Aqueles que propõem agressivas intervenções
governamentais em nome da luta contra "as mudanças climáticas" sempre gostam de
posar de defensores do "consenso científico", e ainda rotulam de "negacionistas"
qualquer um que discorde de sua agenda.
Obviamente, tal rótulo acarreta toda uma série de
adjetivos pejorativos sobre o alvo, o que serve apenas para interditar
totalmente qualquer debate.
Entretanto, a realidade é que a literatura econômica
avaliada por especialistas e revisada por pares (peer-reviewed)
jamais chancelou as mais populares metas das Nações Unidas, como a de limitar o
aquecimento global em 2,0ºC, e muito menos o teto mais estrito, de 1,5ºC.
Em 2014, utilizei o mais recente relatório da própria
ONU — o Painel
Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) — para apresentar
este argumento. Já o vencedor do Nobel de 2018, William Nordhaus, possui
um carreira em modelagens climáticas (seu prêmio Nobel foi exatamente por "integrar
as mudanças climáticas na análise macroeconômica de longo prazo") que não chega
nem perto de defender as agressivas metas da ONU.
Recentemente, surgiu mais um exemplo. E este é
poderoso. Como será demonstrado abaixo, uma das principais autoras do "Relatório Especial" da ONU em defesa da meta
de 1,5ºC é também co-autora de uma monografia de 2018 que admite que tal meta é difícil de ser justificada.
Isso deve ser estarrecedor para os mais ingênuos que
supõem que "a ciência e todos os cientistas" apóiam as metas de temperatura da ONU.
O fato é que, como este exemplo demonstra, a nova meta da ONU é tão extrema,
que é difícil até mesmo para seus simpatizantes criarem uma maneira de tentar
justificá-la por meio de análises econômicas convencionais.
As
credenciais de Rachel Warren
Para contextualizar: no segundo semestre de 2018, o
IPCC da ONU publicou um Relatório Especial
que apresentava várias sugestões de como as autoridades políticas poderiam
(tentar) alcançar a meta de limitar o aquecimento global a 1,5ºC. O terceiro capítulo do relatório
resumiu as mais recentes pesquisas econômicas que já haviam sido publicadas
desde o último relatório do IPCC (o
Quinto Relatório de Avaliação do IPCC).
Rachel
Warren, do Tyndall Centre for Climate
Change Research (localizado na Universidade
de East Anglia, no Reino Unido), é uma das principais autoras do capítulo. Adicionalmente,
ela foi também co-autora de pelo menos quatro das publicações citadas no
capítulo.
Eis um excerto de sua biografia:
Rachel
Warren é Professora de Mudanças Globais e Biologia Ambiental do Tyndall Centre
for Climate Change Research, Universidade de East Anglia, Reino Unido.
Sua
pesquisa se concentra na produção de políticas científicas relacionadas às mudanças
climáticas e à sustentabilidade. Um recente enfoque específico tem sido o de
quantificar os impactos das mudanças climáticas que podem ser evitados por uma redução
oportuna e antecipada das emissões de gás causadores do efeito estufa, em
particular em relação aos riscos para a biodiversidade. Ela foi uma das principais
autoras e coordenadoras do 5º (2014) Relatório de Avaliação do IPCC, e
principal autora do 4º Relatório, o qual foi laureado com o Nobel da Paz em
2007. Atualmente, ela é a principal autora do Relatório Especial do IPCC sobre
o aquecimento de 1,5ºC. Ela já produziu mais de 70 publicações revisada por
pares e mais de 40 relatórios científicos a pedido de governos.
[...]
Sua
formação e seu histórico acadêmico são em física e em ciências naturais pela
Universidade de Cambridge. Após completar seu Ph.D., ela se interessou por ciências
atmosféricas e rapidamente se tornou envolvida em relevantes pesquisas políticas
na área, um propósito ao qual ela permanece comprometida até hoje. Ela já auxiliou
na criação de políticas de desenvolvimento nacionais, européias e
internacionais relacionadas a combater a exaustão do ozônio estratosférico, a deposição
ácida ("chuva ácida"), a eutrofização e (desde 2002) as mudanças climáticas.
Em
particular, seu trabalho anterior na NOAA Environmental Research Laboratories
forneceu evidências sobre a aceitação ambiental de substitutos do CFC, levando
à inclusão de fluorocarbonos no Protocolo de Kyoto, o que fez com que ela fosse
a vencedora do prêmio NOAA Aeronomy
Laboratories Outstanding Scientific Paper.
Como a descrição acima deixa bastante claro, não se
trata de uma "negacionista", muito menos de uma "lacaia das grandes
petrolíferas" — como os ambientalistas normalmente se referem a quem discorda
deles. Muito pelo contrário: Warren é uma das principais lideranças entre aqueles
cientistas que se ocupam de formular políticas e apresentá-las aos governos,
para que estes então intervenham no mercado com o intuito de reduzir as emissões
das indústrias.
