura das recessões. O governo dos EUA vem fazendo de tudo para
impedir que os preços dos produtos americanos caiam. Com isso ele conseguiu apenas prolongar a
recessão e aumentar o desemprego - que pulou de 4,7% em dezembro de 2007 para
9,7% em agosto último.
O governo brasileiro felizmente não teve a
mesma competência. Como resultado, os
preços das matérias-primas agrícolas e industriais no atacado apresentaram
variação negativa de dezembro até agosto.
O que aconteceu com a economia brasileira é uma
boa ilustração de como a deflação de preços abranda uma crise. Como explicado detalhadamente aqui, a expansão monetária realizada pelo Banco Central gerou um
aumento artificial da atividade econômica brasileira. Isso ocorreu simultaneamente a um boom
econômico mundial, gerado pela expansão monetária praticada concertadamente
pelos principais bancos centrais do mundo, liderados pelo Fed.
Como conseqüência, o desemprego no Brasil foi a
níveis historicamente baixos e o setor industrial, estimulado pela demanda
(artificial) externa, entrou em capacidade máxima. Veja a seguir a tabela mostrando a variação
do emprego na indústria, tomando-se como base o nível 100 para janeiro de 2001.

Observe que a partir de 2007, em decorrência do
boom mundial, o emprego na indústria decola, chegando ao ápice em setembro de
2008, mês em que a crise mundial tornou-se explícita. A partir dali a
contração torna-se brusca, de modo que já em março de 2009 o emprego caiu para
níveis menores que os registrados em 2001.
Como previsto pela teoria austríaca, durante
uma contração que se sucede a um período de expansão econômica, os setores que
representam os primeiros estágios da cadeia de produção são os que mais sofrem
- no caso, o setor extrativista, siderúrgico, e as indústrias de bens de
capital e intermediárias. Já os setores que representam os estágios
finais da cadeia de produção são os que menos sofrem - como é o caso do varejo
(principalmente o comércio de bens não-duráveis) e do setor de serviços.
Os empregos na indústria sumiram em decorrência
da queda tanto da demanda interna quanto da demanda mundial. A tabela
deixa claro que o nível de emprego atingido em meados de 2008 foi uma anomalia,
resultado de uma demanda totalmente estimulada pelo crédito fácil que irrigou
todo o mundo, que por sua vez foi consequência das ações conjuntas dos bancos
centrais mundiais.
A partir de julho, o emprego industrial começa
a apresentar uma ligeira recuperação, tendência essa que se confirmou em agosto. Embora a tendência seja de
alta, dificilmente o emprego industrial vai voltar aos níveis apresentados em
meados do segundo semestre de 2008.
Aquele mundo irrigado pelo crédito fácil e com a demanda em expansão já
acabou. Foi uma anomalia insustentável. Era crédito sem lastro em poupança. A recessão veio justamente
para corrigir essas distorções.
O setor industrial brasileiro estava claramente
sobredimensionado, pois estava voltado principalmente para o setor
internacional. A sua demanda vinha muito
mais do mercado externo do que do interno.
Por isso a acentuada correção que ele sofreu.
Comparemos agora o setor industrial ao setor de
comércio, de serviços e da construção civil.
Veja os níveis de emprego destes setores (a base 100 é de dezembro de
2008 e os dados são dessazonalizados):

Para esses setores praticamente não houve
crise. O setor da construção civil foi
favorecido tanto por incentivos tributários quanto pelo direcionamento direto
de crédito para capital de giro, financiado pelo BNDES. A Caixa Econômica Federal, por sua vez,
também liberou financiamentos para a venda de eletrodomésticos, eletrônicos,
móveis e materiais de construção das lojas de pequeno e médio portes. Além disso e dos cortes do IPI, houve cortes
no Imposto de Renda de Pessoa Física e no IOF.
A ideia clara era incentivar o consumo.
Todas essas medidas funcionam como se fossem
uma deflação de preços. Sim, é verdade
que a demanda foi artificialmente elevada.
Também é verdade que se trata de um programa que não tem como durar se
não houver um aumento do investimento e da produção. O impacto positivo é marginal e não soluciona
de modo perene uma crise financeira.
Entretanto, essas medidas mostram bem como a
deflação é benéfica em um momento de crise.
O segredo do sucesso de uma correção econômica - isto é, de uma recessão
- é que os preços dos bens de produção caiam mais rapidamente e em maior grau
do que os preços dos bens de consumo. Se
houver uma deflação do dinheiro e do crédito, o processo será ainda mais
rápido.
