segunda-feira, 3 ago 2009
Já ouviram as boas novas sobre a
economia americana? A recessão
acabou! É verdade, eu vi na TV. Por que se preocupar com o
aumento no desemprego quando
se sabe que os bancos voltaram a pagar bônus polpudos a seus executivos?
A prova da recuperação aparentemente
foi revelada pelos números do PIB do segundo trimestre, que mostravam que a
economia americana havia encolhido apenas 1%.
Após quatro trimestres consecutivos de PIB negativo, os otimistas agora
garantem que o crescimento estará de volta no terceiro trimestre. Mas antes de estourarmos o champanhe, seria
interessante perguntar, "o que realmente mudou, e o que é responsável por essa
nova perspectiva de vida?"
Em verdade vos digo que, por causa da
contínua devassidão fiscal do governo americano e da impressão monetária
desmesurada do Federal Reserve, os desequilíbrios que causaram a atual recessão
na verdade foram piorados. Os EUA estão
agora em um buraco ainda mais fundo do que estavam antes de a crise
começar. Ao invés de estar saindo da
recessão, o país na realidade está se afundando em uma depressão. Se as coisas parecem melhores agora, é apenas
porque estamos no olho do furacão.
É válido lembrar que períodos de
crescimento econômico artificial inevitavelmente são seguidos de
recessões. Durante esse período de
"crescimento", vários investimentos errôneos são empreendidos; e justamente por
causa dessa natureza errônea, esses investimentos inevitavelmente precisarão
ser liquidados. Temos aí o período da
recessão. Ou seja, os erros cometidos
durante os booms artificiais são corrigidos durante as recessões - e, em seu
último boom, os EUA capricharam em seus erros.
Os americanos se endividaram e gastaram excessivamente, compraram bens
que não podiam bancar, construíram casas que não podiam manter, e criaram uma
economia baseada no setor de serviços que era totalmente dependente de crédito
farto e de ativos com preços crescentes.
Ao mesmo tempo, o fato de o dólar ser a moeda internacional de troca - e
o banco central americano poder imprimi-la sem restrições - fez com que a base
industrial do país fosse aniquilada, uma vez que era possível importar algo em
troca de nada.
Se o país quiser realmente criar as
bases para uma recuperação real e duradoura, só há uma solução: as forças de
mercado devem ser liberadas para reparar o estrago. Entretanto, a atual política do governo Obama
vai contra esse objetivo. Trilhões de
dólares em estímulo permitiram que a farra se prolongasse, mas e agora? Como os déficits governamentais irão corrigir
os problemas que criaram o atual colapso?
Não irão; os déficits irão apenas atrasar e piorar a ressaca - e esperemos
que o país não morra de coma alcoólico.
A recessão é um período doloroso,
porém necessário, de correção econômica.
É ela quem "limpa" todos os excessos cometidos durante o boom
artificial, que foi gerado pela política de juros baixos do Fed. Ao interferir no funcionamento desses
desagradáveis sintomas da recessão, os EUA estão simplesmente obtendo alguns
benefícios de curto prazo em troca de um maior sofrimento de longo prazo.
Ao socorrer empresas ineficientes que
deveriam quebrar, o governo está impedindo que o capital utilizado ineficientemente
por essas empresas possa ser alocado para outras empresas mais eficazes, o
que permitiria seu crescimento. Ao
impedir que os ativos que estão sobrevalorizados possam ter seu preço
determinado realisticamente pelo mercado, o governo está impedindo que os mais
prudentes - ou mesmo os mais pobres - possam adquiri-los, o que acabaria
criando um novo equilíbrio de preços, desta vez baseado na realidade. Ao manter os juros artificialmente baixos, o
governo está desestimulando a poupança - exatamente aquilo que é tão necessário
para a formação de capital, que é o que possibilita o crescimento econômico. (Ademais, os falsos sinais econômicos que uma
taxa de juros artificialmente baixa emite para o mercado impedem que haja uma
eficiente realocação de recursos, o que gera ainda mais decisões econômicas
insensatas). Ao incorrer em déficits
gigantescos, o governo sobrepuja a iniciativa privada, sugando-lhe recursos e
fazendo com que seja ainda mais difícil para as empresas contratarem ou
investirem.