A
monografia co-escrita por Rachel Warren sobre a economia das metas climáticas
da ONU
Dado o seu histórico, é extremamente revelador
constatar que Warren (e co-autores) apresentou, em 2018, uma monografia
intitulada "A
Economia de uma Mudança Climática de 1,5ºC". Como eu sempre soube quão absurda (dado o padrão de suposições
que são feitas em modelagens) era esta mais recente meta da ONU, eu estava
curioso em ver como Warren e seus co-autores poderiam tentar justificar isso.
O leitor certamente apreciará meu espanto quando li
as duas primeiras frases do Sumário da monografia:
O
argumento econômico para se limitar o aquecimento a 1,5ºC é falho e duvidoso, devido a
múltiplas incertezas. Entretanto, não se pode descartar que a meta de 1,5ºC
passa no teste do custo-benefício.
Dizer o quê? Sensacional. Acredite ou não, os
autores — inclusive aquela que é principal autora dos Relatórios Especiais da
ONU que aconselham governos a como se manterem dentro do limite de 1,5ºC — estão
argumentando que, dado que eles entendem
muito pouco sobre esta área, a meta da ONU, até onde eles sabem, até possui
algum sentido econômico.
Eu realmente recomendo ao leitor mais cético ir
adiante e clicar
na monografia para ler a frase acima no contexto original. Estou sendo
totalmente justo e imparcial.
Seria este o tal "consenso científico" irrefutável que,
segundo os ambientalistas, dá sustentação a toda a agenda de intervenções estatais
sobre a economia produtiva em nome de se "combater as mudanças climáticas"? Se
é assim, então, no mínimo, toda a aquela tese sobre tributar emissões de
carbono, que
já era insensata, se torna ainda mais frágil do que já parecia.
Quando
a acusação vira a defesa
Para os ambientalistas, todo o necessário para fazer
com que tudo fique bem é entregar
o controle da economia mundial para os planejadores centrais dos governos. Bastaria
o governo acionar suas engrenagens e elas automaticamente farão tudo com
assombrosa precisão para preservar o status quo climatológico.
Os custos de tal empreendimento — sejam eles
mensurados em dinheiro, vidas humanas ou conforto humano — seriam
irrelevantes, pois, segundo eles próprios, a única alternativa é a total
destruição do planeta Terra.
Só que essa postura do "faça o que eu digo ou
você vai morrer" tem de ser muito bem sustentada por argumentos
científicos. No mundo real, onde cabeças mais racionais tendem (ocasionalmente)
a prevalecer, os custos de qualquer ação governamental devem ser comparados aos
custos das alternativas. Mais ainda: o ônus da prova recai sobre aqueles
que querem a intervenção estatal, já que seus planos dependem do uso da
violência do estado para impingir o cumprimento das ordens propostas.
Por exemplo, estas três perguntas têm de ser
irrevogavelmente respondidas:
1)
Qual é o custo do seu plano para as várias populações do planeta, em termos de
vidas humanas e de padrão de vida?
2)
Os custos do seu plano são maiores ou menores do que os custos de outras
soluções, como a realocação gradual de populações que vivem em áreas costeiras (as quais, dizem, ficarão submersas em decorrência do aquecimento global)?
3)
Você seria capaz de demonstrar que o seu plano tem uma alta probabilidade de
dar certo? Se a resposta for negativa, por que deveríamos implantar o seu plano
em vez de usar os mesmos recursos em outras soluções mais práticas e em necessidades mais
imediatas, como água potável, alimentos, e necessidades básicas?
Como nunca apresentaram respostas para tais perguntas, os
ambientalistas passaram a recorrer a uma resposta-padrão: eles afirmam que a "máquina
de ofuscação" criada pela direita inventa estas "incertezas" com o único intuito
de protelar as necessárias ações a serem tomadas contra as mudanças climáticas.
Em outras palavras, os ambientalistas sempre
disseram que a direita recorre ao argumento de que "há muitas incertezas no
debate" para evitar aceitar, sem nenhuma crítica, a imposição de toda a agenda
ambientalista — a qual exorta os governos
mundiais a regularem absolutamente todos os aspectos da nossa vida (desde
leis de zoneamento e eficiência energética dos automóveis até o que devemos
comer e qual deve ser o tamanho máximo das famílias), tudo em nome de "reduzir
as mudanças climáticas". Já houve até uma campanha
para "reduzir" a população da África.
E, no entanto, como demonstra este último episódio,
o jogo virou. Agora, a incerteza
subitamente se tornou o principal argumento a favor dos ambientalistas.
Como a própria Rachel Warren — uma das principais
autoras de vários importantes relatórios do IPCC — e seus co-autores
argumentaram em uma monografia de 2018, é exatamente essa incerteza (que agora
está do lado dos ambientalistas) o que mantém viva a possibilidade de que a
mais recente meta climática da ONU talvez
possa passar no teste do custo-benefício.