Em parte, foi isso que aconteceu. Embora não tenha havido uma deflação
monetária, o governo permitiu que houvesse uma deflação de preços nos bens de
produção. Com isso, os investimentos
errôneos e mal dimensionados feitos no setor industrial foram liquidados e a
mão-de-obra que até então estava empregada nesses setores, consumindo capital
de modo ineficiente, foi liberada e direcionada para atividades mais
produtivas. O valor do capital dessas
indústrias diminuiu em decorrência da deflação de preços.
Isso vai obrigar essas indústrias a reempregarem
seu capital de modo mais eficiente, seguindo novas oportunidades de lucro. Caso o governo tivesse impedido essa correção,
aplicando uma política de sustentação de preços, ele teria apenas adiado o
inevitável rearranjo. Porém, assim que a
correção novamente se tornasse necessária, a crise no setor seria ainda mais
intensa.
O Banco Central até que conseguiu não
atrapalhar tanto, uma vez que sua expansão monetária tem sido bastante contida. Já as políticas de crédito fácil e de
incentivo ao consumo adotadas pelo Ministério da Fazenda foram direcionadas
para os bens de consumo final e, à exceção das montadoras de automóveis, não
influenciaram muito o setor industrial, que continuou em retração. Enquanto não houver uma
melhora sensível da economia internacional, principalmente da Europa e dos EUA,
o setor exportador - isto é, o setor extrativista, siderúrgico, e as indústrias
de bens de capital e intermediárias - continuará parado. Atualmente é a China quem o segura.
ERROS E ACERTOS
Portanto, podemos dizer que o governo acertou
ao cortar impostos e ao não fazer políticas deliberadamente voltadas para a
manutenção artificial dos preços. A
deflação de preços ocorrida no setor de matérias-primas industriais e agrícolas
obrigou esse setor a fazer suas correções e, não obstante o processo seja
doloroso, a reconfiguração desse setor lhe dará musculatura para o futuro.
A queda nos preços desses bens de produção,
aliada a um alto volume de estoques, aos cortes nos impostos e ao crédito
facilitado, gerou um maior volume de vendas do bens de consumo final produzidos
por esses insumos, o que beneficiou principalmente os mais pobres. Esse maior consumo ajudou a manter alguns
setores comerciais em
expansão. Porém, assim
que esse estímulo acabar - seja por meio do fim do incentivo fiscal, seja por
meio do aumento dos juros - esses setores terão dificuldades. E eles terão de combatê-las via deflação de
preços.
Já o crédito concedido ao setor da construção
civil o manteve aquecido durante toda a crise.
Embora a princípio essa possa parecer uma política acertada, inevitavelmente
haverá uma correção no longo prazo. A
questão é quando esse longo prazo chegará.
Considerando-se que o governo federal está envolvido em programas como o
Minha Casa, Minha Vida, é muito
difícil imaginar que os subsídios irão acabar num futuro próximo. Quem está envolvido direta ou indiretamente
nesse setor vai se dar bem - à custa do contribuinte.
O setor de comércio e o setor de serviços, como
já explicado pela teoria, são os que menos sentem crises econômicas. Uma possível queda na demanda por esses
setores dificilmente gera demissões em massa. E não
houve essa queda.
UMA BOLHA EM GESTAÇÃO
A bolha americana que estourou em 2008 teve sua
origem na excessiva expansão de crédito imobiliário, assim como na manutenção
de taxas de juros artificialmente reduzidas pelo Fed. Os principais veículos
para a explosão do crédito imobiliário foram as semi-estatais Fannie Mae e
Freddie Mac.
Dessa vez, o erro pode estar sendo feito no
Brasil. Quando o Banco do Brasil divulgou seu último resultado, o ministro
Guido Mantega chegou a convocar uma entrevista coletiva para celebrar o
crescimento da carteira de crédito do banco, alertando que os bancos privados
poderiam "comer poeira" se não seguissem o mesmo curso. Chega a ser temerário
um ministro da Fazenda estimulando dessa forma o crescimento do crédito, num
momento onde a cautela se faz necessária.
Somando-se o total de crédito concedido pelo
Banco do Brasil, BNDES e Caixa Econômica Federal, chega-se a um crescimento de
cerca de 30% comparado ao ano anterior. O total do passivo desses três bancos
aumentou 36% nesse período, sendo que o patrimônio líquido deles permaneceu
praticamente estável. Em outras palavras, o grau de alavancagem cresceu de
forma impressionante. Esses bancos estatais possuem apenas um real de
patrimônio para cada dezessete reais de passivo. São apenas R$ 70 bilhões de
patrimônio sustentando um passivo acima de R$ 1,2 trilhão. Em contrapartida, os
dois maiores bancos privados do país, Itaú Unibanco e Bradesco, possuem pouco
mais de R$ 1 trilhão de passivo, para quase R$ 90 bilhões de capital, uma
alavancagem perto de 12 vezes. Ou seja, os bancos privados demonstram mais
responsabilidade no que diz respeito ao grau de alavancagem.
