Com todos os olhos do mundo voltados para o Brasil
nas últimas
semanas, a histeria alcançou ápices inéditos.
Erroneamente caracterizada como "o
coração do planeta" ou "o
pulmão do mundo", a vasta região amazônica foi exaustivamente noticiada
pela mídia como estando sob um impiedoso ataque de incêndios criminosos feitos
por homens que querem acabar com a floresta para abrir espaço para a
agricultura e a pecuária.
Os oponentes do desmatamento afirmam que as
queimadas são um ataque direto ao planeta e um ataque a uma floresta pura e
imaculada, que é um patrimônio natural do mundo — além de também serem, é
claro, um ataque genocida
à população indígena do Brasil.
Para agravar, as queimadas também estariam
submetendo todos os indivíduos do planeta a um duplo risco: de um lado, um
enorme capturador
e armazenador natural de carbono estaria sendo destruído; de outro, vastas
quantidades de CO2 estariam sendo jogadas na atmosfera pelas queimadas,
exacerbando as mudanças climáticas.
Ignorando os absurdos
mais óbvios (Cristiano Ronaldo compartilhou
fotos de uma queimada ocorrida no sul do Brasil em 2013; Madonna e Leonardo
DiCaprio insuflaram
seus milhões de seguidores a "tomarem uma atitude" utilizando fotos de
incêndios ocorridos décadas atrás), políticos
ao redor do mundo (com Emmanuel Macron utilizando
uma foto de 1989) condenaram
o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmando que sua política de "abrir a
Amazônia" estimulou os incendiários.
Várias das afirmações melodramáticas também são
incorretas ou falsas: tudo indica que os focos de incêndio ocorreram em
campos já desmatados, e não estavam fora de controle; a Amazônia não é
responsável por 20% do oxigênio do planeta (e
nem mesmo por 6%); ao contrário, ela
consome todo o oxigênio que produz; e a fumaça dos fogos da Amazônia não
virou chuva
negra em São
Paulo, a 3.000 quilômetros de distância. De acordo com a BBC, os
meteorologistas afirmam que os resíduos vieram de queimadas totalmente
distintas, que estavam ocorrendo muito mais próximas da cidade.
Muitos dos explosivos números que estão sendo
jogados para o público (de 35
a 80%
mais ocorrências de queimadas em relação ao ano passado, um aumento de 15, 39, 73, 88
ou 278
por cento no desmatamento total) estão tecnicamente corretos, mas altamente
enganosos — o inevitável resultado de se ter jornalistas sensacionalistas
sendo imprudentes com estatísticas oficiais e escolhendo arbitrariamente
períodos de tempo que são mais convenientes para sua narrativa.
A enorme amplitude dos números citados acima já
basta para mostrar que há algo de estatisticamente esquisito em como eles foram
conseguidos. Logo, se você for às fontes oficiais e fizer uma análise mais
sóbria irá descobrir que o número
de incêndios, embora um tanto maior que o do ano passado, está em
linha com os de 2016 e 2017 e também com a média de longo prazo. Mais
ainda: os atuais são bem menores que os ocorridos em meados da década de 2000.
(No gráfico abaixo, o ano de 2019 vai até agosto).

Já as taxas de desmatamento apresentaram um ligeiro
aumento nos últimos anos em determinados estados (Pará, Mato Grosso e
Amazonas), mas o desmatamento na parte brasileira da floresta amazônica ficou
essencialmente estável
na última década – e caiu
acentuadamente em um período de 30 anos.

Em 2018, a área total da floresta amazônica que os
brasileiros desmataram foi de 7.500
quilômetros quadrados (o que equivale 0,2% do total brasileiro da floresta
amazônica). Isso dificilmente pode ser rotulado de "ecocídio".
Um editorial
do Wall Street Journal apresentou o sensato argumento de que os países ricos
são mais eficazes que os mais pobres em proteger seu ambiente, ressaltando
aquela obviedade que ambientalistas de esquerda se recusam a aceitar: "a
riqueza aumenta as preocupação com as 'mudanças climáticas, de modo que a
solução é fazer com que todos sejam mais ricos".
Logo, em vez de xingar chefes de governo, fazer
sensacionalismo com notícias enganosas, ou prognosticar iminentes desastres
ambientais, consideremos uma questão mais intrigante: quem sabe o Brasil não
deveria queimar mais, em vez de menos, suas florestas?
O Brasil é um país comparativamente pobre (em termos
per capita), e a região norte, onde está a floresta amazônica, é ainda mais
pobre, com uma renda equivalente às de Albânia,
Namíbia e Iraque — em contraste com os padrões de classe média emergente
observados nos estados mais ao sul do país. No geral, a economia do Brasil
depende de recursos naturais, sendo que mais
da metade de suas exportações é de matéria-prima.
Transformar uma floresta relativamente improdutiva
em terras agrícolas e pecuárias relativamente mais produtivas iria melhorar
substantivamente o padrão de vida de algumas das pessoas mais pobres do Brasil —
com efeito, este é o principal motivo de elas estarem fazendo o que estão
fazendo. Aliás, por que não podemos deixar as pessoas se aproveitarem de um
grande ativo que está logo à sua porta, ativo esse que pode aditivar seu
crescimento e sua transição para um padrão de vida melhor?
Proibir os pobres de melhorarem de vida utilizando
ativos naturais em seu quintal é puro elitismo.