O programa "cash for clunkers"[*], recentemente implantado pelo governo americano, é um
perfeito exemplo de como uma política governamental pode piorar a economia. Ao incentivar os americanos a destruírem os
carros pelos quais pagaram integralmente - para que possam se endividar ainda
mais para comprar modelos novos -, o governo está debilitando uma já estropiada
economia. A última coisa de que
precisamos é subsidiar os americanos para que eles se endividem ainda mais e
saiam comprando mais coisas. Será que
eles não percebem que foi exatamente esse comportamento que criou toda a atual
confusão?
Pense dessa forma: se seu amigo
estivesse em apuros porque se endividou muito, você o encorajaria em se
endividar ainda mais, falando que isso seria bom para ele? Será que um real sinal de progresso não seria
uma redução da dívida, mesmo que para isso ele tivesse que cortar várias
despesas? O que é válido para um
indivíduo também é válido para um coletivo de indivíduos, mesmo que estes se
chamem a si próprios de "governo". Se um
país está mais endividado hoje do que antes, ele está em piores condições. Ponto.
O fato de que uma dívida adicional pode elevar no curto prazo os números
do PIB, torna-se algo negativo no longo prazo.
Um outro ponto que vale a pena
mencionar sobre esse programa "Cash for Clunkers" é como ele piora a vida dos
mais pobres. A intenção do programa é
tirar os "clunkers" (carroças) das ruas e entregá-los para o governo, que os
destruirá. Mas esses tipos de carro são
exatamente aqueles que os pobres ou as pessoas de renda fixa tendem a
comprar. Essas "carroças" estão, em sua
maioria, em ótimo estado, porém não são "verdes" o suficiente de acordo com as
determinações governamentais. Assim, as
pessoas mais pobres, que não podem se dar ao luxo de comprar os novos
automóveis aprovados pelo governo (e, por isso, artificialmente caros), terão
de ir passear - literalmente!
Como o governo irá destruir essas
"carroças", o mercado de carros usados e baratos irá secar, levando a um
aumento dos preços e, consequentemente, dificultando ainda mais a vida dos
pobres e de todas as pessoas - trabalhadoras e aposentadas - que vivem de renda
fixa. O aposentado que precisa apenas de
um carro velho e barato para ir à farmácia comprar seus remédios será forçado a
ir a pé ou de táxi. E se ele quiser
comprar um carro novo, as financeiras irão dar uma olhada em sua renda
previdenciária e simplesmente dizer "próximo!".
Esse programa é apenas mais um exemplo de ataque governamental aos
pobres em benefício das montadoras politicamente poderosas e de suas
financeiras. Como em todos os programas
estatais, os pobres ganham apenas a conta final.
Em resumo: como não aprendemos nada
com os erros do passado, estamos condenados a repeti-los. Como se ainda não tivéssemos sofrido o
suficiente por conta dos estímulos da dupla Bush/Greenspan, a dupla
Obama/Bernanke está ministrando doses cada vez maiores, que provavelmente
mostrar-se-ão letais para qualquer recuperação.
A recessão acabou; vida longa à
depressão!
_____________________________________________________
[*] N. do T.: Mais
uma estupidez criada pelo governo Obama, em que o governo promete pagar 4 mil
dólares para cada cidadão que der seu carro para o ferro-velho e comprar um
outro mais "ecologicamente correto". Um
negócio e tanto para as revendedoras com conexões políticas, que obviamente
estão atrás do lobby. Porém, como tudo
que é gerido pelo estado, o projeto revelou-se mal dimensionado, os fundos
acabaram e o programa encontra-se temporariamente suspenso - até que o governo
consiga a aprovação do Congresso para aumentar os fundos destinados ao
programa, algo que certamente não demorará a ocorrer.