Os governantes costumam focar nas próximas
eleições, ignorando os riscos de suas medidas no longo prazo. Com uma quase
obsessão pelos dados trimestrais do PIB, esquece-se do perigo da bolha de
crédito.
É verdade que o patamar de crédito em relação
ao PIB não é dos maiores no Brasil, se comparado ao nível dos países mais
desenvolvidos. Segundo o Banco Central, o total de empréstimos bancários no
país representa 37% do PIB, o maior valor desde o Plano Real, mas ainda bem
abaixo da média dos países ricos. No entanto, o crescimento na margem tem sido
espetacular, levantando dúvidas quanto à sustentabilidade dessa situação. Além
disso, não se pode descartar a significativa redução na taxa Selic, que, como já
dito, chegou ao menor patamar desde sua criação em 1986. Apenas nesse ano, a
taxa já foi cortada em cinco pontos percentuais. Os efeitos disso costumam
levar algum tempo para aparecer, mas é inegável que bastante lenha foi jogada
na fogueira da economia.
A QUESTÃO DO EMPREGO
Os dados do IBGE e do CAGED mostram uma queda
no desemprego. Já os dados do DIEESE
mostram uma certa estabilidade, pontuada por uma certa tendência de
aumento. Setores de oposição ao governo
fantasiam que está havendo manipulação.
É possível?
Eis os números do IBGE:

Manipulação, não. Mas há um detalhe a ser levado em conta.
Como os custos trabalhistas no Brasil são
reconhecidamente altos, várias empresas optaram por contratar boa parte dos
funcionários como se fossem empresas prestadoras de serviço. Isso era legítimo e ambos os lados saíam
ganhando. Mas isso foi no passado. O governo, movido por sua sanha tributária,
alterou essa legislação e passou a fiscalizar com mais intensidade os contratos
de trabalho. Consequentemente, as
empresas foram obrigadas a voltar para a CLT.
E o que isso acarretou? Várias pessoas que já estavam trabalhando tiverem
de ser efetivadas pela CLT, com registro em carteira e tudo; só que a um
salário menor. E essas pessoas entraram
para as estatísticas do emprego. Ou
seja: pessoas que já estavam empregadas tiveram seu contrato de trabalho
alterado (estavam como terceirizadas e passaram para a CLT) e isso fez com que
elas entrassem para as estatísticas como se novos empregos tivessem sido
criados. É difícil precisar o quanto
isso afetou os dados coletados pelo CAGED, mas não é exagero pensar em algo
significativo, principalmente no setor industrial.
OS RENDIMENTOS
Como já explicamos nesse artigo, os gastos do governo e a excessiva carga
tributária engessam os rendimentos obtidos no setor privado ao mesmo tempo em
que elevam os rendimentos obtidos no setor público. Como é o primeiro quem sustenta o segundo,
tem-se aí uma situação explosiva e insustentável. O arranjo ainda pode perdurar muito tempo,
mas quando entrar em colapso será algo pirotécnico. A tabela abaixo, que mostra o rendimento médio
de ambos os setores, ajuda a explicar o porquê:

Enquanto os rendimentos do setor privado
permanecem estagnados, os salários do setor público - que não produz riqueza,
apenas absorve - seguem em
alta. Esse cenário vai
continuar assim enquanto os gastos do governo e a carga tributária seguirem
crescendo. Sem se atacar essas duas
variáveis, não há chances de alterar essas perspectivas. Falar que é preciso melhorar a educação para
melhorar os salários é algo totalmente secundário quando se sabe que a real
barreira ao crescimento da massa salarial é o tamanho do estado.
INVESTIMENTOS
A importação de bens de capital é a única
variável que apresentou crescimento nos últimos doze meses (talvez por causa do
câmbio mais favorável), embora esteja em queda acentuada. Já a produção de bens de capital no país, que
vinha declinando desde setembro de 2008, entrou em território negativo em abril
desse ano (consequência óbvia do fraco desempenho dessa indústria). Os
insumos da construção civil, que estavam relativamente estáveis, também
declinaram, não obstante todos os incentivos do governo. Caso esse cenário não se reverta, o
crescimento econômico futuro está em risco, posto que não há crescimento
sustentável sem investimentos prévios.