As lições da Suécia
Atualmente, poucas pessoas pensam na Suécia como um
país em desenvolvimento exportador de matérias-primas. Suas infindáveis
florestas de coníferas, em conjunto com as vizinhas norueguesas e finlandesas, se
estendem até a imensidão do Ártico. Mesmo hoje, a Suécia é um país muito mais florestado
que o Brasil, e pode oferecer algumas dicas sobre como exitosamente preservar e
desenvolver suas florestas.
Na década de 1870, metade
das exportações do país era madeira — uma fatia muito mais significativa que a do Brasil, que hoje possui uma mais diversificada indústria de matérias-primas
—, e essas exportações de madeira representavam uma fatia do PIB bem maior do
que a silvicultura
e a agricultura representam para o PIB do Brasil de hoje.
E o principal: desde o explosivo crescimento das indústrias
de madeireira e serraria no final do século XIX, o volume
de florestas suecas aumentou em pelo
menos 80%. Hoje, somente 0,3% das florestas suecas permanecem intocadas e
originais. E, ainda assim, ninguém em sã consciência diria que as atividades de
exploração e corte de madeira — totalmente voltadas para o lucro e que exploraram
99,7% das florestas do país — foram um desastre ambiental para a península escandinava.
Eis o segredo: a imensa
maioria das florestas da Suécia se tornou propriedade privada. Elas têm
donos e são administradas por entes privados. Consequentemente, são sustentavelmente
cultivadas. (Óbvio: se o dono destruir a floresta de maneira inconsequente, ele
não terá como ter novos lucros futuros. Logo, sua preservação é crucial).
Somente 3% das florestas são propriedade do governo
(outros 14% são geridos por uma empresa que tem o estado como seu principal
acionista, sendo que ela é gerida como qualquer outro empreendimento em busca
de lucro), e a maior parte delas está nas mãos do governo por terem sido classificadas
como patrimônio nacional, estando localizadas em regiões montanhosas remotas e inacessíveis.
Com efeito, as florestas da Suécia cresceram tanto
em tamanho quanto em volume à medida que o país enriqueceu e sua economia foi
se expandindo para outras indústrias. Desde 1975, quando seu PIB
per capita se assemelhava ao do Brasil de hoje, as taxas de reflorestamento
líquido vêm se mantendo em torno de 3 a 4% ao ano. Surpresa nenhuma: quando você
é dono de sua própria terra, você possui todos os incentivos para cuidar muito
bem dela. Sua preocupação é com a produtividade de longo prazo. Assim, você
irá ceifar apenas um número limitado de árvores, pois não apenas terá de replantar
todas as que ceifou, como também terá de deixar um número suficiente para a
colheita do próximo ano.
Em contraste, aproximadamente 40% da floresta amazônica
é protegida, estando entregue ou a tribos indígenas (terras demarcadas) ou sob
o controle direto do estado. Aproximadamente 35% da região são fazendas
particulares: uma parte é legalmente registrada e outra parte foi apossada por
migrantes e ainda está no aguardo da regularização
fundiária (um processo extremamente complexo e demorado). O restante,
aproximadamente 25% da floresta amazônica, é totalmente
devoluta e sem proprietário.
Qualquer um familiarizado com a obra de Hernando de Soto
e seu livro O Mistério do Capital
entende perfeitamente por
que isso é um problema.
Pesquisadores especializados em Amazônia já entenderam
esse básico há muito tempo. O professor Brian
Robinson, da McGill University, e colegas da Universidade de Winconsin concluíram
em uma meta-análise sobre florestas e desmatamento, feita há alguns anos, que "terras
públicas parecem ser particularmente vulneráveis a ataques ambientais na
América do Sul". Dois pesquisadores
brasileiros do departamento de economia da Universidade de Campinas concluíram
o mesmo: "O desmatamento ocorre principalmente porque os direitos de
propriedade não são claramente estabelecidos, e ocorre em terras direta ou
indiretamente gerenciadas pelo estado".
Conclusão
Fatos e realidade nunca foram o
forte do movimento verde, o qual consistentemente opera com base em emoções,
táticas que apelam ao medo, e hipóteses catastrofistas. Sim, há queimadas
devastando partes da Amazônia. Sim, em algumas regiões desta imensa floresta
tropical, as taxas de desmatamento aumentaram levemente após alguns anos de
taxas impressionantemente baixas. No entanto, a histérica reação ambientalista
que estamos testemunhando é, como sempre, incrivelmente exagerada.
Ao contrário do que dizem os ambientalistas, está longe
de ser "algo óbvio" que explorar a floresta amazônica é uma má idéia. Por que
seria? Com efeito, no atual estágio de desenvolvimento do país, seria bastante
insensato proibir brasileiros de converter áreas da floresta em terra agrícola
ou em terras de exploração de madeira. Noventa por cento do desmatamento
mundial aconteceu antes de 1950, e, ao que tudo indica, a meta de desmatamento
líquido zero, estipulada pelo World Wildlife Fund, será alcançada ano que vem.
Florestas podem ser replantadas, e, com efeito, elas
sempre são — tão logo o país enriquece e sua agricultura se torna moderna
e produtiva, necessitando
de cada vez menos áreas para plantio. Se a famosa curva de Simon Kuznets
possui alguma aplicação prática, então o desmatamento é um sério candidato para
ela.
A história florestal sueca oferece algumas soluções que
podem ser copiadas pelo Brasil. Iniciativa privada, com direitos de propriedade
garantidos, gera indústria próspera com sustentabilidade de longo prazo. Sim, a
resolução da questão amazônica é relativamente simples: defender a propriedade
privada como meio de resolução dos problemas.
As florestas da Suécia mandam floreadas lembranças.
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