CÂMBIO
O Federal Reserve (o banco central americano)
continua aumentando a base monetária ferozmente, como pode-se ver aqui. Entretanto, a quase totalidade desse
dinheiro recém-criado continua sendo voluntariamente mantida pelos bancos como
reservas depositadas junto ao Fed. A insegurança é tamanha que os bancos
preferem deixar o dinheiro parado no Fed (rendendo míseros juros de menos de
0,25% ao ano) a fazer empréstimos.
Não obstante, o dólar já iniciou seu processo -
a nosso ver, irreversível - de desvalorização. Não só em relação ao real,
como também em relação a todas as principais moedas do mundo. A tendência
é que o câmbio siga em queda, embora algumas oscilações obviamente não estejam
descartadas.
Um dólar desvalorizado pode estimular a
importação de insumos e facilitar o investimento, ao mesmo tempo em que ajuda a
conter a inflação de preços.
BOLSA
Como corretamente previram Peter Schiff, Jim
Rogers e Marc Faber, as bolsas se descolaram da economia real. A maciça injeção monetária praticada pelos
governos mundiais garantiu sua alta. Sem
ter outras atrações, esse dinheiro acabou sendo direcionado para as bolsas, que
apresentaram valorizações significativas.
O Ibovespa já subiu mais de 100% desde o auge
da crise. A tendência geral da Bovespa é
de alta, embora algumas correções não estejam descartadas. A trinca de investidoras mencionada acima
acredita que a Dow Jones, como consequência da política inflacionista
americana, pode apresentar ganhos nominais, embora em termos reais irá haver
perdas, em decorrência da inflação. Jim Rogers diz que o futuro é das commodities e que quem
for agricultor estará rico. Como isso vai influenciar algumas ações
da Bovespa fica a cargo do leitor.
GASTOS DO GOVERNO E ARRECADAÇÃO
Como consequência tanto da recessão quanto do
menor crescimento da oferta monetária, a arrecadação do governo federal segue
em queda, não obstante o superávit primário venha sendo mantido. Porém, no
período de janeiro a julho do ano passado, o governo havia conseguido um superávit primário de R$ 92,7
bilhões. Para esse ano, nesse mesmo período o superávit primário foi de R$ 38,4 bilhões.
Essa queda no superávit primário é resultado,
além da queda na arrecadação, da expansão dos gastos correntes do governo, o
que pode afetar o PPR do país para o ano de 2009.
E quando se sabe de antemão que as despesas do governo federal
aumentaram, de janeiro a julho deste ano, 12,5% em relação ao mesmo período do
ano passado, e que nesse mesmo período os gastos com funcionalismo subiram 15,14%,
e os gastos previdenciários, 8,65%, já é possível ter a noção de que o PPR não
será nada alvissareiro.
CONCLUSÃO
A aparente recuperação da economia brasileira
pode ser creditada principalmente à queda de preços no atacado, o que beneficia
o consumo principalmente dos mais pobres e reaquece a economia. De acordo com as estatísticas divulgadas pelo
IBGE, foi exatamente o consumo das famílias a força-motriz do PIB. Porém, apenas com consumo, e sem
investimentos, a recuperação não é sustentável.
E os investimentos não estão aparecendo.
Ao contrário, recuaram 17% em relação ao mesmo período de 2008.
Boa parte desses gastos em consumo também
ocorreu em decorrência do crédito facilitado oferecido por alguns instrumentos
do governo. Assim que esse crédito
encarecer - uma inevitabilidade - haverá uma correção no nível de consumo, o
que pode afetar o PIB. Outra preocupação
é o nível de inadimplência, que pode subir e dificultar ainda mais a concessão de
crédito para os bons pagadores.
Da mesma forma, se não houver investimentos -
algo que só é feito quando se sabe que a demanda será constante, e não temporária
- um alto nível de consumo é insustentável. Afinal, as pessoas vão consumir o quê? Desnecessário lembrar que a produção deve
anteceder o consumo.
Já os gastos do governo e a carga tributária
seguem engessando os rendimentos do setor privado, o que desestimula a ida de
cérebros para esse setor e incentiva os melhores a buscar refúgio no setor
público, que não produz riqueza. Um país
no qual os mais preparados estão em busca do setor destruidor de riquezas não
pode vislumbrar um futuro espetacular. E
não há o menor sinal de que essa tendência será revertida num prazo humanamente
suportável.
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Como de praxe, eis a melhor ilustração da
teoria dos ciclos econômicos:
O ciclo econômico em um PowerPoint animado (os triângulos
hayekianos)